O XEICADO DE SANGAJE
Conceitos básicos
Segundo (Bicá, 2010, p. 47), Xeicado – refere-se a um sistema de governo dirigido por um xeque, chefe de tribo árabe.
Sultanato – é um sistema de governo dirigido por um sultão, título dado a certos príncipes maometanos, senhores poderosos e despóticos.
Formação de Xeicado de Sangage
Desde a sua formação, o Xeicado de Sangaje esteve ligado ao sultanato de Angoche e só obteve a sua autonomia no primeiro quartel do século XIX através de alianças com os portugueses, o xeique de sancul e mercadores baneanes da Ilha de Moçambique, provocando hostilidade entre Angoche e portugueses
Em relação a sua localização espacial, é de referir que o Xeicado de Sangaje estava situado entre o Mongincual e a foz do rio Metomode, numa estreita faixa costeira de cerca de 40 quilómetros
Organização sociopolítica
Na visão de Pinto (2015), o Xeicado de Sangaje tinha uma organização burocrática mais ou menos estruturada para a realização das suas actividades administrativas, visto que, eles seguiam regras e direitos. Dentre eles destacam-se:
- Cobranças dos tributos; organização do exército;
- Administração das terras conquistadas; pagamentos de direitos aduaneiros;
- Lançamento de multas por coisas como nascimentos anormais e prática de bruxaria.
Pinto (2015, p. 130) diz que, as formas de sucessão neste xeicado eram definidas via linha matrilinear, pelo que se estabeleceram fortes laços económicos e de sangue entre poucas famílias do xeicado.
Portanto, Pinto (2015, p. 135) diz se constatava no Xeicado de Sangaje duas classes distintas:
- A classe dominante – formada por um Xeique que era o chefe máximo e líder religioso, depois seguiam os governantes, religiosos, comerciantes e os proprietários de estabelecimentos de comércio e de produção artesanal, que se orientavam para o mundo exterior; e
- A classe dominada – composta por funcionários como militares, marinheiros, agricultores, etc.
Aparato ideológico
Tal como os demais xeicados da costa de Moçambique, neste também se professava o Islão, este que influenciou fortemente a religião tradicional, a língua, o vestuário, os costumes e tradições. Afirma-se que o Islamismo também garantiu a unidade e a coesão entre as poucas famílias do Xeicado de Sangaje.
Atividade económica
De acordo com UEM (2000, p. 121), economicamente a actividade básica era o comércio de escravos. Graças ao seu apoio português contra os seus vizinhos de Sancul e Angoche, o Xeicado de Sangaje conseguiu grande independência e prosperidade no comércio de escravos.
Quando o comércio de escravos ultrapassou o comércio de marfim a partir do século XVIII, os xeicados em foco, tornaram-se influentes no xadrez político de Makuana. Foram os dirigentes deste Xeicado que asseguraram em todo século XIX, a exportação clandestina de escravos para Zanzibar, Madagáscar e Golfo Pérsico.
Decadência
De acordo com UEM (2000, p.121), o último acto de resistência primária contra os portugueses dá-se em 1912. Foi o início do fim do xeicado. Mas este combate não foi a causa da decadência, foi a gota de água numa insatisfação que já vinha de trás. Em 1912, o xeique Mussa Phiri dirigiu uma resistência contra os portugueses, contudo, com o avanço da ocupação colonial, Mussa aliou-se a estes, passando a cobrar o tributo e participando na companha colonial contra Farelai. Mussa-Phiri, mais tarde, mobilizou os seus homens e com o apoio dos chefes Macua do Monguicual e de Mogovolas, revoltou-se sem sucesso contra os portugueses. Mussa morre no exílio no Timor e a região transformou-se num regulado português.
Aponta se como principal causa da decadência do xeicado de Sangaje o processo de ocupação feito pelos portugueses no quadro da ocupação colonial. A penetração dos interesses capitalistas nas terras do xeicado e a consequente introdução de impostos e outras imposições agressivas aumentaram as contradições e criaram as condições para o conflito.
XEICADO DE TUNGUE
Formação do Xeicado de Tungue
O sultanato de Tungue surgiu nos meados do séc. XVIII. No fim do século XVIII ou no início do século XIX, os sultões mandaram construir um pequeno palácio térreo de pedra que foi uma ou duas vezes reconstruído e do qual sobrevivem ruínas imponentes na península do Cabo Delgado. Do intenso tráfico de escravos com os franceses sobrevivem restos de cerâmica importada deste país por volta de 1850-55. Pouco depois, o sultão de Zanzibar conseguiu impor ali o seu domínio.
Estrutura sociopolítica
De acordo com Pinto (2015), no Xeicado de tungue para a realização das suas actividades administrativas também estava organizado de uma forma burocrática mais ou menos estruturada, portanto também havia cobrança de tributos; pagamento de direitos aduaneiros; lançamento de multas por coisas como nascimento anormais e prática da bruxaria; recolha de impostos que eram pagos pelos reinos de pequenas dimensões e pela comunidade estrangeira.
Atividades Económicas
Os povos de Tungue da faixa costeira deixaram de depender da agricultura doméstica tradicional baseada no cultivo de cereais, passaram a praticar o comércio de escravos que os integrava nos circuitos internacionais, desenvolvendo outras actividades económicas como: a construção naval e a navegação de cabotagem; a pesca e secagem de peixe; a extracção de sal e o artesanato de metais preciosos.
Foram as classes dominantes desse xeicado swahilizado que também asseguram, em todo o século XIX, a exportação clandestina de escravos para Zanzibar, Madagáscar e Golfo Pérsico, após a proibição oficial do tráfico em 1836 e, mais tarde, em 1842.
Aparato ideológico
No xeicado de Tungue, a religião dominante era o Islamismo, que garantia a unidade e a coesão desta sociedade.
Declínio do Xeicado de Tungue
Em 1854, as tropas de Zanzibar ocuparam a aldeia Tungue, onde eles estabelecem um posto alfandegário, empurrando a fronteira de trinta quilómetros ao sul. Por trinta anos, tentativas de negociar. No início do século XIX, o xeque do Tungue é um “vassalo” pensionado pelos portugueses. Portanto, o Xeicado de Tungue terá decaído e tendo sido dominado pelos portugueses durante a ocupação efectiva, após uma longa disputa com o Zanzibar, Alemanha e ingleses.
Conclusão
Com o fim da pesquisa conclui-se que, desde a sua formação, o Xeicado de Sangaje esteve ligado ao sultanato de Angoxe. Obteve a autonomia no primeiro quartel do século XIX através de alianças com os portugueses, o xeique de sancul e mercadores baneanes da Ilha de Moçambique, provocando hostilidade entre Angoche e portugueses. No que diz respeito a sua localização espacial, avança-se que o Xeicado de Sangaje estava situado entre o Mongincual e a foz do rio Metomode.
As formas de sucessão neste xeicado eram definidas via linha matrilinear, pelo que se estabeleceram fortes laços económicos e de sangue entre poucas famílias do xeicado. Tal como os demais xeicados da costa de Moçambique, neste também se professava o Islão. A principal actividade económica era o comércio de escravos. Graças ao seu apoio português contra os seus vizinhos de Sancul e Angoche, o Xeicado de Sangaje conseguiu grande independência e prosperidade no comércio de escravos. Portanto, a principal causa da decadência do xeicado de Sangaje era o processo de ocupação feito pelos portugueses no quadro da ocupação colonial.
Referências bibliográficas
BICÁ, Firoza; MAHILENE, Ilídio. Saber História. Longman Moçambique, Lda., Maputo, 2010.
DH/UEM. História de Moçambique: Parte I- Primeiras Sociedades Sedentárias e Impacto dos Mercadores 200/3001886. Parte II- Agressão Imperialista, 1886-1930. 2ª Edição, Maputo, vol. I. 2000, 508 p.
NHAPULO, Telésfero. Atlas Histórico de Moçambique. Maputo: Plural Editores, 2010, pp.
PINTO, Maria João Paiva Ruas Baessa. Estado, Poderes Linhageiros, Poderes Religiosos Muçulmanos nos Macuas de Nacala-Oposições, Ambiguidades e Convergências. Lisboa: Instituto Universitário de Lisboa, 2015, 322p.
RECANE, Dionísio Manuel. Manual do Ensino Superior. 2010, pp 23-42.