Relação com outras Áreas do Saber

Tal como a História Política que essencialmente está vinculada ao conceito de poder, a História Cultural ao de cultura, a História Demográfica tem como conceito central a população. Busca ainda, examinar tudo o que a este factor diz respeito, as migrações de grupos sociais, as variações no quantitativo populacional, ou os perfis populacionais (padrões de vitalidade e mortalidade, estatísticas relacionadas à idade de contracção de matrimónio e outras).

Relação com a História Social

A História Demográfica procura obter os princípios que regulam a dinâmica ou o comportamento das variáveis demográficas no meio social. Entretanto, é necessário que haja uma proporcionalidade directa entre o número dos nascimentos e a economia dessa família.

Relação com a História Política

Relativamente à Ciência Política e Relações Internacionais, a interligação com a Demografia, mais dirigida à mobilidade, toma como base essencial a comparação entre o ritmo de crescimento e as diferenças na estrutura etária dos países desenvolvidos, demograficamente envelhecidos, e os países em via de desenvolvimento, demograficamente jovens. Enquadra-a numa perspectiva e prospectiva mundial, de crescimento da importância relativa de países ou regiões totalmente distintas, cuja tónica de debate surge em torno das questões da segurança internacional, em que a centralidade está, em parte, na análise da imigração. Releva-se nestes últimos aspectos a igual importância de um leque bastante alargado do conhecimento em História, tanto nas suas vertentes políticas e sociais como de cultura civilizacional

O dado demográfico está sempre preso a uma teia complexa: uma variação em um aspecto populacional que pode produzir a necessidade de um grande rearranjo na organização política, nos traços ideológicos e nos bens culturais a serem produzidos pela sociedade.

A História Política relaciona-se com a História Demográfica, na medida em que a primeira estuda os problemas estritamente ligados ao crescimento demográfico seguindo o processo histórico da formação das sociedades e estratégias de reprodução levando em conta o elo vital e político que liga as dinâmicas das estruturas demográficas às transformações das estruturas econômicas, sociais e culturais.

Relação com a História das Mentalidades

A História das Mentalidades abarca dois aspectos importantes na vida humana que são: os modos de pensar e os modos de sentir.

A História das Mentalidades interessa-se em observar a maneira de pensar e sentir em torno do comportamento das variáveis (natalidade, nupcialidade, mortalidade, mobilidade e migração) no passado da população.

Para concluir, a História das Mentalidades relaciona-se com a História Demográfica, na medida em que a primeira faz um recuo no tempo e a partir de um determinado local, estuda os modos de pensar e de reflectir de uma determinada população, através das suas variáveis demográficas, como: a natalidade, nupcialidade, mortalidade, mobilidade e migração.

Relação com a História Serial

Esta História refere-se ao uso de determinado tipo de fontes homogêneas, do mesmo tipo, referentes a um período coerente com o problema a ser examinado que permitem uma determinada forma de tratamento – a serialização de dados, a identificação de elementos ou ocorrências comuns que permitam a identificação de um padrão e, em contrapartida, uma atenção às diferenças, às vezes graduais, para se medirem as variações.

A História Demográfica em especial de carácter descritivo (na medida em que um historiador colecciona informações sistemáticas a respeito de uma determinada população historicamente localizada, sobre os níveis e tipos de mortalidade desta população), fornece, partir disto, uma base de dados para que se construa a História Serial. Por exemplo: os aspectos relativos à idade média com que costumavam morrer os indivíduos, os tipos de morte mais frequentes e as respectivas causas, os bens que se costumava deixar para herdeiros, os valores monetários que eram despendidos nos enterros, os tipos de destino que tinham seus corpos, a qualidade da madeira empregada nos ataúdes, a presença ou não de epitáfios, a ocorrência de extrema-unção e outros aspectos que poderiam compor um panorama informativo sobre a morte na sociedade examinada podem servir das fontes seriais para a construção de um gráfico demográfico.

Relação com a História Quantitativa e Qualitativa

A História Quantitativa é definida pelo seu campo de observação. Ela pretende observar da realidade atravessada pela noção do número, da quantidade, de valores a serem medidos através das técnicas estatísticas, ou na síntese de dados através de gráficos diversos e de curvas de variação.

A História Demográfica para compreender e identificar o estado ou estrutura, movimento ou dinâmica e quantidade de populações no passado, baseia – se na História Quantitativa onde vai buscar os dados fornecidos por registros e recenseamentos e obtidos através da aplicação de métodos e técnicas estatísticas. Por outro lado, na medida em que se investigam na História Demográfica as causas e consequências do estado e do movimento das populações vai se recorrer ao elemento qualitativo.

A História Demográfica surge a partir do critério das ‘dimensões ou seja daquilo que o historiador analisa na sociedade como o crescimento e declínio populacional, os movimentos migratórios e assim por diante. Com tudo à medida que a História Demográfica vai conectando os aspectos relacionados com às categorias populacionais (como a mortalidade ou a natalidade), com frequência obtidos através de métodos estatísticos para depois relacionar estes aspectos de modo a dar a perceber a vida social de uma determinada comunidade estará a se apoiar nas abordagens quantitativas e qualitativas.

Relação com a História Imaginária

Junto à história política, à história económica e social, à história cultural, nasceu uma história das representações. Esta assumiu formas diversas: história das concepções globais da sociedade ou história das ideologias; história das estruturas mentais comuns a uma categoria social, a uma sociedade, a uma época, ou história das mentalidades; história das produções do espírito ligadas não ao texto, à palavra, ao gesto, mas à imagem, ou história do imaginário. A História Imaginária trata os documentos: literário e artístico como documentos históricos de pleno direito, sob a condição de respeitar a sua especificidade: história das condutas, das práticas, dos rituais, que remetem a uma realidade oculta, subjacente, ou história do simbólico.

A História do Imaginário é atravessada pelo conceito de imagem, que não se prende apenas ao de imagem visual, mas abarca também o âmbito das imagens verbais e das imagens mentais. Para utilizar uma imagem mais eloquente, a História Demográfica vai se convertendo muito claramente num tipo de História Social na razão directa em que a História da Mortalidade vai derivando para uma história da morte.

A História Imaginária como um grande panorama descritivo e objecto de uma História da Mortalidade. A morte é um fenómeno social, que gera representações, comoções até expectativas espirituais e materiais.

A possível relação que se pode estabelecer entre a História Demográfica com a História Imaginária, é que na medida em que a primeira, na tentativa de perceber a variável da mortalidade da população numa determinada época, baseia-se na História Imaginária. Isto é, quando ocorre uma morte, a História Demográfica procura perceber como é que essa sociedade vítima, encara o sinistro ocorrido. Assim sendo, a História Imaginária vai oferecer os hábitos e costumes: os ritos, tabus, sentimentos, carências e representações geradas pelo fenómeno da morte.

Bibliografia

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