No início os colonialistas portugueses encontraram uma forte resistência dos moçambicanos.
Todavia, alguns Mwenemutapas trairam a resistência heróica do nosso povo. Essa traição provocou revoltas e lutas internas como a de 1596, em que Mambos de Quiteve e Manica se revoltaram contra o Mwenemutapa Gatsi-Rusere, o qual permitiu a entrada e fixação dos comerciantes e militares portugueses.
Em 1597 e 1599, outros Mambos apoiaram a revolta de Quiteve e Manica contra o traidor Gatsi-Rusere. Este vendo-se incapaz de enfrentar sozinho uma revolta, pediu apoio militar aos portugueses.
Em 1607, Gatsi-Rusere venceu os chefes revoltosos e os portugueses, por sua vez, exigiam-lhe a entrega de melhores terras e de todas as minas de ouro, cobre e estanho.
Assim, em 1608, o Mambo de Bárue, Mutusianhe, revoltou-se e desencadeou uma grande guerra com Gatsi-Rusere. Mutusianhe tornou-se então o novo chefe do império. Em 1623, Gatsi-Rusere sofreu várias derrotas infligidas pelos outros chefes até a sua morte.
Em 1628, Mazura tio de Caprazine, tornou-se Mwenemutapa com auxilio dos portugueses. Mazura voltou a entregar as minas de ouro, cobre, prata e estanho aos portugueses, permitiu que construissem igrejas e que ensinassem a todos os habitantes do império a religião católica.
Este trouxe grande sofrimento no seio dos camponeses. O trabalho nas minas ocupava muito os camponeses, obrigando-os a abandonar as suas machambas e aumentando assim a fome. Os camponeses revoltaram-se contra o Mwenemutapa Mazura.
Em 1693, Changamire 2º, Mambo de Butua, com apoio de outros mambos e dos camponeses, expulsaram os colonialistas portugueses das terras de Mutapa e foi escolhido para um novo Mwenemutapa.
Resistência No Sul De Moçambique
No início do século XIX, Lourenço Marques era uma pequena povoação onde viviam alguns comerciantes portugueses e as suas famílias e um governador representando o rei de Portugal. Este obrigava a população a pagar imposto que se chamava de “imposto de palhotas”.
Com a expulsão dos soldados portugueses levou o governo de Lourenço Marques a procurar aliança junto dos chefes das povoações vizinhas que aceitaram pagar imposto.
Em 7 de Novembro de 1894, deu-se a batalha de Coalela. Os portugueses organizavam-se para o ataque em forma do quadrado, esta chamava-se de táctica de quadrado. Em 28 de Dezembro de 1895, os portugueses atacaram a capital do império de Gaza (Manjacaze), nesta batalha os portugueses utilizaram metralhadoras, cavalos e chefiados por Mouzinho de Albuquerque. O Ngungunhane, imperador de Gaza, e Matibjane, chefe de Zixaxa, foram presos e deportados para a Ilha de Açores (Portugal) onde vieram a falecer.
Continuando os portugueses no território, a luta de resistência contra os colonialistas também continuou com o novo chefe Maguiguane. Este resistiu heroicamente aos portugueses, organizou revoltas populares atacando com sucesso os postos militares dos portugueses.
Em 8 de Agosto de 1897, deu-se a batalha de Macontene. Nesta batalha os portugueses utilizaram metralhadoras, cavalos, sipáios. Os nossos guerreiros utilizavam lanças, setas, e espingardas de carregar pela boca.
Resistência No Norte De Moçambique
Também no norte de Moçambique houve forte resistência do povo à ocupação colonial portuguesa.
Dese 1895 até 1940 foram travadas violentas e sucessivas batalhas. Os principais chefes que se destinguiram foram Mocutu-Munu e Ibrahim (Monapo e Ilha de Moçambique).
Os Namarrois, povo desta região utilizavam uma táctica diferente dos guerreiros de Gaza, eles utilizavam a emboscada que consistia na maior movimentação dos guerreiros em puequenos e grandes grupos. Aproveitavam as montanhas, árvores e capim alto para se esconder e atacavam de surpresa os colonialistas portugueses.
A emboscada atrapalhava muito os soldados portugueses, por isso sofreram constantes derrotas.
As guerras dos Namarróis começou em Outubro de 1896 e depois de defendidos os combates por onde participaram travadores do norte e sul com apoio de Mouzinho de Albuquerque.
Outros chefes destacados são: Farlahi, de Angoxe, Mataca, de Niassa, e Mussa-Quanto, de Nampula.
Farlahi e outros chefes de Monapo e da Ilha de Moçambique alcançaram sucessivas victóris em batalhas sangrentas. A principal batalha foi no quartel de Parapato em 1905 e distribuição de vários quartéis portugueses até Mongicual.
Farlahi foi preso em 1910 e foi deportado para a Guiné onde veio a morrer em 1918. também em Cabo Delgado, os guerreiros do Planalto de Moeda resistiram heroicamente até 1920.
Resistência No Centro De Moçambique
Na região centro, antigos prazeiros e chefes de Báruè resistiram de modo tenaz durante muitos anos chefiados por Cambuemba.
Cambuemba foi derrotado em 1902 quando os portugueses utilizaram um grande número de soldados, metralhadoras e canhões. Em 1917 os colonialistas portugueses obrigaram a população a participar na construção de estradas e a alistarem-se no exército português. A este descontentamento chamou-se a Rebelião de Báruè.
A população de Báruè, Tete, Manica e Sofala revoltaram-se contra estas decisões durante cinco anos, os portugueses não conseguiram derrotar o povo de Báruè.
NB: A superioridade das armas dos portugueses e a falta de união entre os Moçambicanos e a traição de alguns chefes fraqueceu a heróica resistência do nosso povo.
A ocupação efectiva de Moçambique prolongou-se até 1920
Não obstante as lutas de resistência contra o colonialismo português continuaram sob diversas formas até a independência.
A montagem do estado colonial. Garante do funcionamento da economia colonial
Fracassada a resistência por falta de unidade e armamento tecnologicamente avançado o governo colonial montou um aparelho de Estado para oprimir e reprimir a população.
Dividiram o país em distritos e estes em circunscrição e conselhos. As circunscrições foram divididas em postos.
Os distritos tinham governadores que controlavam os administradores e as suas ordens.
Os administradores eram ajudados pelos régulos na cobrança de impostos, tributos, recrutamento de trabalhadores para as plantações e para as minas, recrutamentos de homens para o exército.
– Detenção de pessoas para o xibalo.
O sipáio era para reprimir a população, ajudando os administradores e os régulos. Os régulos cobravam uma taxa aos mineiros e recebiam uma quantia por cada problema que resolviam.
Para o funcionamento da economia colonial estava baseada nas plantações cujas culturas estavam viradas para o mercado externo, algodão, cana-de-açúcar, coqueiro, borracha e outros.
Para plantar, sachar, cortar, extrair, transportar para as fábricas e processamento industrial, carregamento de navios era utilizada a força braçal, pois não havia máquinas. O colono fazia recenseamento distribuindo cadernetas para controlar o pagamento de impostos e trabalho forçado.
A mão-de-obra era importada para África do Sul e Rodésia do Sul.
A mão-de-obra barata era também utilizada na carpintaria, serralharia, metalurgia, construções públicas, oficinas de reparação de barcos e tinham como dirigentes os estrangeiros.
Acção do estado colonial e a transformação das plantações, surgimento das companhias
o estado colonial estava virado a exploração das plantações e através das culturas obrigatórias.
Nas plantações haviam muitas tarefas diferentes: depois da colheita, os produtos tinham que ser transportados para pequenas fábricas onde eram transformados e embalados, e eram transportados para a Europa.
O trabalho nas plantações era muito duro, os trabalhadores eram mal alimentados, salários pagos mal chegavam para pagar o imposto de palhota.
A exploração do nosso continente assentou-se mais sobre os camponeses.
Muitas potências aproveitavam-se da mão-de-obra barrata dos camponeses para a produção das matérias-primas de que necessitavam para as suas indústrias.
A introdução de culturas obrigatórias como o algodão, o sisal e outras necessárias ao funcionamento das indústrias europeias em detrimento das actividades de subsistência dos camponeses, foram algumas das formas adoptadas.
Os camponeses eram recrutados para trabalhar na construção de estradas, linhas férreas e outras infraestruturas de apoio ao sistema colonial.
Os camponeses revoltaram-se da seguinte maneira: sabotagem das companhias agrícolas através da fervura das sementes antes de lançá-las à terra, abandono das terras, iam fixar-se longe do controlo das autoridades coloniais.
O sistema tributário
O regime tributário instituído no território, uma monografia da Companhia de Moçambique.
O mussoco não era uma institução nova nas relações sociais a norte do Púnguè, era uma estrutura tradicional pré-capitalista. Os excedentes agrícolas para a “elite” prazeira era utilizada para alimentação dos A-Chicundas.
A mão-de-obra, o mussoco e o imposto de palhota não eram simples mecanismos tributários com carácter mais ou menos simbólico, em um objectivo de uma relação social fundamental concreta determinada entre o camponês e o capital, era a dominação capital sobre o trabalho.
O sistema tributário implantado na cobrança de receitas conduziu a evolução do processo político.
Assim, uma alta rentabilidade era assegurada pela manutenção das formas de produção pré-capitalista, as quais permitiram que a força do trabalho fosse produzida fundamentalmente pelo sector familiar, reservando-se ao sector capitalista.
A política concessionária
Em muitas partes de África os governos europeus usaram asCompanhias Concessionárias para explorar os impérios recém-conquistados. Por esse sistema as companhias privadas eram concedidas várias terras africanas para explorar os seus próprios recursos em nome da potência colonizadora. Os britânicos usaram este sistema na Nigéria e na Rodésia com a British Southern African Company (BSAC), Imperial East African Company (IEAC) na África Oriental.
No nosso país são conhecidas as Companhias de Niassa, da Zambézia e de Moçambique.
A Companhia da Zambézia arrendava prazos na Zambézia e em Tete, bem como parte de Tete e da Zambézia estavam sob controlo directo de Portugal.
Em contrapartida, o governo português reserva-se o direito de receber percentagem dos dividendos distribuidos.
Os arrendatários dos prazos tinham de entregar uma parte do mussoco cobrado.
Pode-se, contudo, dizer que as companhias não foram muito sérias na sua dominação, a maioria destinava-se aos interesses individuais, daí que as resistências dos povos africanos nos finais do século XIX tivessem levado a falência de muito delas.
As companhias concessionárias foram igualmente usadas durante o período de expansão dos alemães, franceses e portugueses.
A política laboral
A acção na esfera produtiva resultou no desenvolvimento de novas formas de produção e numa transformação das relações de produção. Esse longo processo caracterizou-se na essência pela progressiva dominação de Manica, Sofala e Companhia de Moçambique.
Foi a subordinação de trabalho as necessidade de acumulação do capital produtiva que rompeu com as antigas relações de produção dominantes das formas pré-capitalistas permitindo assim o desenvolvimento do capital colonial. A passagem da história pré-imperialista para a era imperialista por excelência recorda-nos o que disse Marx: nas colónias o modo de produção e de apropriação capitalista choca por toda parte a propriedade, colónia do trabalho pessoal, contra o produtor que dispondo das condições exteriores do trabalho se enriquece a sí mesmo em vez de enriquecer ao capitalista. Se o capitalista se sentira apoiado pela potência da mãe-pátria procura afastar-se violentamente do seu caminho à perda do tropeço.
O capitalismo colonial só se podia desenvolver através do domínio e exploração do trabalho assalariado nas plantações “farms”; nas explorações minerais ou noutros sectores da economia colonial que foram necessários desde o início, uma violência extra-económico capaz de arrastar a força do trabalho do campesinato do território para o trabalho remunerado e, também o trabalho forçado. A situação política e militar prevalecente nos anos que imediatamente se seguiram a criação da companhia, colocava-se sérias entraves ao recrutamento da mão-de-obra embora as necessidades fossem ainda modestas, dada a pouca transformação sofrida pela economia no sector produtivo e a fraca implantação da administração no território. O campesinato que encontravam na produção doméstica uma fonte de rendimento suficientemente remunerativa para as suas necessidades manifestava-se pouco receptiva as solicitações do mercado de trabalho.
Tornava-se necessário assegurar o fornecimento a preços baixos para garantir o desenvolvimento da economia colonial.
Neste sentido achou-se conveniente centralizar o recrutamento e a distribuição da mão-de-obra. Contribuiu para o efeito a criação em 1895 da inspecção geral dos negócios indígenas repartição central responsável pela direcção superior de todos os assuntos relativos com as relações com a produção africana, cobrança de imposto, fornecimento de trabalhadores para os serviços da companhia de particulares bem como a relação com chefes africanos.
A submissão ao poder colonial associava-se a obrigação de prestação de trabalho a companhia como tributo, como por exemplo as explorações militares que operavam nos vales de Buzi e Save, em 1896 puseram a disposição da companhia cerca de mil trabalhadores.
O crescimento da economia colonial com o desenvolvimento das plantações e “farms”, da exportação mineira e como o aumento da actividade do Caminho-de-Ferro e no Porto da Beira nos anos 1900, exigia com mais permanência a definição da política laboral mais adaptadas as crescentes necessidades coloniais.
A companhia já controlava extensas áreas de produção de borracha, coqueiros e milho e unidades de produção de tijolos, cal e lenha. A partir de 1904, as plantações e as minas de Manica começaram a expandir-se para áreas, ao mesmo tempo que cresciam as “farms” ao longo do caminho-de-ferro.
Em 1907, entrou em vigor a principal legislação de trabalho aprovado pelo governo português para o território, nomeadamente: o regulamento geral do trabalho dos indígenas no território da Companhia de Moçambique, regulamento para o fornecimento dos indígenas à particulares no território de Manica e Sofala, e regulamento para o recrutamento de indígenas de Manica e Sofala.