Origem do comércio de escravos em África

Antes da chegada dos europeus, os árabes já praticavam o comércio negreiro, transportando escravos para a Arábia e para os mercados do Mediterrâneo Oriental. As guerras tribais africanas, por sua vez, favoreciam esse tipo de comércio, visto que a tribo derrotada era vendida aos mercadores. Os homens para os trabalhos pesados, as mulheres para concubinas ou trabalhos domésticos. Os camponeses escravos trabalhavam nas terras do imperador e das grandes famílias nobres. A maioria pertencia a tribos subjugadas no início da expansão imperial, que, por tradição, continuavam presas a essa condição. Outra forma de escravização consistia em uma prática antiga entre os africanos: os vencedores de uma guerra tinham o direito de levar parte dos derrotados para trabalhar em sua terra.

Contudo, o escravo levava uma vida parecida com a dos homens livres: trabalhava lado a lado com eles, mantinha suas tradições e, muitas vezes, alcançava a liberdade ao lutar junto dos guerreiros da tribo. Com a expansão dos impérios e o domínio de outras tribos inimigas, o número de escravos tendeu a aumentar, mas nunca se equiparou ao de camponeses livres. A maioria desses escravos permanecia nas cidades, executando tarefas domésticas nas casas dos nobres ou grandes comerciantes.

Estes escravos em geral, eram destinados aos trabalhos na agricultura ou nas minas. Assim, o dono dos escravos podia usá-los para abrir uma clareira na mata e ali estabelecer famílias que lhe seriam submissas. Com isso, esse proletário aumentava seu prestígio e obtinha mais homens para guerrear e conquistar novos territórios. Os escravos geralmente viviam junto ou próximo à família do proprietário. Seus filhos não podiam ser vendidos e, às vezes, tornavam-se parte da família.

Por volta de 1645 (século XVIII), os árabes e portugueses nas suas visitas a costa oriental africana, teriam traficado escravos e os levados para o oriente (golfo pérsico, arábia, índia) e aram usados na guerra santa), trabalhavam como marinheiros, como domésticos nas plantações e serviam como concubinas. Fontes escritas em 1762, revelam ter saído 11000 escravos de Moçambique, sendo 300 de Sena, 200 das ilhas Quirimbas. 1910 Representou o momento do ciclo de escravo. Este período divide-se em duas épocas: 1750 -1760 (época em que o comercio de escravos floresceu; e 1836-1910 momento do declino do trafico negreiro, com abolição do comercio de escravo.

Causas do comércio de escravos

O comércio de escravos foi causado pelo desenvolvimento do mercantilismo o que viria transformar o escravo em objecto. Dele se exigia uma intensa produção para exportação, a fim de satisfazer as necessidades capitalistas de acumular lucro.
Ou seja foi causado pelo crescimento da procura de mão-de-obra, motivada pela instalação de colónias agrícolas na América, para alimentar as indústrias na metrópole.

O comércio de escravo foi motivado pelo  desenvolvimento económico que pudesse ter utilizado mão-de-obra escrava nas minas e plantações das caraibas, ihas francesas e do continente americano.

Até meados do século XVIII, as relações de produção era aquelas relacionadas com o comércio característico da região centro-africana. Com a revolução industrial ocorrida na Europa  provocou mudanças mais profundas na económia mundial que qualquer outro desenvolvimento ocorrido desde o neolítico,  o autor frisa que, a revolução industrial acabou por se fazer sentir como uma série de ondas de choque por ela causada, sendo um momento oportuno  por parte dos europeus na procura da mão-de-obra escrava.

Desenvolvimento da escravatura:

No Mediterrâneo Antigo, houve, porém, de forma isolada, vendas de escravos oriundos da África subsaariana, mas somente no século IX ocorreu o desenvolvimento, de forma significativa, da exportação de escravos provenientes da África negra rumo ao resto do mundo, Tal comércio durou vários séculos, haja vista que somente se extinguiu no começo do século XX.

Por outro lado, a partir do momento em
que o Novo Mundo, após a viagem de Cristóvão Colombo, em 1492, abriu­
se à exploração europeia, um tráfico de escravos africanos, envolvendo números muito maiores, se super pôs ao antigo tráfico: trata­-se do tráfico transatlântico de escravos, praticado do século XVI até meados do século XIX. Os dois tráficos perpetuaram­se simultaneamente durante quase quatro séculos e arrancaram milhões de africanos de sua pátria. Até hoje, o papel desse comércio no desenrolar da história mundial ainda não foi devidamente evidenciado.

Vale observar que o tráfico de escravos não se limitou à África. De fato o mundo conheceu desde o Império Romano a escravidão e o tráfico humano em larga escala. Os documentos históricos permitem facilmente constatar que A África na história do mundo: o tráfico de escravos a partir da África e a emergência de uma ordem económica no Atlântico todos os povos do mundo venderam como escravos, em regiões longínquas e no curso de uma ou outra época, alguns de seus conterrâneos.

Todavia, do ponto de vista da história mundial, o comércio de exportação de escravos africanos, especificamente no quadro do tráfico transatlântico, representa, sob vários aspectos, um fenómeno único. Sua própria amplitude, sua extensão geográfica e seu regime económico em termos de oferta, emprego de escravos e dos negócios com os bens por eles
produzidos – são os traços distintivos do tráfico de escravos africanos comparativamente a todas as outras formas de comércio de escravos.

A controvérsia depende de alguns factores: em primeiro lugar, da tirania exercida sobre os pesquisadores, por diferentes paradigmas que condicionam seus respectivos modos de pensar; em seguida, do efeito das influências políticas sobre as teses dos cientistas; enfim, da inexactidão tocante às informações colocadas ao dispor de muitos estudiosos.

Lugar de partida de escravos

O ferro, e a aguardente representavam, a parte mais importante para o comércio em África, uma vez que haja ferro e aguardente tem se certeza de conseguir por toda parte o ouro cativo. Em qualquer operação é absolutamente preciosa tomar em conta das negociações aquele que tem mais lucro. Os pretos e as pretas, os mulatos e as mulatas trazem contos prodigiosos de quatro ou cinco fiadas de missangas. De um lado, barra de ferro, brinco, vinhos, tecidos e roupas que não passava de roupa mais velhas eram transferidos de além-mar para a costa oriental. Era sob comando dos chefes locais, que eram dados espingarda, que depois levavam os escravos e amaravam a espera para embarcar. O mesmo autor avança que, os melhores cativos eram chamados peças de Índia.

Eram pretos de quinze a vinte e cincos anos, sem defeito, com todos dentes e todos dedos, sem membranas nos olhos, de boa saúde, tinha que ser um homem pacífico e robusto. Para além dos jovens, adultos e velhos, as crianças também entravam nesta contenda de escravos eram capturados no interior da costa ou simplesmente no interland, depois encaminhados para a costa para entrar em barracões. Quem tentasse resistir a captura era
morto, e antes de partida os escravos eram submetidos aos exames desde os dentes até aos órgãos genitais, tinham que rapar cabelo e depois disso, eram obrigados a ser marcados com ferro ao rubro no peito, nas nádegas ou nos seios
com as iniciais do proprietário, era marca indelével, e depois era obrigados a entrar nos navios sem roupa, amarados e baixando a cabeça, em más condições, e ao longo da viagem outros eram lançados no mar e outros morriam asfixiados.

Lugar de chegada de escravos

Os escravos eram levados para trabalhar nas ilhas do Oceano Índico, no Brasil . nas plantações de cana-de-açúcar e cacau. De acordo com KI-ZERBO (1999), no destino (América do norte, Brasil e Cuba), os doentes não eram vendidos, e antes de serem vendidos, os escravos eram engordados e as vezes drogados, a fim de serem apresentados em plena forma mesmo se o volume dos músculos e os brilhos dos olhos era artificial e passageiro e fazia se de novo os exames de mãos, dentes, sexos e olhos.

Consequências socioeconómicas, políticas e cultural do comércio de escravos

Devido a densidade demográfica muito forte nas faixas do litoral mais favorecida do ponto de vista climático, algumas regiões beneficiaram-se das novas culturas trazidas da América (Milho, mandioca, tabaco), a introdução destas culturas devem ter compensado as perdas sofridas pelo trafico de escravo. O tráfico de escravos efectuou uma separação, levando o que havia de melhor na população, os indivíduos mais vigorosos, os mais jovens, os mais sãos. Tratando-se de populações essencialmente agrícolas, a produção e a acumulação de bens alimentares mergulharam num caos generalizado, que destruiu o processo produtivo.

O comércio do escravo levou ao aparecimento de grande assentamento de sociedades militarizadas e de uma organização politica em grande escala sobretudo entre os povos onde a figura da matriarca se empunham, os quais se encontravam estalados no norte do Zambeze.

Consequências demográficas

Muitos povos de África não ocupam os seus territórios por causa das deslocações provocadas pelo tráfico de escravos. A procura dum refúgio seguro e a instabilidade verificada entre as populações causou diversos movimentos migratórios a uma escala variável com o tempo e o lugar. Foi, além disso, a maior migração forçada intercontinental de sempre, alguns deles foram obrigados a refugiar-se em grutas ou em cabanas sobre estacas, como no Lago Niassa onde a mortalidade infantil deve ter-se agravado: crianças de peito separadas da mãe ou chacinadas.

Consequências Politicas

O comércio do escravo levou ao aparecimento de senhores das guerras afro-portugueses e Afro-islâmicos cujos exércitos privados equipados com armas de fogo compradas com os lucros na actividade negreira, se viram em condições de dominarem as muito fragmentadas e quase chefes makwa. As comunidades africanas antes do tráfico de escravos conviviam pacificamente, e com o mesmo instalou-se a guerra entre as tribos e a violência no interior das próprias tribos, onde os chefes do litoral passaram a ver os seus súbditos como uma mercadoria e a guerrearem-se uns aos outros para venderem os seus compatriotas. Os povos africanos eram impotentes perante as armas de fogo dos negreiros europeus, contudo as revoltas eram frequentes, mas selvaticamente reprimidas.

O poder político passou cada vez mais das mãos dos chefes de clãs e de comunidade étnica e dos laman (chefes de território) às das aristocracias políticas da mansaya, da nobreza fundiária da neftenia, dos beilhiques e sultanatos magrebinos, dos emirados sudaneses ou mesmo dos mani (reis bantos cristianizados) cercados, à moda europeia, de príncipes, condes e camareiros. A partir do século XVI, a vida política concentrou -se cada vez mais nas áreas costeiras, nos portos que serviam de base aos corsários e nas feitorias. Os alcaides mediterrâneos tinham como equivalentes os alkaati, os alkaali ou simplesmente alcaides de Gorée, de Portugal, de São Salvador, de Sofala e de Kilwa.

Consequências Culturais e Ideológicas

As construções nas regiões em que as instituições Islâmicas foram introduzidas, como entre os songhai, os haussas e nas cidades da África Oriental, foram frequentemente confundidos, porque com a criação de estados Islâmicos ou de emirados que ocuparam progressivamente todo Sudão ocidental graças as Jihad. Outros ainda defendem que a África tinha lucrado mais do que perdido, porque, o tráfico de escravo permitiu-lhes introduzir no continente a cultura de produtos Ameríndios tais como: café, cana-de-açúcar e algodão.

Perante estes dizeres pode-se concluir que, a cultura africana sofreu algumas mudanças com o tráfico negreiro ou escravo, isto é, invés de os africanos continuarem com a sua antiga caligrafia isto no que diz respeito a parte de construção herdaram a caligrafia islâmica.
E na ao invés de continuarem a venerar os seus antepassados, alguns africanos foram baptizados […] como aconteceu no estado de Mwenemutapa, e o tráfico negreiro na Madeira, nas ilhas de Cabo -Verde e, mais particularmente, na ilha de São Tomé originou -se, primeiro, em razão da introdução da cultura da cana-de-açúcar e do algodão

 

Bibliografia

DAVIDSON, Brasil. Mãe Negra África: Os anos de povoações. 1ª Edição, Lisboa, Livraria Sã da Costa editora, 1978.

DHUEM. História de Moçambique: Parte I- Primeiras Sociedades Sedentárias e Impacto dos mercadores, 200/300-1885; Parte II- Agressão Imperialista, 1886-1830. 1ª Edição, Vol. I, Maputo, 2000.

FAGE, John Donnely. História de África. Lisboa, Edição, 2013

GENTIL, Ana Maria. O leão e o Caçador: Uma História da África Subsaariana. Maputo, 1999.

JOSÉ, Capela: Donas, Senhores e Escravo. Edições Afrontamento, Maputo, 1995, 227p.

KI- ZERBO, Joseph. História de África Negra. Mira Sintra, Publicações Europa – América; Vol. I, 3ª ed. 1999.

MEDEIROS, da Conceição Eduardo. História de Cabo Delgado e Niassa (1836 – 1929). Edição, Maputo, 1997, 252p.

NEWITTI, Malyn. História de Moçambique. Edição, Publicações Europa – América, 1997.

OGOT, Bettwell Allan. Historia Geral de ÁfricaÁfrica do século XVI-XVIII, Vol, Brasil, UNESCO, 2010. 1208.

SOUTO, Amélia de Neves. Guia Bibliográfico para Estudante de História de Moçambique. (200/300-1930), Maputo, 1996, 347p.