Culturas de alimentares em Moçambique

No período entre 1996-97 e 2002-03, a produção de milho e da mandioca aumentou significativamente. O feijão vulgar e a batata-doce também tiveram um aumento de produção considerável. Contudo, o aumento da produção representou um retorno aos níveis de produção verificados antes da guerra.

Tal aumento foi resultado de expansão da área de cultivo e crescimento da população rural devido ao retorno dos refugiados de guerra, e não um resultado de um aumento de produtividade agrícola.

Culturas de rendimento em Moçambique

Tradicionalmente, o algodão e o tabaco constituem as duas principais culturas de rendimento. Devido a sua rentabilidade financeira, o cultivo de tabaco está em expansão. Um estudo realizado no vale do Zambeze conclui que os produtores de tabaco possuem, em média, lucros anuais no valor de cerca de $731 dólares americanos, o que representa cerca de metade de todo valor de produção de culturas.

Mas existem diferenças na rentabilidade do cultivo segundo algumas características dos agregados familiares. Por exemplo, o mesmo estudo conclui que a rentabilidade é consideravelmente menor no seio de agregados familiares chefiados por uma mulher.

Apesar da rentabilidade do cultivo do tabaco, deve-se tomar atenção a sustentabilidade da expansão do seu cultivo.

Isto porque a secagem do tabaco é muito exigente em termos de calor, e geralmente usa-se lenha para o efeito. O abate de árvores para a secagem do tabaco pode a longo prazo provocar problemas ambientais caso não haja reposição das árvores.

A produção do algodão enfrenta problemas de baixa produtividade agrícola e baixos preços do produto (Benfica, 2006; Benfica, 2007; Pitoro et al., 2009). Não obstante os esforços do Instituto do Algodão de Moçambique em aumentar a produtividade e a rentabilidade da produção do algodão, Pitoro et al. (2009) afirmam que produtores de algodão não possuem rendimentos superiores aos dos seus vizinhos não produtores de algodão. Esta constatação explica o abandono do cultivo desta cultura por parte de muitos produtores, e sua substituição por outras culturas de rendimento, tais como o gergelim.

Fruteiras

Desde o tempo colonial, o caju foi a principal fruteira em Moçambique.

Mas a sua produção actual é bastante inferior do que no tempo colonial. Existem inúmeras prováveis explicações para o comportamento da produção: o envelhecimento do cajual, a ocorrência de doença do oídium (fungos), a falta de reposição das árvores velhas, a queda drástica no número de fábricas de processamento associada às privatizações das empresas estatais, queimadas descontroladas, práticas culturais inadequadas, de entre outras. Historicamente, o sector do caju teve uma elevada importância económica, empregando milhões de pessoas. Nos anos 1960, Moçambique chegou a produzir metade da produçãomundial da castanha de caju (McMillan et al., 2003). O sector sofreu um declínio nos anos seguintes, devido a uma combinação de políticas adversas e a guerra de desestabilização.

Depois da independência, o governo decidiu banir a exportação da castanha não processada como forma de estimular o processamento local e aumentar a rentabilidade das fábricas existentes. Até 1980, Moçambique possuía 14 fábricas de processamento. Mais tarde, o banimento da exportação da castanha não processada foi retirado e, em 1991-92, substituído por quotas e taxas de exportação.

A quota foi subsequentemente removida, e a taxa de exportação de castanha não processada baixou de 60% em 1991-92 para 14% em 1998-99 (McMillan, Horn & Rodrik, 2003). Estas medidas enquadravam-se nos esforços do Banco Mundial para liberalizar o sector do caju, e culminaram com o encerramento de várias fábricas de processamento.

O encerramento das antigas unidades de processamento de castanha de caju, não compensado com o aparecimento de novas fábricas resultou no desemprego de milhares de trabalhadores (Lowet al., 2001; McMillan, Horn & Rodrik, 2003; Ribeiro, 2008). O impacto social foi particularmente grave nos pequenos aglomerados urbanos, como Manjacaze, com poucas alternativas de trabalho assalariado e muito dependente dos salários auferidos pelos operários para a dinamização dos circuitos monetários locais.

A destruição do sector do caju pela privatização e encerramento de várias fábricas de processamento tornou-se num exemplo notável, que criou espaço para uma reversão secreta da política do caju nos anos 2000 (McMillan, Horn & Rodrik, 2003; Cunguara & Hanlon, 2010). O Instituto Nacional do Caju (INCAJU) reintroduziu a protecção (que violava directa e explicitamente as regras do Banco Mundial) e trabalhou secretamente em parceria com uma agência de desenvolvimento nacional e alguns doadores para a criação da cadeia de valor.

Esta cadeia de valor consistia na produção feita pelos camponeses, pulverização e protecção de plantas feita pelo governo, comercialização, novas fábricas de processamento e exportação coordenada. O resultado foi a criação de milhares de empregos e níveis de produção recorde durante a campanha agrícola de 2009-2010.

Enquanto a produção do caju está a crescer, a produção do coco está a baixar .

A redução da produção do coco deve-se ao amarelecimento letal dos coqueiros, uma doença (virose) cujo combate actualmente requer a remoção/abate das árvores afectadas e quarentena de algumas zonas de produção (Walker et al., 2006b). Contudo, os produtores do sector familiar, que representam a maioria dos produtores de coco ao nível nacional, mostram-se pouco favoráveis ao abate das suas árvores infectadas. Existem alguns projectos que estão a disseminar variedades de coqueiros mais resistentes/tolerantes à doença de amarelecimento letal. Mas a produção do coco está igualmente a sofrer uma competição com o crescimento mundial da produção do óleo da palma.

À medida que se abatem os coqueiros afectados pelo amarelecimento letal e se espera até que novas árvores cresçam até a maturidade, as famílias afectadas devem encontrar novas fontes de rendimento.

No entanto, em estudo realizado nas zonas de maior predominância da doença do amarelecimento nas províncias de Nampula e Zambézia mostra que quanto maior for a incidência da doença, menor é a probabilidade das famílias afectadas dependerem da agricultura como principal fonte de rendimento. Mas as famílias afectadas pelo amarelecimento letal do coqueiro tendem a possuir menos bens duráveis (activos) e geralmente são os mais pobres. Isto implica que mesmo que estas famílias não dependam apenas da agricultura, elas tendem a participar em actividades de geração de menor rendimento, devido aos seus baixos níveis de activos.

Para além do caju e do coqueiro, existem outras frutas e fruteiras de elevada importância socioeconómica no país, tais como a banana e os citrinos. A banana é produzida essencialmente pelo sector familiar, apesar de existirem alguns grandes produtores nas províncias de Maputo (por exemplo em Umbeluzi) e Manica (Chimoio). As grandes produções de banana destinam -se a cobrir os mercados das grandes cidades como Maputo, Matola e Beira, e para a exportação para a África do Sul. Actualmente, a produção de banana ocupa uma área total de cerca de 14 mil hectares em todo o país, com uma produção anual estimada em cerca de 90 mil toneladas. A produção média da banana estima-se em cerca de 6.4ton/ha para o sector familiar. Ela enfrenta como principais constrangimentos a ocorrência de nemátodos e doenças, falta de tecnologias melhoradas e de variedades de elevado rendimento, baixa fertilidade dos solos e longos períodos de estiagem, característica comum entre os produtores na zona sul do país.

Em relação à produção de citrinos, as províncias com maior potencial são Maputo, Inhambane e Manica. O anuário estatístico de 2007 apresenta a evolução da produção de várias culturas, mas os citrinos não possuem informação.

No passado, existiram grandes plantações de citrinos, mas a guerra não permitiu a reposição de muitas árvores, o que pode ter contribuído para a redução da produção total de total, mas não existem dados disponíveis para suportar esta hipótese. Actualmente a produção é feita maioritariamente pelo sector familiar.