Localização do Reino de Gana

O Império de Gana, também conhecido como Império Uagadu, foi o nome dado a um antigo estado localizado na África Ocidental, onde hoje temos o sudeste da Mauritânia e o oeste do Mali, e que teve seu apogeu entre os anos de 700 e 1200 da Era Cristã. A capital do estado localizava-se na cidade de Kumbi Saleh, hoje um sítio arqueológico na fronteira entre Mauritânia e Mali, que de acordo com as pesquisas, já era habitado desde o século III, por povos mandês, destacando-se os do grupo soninquê, predominante durante maior parte da existência do antigo estado. O nome Gana deriva do título atribuído aos seus soberanos, sendo o termo Uagadu utilizado para o mesmo país, mas pelos habitantes locais, significando “país dos rebanhos”.

Gana foi um dos maiores impérios formados no continente africano que se desenvolveu para fora das regiões litorâneas ou da África muçulmana. Sua área correspondia às atuais regiões de Mali e da Mauritânia, fazendo divisão com o imenso deserto do Saara, a sul encontra se limitado pelo oceano atlântico, a norte pela Burquina Fasso e a este pelo Togo.

Evolução política do Império do Gana

A primeira referência conhecida sobre o reino do Ghana é a do escritor al-Fazari, do século VIII. Nos finais do século IX e inicio do século X, os escritos de lacubi e al-Maudi dão ideia de um poderoso reino sudanês cujo monarca exercia um certo poder sobre os reinos mais pequenos. A princimpal actividade económica do reino era a obtenção de ouro dos povos do sul, e a troca do mesmo por sal sariano e produtos africanos do norte, trazidos para sul pelas tribos tuaregues da faixa ocidental do deserto, nomeadamente os Sanhajas que controlavam as rotas caravaneiras a partir de Audagast, uma cidade comercial Sanhaja a norte do Gana, ate Sijilmasa, no oásis de Tafilalete a sul de Marrocos.

O Gana inicial não pode confundir-se com o seu homónimo actual, que esta situado bastante mais a sul e a leste. Deve notar-se que as actuais tradições dos Soninkes, o povo nativo do antigo gana, parecem mencioná-lo como reino Uagadugu (nome da região onde estava situado o antigo Gana). Contudo, outros autores árabes e de uma forma geral a historia, usam o nome de Gana tanto para a cidade capital como para o reino. No entanto, o primeiro autor melhor informado sobre o assunto, al-Bakri, faz notar que Gana é com rigor o título do rei. O termo pode assim resultar da palavra Malinke gana ou kana que significa chefe, embora o nome que al-Bakri utiliza para o rei que então governava seja Tunka Manin,  e tunka realmente significa chefe em soninke. Deve ainda referir-se que os taikhs de Tumbutu, aplicam o nome Kaya-Magha para a primeira dinastia do Gana, e magha significa igualmente chefe ou governante.

Organização política do império de Gana

Tinha como forma de governo a monarquia, em que o chefe de estado mantém no cargo ate a morte ou a abdicação, sendo normalmente um regime hereditário. O chefe do estado dessa forma de governo recebe o nome de monarca e pode também muitas vezes ser o chefe do governo.

Em 1067-8 a.C., o geógrafo al-Bakri foi capaz de efectuar um relato bastante completo sobre o reino, a sua principal cidade e o comércio de Gana. O rei, que não era filho de seu antecessor mas filho de uma irmã do seu antecessor, era uma autocrata que só comunicava indirectamente com os seus súbditos, e a quem eram atribuídas honras divinas.

Assim como constituía o foco de uma hierarquia de ministros de estado, o rei era também alvo de um culto praticado pelos sacerdotes em bosques isolados próximo da capital. Quando morria era enterrado juntamente com numerosos servidores sob uma grande cúpula feita de madeira e argila. Tinha sob seu comando um exército numeroso onde (Fage) acrescenta que foi esse poder militar que permitiu ao rei assegurar a permanência na corte de um pequeno número de pequenos reis, talvez vice-reis ou reféns das monarquias tributárias.

A cidade capital também chamada Gana, era composta por duas zonas distintas, uma delas era exclusivamente constituído por cabanas redondas de barro e era ai que o rei tinha o seu palácio rodeado por uma cerca. A outra à distância de alguns Km, era constituída por casas de pedra, habitada por muçulmanos e com certo número de mesquitas. As duas cidades juntas constituíam um complexo urbano, esta zona era abastecida com produtos de agricultura intensiva praticada nas imediações com água fornecida por poços.

 O sistema de sucessão ao trono de Gana era matrilinear, e a matriliniaridade é característica dos Tauregues-Berberes, a que pertenciam os Sanhajas antes de se islamizarem. Por outro lado, o estilo de vida da corte real e dos súbditos pagãos, parece ser totalmente de origem negra, e dizem os tarikhes que o povo do reino era Sonike e ainda a dinastia Kaya-Magha.

Economia de Gana

A economia comercial de Gana atingiu seu auge no século VIII, ao interligar as regiões do Norte da África, Egito e Sudão. Entre os principais produtos comercializados estavam o sal, tecidos, cavalos, tâmaras, escravos e ouro. Esses dois últimos itens eram de fundamental importância para a expansão econômica do reino de Gana e o considerável aumento da força de trabalho disponível. Entre os mais importantes centros urbano-comerciais desse período destacamos a cidade de Bambuque.

O ouro era escoado principalmente para a região do Mar Mediterrâneo, onde os árabes utilizavam na cunhagem de moedas. Para controlar as regiões de exploração aurífera, o rei era responsável direto pelo controle produtivo. Para proteger a região aurífera, o uso de lendas sobre criaturas fantásticas era utilizado para afastar a cobiça de outros povos. O sal também tinha grande valor mediante sua importância para a conservação de alimentos e a retenção de líquido para os povos que vagueavam no deserto.

Comércio transaariano

A introdução do camelo, que precedeu os muçulmanos e o Islã em vários séculos, trouxe uma mudança gradual no comércio e, pela primeira vez, o ouro, marfim, sal e os recursos da região puderam ser enviados ao norte e ao leste para o norte da África, Oriente Médio e Europa, em troca de bens manufacturados.

O império enriqueceu com o comércio trans-saariano em ouro e sal. Este comércio produziu um superavit crescente, permitindo maiores centros urbanos. Também incentivou a expansão territorial para ganhar controlo sobre as rotas de comércio.

A principal actividade económica do reino era a obtenção de ouro dos povos do sul, e a troca do mesmo por sal sariano e produtos africanos do norte, trazidos para sul pelas tribos tuaregues da faixa ocidental do deserto, nomeadamente os Sanhajas que controlavam as rotas caravaneiras a partir de Audagast, uma cidade comercial Sanhaja a norte do Gana, ate Sijilmasa, no oásis de Tafilalete a sul de Marrocos.

Ouro

O que está claro, é que o poder imperial era devido principalmente à riqueza em ouro. E a introdução do camelo no comércio trans-saariano impulsionou a quantidade de mercadorias que podiam ser transportadas.

A maior parte do nosso conhecimento do impédrio do Gana vem de escritores árabes. Al-Hamdani, por exemplo, descreve o Gana como tendo as minas mais ricas de ouro na terra, que estavam situadas em Bambuk, na porção superior do rio Senegal. O Soninke também vendia escravos, sal e cobre, em troca de tecidos, missangas e produtos acabados. A capital, Kumbi Saleh se tornou o foco de todo o comércio, com uma forma sistemática de tributação. Mais tarde Audaghust foi outro centro comercial.

Sociedade e Cultura do Império do Ghana

A sociedade do reino de Gana estava estratifica em duas classes sociais, a saber a classe dominante, que era composta por chefe supremo, chefes locais, sacerdotes e mágicos religiosos (sacerdotes). A classe dominada era constituída por camponeses e pastores.

O imperador era animista, o culto principal era o de Deus Sepente do Uagado (Uagadu-bida) antepassado totem dos Cissés. Segundo a lenda saia da toca no dia da entronização dos reis e recebia em sacrifício anualmente a mais bela rapariga da terra. O rei usava no pescoço uma espécie de chapéus pontiagudos, altos, semeados de ouro em volta dos quais enrola um turbante de tecido de algodão muito fino.  As mulheres rapavam o cabelo, vestidas de panos de algodão e de seda ou de procado, consoante as suas posses financeiras.

A islamização do Gana

As fontes árabes indicam que o Gana não foi o primeiro estado sudanês a aceitar a islamização. Este lugar é atribuído geralmente ao Takur, um reino mais poderoso do vale do Senegal a sudoeste de Gana. Com efeito o comércio transaariano proporcionou meios para que o islamismo pudesse contentar todos os povos sudaneses a sul do deserto.

Havia motivos evidentes para que os governantes e comerciantes sudaneses fossem receptivos ao islamismo, ou porque facilitava as relações cada vez mais importantes com os mercadores e os chefes no Saara e no norte da África, ou porque lhes fornecia instrução valiosa para a manutenção de correspondência e registos, diplomáticos e administrativos e comerciais. Mas a aceitação do islamismo pelos reis em regra foi uma aparência.

Os Sacrifícios

A riqueza de Gana era também explicada miticamente através da história de Biida, a serpente negra. Esta serpente exigia um sacrifício anual em troca de garantir a prosperidade do reino. Todos os anos uma virgem era oferecida, até que um ano, o noivo da vítima, (seu nome era Mamadou Sarolle) a resgatou. Privado do seu sacrifício, Biida teve a sua vingança sobre a região. A terrível seca tomou conta do Gana e a mineração de ouro entrou em declínio.

Os arqueólogos encontraram provas que confirmam elementos da história, mostrando que até ao século XII, ovelhas, vacas e cabras, eram abundantes na região, mas depois apenas os mais resistentes, as cabras eram comuns.  Com a conquista de Audagoste o Gana passou a controlar as forças militares.

Declínio/decadência do império de Gana

O reino de Gana começou a sentir os primeiros sinais de sua crise com o esgotamento das minas de ouro que sustentavam a sua economia. Além disso, após o século VIII, a expansão islâmica ameaçou a estrutura centralizada do governo. Os chamados almorávidas teriam empreendido os conflitos que, em nome de Alá, desestruturaram o Reino de Gana. A partir de então, os reinos de Mali, Sosso e Songhai disputariam a região.

O declínio do Império de Gana ainda não é totalmente conhecido, sendo que a versão mais popular é a da invasão Almorávida (povos bérberes muçulmanos vindos do atual Marrocos) em 1076. Atualmente, ainda acredita-se que os almorávidas tenham um papel predominante na decadência de Gana, mas hoje também é reconhecido o fato da desagregação deste grande império em vários outros reinos menores e as disputas internas como fatores determinantes em sua extinção.

O grande motivo do fim do reino de Gana foi uma guerra santa ou jihad. Um dos grupos de azenegues, os judalas tinham um líder chamado Yahia ibn Ibrahim, que fez uma peregrinação a Meca em 1035. Quando ele voltou, cheio de ideias radicais, achou que seu povo tinha que praticar o verdadeiro islamismo. Para isso chamou um religioso de nome Abdallah ibn Yacine.

O povo não gostou da ideia e, após a morte de seu chefe, expulsou Yacine. Esse Yacine foi embora acompanhado de seguidores que passaram a se chamar almorávidas. Os almorávidas, envolvidos pelo espírito da jihad juntaram um exército e conquistaram terras ao sul do Marrocos, fundaram Marrakesh e conquistaram Koumbi Salleh.