Visão histórica da Educação

Entre os povos primitivos a educação prática não é organizada. Ela é ministrada através da imitação directa do adulto pela criança. A educação teórica consiste na transmissão, às gerações mais jovens, do corpo geral de conhecimentos ou de crenças animistas, que constituem a interpretação das experiências da vida. Essa transmissão é realizada por meio de diversas cerimónias. As cerimónias de iniciação são as mais importantes, do ponto de vista educacional. Do animismo provêm as religiões naturais, as primeiras filosofias e as ciências rudimentares.

Entende o escritor que a educação primitiva tinha como traço característico o seu carácter estacionário e imitativo, porquanto o homem procurava ajustar-se ao seu meio ambiente, sem consciência do passado ou do futuro, dedicando-se à obtenção do mais necessário, como alimento, abrigo e vestuário.

Se remontarmos às sociedades antigas, perceberemos que China, Egipto, Pérsia, Grécia e Roma tiveram instituições de educação formal que não eram para as massas, mas apenas para determinadas classes, facto indicador de que a transição da sociedade primitiva para os primeiros estádios da civilização é assinalada pela substituição da organização genética da sociedade por uma organização política e pela formação de uma linguagem escrita e de uma literatura.

A Educação Contemporânea

No que concerne à educação contemporânea, não podemos deixar de trazer à colação, as teses elaboradas por Jacques Delors, feitas com o objectivo de aprofundar a visão transdisciplinar da educação e com vistas a trazer uma reflexão nova e criativa à educação do amanhã.

O Delors estabeleceu os quatro pilares da educação contemporânea, que deveriam ser perseguidos permanentemente pela política educacional de todos os países, relacionando-os da seguinte forma:

1- Aprender a ser: voltado para o desenvolvimento integral do indivíduo.

2- Aprender a fazer: vale mais a competência pessoal do que a qualificação profissional.

3- Aprender a viver juntos: compreender e estar apto a viver com o outro.

 4- Aprender a conhecer: ter prazer em compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento.

O desenvolvimento da personalidade sob o enfoque histórico-cultural

As reflexões sobre o como educar o homem estiveram sempre relacionadas à necessidade de formá-lo em sua personalidade. Educadores como Comênio (1592 – 1670), Rousseau (1712 – 1778 Freinet (1896 – 1966), Paulo Freire (1921 – 1997), entre tantos outros que marcaram e marcam a história do pensamento pedagógico, estiveram, de forma directa ou indirecta, preocupados com o como a educação poderia auxiliar a formação de pessoas adaptadas ao meio social, aptas a actuar nas relações com os demais, capazes de assimilar conhecimentos e de se portarem como indivíduos que deixassem, como sua marca principal, os valores humanos fundamentais a cada época histórica.

Preocupavam-se, portanto, com a questão da formação da personalidade, ainda que tal conceito não fosse claramente elucidado. Tal preocupação permanece pertinente, hoje, se pensamos a educação como um processo amplo de formação e desenvolvimento humano. Educamos o ser humano integral e, portanto, o educamos, tanto cognitiva quanto emocionalmente, ainda que não tenhamos plena consciência disso: quer saibamos ou não, estamos, como professores, interferindo, positiva ou negativamente, sobre a formação do carácter, da identidade, de auto consciência, da postura diante da vida — sobre a formação de homens particulares ou de indivíduos, como aponta Heller (1977) 8. Daí a necessidade de uma consciência reflexiva, por parte dos educadores, a fim de superar atitudes espontâneas que impedem uma prática pedagógica desenvolvente.

 Se esta é uma preocupação de educadores, também constitui um ponto nevrálgico do pensamento psicológico. Conhecer como se desenvolve cada ser humano tem importância fundamental para a consolidação da Psicologia como ciência do homem completo, não fragmentado em comportamentos e funções psíquicas. A personalidade e seu desenvolvimento são objecto de reflexão das mais diferentes tendências explicativas, porque importa saber, para a Psicologia, como se modela, no interior das condições objectivas, a forma única de ser e agir de cada indivíduo. Para nós, a personalidade surge como sistema amplo que regula as vivências humanas, um misto de suas capacidades, social e historicamente formadas, e dos sentidos possíveis que cada pessoa atribui ao real, de acordo com a sua própria e singular biografia.

Educação da personalidade da criança

Até aqui, discutimos os conceitos que consideramos fundamentais para a compreensão da personalidade humana de forma geral. Apesar de termos mencionado alguns pontos referentes ao desenvolvimento da criança, iniciaremos, agora, uma discussão mais específica.

A infância constitui o período espontâneo do desenvolvimento da personalidade. Isso significa que, durante os primeiros anos da ontogénese, não existe, em cada sujeito, a autoconsciência em relação à formação desse sistema. Trata-se, portanto, de acordo com o autor, de um momento de preparo, que sob condições de vida e educação adequadas, culmina, na adolescência, no nascimento de uma personalidade consciente de si mesmo.

Sabemos que a formação da personalidade está vinculada à formação de uma hierarquia de motivos e à subordinação, pelo indivíduo, de suas acções a esse sistema hierárquico dos motivos. Durante a infância, os motivos apresentam-se relacionados, ainda, horizontalmente e, nesse sentido, percebemos que a função precípua da educação é a criação de necessidades humanizadoras e o enriquecimento do conjunto de motivos da conduta da criança. As relações entre as diferentes actividades empreendidas geram um movimento de crescente complexificação da esfera motivacional do indivíduo.

O processo de desenvolvimento da personalidade sempre segue sendo profundamente individual, irrepetível e amplamente dependente da situação social de desenvolvimento, específica para cada indivíduo. Daí a preconização de que a educação constitui elemento fundamental para a formação da personalidade. Nela, são propostas, intencional e sistematicamente, as actividades por meio das quais a criança realiza seus vínculos com o homem através das coisas (dos objectos, usos, costumes e linguagem, e, também, das objectivações para si) e com as coisas através do homem.

Assim, conceber a criança como sujeito é ser capaz de ultrapassar uma compreensão classificatória e normalizadora, que vê o desenvolvimento como processo linear previamente estabelecido pela natureza, para percebê-la como alguém que constrói seu pensamento, sua linguagem, sua imaginação, seus afectos, enfim, constrói a si, em sua história de vida e nas relações que estabelece com o outro. É perceber que o desenvolvimento da criança está condicionado pela sua integração nas relações sociais, pelas experiências que possibilitam o seu processo de humanização.

Educação e desenvolvimento humano

É importante referir que a visão da Educação tem como pressuposto fundamental a consideração de que a formação do indivíduo se dá em um processo histórico e não naturalizado. Partimos do princípio, já elucidado por Marx (MÀRKUS, 1974), de que o homem não nasce humanizado, mas consolida a sua humanidade por intermédio da sua incorporação como membro de uma sociedade de determinado espaço temporalmente.

Assim, sendo membro de um grupo social, cada indivíduo aprende a ser homem, através da apropriação dos construtores histórico-culturais que constituem o género humano e da objectivação, que é a sua expressão pessoal, a manifestação das suas capacidades, o meio de sua integração ao grupo social mais próximo e à humanidade representada pela categoria do género humano, que sintetiza as conquistas materiais e não materiais do homem em sua evolução histórico-social, até o momento presente.

E pensar a educação sob essa perspectiva significa valorizá-la como fonte de desenvolvimento, como momento relacional que permite, pela mediação do outro, a apropriação activa dos saberes da cultura, saberes sobre os usos, costumes, valores, linguagem; sobre o mundo natural e historicamente modificado; sobre as relações pessoais; sobre si mesmo e a formação de capacidades de actuação progressivamente mais conscientes no interior da sociedade.

A formação da personalidade na educação escolar

A escola é uma das mais importantes instituições da sociedade, pois a maioria dos indivíduos passa pelo menos um período de tempo inserido nesse contexto. É uma das principais bases para a formação social do indivíduo, além da educação das disciplinas e seus conteúdos, é através dela que também são repassados os valores sociais, morais e éticos.

Citando Durkheim explica que a escola é definida como espaço público, a serviço de toda a sociedade, ela garantiria a comunhão de ideias e o fortalecimento do espírito colectivo e comunitário. É baseado nisso, no conceito de que a escola desempenha o papel de formadora de cidadãos, que se entende que a escola é um local de educação. Educação é, então, uma estratégia para repassar informações e valores aos alunos.

 A escola é um espaço possível para a realização da tarefa de educar buscando-se a formação de um cidadão, pois “é onde se dá a transmissão cultural e a formação para a convivência social.

A escola tem a função e a responsabilidade de proporcionar aos indivíduos a sua humanização. O objectivo da prática educacional é, pois, transmitir um conteúdo moral, normas e valores a fim de garantir a convivência social harmónica, Inserido nesse contexto existe o professor, este é um dos mediadores entre o conhecimento e o aluno, é um agente da escola que tem como objectivo ensinar tanto o conteúdo da disciplina quanto os valores sociais que são considerados importantes para sociedade que estão inseridos.

Assim, o professor ao dar uma aula, não desenvolve apenas o conteúdo da sua disciplina. Acaba por influir muito na forma de como o aluno poderá entender a sociedade em que vive, com isso queremos dizer que um professor sempre revela aos seus alunos as suas opiniões sobre o que acontece na sociedade ou na escola, sempre acaba colocando seus valores e concepção de vida. Por isso ao dar suas aulas, todo o professor faz mais do que desenvolver um conteúdo: influi nas concepções de vida do aluno.

Contribuição da educação na formação da personalidade

A educação tem, pois, o papel essencial de conduzir o desenvolvimento do indivíduo, fomentando intencionalmente a formação da individualidade para si ou seja, a formação do ser humano em suas múltiplas e humanizadoras possibilidades, promovendo a aproximação, cada vez mais consciente, entre o indivíduo e o género humano, entre o seu presente e as possibilidades do seu vir a ser. A educação escolar tem o importante papel de mediadora entre o âmbito da vida quotidiana e os âmbitos não quotidianos da actividade social.

As diferenças entre os grupos humanos (famílias e povos) são determinadas não por factores genéticos (de sangue), mas pelo costume fixado através da educação. A educação forma e modela determinado conjunto de caracteres singulares que se incorporam ao modo de ser dos indivíduos que pertencem a certo agrupamento humano a ponto de se naturalizarem.

Paradoxalmente, a mesma força (a educação) que modela algum agrupamento humano a ponto de parecer imutável é também aquela que possibilita romper esta cristalização. Assim, ao mesmo tempo em que tudo parece previsível, pois dá a impressão de uma determinação plena dos comportamentos humanos em virtude dos valores inculcados no indivíduo desde a mais tenra idade, constatamos igualmente que a mesma força que moldou o comportamento é capaz de transformá-lo.

 A educação molda comportamentos, fixa a conduta em um carácter que se constitui para o indivíduo em uma espécie de segunda natureza. No entanto, por mais estável que tudo pareça, a própria educação que, por assim dizer, “cristalizou” o comportamento numa direcção, pode romper a estrutura fixada e colocá-la em movimento outra vez.

Assim, a formação da personalidade demanda da educação, um trabalho intencional que promova a complexificação e o desenvolvimento da personalidade humana por meio tanto da apropriação da linguagem, dos usos e dos costumes, que, são também parte e principal tarefa da educação informal, como da apropriação consciente das objectivações genéricas para si, que abrem, para cada indivíduo, a possibilidade de objectivar-se genericamente, de formar sua própria concepção do mundo, seus valores, sua forma própria de ser e de actuar socialmente.

Referência bibliográfica

AMES José Luiz Trans/Form/Ação, São Paulo, 31 (2): 137-152, 2008DUARTE, Sérgio Guerra. Dicionário Brasileiro de Educação. Rio de Janeiro: Edições
Antares: Nobel, 1996;DUARTE, N. Educação Escolar, Teoria do Cotidiano e a Escola de Vigotski. Campinas: Autores Associados, 1996.BISSOLI, michelle de Freitas – Desenvolvimento. 2. Educação. 3. Personalidade infantil. I. Autor. II. Título. Marília 2005.