Do ponto de vista etimológico, ética deriva da palavra “ethos” que significa “costumes”. Mais tarde, este conceito veio também integrar as noções de bem, mal, certo e errado.

Etica

Ética pode definir-se como “articulação racional do bem”, estando sempre relacionada com uma determinada cultura. A ética pressupõe que exista uma ligação com as ciências que estudam as relações e comportamentos dos seres humanos em sociedade – psicologia, antropologia, sociologia.

Vázquez (2006) ressalta “A ética é a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade. Ou seja, é ciência de uma forma específica de comportamento humano”.

Assim, a palavra ética pode utilizar-se em sentidos distintos. Por um lado, pode referir-se à ordem moral, entendida como a totalidade do dever moral. Por outro lado, pode ainda ser entendida no sentido de estrutura fundamental das ideias morais ou éticas, que são reconhecidas por uma pessoa ou por um grupo. Por último, entende-se ainda no sentido de conduta moral efectiva.

Das abordagens apresentadas pelos autores, destaca se o comportamento que nortea a conduta do  ser humano dentro duma sociedade para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social.

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Moral

Para Baptista (2011) a moral corresponde ao plano de realização histórica da ética, remetendo para as dimensões normativas e imperativas da acção valorizadas pela tradição deontológica de inspiração kantiana.

Ética profissional

A palavra profissão vem do latim professione e possui diversos significados nesse idioma. Na actualidade, profissão representa a prática constante de um ofício, labor.

De acordo com Masiero (2007):Ética profissional reúne um conjunto de normas de conduta, exigido no exercício de qualquer atividade econômica. No papel de ‘reguladora’ da ação, a ética age no desempenho das profissões, levando a respeitar os semelhantes, no exercício de suas carreiras. A ética envolve o relacionamento de profissionais, a fim de resgatar a dignidade humana e a construção do bem comum.

Para Camargo (2008) “ética profissional é a aplicação da ética geral no campo das actividades profissionais; a pessoa tem de estar imbuída de certos princípios do ser humano para vivê-los nas suas actividades do trabalho”. Para que o profissional conduza seu trabalho com eficiência, eficácia e efectividade é necessário ter responsabilidade individual perante seu grupo.

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Objeto de estudo da ética

A ética tem como objeto de estudo a moralidade; possui conhecimento sobre os fundamentos históricos da moral; torna adaptável os códigos morais divulgados pela colectividade; dá ênfase às escolhas realizadas em situações quotidianas, evitando que estas transgridam os padrões morais, elaborando regras de análise aplicadas universalmente.

Liderança ética

liderança é entendida como o poder que a pessoa possui, com suas qualidades e atributos e de sua capacidade de convencer seguidores (ALONSO, LÓPEZ & CASTRUCCI, 2008). ARRUDA, WHITAKER e RAMOS (2005) observam a relação da liderança com a ética.

O líder é considerado ético quando seus liderados o seguem com liberdade, se os ensina a buscarem o bem, quando há uma intervenção de maneira justa e se seu serviço ajuda e melhora as pessoas ao seu redor. Uma liderança ética é compreendida, a partir da busca dos valores como: honestidade, integridade e responsabilidade pelos próprios actos. Tudo isso se espera de qualquer pessoa que esteja em uma posição de poder e responsabilidade em uma organização, seja ela pública ou privada.

Quando o líder demonstra alguma falta ética, como abuso de poder, domínio e aproveitamento pessoal, automaticamente ele perderá sua autoridade natural, a confiança de seus seguidores e sua condição de líder. O que sustenta o líder é a ética, pois suas virtudes motivam confiança em seus liderados.

Segundo SÁ (2010), o ser humano vai construindo sua conduta, discernindo entre o certo e o errado, através de respostas aos estímulos mentais comandados pelo cérebro, diferenciando-os a um comportamento, pois está sujeito a alterações em seus efeitos. A história da ética teve sua origem na antiguidade grega, através dos estudos de Sócrates, Platão e Aristóteles, que se preocuparam em reflectir sobre as ideias do bem e da virtude ética.

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Ética da virtude

ética da virtude ensina que o exercício contínuo de bons hábitos conduz à aquisição da virtude, mesmo que seja árduo o caminho para conquistá-la. As empresas que possuem um clima ético possuem uma forte liderança empresarial, que ao desenvolver a ética facilmente saberá como tomar as decisões e de como agir diante de várias situações.

A nova ênfase nas virtudes da ética é um fenómeno recente, de cerca de uma década. E, segundo SOLOMON (2006), visa dissipar certa obsessão por dilemas éticos, acções e regras universais que não fazem menção alguma às pessoas que exerçam determinado papel ou às relações particulares e por princípios racionais. Ao contrário, essa ênfase renovada na ética das virtudes, entendida como a abordagem aristotélica da ética dos negócios, visa focalizar a virtude e o carácter dos indivíduos para uma melhor compreensão dos negócios e das preocupações específicas da ética dos negócios.

O interessante das virtudes é que elas variam de acordo com as culturas. O que é uma virtude aqui, pode não o ser em uma cultura diferente.

Aristóteles acredita que as virtudes devem ser definidas de acordo com o propósito de uma prática, de acordo com o que é ser um ser humano. Em consequência disso, as virtudes dos negócios são um sub conjunto das virtudes, específicas para a prática dos negócios. Assim sendo, essas virtudes são aquelas essenciais às relações inter-pessoais e ao conhecimento e à satisfação de suas necessidades e desejos.

Deontologia

Do ponto de vista etimológico, o termo deontologia deriva do grego “deonta” (dever) e “logos” (razão). Este conceito foi introduzido por Jeremy Bentham em 1834 (Baptista, 2011), tendo hoje do seu lado a expressão “Ética Profissional”. Estas duas são um “código de princípios e deveres (com os correspondentes direitos) que se impõem a uma profissão e que ela se impõe a si própria, inspirada nos seus valores fundamentais”. REIS MONTEIRO (2005) sublinha ainda que estes valores não podem ser distintos dos valores da sociedade em que determinada profissão se insere, nem dos valores universais.

Os conceitos de ética profissional e deontologia são muitas vezes utilizados indiferentemente quando se reporta à teoria dos deveres profissionais. Estrela (2010) apresenta uma distinção para as duas expressões, dizendo que a deontologia se pode considerar como uma ética aplicada às situações profissionais, enquanto a ética tem um carácter mais geral, distinguindo-se pela “anterioridade lógica assim como pela extensão desta em relação à deontologia, visto que está presente nos mínimos aspectos do acto educativo .

Actualmente, a deontologia refere-se ao conjunto normativo de imposições que deve nortear uma actividade profissional, de modo a obter um tratamento constante e justo a tantos quantos recorrem a esse bem ou serviço.

Objeto da Deontologia

O objecto da Deontologia consiste em ensinar o homem a dirigir os seus afectos, de maneira a que eles sejam o mais possível subordinados ao bem-estar.

De acordo com Matos (2007), a prática da ética nas organizações é caracterizada por acções concretas, dentre as quais é possível destacar:

  • A filosofia empresarial – a empresa deve possuir uma clara conceituação de missão, visão e valores;
  • Comité de ética – um grupo definidor e de controlo de políticas e estratégias;
  • Crenças – divulgação das crenças institucionais para funcionários e clientes;
  • Códigos de ética – ferramenta que abrange, além de normas e directrizes sobre valores éticos, os preceitos sobre comportamentos;
  • Auditorias éticas – avaliações periódicas sobre condutas empresariais; linhas directas – circuito aberto a críticas, reclamações e sugestões;
  • Programas educacionais – aproximação da empresa com seus públicos através de medidas educativas e;
  • Balanço social – divulgação dos investimentos da empresa em benefício do público interno e da comunidade.

História da ética e Deontologia Profissional

Os grandes pensadores da ética buscaram uma universalização dos princípios éticos. No entanto, a grande diversidade de costumes e culturas, torna difícil essa universalidade.

Alguns pensadores se destacaram, conforme mostra Valls (2000) e não podem deixar de serem citados no estudo da ética. Na Grécia antiga, entre os anos de 500 e 300 a.C., aproximadamente, pode-se encontrar inúmeras reflexões a cerca da ética que são de extrema importância não somente para aquele tempo, mas para todo o fundamento do pensamento sobre a ética até os dias de hoje.

No transcorrer da história da ética, podemos notar que existem três modelos principais de conduta: a felicidade ou prazer; o dever, virtude ou obrigação; e a perfeição, que é o completo desenvolvimento das potencialidades humanas.

A história da ética está intimamente ligada à história da filosofia. Nesta perspectiva, alguns “estudiosos e historiadores apontam período de 800 a 500 a. C. como aquele em que se deu o florescimento e a consolidação dessa prática reflexiva. A filosofia favoreceu o desenvolvimento da atitude científica e do pensamento abstracto”.

Dentre eles, encontra-se o grego Sócrates que viveu entre 470 e 399 a.C. e que se destaca por ter desafiado a cidade-estado, questionando as leis, mesmo obedecendo-as, fazendo com que o conservadorismo grego o condenasse a beber veneno. Apesar de não ter deixado nada escrito, seus ensinamentos podem ser observados por intermédio dos seus discípulos, dentre eles Platão em seus diálogos. Séculos depois, Sócrates foi chamado de fundador da moral, pela tentativa de compreensão da justiça através da sua convicção pessoal. Sócrates foi considerado o primeiro pensador da subjectividade, através da interiorização da reflexão.

De acordo com Vázquez (2006) “Resumindo para Sócrates, bondade, conhecimento e felicidade se entrelaçam estreitamente”. Para ele, a ética é a felicidade, mas para alguém ser feliz é necessário ser bom e para ser bom é preciso ser sábio.

Aristóteles afirma que os homens têm o seu ser no viver, no sentir e na razão, sendo esses os factores que definirão os melhores bens para cada um. Aristóteles valoriza a vontade humana, apregoando que o homem necessita converter seu esforço em bons hábitos, de acordo com a razão, sendo esse esforço voluntário.

No final do século XVIII, volta -se a destacar a análise da subjectividade com o pensador alemão Kant que viveu entre 1724 e 1804, na busca de uma ética universal, na igualdade entre os homens. Sua filosofia, segundo Valls (2000), se chama filosofia transcendental, por buscar no próprio homem o conhecimento verdadeiro e o agir livre. Para a igualdade fundamental, Kant necessitaria chegar a uma moral única, racional. Conforme demonstra VALLS (2000, p. 20) “Se a moral é a racionalidade do sujeito, esse deve agir de acordo com o dever e somente por respeito ao dever: porque é dever, eis o único motivo válido da acção moral”.

Outro autor que aborda a ética de forma abrangente, é Singer (2002) que traz questões de natureza prática como a igualdade para as mulheres, o aborto, a eutanásia e utiliza, indiferentemente, as palavras ética e moral. Afirma que, para alguns, a ética pode ser vista como uma série de proibições ligadas ao sexo e para outros, pode ser confundida como algo bonito na teoria, mas que não funciona na prática. Segundo o mesmo autor supracitado isso acontece porque as pessoas acreditam que a ética é um conjunto de normas simples e breves como: não matar, não mentir, mas na vida real acontecem coisas inusitadas e complexas. Daí surge à concepção consequência lista, em que uma acção será ética ou não, dependendo das consequências que o acto acarretar

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Pressupostos da ética

Matos (2007) recomenda a necessidade de se efectuar uma substancial revisão na realidade organizacional que vigora no país, referindo aspectos como:

  • Autoritarismo: concentração do poder, dominação, tendência à fragmentação (ilhas de poder nas organizações);
  • Paternalismo: corrupção do poder, privilégios, assistencialismo opressor;
  • Individualismo: competição predatória, egoísmo, falta de visão social;
  • Consumismo: possessividade, canibalismo social, ânsia de possuir sempre mais.

 

Referencias Bibliográficas

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ARRUDA, M; WHITAKER, M; RAMOS, J. Fundamentos de ética empresarial e económica. São Paulo: Atlas, 2005.

BAPTISTA, I. Ética, Deontologia e Avaliação do Desempenho Docente. Coleção Cadernos do CCAP – 3. Lisboa: Ministério da Educação, 2011.

CAMARGO, Marculino. Fundamentos de ética geral e profissional. 7ª ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.

CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. São Paulo: Actual, 2002.

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ENCARTA. Enciclopédia encarta. Microsoft Corporation, 2001.

ESTRELA, M. T. Profissão Docente. Dimensões Afectivas e Éticas. Porto: Areal Editores, 2010.

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MASIERO, Gilmar. Administração de empresas. São Paulo: Saraiva,2007.

MATOS, F. Ética na Gestão Empresarial – da Conscientização à Ação. Saraiva, 2007

REIS MONTEIRO, A. Deontologia das Profissões da Educação. Coimbra: Edições Almedina, 2005.

SÁ, António L. Ética profissional. 9ª ed. São Paulo: Atlas, 2010.

SINGER, P. Ética prática. Trad. Jefferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 399 p.

SOLOMON, R. C. Ética e excelência: cooperação e integridade nos negócios. Trad.

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SROUR, Robert Henry. Poder, cultura e ética nas organizações. 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005.

TRASFERETTI, J. Ética e responsabilidade social. Campinas, SP: Editora Alínea,

  1. 131 p.

VÁZQUEZ, Adolfo S. Ética. 28 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.