Até princípios do século XX, as analises feitas na história baseavam-no positivismo, o seja, o panorama académico era positivista.

Com aparecimento de outras ciências sociais, a história continuava a mãe e dona do conhecimento humano. Entretanto, o retrato dos factos políticos e diplomáticos, faziam da história o domínio favorito dos dirigentes. Este estatuto privilegiado da história sofreu embates e criticas que se aprofundaram nas primeiras décadas do século XX.

Entre as principais causas da crise podemos salientar as seguintes:

A crítica feita por novas correntes historiográficas, a história tradicional (positivista) no século XIX, Marx e Engels trouxeram uma concepção materialista da história, onde acentuam o papel das massas e não dos indivíduos, a importância estrutural e da longa duração em detrimento dos aspectos factuais e particulares, a preferência pelo estudo das economias e sociedade em lugar dos habituais aspectos políticos, a descontinuidade do processo histórico a subsistir a tradicional linearidade, o papel da aula de classe na transformação da sociedade humana; (ii) Em 1903, Francois Simiand, economista e sociólogo denunciou os três (3) ídolos da tribo dos historiadores: o ídolo politico que leva a dar aos factos políticos, as guerras; o ídolo individual ou seja, o habito de ordenar as pesquisas em torno de um individuo e não os fenómenos sociais e o ídolo cronológico o habito de se perderem no estudo das origens do passado; (iii) O surgimento do estruturalismo, que afirma que os factos históricos nada vale fora do contesto histórico em que esta integrado. Assim alterou o conceito do homem e com ele o da própria história; (iv) A evolução científica da época, sobretudo das ciências ditas naturais, fez alterar pouco a pouco o conceito de ciência e a própria atitude dos cientistas frente a ciência; (v) A imergência de outras ciências sociais e humanas na segunda metade do século XIX, onde a historia perde o exclusivo do conhecimento do humano. Pela individualização e a institucionalização como ciência de uma serie de novos campos de análise e compreensão dos fenómenos sociais humanas entre as ciências surgidas pode se mencionar: a sociologia, geografia humana, psicologia, antropologia social cultural e a etnografia.

Entretanto, a crescente importância destas ciências que repartem entre si o mesmo objecto de estudo antes integral e exclusivamente atribuída a história, veio colocar aos historiadores três (3) novos problemas:

O da definição e delimitação do conteúdo específico da história; a reformulação da sua função objectiva na sociedade moderna, e ainda o da metodologia; (ii) o impacto das novas condições históricas resultantes da primeira e segunda guerra mundial, contribuíram para a reformulação da ciência histórica, visto que os princípios da história tradicional eram incapazes de explicar as repercussões dos conflitos mundiais; (iii) esta crise significou para a história a perca da autonomia do objecto de estudo (homem) antes exclusivo á história constituiu uma série das humilhações tendo, contudo perdido a sua credibilidade. Portanto, esta crise teve como essência a disputa do homem como objecto de estudo das ciências em referências.

Surgimento da Escola de Annales

Embora as inovações apontadas constituíssem já fundamentos bastantes para a inauguração duma nova corrente historiográfica, a verdade é que a partir de 1900, Henri berri, fundou a “Revue de synthèse historique”e reúne uma equipe de especialistas em diferentes disciplinas. A principal preocupação desses especialistas era combater as concepções da Escola Metódica.

Para H. berri, a História não se limitava somente ao exercício da erudição, mas sim, devia se pontuar pelo estudo das experiências humanas. Na década de 1920, a crítica ao Positivismo se concentra na Universidade de Estrasburgo, por um grupo interdisciplinar de historiadores como: Lucien Febvre e March Bolch. Em 1929, esse grupo fundou a Revista “Les Annales d´ Histoire Économique et Sociale”posteriormente a Revista é transferida para Paris, onde alcança um número maior de leitores. Portanto, a partir desse período os “Annales”, despertaram jovens investigadores que reúnem em torno da revista para críticar à Escola Metódica ou “Positivista”. Dentre as principais ideias dos Annales, destacam-se: o desprezo ao acontecimento e insiste na longa duração; deriva a sua atenção da vida política para a actividade económica, a organização social e a psicologia colectiva; esforça-se por aproximar a história das outras ciências humanas”.

Na verdade é que a partir de 1929, com a fundação dos Annales, d´historie economique et sociale em Paris, e graças ao papel activo e prolongado que esta revista desempenhou no domínio da historiografia, que verdadeiramente inicia o movimento historiográfico conhecido por história nova. Portanto, as realidades de média e longa duração, as conjunturas e as estruturas tinham quebrado as fronteiras entre o passado, o presente e o futuro. A história deixava de ser o conhecimento do passado pelo passado, para ser uma história do passado em função duma melhor compreensão do presente e da previsão do futuro.

Destaca-se três fases dos Annales: sendo a primeira fase parte de 1929 a 1945: a segunda identificada no período pós-Segunda Guerra Mundial; e uma terceira fase, que se inicia por volta de 1968.

Na primeira fase destacam-se Lucien Le Febvre e Marc Bloch, por vezes identificados como os “pais fundadores dos Annales”. São eles os inovadores mais radicais do discurso histórico na primeira fase” Na busca de uma História total, os estudos dos Annales buscaram contemplar diversos aspectos da “realidade” humana como a economia, a vida material, a Geografia, como também iniciaram o estudo das mentalidades. Pode-se destacar ainda dessa primeira fase da história da Revista “uma escritura antropocêntrica, na qual o homem passava a ser o maior e o único objecto do trabalho do historiador

Princípios orientadores da escola dos Annales

A luta contra a historiografia positivista tradicional: o primeiro combate dos Annales foi de remover o conceito da historia a sua luta canalizava contra herança de uma historia, estritamente politica individualizada, uma historia factual e superficial, teatros de aparências que esconde o verdadeiro jogo da historia que se passa nos bastidores e nas estruturas ocultas que é preciso explicar e analisar; (ii) o alargamento do território do historiador; a história total e global onde deveria se abordar na história todos os factos relacionados com a vida do homem; (iii) o largamento do campo do documento; onde passou a se usar tudo que vincule informação sobre a actividade do homem no passado podendo se recorrer a interdisciplinaridade; e a revalorização do papel especifico do historiador na construção histórica, historia problemática.

Em suma, os representantes da escola dos Annales defendiam que não se pode reproduzir os acontecimentos porque é impossível isola-los de tudo que os integra ou por outra, não há realidade histórica que se ofereça completamente feita ao historiador. Este, face a imensa e confusa realidade deve fazer a sua escolha, não escolha simples, arbitrária, mas uma construção científica do documento cuja análise deve permitir a reconstituição e explicação do passado.

Contraste dos historiadores do século XIX e dos defensores da escola de Annales

Problemática histórica: a historiografia do historicismo coloca o investigador diante do facto e limita-se a transcrever a partir do documento, esta atitude não difere a de história positivista muito menos esta ultima tinha que passar pela crítica documental; portanto, na história nova a primeira atitude do historiador consiste em levantar problemas, hipóteses e trabalhar em função de uma solução possível.

História de repetição; a visão positivista da história era de fatos que obedecem leis singulares, do mesmo modo que o historicismo toma a historia como algo inseparável, na história nova a partir de Fancois Simiand (1903) introduz-se uma leitura de acontecimentos como estudo organizados em conjuntos repetitivos ciclicamente ou seja períodos de média duração.

Historia do passado para o presente e para o futuro; a história nova defende que o tempo histórico é o passado, do qual percebe-se o presente e perspectiva-se o futuro ou por outras palavras o presente enraíza-se no passado e condiciona o futuro.

A história total e global (universal): para os defensores da história dos annales, a história não se reduz nem a economia, nem a sociedade, nem a política, mas engloba todos estes elementos.

O objecto da história; como já se sabe que para o positivismo objecto de estudo da história é o facto político, esta historiografia introduz o estudo das conjunturas. Mais tarde Fernand Braudel entende que acima de dois objectos esta um outro nível a estrutura. Contudo, a história toma como objecto de estudo, o homem no tempo e no espaço.

2ª Geração dos Annales                     

A evolução da historiografia a partir de 1946

O período a pós Segunda Guerra Mundial marca a segunda geração dos Annales, nessa fase o estudo dos aspectos económicos foi privilegiado em detrimento de outros como o estudo da História-cultural, das mentalidades. Nessa fase ocorreu também “uma divisão interna dos trabalhos nos Annales. Enquanto Braudel investia nas questões da “civilização material”, Febvre trabalhava com o desenvolvimento de uma História das mentalidades.

A revista dos Annales alagou os seus horizontes já com Lucien Febvre sozinho em frente da direcção (Marc Bloch assassinado pelos Nazis em 1944), mas contando com uma valiosa colaboração de Fernand Braudel, Robert Mandrou, Marc ferro, Charles Moraze, Vitorino Magalhães Godinho.

 A história nova estrutura-se melhor, definir os seus campos, a sua problemática, os seus métodos e técnicas. Por todos países vão surgindo novas de ver a historia adaptadas muitas vezes as condições e problemas nacionais. A multiplicidade das obras que vão saindo a lume sobre metodologia e epistemologia novas da história, mas também novas obras sobre problemas ate há um pouco tempo disprezados pelos historiadores: a família, o amor, as festas populares, e o clima. Portanto, a história regista a partir de 1946 uma reformulação:

  1. I) A nível do objecto:dos estudos com adopção de novos objectos como a família a sexualidade, morte, a delinquência, a religião popular, ate ai e reservado a outras ciências, mas também busca novos heróis: marginais, mulheres, camponeses, operários.

Isto é tudo o que diz respeito ao homem e agora matéria de estudo em história.

  1. ii) A nível metodológico:aperfeiçoamento do seu método de investigação analise e encontrar novas técnicas e meios de investigação podendo os utilizar em muitas fontes históricas, o que deveu a evolução científica da época em geral e ao aperfeiçoamento das ciências auxiliares da história em particular. Deste desenvolvimento resulta um alargamento do amplo cronológico da história e surge assim na história nova uma especialidade dialéctica entre o passado e o presente que se procura compreender presente pelo passado e o passado pelo presente.

iii) No campo geográfico: passam a defender a universalidade após eurocentrismos. A Historia nova nega a sobrevalorização de certos povo e minimizando outros, e também contra a analise individualizada dos diferentes povos propondo a integração das sociedades num todo destacando claramente os delineamento marcando as relações e as inter-influencia condições de isolamento deferindo os centros donde partem as invenções numa sucessão cronológica daqueles que as recebem.

A história estrutural de Fernand Braudel

Após a morte de Lucien Fevbre, em 1956 a história iniciou, em 1958 e uma nova etapa sob liderança de fernand braudel seu sucessor, tornando-se o director efectivo dos Annales. As relações entre os dois “filhos” de Febvre, Braudel e Mandrou, tornaram-se progressivamente menos fraternais, e Mandrou demitiu-se de seu cargo de secretário executivo da revista em 1962. Braudel decidiu recrutar jovens historiadores, tais como: Charles Moraze, Georges Friedmann, Jacques Le Goff, EmmanueI Le Roy Ladurie e Marc Ferro com a finalidade de renovar os annales

Braudel, no seu artigo historia e ciências sociais a longa duração publicado em 1958, apresentava as ideias-chave de uma nova história a história estrutural baseada na longa duração. Portanto, Foi a partir de1962 quando annales confiou a uma nova equipa que a história nova seria sistematizada problemática, estrutural e interdisciplinar.

Características

Esta história defende que o tempo histórico nem sempre coincide com o tempo cronológico, dai que este deve ser medido não pela sequência do calendário, mas de acordo com a duração, sequencia permanência ou mudança dos fenómenos da acção humana. Entretanto, tendo em conta a multiplicidade e variedade do tempo social. Braudel, divide os acontecimentos em três (3) categorias:

Tempo curto refere-se ao tempo dos acontecimentos que se ocupam com a ocorrência de superfície ou de curta duração geralmente não requerem investigação nem analise cientifica profunda. Exemplo assinatura de um acordo.

Tempo médio aquele que se preocupa em estudar os acontecimentos de media duração. É o estudo das pequenas e breve variações cíclicas ou melhor conjunturas. Exemplo de uma greve que dura um ano.

Tempo longo aquele em que o historiador procura inserir as grandes repetições ou grandes permanências, é o tempo da história estrutural. Exemplo: os modos de produção cuja as mudanças não é brusca.

A aproximação com as ciências sociais, o ideal de história total e de longa duração perseguido pela história nova só pode alcançar se a Historia se aproximar das demais ciências sociais, só esse contacto permitira a história debruçar-se sobre todos aspectos ligado a humanidade. (o papel da interdisciplinaridade).

Renovação metodológica: a especialização do trabalho em pesquisa, a história estruturalista aparece quando começa-se a privilegiar a diacronia, o estudo dos acontecimentos em longos períodos de tempo na qual se compara os factos e se constata a sua repetição permitindo perceber o fundo inaltavel que sustenta o fluxo imparável dos factos, Ou por outras palavras é o estudo dos factos após terem acontecidos. Contrariamente com a Sincronia que retrata os acontecimentos na divida altura ou na exacta data que se dão.

3ª Fase dos Annales

Por volta de 1968 é identificada uma terceira fase do Movimento dos Annales, onde se destaca a preocupação dos historiadores em estudar as superestruturas sociais. Nesse período destacam-se Jacques Le Goff, E. Le Roy Ladurie, Marc Ferro, entre outros. Contudo, as tarefas administrativas foram as mudanças intelectuais ocorridas nos últimos vinte anos. O problema é que é mais difícil traçar o perfil da terceira geração do que das duas anteriores. Ninguém neste período dominou o grupo como o fizeram Febvre e Braudel.

A História das Mentalidades ganhou grande impulso. Houve a incorporação de novas temáticas e novas abordagens, assim, questões como a infância, o sonho, o corpo e o odor foram abordadas. Outros solaparam o projecto pelo retorno à história política e à dos eventos.

 Portanto, a terceira geração é a primeira a incluir mulheres, especialmente Christiane Klapisch, que trabalhou sobre a história da família na Toscana durante a Idade Média e o Renascimento; Arlette Farge, que estudou o mundo social das ruas de Paris no século XVIII; Mona Ozouf, fez estudo sobre a Revolução Francesa e Michèle Perrot, que escreveu sobre a história do trabalho e a história da mulher. Os historiadores anteriores dos Annales haviam sido criticados pelas feministas por deixarem a mulher fora da história, ou mais exactamente, por terem perdido a oportunidade de incorporá-la à história de maneira mais integral, A terceira geração dos Annales é bastante criticada. Seus Críticos dizem que essa fase teria optado pelo estilhaçamento da História, (História em Migalhas) e que, além desse aspecto, os Annales teriam perdido uma das características essenciais: a busca de uma construção histórica visando à totalidade.

O mesmo autor afirma que, esta geração, por outro lado, é mais aberta as ideias vindas do exterior. Entretanto, as novas abordagens exploradas por estes historiadores identificados com o movimento dos Annales, tentaram demonstrar que o centro de gravidade do pensamento histórico, não está mais em Paris, como seguramente esteve entre os anos 30 e 60. As inovações semelhantes aconteceram em diferentes partes do globo. A história das mulheres, por exemplo, não teve o seu desenvolvimento só na França. Mas também, nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Holanda, Escandinávia, Alemanha Ocidental e na Itália.

 

Bibliografia

BOURDÉ, Guy & MARTIN, Hervé. As Escolas Históricas. Portugal: Publicações

Europa – América, 1983.

Burke, Peter. A Revolução Francesa da historiografia: a Escola dos Annales 1929-1989, 2ª Edição, Editora Unesp, São Paulo, 1990

REINATO, Eduardo José. A Escola dos Annales e a “Nouvelle Histoire,  In: “A História da História”.  Ed. Da UCG, 2002;

SILVA, A.A., PERREIRA, G.M.M., SEREN, M.C., Introdução a historia 12ª Ano de Escolaridade, Edições, ASA, 1978.