Em Moçambique estiveram instalados dois sistemas de exploradores e ou comerciantes: A coroa portuguesa com a sua sede em Lisboa e os Prazeiros com uma parte em Lisboa e outra na Índia.

Destes, a maioria parte da riqueza comercial era canalizada para GOA – ÍNDIA, onde uma elite comercial se estabelecera luxuosamente em GOA, DIU, etc, e o que chegava a Lisboa era em pequena escala.

Era através de Goa que a coroa portuguesa administrava Moçambique. O capitão-geral de Moçambique estava subordinado ao vice-rei de Goa. No séc. XVII, a Índia tornou-se verdadeiramente “metrópole” mercantil de Moçambique no que diz respeito à acumulação do capital quando os primeiros indianos começaram a chegar à Ilha de Moçambique.

Em 1686, o vice-rei de Portugal formou em Diu uma Companhia chamada Companhia dos Mazanes, composta por ricos armadores e mercadores indianos, a qual obteve o monopólio do comércio entre DIU-ÍNDIA e MOÇAMBIQUE, bem como extensos privilégios comerciais em termos de fretes, apoio logístico, ajuda oficial portuguesa, etc.

Na sequência da formação da companhia dos Mazanes, os mercadores indianos foram chegando no nosso país, os primeiros 7 em 1687 e fixaram-se na Ilha de Moçambique. Ano após ano, passaram ao Interland da Ilha, depois ao vale do Zambeze, Inhambane e em Lourenço Marques.

O principal objectivo (papel) da criação da Companhia é de controlo do comércio do ouro (séc. XVI-XVII) e mais tarde de marfim e escravos.

A formação desta companhia foi programada em Goa e não em Lisboa pelo interesse da nobreza portuguesa na Índia e não da estabelecida em Portugal. Esse facto reflectiu contradições dentro da própria classe dirigente portuguesa (pele obtenção do maior bocado da mina colonial mercantil), culminando com a separação de Moçambique de Goa em 19 de Abril de 1752altura em que o nosso país passou a ter um estatuto próprio de subordinação à Lisboa, onde D. Francisco de Melo e Castro foi nomeado Governador-General.

As modalidades de comércio

O comércio de marfim envolvendo os Makua e os mercadores estrangeiros fazia-se de duas formas que por vezes se complementavam:

  1. Tráfico regularcom os makua e os reinos vizinhos, e por vezes com mercadores yao do lago Niassa, que levavam marfim, tabaco e azagaias para trocar nos armazéns dos portugueses, por tecidos e missangas;
  2. Envio ao sertão,dospatamares (mercadores africanos). Este sistema era usado, em geram pelos mercadores indianos.

A MAKUANA

Refere se região do Hinterland da Ilha de Moçambique, abrangia uma grande extensão de terras cujos limites não eram muito precisos. Estendia-se aparentemente, do sul do paralelo da Ilha de Moçambique até ao paralelo de Cabo Delgado, apanhando a costa de Zanzibar. A norte era limitado pelo Memba e a sul pelo Angoxe. A Makuana surge na sequência da queda do comércio de marfim no Estado Marave ou bloqueio da rota comercial Chire-Mussoril dominado pelos Marave.

Na Makuana existiam três territórios: Utikulo, Cambira e Uocela/Uanela que faziam parte de reinos sem configuração estatal e cujos chefes se chamavam Morimuno, Mauruça, Mocutumuno, Movumuno e Inhamacoma. Foram provavelmente povos de origem Phiri-Lundu os chefes que no que no séc XVI conseguiram unificar os clãs macua da região de Uticulo, ligados ao movimento “Zimba” e envolvidos nas numerosas guerras na macuana.

O grosso comércio era feito no hinterland fronteiro da Ilha de Moçambique (Mossuril) e nas duas cabeceiras (grande e pequena). Havia duas modalidades de comércio: uma consistia em traficar regularmente com Macuas de reinos vizinhos e outra sazonalmente com mercadores Ajauas, que vindo do lago Niassa traziam essencialmente marfim em menor escala, tabaco, azagaias, etc, trocando com portugueses por tecidos e missangas da Índia.

Esse comércio era feito em pequenos armazéns, geralmente por portugueses, que trocavam o marfim por tecidos vindos da Índia e por missangas. O comércio na macuana era feito pelos mercadores africanos chamados Patamares, isto é, os portugueses fixaram-se na zona costeira e os chefes africanos (Patamares) entravam no Hinterland (interior) buscavam marfim e trocavam com os mercadores portugueses.

Os reinos mais poderosos eram os de Mouruça e Morimuno que durante a década de 1720 envolveram-se em conflitos com os portugueses devido à passagem dos Ajauas dos seus territórios. Mas apesar dessas hostilidades que predominavam até 1749 as relações entre os chefes macuas e os portugueses foram pacíficas até 1753.

A interferência constante de Morimuno no trânsito das caravanas Ajaua, que traziam marfim do interior levou ao Governador-Geral português (Melo e Castro a atacar, em 1753, o reino Morimuno com 100 soldados regulares e 600 a 1000 auxiliares fornecidos pelo Xeique de Sancul e de Quitangonha, incendiando as povoações abandonadas. De 1756 a 1758, Morimuno junto com Mouruça voltou a bloquear o trânsito das caravanas Ajauas.

Em quase todas as batalhas de marfim na Macuana paticiparam os Xeiques de Qunitangonha e de Sancul que governavam os reinos litorais e interessados no comércio de escravos, os xeiques auxiliavam com frequência os portugueses nas lutas contra os Macua com vista a eliminar um concorrente perigoso.

É provável que o declínio da Macuana tenha sido o bloqueio da saída de marfim pela Ilha de Moçambique a partir de 1785 em detrimento da Baia de Maputo que fornecia marfim através das classes dominantes de Nduandue e Nguane. Na Baia de Maputo (Outrora Baía de Lourenço Marques ou Baía da Lagoa), os chefes se envolveram sobretudo no comércio de marfim e outros produtos como âmbar, pontas de rinoceronte, ouro e cobre trazido pelos cafres das montanhas

Por causa do marfim, os reinos envolviam-se em frequentes guerras. Cada rei tinha por costume receber em sua casa o “comissario” encarregado de comprar marfim. E em relação ao controlo do comércio de marfim pelos reis da Baía de Maputo podem destacar-se duas fases antes de 1800:

Primeira Fase 1550-1750: em que se estabeleceu um comércio português muito regular e de fraco volume entre a Baia e a Ilha de Moçambique, que consistia na troca de tecidos indianos por marfim, pontas de rinoceronte e dentes de cavalo-marinho. As trocas faziam-se em vários pontos da Ilha de Inhaca e Xefina e nas praias de Tembe e Matola.

Segunda Fase 1750-1800: muitos navios holandeses e ingleses chegavam regularmente à baía, incrementando a actividade comercial com a Europa e com a Índia. O marfim continuava a ser o principal produto de exportação e em troca, recebiam missangas, lingotes de latão e de cobre. Incrementou-se igualmente o comércio por barcos e canoas nos rios Maputo e Incomáti onde os comerciantes garantiam o acesso com armas de fogo.

Foi durante esse processo que o rei Mabudu (Maputo) conseguiu a sua hegemonia comercial sobre a Baía de Maputo, a área dos Nguni e o reino Nhaca. A dominação dos reinos Mabudu, Nuamba e Cossa durou até ao ascenso dos grandes Estados Nguni-Zulo, Swazi e Gaza no período de 1820/40 passando a estar subordinados a estes últimos.

 

Referencias

DHUEM. História de Moçambique: Parte I- Primeiras Sociedades Sedentárias e Impacto dos mercadores, 200/300-1885; Parte II- Agressão Imperialista, 1886-1830. 1ª Edição, Vol. I, Maputo, 2000.

KI- ZERBO, Joseph. História de África Negra. Mira Sintra, Publicações Europa – América; Vol. I, 3ª ed. 1999.

NEWITTI, Malyn. História de Moçambique. Edição, Publicações Europa – América, 1997

SOUTO, Amélia de Neves. Guia Bibliográfico para Estudante de História de Moçambique. (200/300-1930), Maputo, 1996.