Origem

Os primeiros Estado de Moçambique (Zimbabwe e Mwenemutapa). Mwene significa chefe e Mutapa significa terra conquistada. O Mwenemutapa era o chefe das terras conquistadas ou objecto conquistado. Queremos dessa forma introduzir o tema que diz respeito aos Estados dos Mwenemutapa, onde falaremos da sua origem, das suas actividades económicas, da sua organização política administrativa, da sua estrutura sócio económico, da sua ideologia, e de vários aspectos, incluindo a sua decadência.

Na desintegração do Grande Zimbabwe nascem dois Estados:

O de Torwa, com capital em Khami, na região do Grande Zimbabwe; o de Mwenemutapa, com capital em Dande, localizada Entre-Os-Rios Mazoe e Luia.

Por volta de 1450, Mutota, chefe do clã Rozwi, abandona a região do planalto do Zimbabwe com os seus seguidores em direcção ao vale do Zambeze, fixando-se na região de Dande, criando o Estado de Mwenemutapa. A partir de Dande e através de guerras de conquista, Mutota e, mais tarde, o seu filho Matope, dominam os reinos vizinhos, formando um império cujos limites se estendiam do Zambeze ao Limpopo  e do oceano indico  ao deserto do Kalahari.

Limites do Estado Mwenemutapa

Norte – rio Zambeze; Sul – Rio Limpopo; Este – Oceano Índico; Oeste – deserto de Kalahari.

A actividade económica

A actividade produtiva essencial das comunidades aldeãs Shona baseava-se na agricultura. Os principais cereais cultivados eram a Mapira, a mexoeira, o naxemim e o milho. Ao longo dos rios e sobretudo na zona costeira e solos aluvionares, cultivava-se o arroz, usualmente para venda. O nível das forças produtivas ainda era baixo. Nos trabalhos agrícolas utilizavam a enxada de cabo curto e a agricultura praticava-se sobre queimadas.

A pecuária, a pesca, a caça, bem como o artesanato surgiram como apêndices complementares da agricultura, submetendo-se aos imperativos do ciclo agrícola. O trabalho nas minas aparecia como imposição do exterior (da aristocracia dominante ou de comerciantes estrangeiros), não fazendo parte integrante da actividade produtiva normal. Com o decorrer do tempo, a penetração árabi-persa e portuguesa trouxe novas necessidades (bens de prestígio), as quais voluntária ou coercivamente levavam a população das comunidades a praticar a mineração do ouro em escala considerável. O ouro localizava-se nas regiões como:  Chidima, Dande, Butua e Manica.

As Mushas que integravam no geral uma família no sentido lato ou um grupo de famílias com o mesmo antepassado, o muri, viviam num regime de auto-subsistência e estavam fundamentalmente orientadas para a produção de valores de uso. Todas as relações entre os membros da sociedade Shona, ao nível das Mushas, eram fundadas no parentesco. Acima das Mushas, como entidade superior erguia-se a aristocracia dominante.

Aristocracia dominante

Na sociedade Shona, o Estado era personificado na pessoa do soberano, o Mambo, que devia desligar-se da sua origem terrena para conferir à realeza, um carácter sagrado. Tornava-se assim o representante supremo de todas as comunidades, o símbolo da unidade de interesses dessas comunidades. Para quebrar todas as ligações com a sua linhagem, e se tornar representante de toda a sociedade, indiferente às rivalidades familiares, o Mambo cometia no momento da sua entronização, o incesto com uma parente próxima, infringindo desse modo o mais absoluto interdito. Daí que a principal mulher do Mwenemutapa era a sua própria irmã.

A autoridade efectiva do Mambo processava-se através dos seus subordinados territoriais que integravam um complexo aparelho de Estado. Esquematicamente a estrutura político administrativa pode ser representada da seguinte maneira:

Estrutura política administrativa

Mambo:  chefe supremo;

Mazarira, Inhahanca e Nambuiza:  três principais esposas do soberano com importantes funções na administração;

Nove altos funcionários: responsáveis pela defesa, comércio, cerimónias magico-relegiosa, relações exteriores, festas;

Fumos ou Encosses:  chefes das provinciais;

Mukuru ou Mwenemusha:  chefes das comunidades aldeãs ou das Mushas;

As Mushas

O mambo possuía alguns Funcionários subalternos:  Mutumes  (mensageiros) e os Infices  (guarda pessoal do soberano – Mambo).

Há que notar aqui que elegia se Fumo a quem tivesse maior riqueza material. Depois que ficara pobre, a comunidade destituía-o através de uma cerimónia pela qual lhe eram atribuídos certos símbolos de prestígio (um bordão e um chapéu de palha). O fumo deposto passava a pertencer ao grupo dos “grandes” por mérito. Salientar que semelhante controlo não operava ao nível dos Mambos, geralmente oriundos da aristocracia invasora descendente de Mutota, na qual a transmissão do poder se fazia por via hereditária.

Articulação entre a aristocracia dominante e as comunidades Mushas

A articulação entre a aristocracia dominante e as comunidades aldeãs encerrava relações de dominação/subordinação e exploração do homem pelo homem, materializadas pelas obrigações e direitos que cada uma das partes tinha para com a outra. As comunidades aldeãs (Mushas) sob direcção dos Mwenemushas, garantiam com o seu trabalho a manutenção e reprodução da aristocracia dominante e esta concorria para o equilíbrio e reprodução social de toda a sociedade Shona com o desenvolvimento de inúmeras actividades não directamente produtivas.

Obrigações das Mushas

Prestar 7 dias de trabalho mensais nas machambas do Mambo;

Construção de casas para os membros da classe dominante (ZUNDE);

Mineração do ouro para alimentar o comércio a longa distância que garantia a importação de produtos para a sociedade Shona, os quais ascendiam a categoria de bens de prestígio (missangas, tecidos, louça, porcelana, vidros.).

Pagamento de imposto em primícias das colheitas (tributo simbólico) e uma parte da produção agrícola (regular);

Entrega de marfim, peles de animais e penas de algumas aves;

Entrega de materiais de construção de residências da Classe dominante, como pedras, estaca, palha.

Obrigações da Classe dominante

Orientar as cerimónias da invocação da Chuva;

Pedir aos Muzimos reais (espíritos dos antepassados reais) a fertilidade do solo, o sucesso das colheitas;

Garantir a segurança das pessoas e dos seus bens;

Assegurar a estabilidade política e militar no território;

Servir de intermediário fiel entre os vivos e s mortos;

Orientar as cerimónias magico-relegiosa contra as cheias, epidemias e outras calamidades.

Imposto em géneros:

Primícias das colheitas (tributo simbólico) e uma parte da produção (tributo regular);

Marfim, pelas e penas de alguns animais e aves, respectivamente;

Materiais para a construção da classe dominante: pedras, palhas.

Papel das crenças magico-relegiosa ou aparato ideológico dos Mwenemutapa

A religião foi um factor integrador fundamental do sistema político Mwenemutapa. Proprietários de saber da fecundidade da terra e depositários da ordem do mundo, os Mwenemutapas constituíam os antídotos mais eficazes contra deserdem. A sua morte significa o caos (choriros).

Praticava-se o culto aos espíritos dos antepassados os Muzimus mais respeitados e temidos eram os de reis. Os especialistas que garantiam a ligação entre os vivos e os mortos eram chamados de Swikiros (também denominados Pondoros ou Mondoros). Associados ao poder político, os Swikiros eram o suporte das classes dominantes.

Causas da decadência do império de Mwenemutapa

Fixação dos mercadores portugueses na costa;

Lutas pela sucessão;

Falta de um exército permanente;

A interferência dos estrangeiros, sobretudo dos portugueses nos assuntos internos do estado;

Invasão dos Ngunis;

Alianças dos sucessores dos Mwenemutapa reinante aos portugueses.

 

Bibliográfica

RECAMA, Dionísio Calisto. História de Moçambique, de África e Universal. 1ª ed. Maputo, plural editores, 2006. 160P.

SERRA, Carlos. História de Moçambique: Parte I- Primeiras Sociedades Sedentárias e Impacto dos Mercadores, 200/300-1885; Parte II- Agressão Imperialista, 1886-1930. Volume I e II, 2ª edição, Maputo, Livraria Universitária, UEM, 2000. 260P

SUTO, Amélia Neves de, Guia Bibliográfico para o Estudantes de História de Moçambique, UEM/CEA, Maputo, 1996. 234P

RITA-FERREIRA, Fixação Portuguesa e História Pré-Colonial.de Moçambique, instituto de investigação científica tropical/ junta de investigações científicas do ultramar, LISBOA— 1982