Mobilidade Social
Do ponto de vista sociológico, conceito de mobilidade social, expressa a transição de uma posição social a outra, realizada por um indivíduo (Johnson, 1997).
Para Sorokin (1968, cit. em Lakatos, 1990), entende-se como mobilidade social “toda passagem de um individuo ou de um grupo de uma posição social para outra, dentro de uma constelação de grupos e estratos sociais” (p. 268). Destacamos as definições de Johnson e Sorokin para melhor entendimento da dimensão deste conceito da mobilidade social.
Por outro lado, Giddens (2005), sustenta que “o termo mobilidade social refere-se ao deslocamento de indivíduos e grupos entre posições socioeconómicas diferentes” .
Eventos de vida, como transição para a universidade, mudança de emprego, união matrimonial ou o nascimento de uma criança causam um conjunto de consequências na vida dos sujeitos, inclusivamente implicam ou estimulam a mobilidade no contexto social, afectam as necessidades e preferências por um determinado ambiente residencial, influenciam os recursos necessários para obter a casa desejada e impõem restrições na procura de habitação.
Por outras palavras, a mobilidade social depende das preferências do indivíduo ou da sua família, sendo esta escolha de um certo meio ambiente determinada pelos recursos, essencialmente financeiros, pelas restrições, como a distância do local de trabalho e pelas oportunidades e constrangimentos ao nível do contexto, como por exemplo a existência de poucas habitações disponíveis.
Na visão de almeida (1969),
As posições sociais são momentos de trajectórias, duas posições «idênticas» não o serão efectivamente se situadas em trajectórias diferentes. Esta proposição tanto se aplica a actores sociais individuais como a actores sociais colectivos (desde que efectuadas as transformações exigidas pela mudança do campo de validade dos conceitos), convindo — quer num, quer no outro caso — ter em conta, não só os dados de carácter objectai, como os elementos subjectais envolvidos nas trajectórias de mobilidade.
Portanto, no sentido lato a mobilidade social pode ser compreendida como sendo a mudança de posição dentro da estrutura hierárquica de uma sociedade, pelo que, essa mobilidade é manifestada pelos grupos individuais ou colectivos.
Fundamentos psicobiológicos
Ao nível teórico, Giddens (2005), defende que a “mobilidade esta geralmente associado a problemas psicológicos e ansiedades, nos quais os indivíduos perdem a capacidade de manter os estilos de vida que estão acostumados a ter” .
A influencia da carrega genética dos progenitores para genitores é um alicerce sine qua non psicobiológico da mobilidade social e os processos psicológicos humanos se desenvolvem como um resultado do modo de produção, relações sociais de uma sociedade. Conforme avança Vygotsky (1989), as relações sociais são as forças motrizes das funções psicológicas superiores, “geneticamente relações sociais, relações reais entre as pessoas, são a base de todas as funções superiores e suas relações”.
Ainda na mesma perspectiva, Vygotsky (1981), avança que o desenvolvimento cultural, o desenvolvimento histórico e o desenvolvimento social são “as forças motrizes de todas as funções mentais humanas a natureza psicológica dos seres humanos representa o agregado de relações sociais internalizadas que se tornaram funções para o indivíduo e, nesse processo, estrutura suas funções mentais superiores” (p. 164).
A partir do entendimento das abordagens de Vygotsky, é possível compreender que o factor psicológico e biológico do indivíduo social influencia nas alterações no contexto cultural, histórico e social. Isso nos leva ao ponto de que mobilidade social assenta-se nos fundamentos psicobiológicos.
As alterações, resultantes das epidemias, elevação da taxa de mortalidade, rápido crescimento da população e a miscigenação de grupos étnicos dão origem a mobilidade social. Uma vez que esses fundamentos podem ocasionar desajustamentos e desequilíbrios nos mais diversos sectores da sociedade, alterando a estrutura económica, a organização do trabalho, a distribuição do poder e o modo de vida das populações.
Descobertas científicas alteram a mentalidade, abrem novas perspectivas, modificam atitudes básicas e transformam a sociedade pela aplicação dos conhecimentos científicos a todos os campos da vida social. Tomando como exemplo, a descoberta da vacina que aumenta o sistema imunológico contra covid19, dos antibióticos em geral trouxe alterações no equilíbrio populacional do mundo, ocasionando a sua explosão com múltiplas consequências em todos os sectores da organização social.
Desenvolvimento de aspectos intelectuais propicia a mobilidade social, as transformações ocorridas nas ideias e valores, o desenvolvimento da filosofia, a criação, descobrimento e difusão de novas teorias, nos mais diferentes campos, fundamentam as alterações na organização da sociedade, com o surgimento de novos grupos e o declínio dos antigos. Na educação, o capital escolar dos pais determina o contexto da mobilidade considerando o gosto e preferências individuais através das relações de participação estabelecidas com a sociedade. Neste modelo, a participação social que é realizada posteriormente, ao longo da vida, é uma consequência directa da socialização precoce e reflecte as desigualdades inicias existentes determinado que crianças de classes sociais superiores sejam sempre socialmente mais avanças, bem como a situação contrária.
Fundamentos histórico-cultural
Na história de qualquer grupo social e culturalmente organizado ocorrem períodos em que a mobilidade (social) aumenta de forma notável, os principais fundamentos histórico-culturais que aceleram esta mobilidade estão associados as crises, ideologias, revoluções, e depressões económicas1. Os elementos histórico-culturais são veículos de mobilidade em que o capital próprio do individuo e a sua experiencia vão assumindo cada vez mais protagonismo, contrariando, assim, a tendência fatalista da reprodução social.
Para óptica de Giddens (2005), perante estes fundamentos da dimensão histórico-cultural, o processo da mobilidade ocorre da seguinte forma:
- Na medida em que fome, epidemias e guerras tendem a aumentar a mortalidade no interior dos grupos sociais, criando vagas que deverão ser preenchidas pela promoção de pessoas habilitadas;
- Nas grandes revoluções politicas, parte e, as vezes, a totalidade da classe governante e afastada, sendo substituída por indivíduos e grupos oriundos de estratos inferiores.
Tomando como exemplo, o caso de Moçambique, a mobilidade contemplada à partir da passagem da comunidade de caçadores e recolectores para comunidade que se dedicava essencialmente a pratica da agricultura e pastorícia ou seja, da sociedade primitiva á sociedade sedentária.
Vejamos o seguinte caso, com expansão islâmica iniciada à partir do século VII de golfo pérsico á costa de África oriental, interessados pela disseminação da ideologia islâmica bem como na operacionalização das actividades comercias dessa forma, a presença dos povos árabes em África em partícula no caso da costa moçambicana, alterou significativamente o estilo de vida de grande.
As depressões económicas referidas nesse trabalho estão aliadas a falta de produtos (alimentícios) que garantem a subsistência de um determinado grupo social. 2 No caso dos efeitos provocados pela guerra em particular, ainda, aceleram as promoções (e rebaixamentos) nas forcas armadas, no sector governamental, ocupacional e económico.
Parte dos povos da costa oriental moçambicana, visto que um número relevante passou a seguir a doutrina islâmica em detrimento das crenças pré-existentes, portanto, á essa alteração verificada no contexto histórico-cultural atribui-se o sentido da mobilidade social.
Contudo, as guerras, invasões e conquistas e revoluções, alteram as estruturas sociais, modificam os itens culturais no interior de um determinado grupo, por conseguinte, são fundamentos histórico-cultural da mobilidade social.
Quadro comparativo de fundamentos da mobilidade social
Fundamentos Psicobiológicos Fundamentos histórico-culturais
Nos fundamentos Psicobiológicos, a mobilidade social acontece mediante:
- Desenvolvimento da ciência;
- Desenvolvimento de aspectos intelectuais;
- Educação;
- Catástrofes naturais.
Nos fundamentos histórico-culturais, a mobilidade social acontece mediante:
- Ideologias;
- Revoluções;
- Organização política;
- Migrações.
Referencias Bibliográficas
Almeida, José Carlos Ferreira De. (1969). Mobilidade e Posições sociais: uma analise teórica e conceitual. Lisboa.
Bourdieu, P. (1979). La distinction-critique sociale du jugement. Paris: Editions de Minuit.
DiMaggio, P. (1982). Cultural capital and school success: the impact of status culture participation on the grades of U.S. high schools students. In American Sociological Review.
Feijten, P., Hooimeijer, P., & Mulder, C. H. (2008). Residential experience and residential environment choice over the life-course. Urban Studies Journal.
Giddens, Anthony. (2005). Sociologia. Porto Alegre: Artmed.
Johnson, A. G. Dicionário de Sociologia, guia prático de linguagem sociológica. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
Lakatos, Eva. M., Marconi, M. A. (2003). Metodologia Científica. (5a.ed.), São Paulo: Atlas.
Lakatos, Eva Maria. (1990). Sociologia geral. (6a.ed.), São Paulo: Atlas.
Vygotsky, L. S. (1989). Concrete human psychology. Soviet Psychology.