Psicologia da aprendizagem social  

Aprendizagem é a modificação estável da conduta como resultado da experiência.  Na teoria da aprendizagem social é destacado o psicólogo Albert Bandura, nascido no Canadá. Embora Bandura não seja o único psicólogo social a discutir o tema da aprendizagem social, ele teve um papel de destaque neste campo de comportamento humano.

A aprendizagem social é também referida como a aprendizagem por imitação ou observação por modelo.

A teoria da aprendizagem é designada, primeiramente, de aprendizagem social porque é baseada no que a criança aprende na interacção com o seu meio e na interacção e observação dos outros. A aprendizagem social orienta o comportamento da pessoa de acordo com as normas sociais, os valores e as crenças, de modo a permitir que a pessoa se adeqúe com sucesso a sociedade. Estas aprendizagens tornam-na socializada, então o que a pessoa faz é congruente com as normas e expectativas da sociedade em que esta inserida.

A discrição da aprendizagem social de (Schau et al.) Apud Mwamwenda 2009, estabelece-nos uma imagem clara de como ocorre a aprendizagem social, como por exemplo as crianças retiram o comportamento consciente ou inconscientemente todos os dias quando observam os pais, os professores, os pares, entre outros em quase todas as acções dos pais e professores a criança esta presente e consequentemente, tem potencial para ser modelada. Os professores podem capitalizar um processo de modelagem contínuo através do esforço de serem um modelo desejável.

Numa das experiencias de Bandura, um modelo adulto tratou uma boneca de forma agressiva, verbal e fisicamente. Noutra experiencia, um adulto sentado tranquilamente não presta atenção a boneca. Um grupo foi exposto ao comportamento do primeiro modelo, o segundo grupo observou o adulto que estava tranquilamente sentado e que não prestou atenção a boneca, e um terceiro grupo de crianças que não observou nenhum dos modelos anteriores.

No final da experiencia, cada criança saiu, individualmente, para um quarto com uma boneca. De forma interessante, o comportamento do primeiro dos dois grupos de crianças foi semelhante aos dos modelos a que foram expostos:

  • Quem tinha observado o modelo agressivo agiu de forma semelhante;
  • Quem tinha observado o modelo não-agressivo foi menos agressivo;
  • E quem não tinha observado nenhum dos dois modelos, não foi agressivo, de todo, para a boneca.

Bandura defendeu que o comportamento pode ser aprendido sem necessariamente estar envolvido nele, e que esse comportamento não necessita de ser directamente reforçado para ser sustentado. A maior parte da formação do comportamento ocorre com base na observação do que os outros fazem e das consequências do seu comportamento. A aprendizagem por observação é importante, não só para a aprendizagem, mas especialmente para sobreviver. Tal método de aprendizagem é parcimonioso e económico em termos de tempo, uma vez que seria quase impossível para os seres humanos aprenderem tudo o que há para ser aprendido activamente e com envolvimento. Para além disso, seria certamente perigoso para a comunidade da existência da espécie humana, uma vez que aprender algumas coisas pode ser perigoso para quem aprende. Por exemplo: tocar em fios eléctricos não isolados pode ser fatal, e não podemos descobrir isto experimentalmente sem pormos a nossa vida em risco.

Fatores que facilitam a aprendizagem social

  • Segundo Mwamwenda 2009, existem vários factores que facilitam a aprendizagem social a destacar:
  • Atenção;
  • Memoria; capacidades motoras; reforço; identificação;
  • Estatuto do modelo e
  • Origem do modelo.

Atenção

Prestar atenção a um modelo é importante para a aprendizagem social. A ênfase é dada à atenção deliberada e calculada que levara ao máximo de aprendizagem, embora isto não signifique que a aprendizagem não possa a ocorrer, em menor grau, com base na atenção acidental e inconsciente. Na situação de sala se aula, a atenção é um factor importante. Os alunos terão de prestar atenção de forma adequada sobre o que o professor está a dizer e para compreender o que está a ser ensinado.

Memoria

Além de se dar atenção, o que é observado deve ser processado pela memória a curto-termo e a longo-termo e armazenado. Uma vez armazenado na memória, o aluno não terá problema em recuperar essas capacidades ou informações sempre que precise delas. O propósito da observação é que o observador devia ser capaz de reproduzir o comportamento exposto pelo modelo. Isto só será bem-sucedido se a Observação for cuidadosa e se for processada pela memória. A não ser que o observador se lembre do que ele observou, não será possível reproduzir o comportamento observado.

A não ser que os alunos se lembrem do que foi ensinado, eles não serão capazes de se comportar de forma semelhante a nível verbal, escrito, ou comportamental.

Capacidades motoras

Um acto possa ser aplicado e praticado depois de ser observado, se o aluno é, potencialmente, capaz de aplicar e praticar. Nesta perspectiva, em alguns casos um mero ensaio pode ser adequado para reproduzir um comportamento observado, e a prática pode ser necessária. Isto pode ser verdadeiro para as actividades tal como o guiar, dactilografar, desenhar e aprender a ler e escrever, entre outros. Para que um comportamento observado seja reproduzido de forma perfeita, a pratica é imperativa. Se os alunos estão a ser ensinados a pronunciar palavras de uma língua estrangeira, o professor deve demonstrar como é que essas palavras são pronunciadas. De igual importância, os alunos devem pronunciar essas palavras várias vezes ate obter domínio dessa pronunciação. O mesmo se aplica a outras capacidades ou informações em que é requerido domínio por parte dos alunos.

Reforço

O reforço tem um papel importante na aprendizagem por observação, se o modelo é recompensado por um comportamento particular, a probabilidade de o comportamento ser modelado é alta, pois o observador partilha a recompensa do modelo vicariante. Por outro lado, se o modelo é punido por um comportamento particular, o observado é punido de forma vicariante, consequentemente, é provável que se evite esse comportamento. A aprendizagem por observação não é restrita aos modelos físicos, mas pode também ocorrer através da leitura, de ver televisão ou filmes. A aprendizagem na sala de aula ou noutro lugar qualquer ocorre como resposta ao reforço. Onde quer que seja que os alunos mostrem um comportamento social ou académico desejável, tal comportamento deve ser seguido de um reforço. Isto irá encorajar os alunos preocupados com o comportamento reforçado e irá motivar outros alunos a mostrar um comportamento similar, uma vez que são reforçados de forma vicariante.

Identificação

A identificação é um processo em que uma pessoa se identifica com o comportamento, as atitudes, o sistema de valores e as crenças de outra pessoa. Essa pessoa pode ser um parente, uma figura de autoridade ou um par. As pessoas gostam de se identificar com certos indivíduos na sociedade, e tanto quanto possível, comportam se exactamente como as pessoas imitadas, isto pode ser consciente ou inconsciente. É importante que a criança se identifique com um parente do mesmo sexo para que possa desenvolver atitudes, valores, traços e comportamentos que sejam docilmente aceitáveis. Através da identificação, a pessoa desenvolve uma filosofia de vida que orienta ou guia as suas decisões e o seu comportamento no geral. A identificação opera-se na sala de aula quando os alunos se identificam com outros alunos e professores. 

O estatuto do modelo  

De acordo com a aprendizagem social, as pessoas com elevado estatuto é que são capazes de recompensar ou punir servem de bons modelos. Os pais são um bom exemplo de um bom modelo para a criança, particularmente durante a primeira infância. Durante o tempo escolar da criança, o professor pode recompensa-la com aprovação, boas notas, certos privilégios e felicitações. Por outro lado o professor pode também punir os alunos dando lhes más notas, criticando e retirando certos privilégios.

Embora os professores e os pais estejam na posição de servirem de modelos e de promoverem comportamentos desejáveis, o desenvolvimento da personalidade da criança também conta.

Pessoas com elevado estatuto são modeladas com mais frequência do que as pessoas com baixo estatuto. Um estudante que seja líder ou popular é modelado com mais frequência do que um estudante dito normal; um chefe africano é modelado com mais frequência do que uma pessoa (comum) da sua comunidade; de forma semelhante, um professor é modelado com mais frequência do que os seus pares, embora isto dependa do professor e de cada caso. O estatuto do modelo tem um papel significativo no trabalho académico dos alunos. Tendo em conta o seu estatuto, os professores são admirados e respeitados pelos alunos. Através do poder para recompensar e punir, os professores podem influenciar os alunos a trabalharem de forma aplicada para obterem aprovações e evitarem ser punidos por falharem no seu trabalho. Os pais têm uma influência similar no comportamento académico e social das suas crianças. É possível trabalhar de forma efectiva com os alunos africanos dado o elevado respeito que eles têm pelas figuras de autoridade.

Um modelo norteador

O comportamento de um modelo que é percebido como carinhoso, amigo, considerado e cuidadoso é provável que seja mais modelado do que um modelo que é indiferente e descuidado. Isto dá-se em parte porque algumas qualidades são valorizadas pela sociedade e, como uma forma de se conformarem, as crianças gostariam de desenvolver valores semelhantes. Há professores que acreditam que os alunos aprendem efectivamente com os professores severos, agressivos e hostis. Isto não é bem assim. Há professores que são carinhosos, amigos, cuidadosos e simpáticos que conquistam os corações dos alunos. Consequentemente, os alunos desenvolvem uma atitude positiva para com estes professores e para com as disciplinas que eles ensinam. Este relacionamento interpessoal positivo, leva a um bom empenho nas disciplinas associadas a estes professores. É então benéfico para os professores desenvolverem estes traços de personalidade.

Resultados da aprendizagem social

Com o resultado da aprendizagem social, podem ser esperados os seguintes resultados: modelagem, solicitação, inibição e desinibição. A modelagem ocorre quando uma pessoa vê outra envolvida num determinado comportamento e o percebe como um comportamento interessante e recompensador, comportando se de forma similar com esperança de ser reforçada de forma semelhante. Em muitos casos, é desta forma que o novo comportamento é formado.

Diz-se que um determinado comportamento é solicitado, no sentido em que apela para que a pessoa se envolva num comportamento semelhante. Isto pode ser observado numa sala de aula, onde um comportamento desejável de um aluno encoraja os outros alunos a comportarem-se de forma semelhante.

Quando uma pessoa não quer se envolver num determinado comportamento porque viu outros a não serem reforçados por esse comportamento, diz-se que houve um efeito de inibição. Por exemplo, um aluno pode ser repreendido por se comportar inadequadamente na aula. Os outros que observam esta repreensão têm uma probabilidade maior de refrear esse comportamento.

Quando um comportamento que estava latente ou inibido é relevado como resultado de exposição a um comportamento semelhante por um modelo, isto é, conhecido como efeito de desinibição. Por exemplo, um aluno pode tentar controlar-se a si mesmo para não se envolver num comportamento indesejado, mas, por que os outros comportam de forma indesejada, ele pode segui-lo. Existe um número de culturas africanas e ocidentais que proíbem o sexo pré-marital, mas isto não elimina a existência de sexo pré-marital em alguns jovens. Quando questionados como e porquê decidiram a sexo pré-marital, muitos jovens responderão que os outros o fazem e que não queriam ser diferentes dos seus colegas.

Esta é a resposta que eles dão, embora isto possa não ser a base para esta decisão.

Motivação

Nem todo o comportamento observado é modelado. Para que um comportamento seja imitado tem de ser interessante ou ser motivador para o observador. Por exemplo, muitos de nos tem visto nos outros comportamentos como fumar, beber, ter sexo antes do matrimónio e bater na mulher. Seguindo a observação estes comportamentos, algumas pessoas decidem comportar se de uma forma semelhante, enquanto outras recusam a envolver-se em tais comportamentos. No contexto escolar, os alunos podem recusar envolver se em vandalismo, ter comportamentos rebeldes, copiar nos testes e exames e mostrar desrespeito pela autoridade.

 Embora a pressão dos pais tenha um papel significativo numa formação de comportamento das crianças africanas, algumas vezes as crianças podem resistir ate esse comportamento, particularmente, se o comportamento em questão não se coaduna com a filosofia de vida estabelecida que emana da internacionalização de valores e normas passados pelos pais e pala sociedade. Cada um de nós, numa análise final, tem direito a sua posição pessoal e as várias posições devem ser tidas em conta. Tomar uma posição dura em assuntos importantes pode leva ao isolamento e á perda de amigos, mas é melhor que ter uma atitude de reverencia perante a posição do grupo.

Fatores inibidores da aprendizagem social

Embora a aprendizagem social seja comum e prevalecente, existem alturas em que esta não ocorre. Por exemplo, quando uma pessoa não percebe a importância do comportamento desencadeado. Ora, a aprendizagem social não ocorre se um comportamento não é recordado ou memorizado para a recuperação futura. Alem disso, a aprendizagem social não é provável que ocorra se o observador não desejar lidar com esse comportamento, se não estiver motivada. E a aprendizagem social também não tomará lugar se o observador não tiver capacidades físicas e motoras necessárias para desempenhar ou executar o comportamento observado.

Televisão e aprendizagem social

Existem diferentes perspectivas sobre o papel da televisão na socialização e os seus efeitos em termos de aprendizagem por observação. Algumas pessoas argumentam que ver um comportamento desejável na televisão é inadequado para as crianças, porque provavelmente elas vão emita-lo. No entanto, há outras que defendem dizendo que os maus caracteres são apanhados e punidos, indicando que o crime não compensa e que a justiça vencera sempre. Assim, de facto, as crianças estão a ser ensinadas a não se envolverem em comportamentos anti-sociais.

Embora a segunda perspectiva deixa de ser um modo estranho de argumentar que colocar as crianças em frente á televisão seja aceite como um poderoso instrumento para o bem e para o mal. Tal como os pais e professores são cuidadosos para garantir/assegurar que eles dão exemplos certos aos mais novos, o mesmo princípio deverá ser estendido aos programas de televisão a que as mentes meigas e maleáveis das crianças são expostas.

Deve ser tido em mente que o efeito da televisão pode ser subtil e de difícil acesso. Tem um forte efeito nas reacções humanas, atitudes e sensibilidades. Por exemplo como resultado da frequente exposição na televisão do roubar ou do furto, um observador pode deixar de ver o roubo como-o via anteriormente.

Apesar dos efeitos negativos da televisão, existem numerosos documentários e programas educacionais disponíveis para o espectador. Professores, pais e crianças deveriam ser bem aconselhados a tirar partido destas oportunidades. Professores e pais deveriam ficar a par dos programas disponíveis na televisão e estarem atentos aos bons programas para as crianças. Também podem ser relevantes basear o ensino no que o aluno pode ter visto na televisão. Enquanto isto pode ser plausível para os alunos de áreas urbanas, isto pode não ser prática para os alunos africanos de áreas rurais, onde há poucas famílias que dispõem de televisão na sua casa.

Implicações educacionais

Embora já tenham sido feitas as referencias as implicações educacionais da teoria da aprendizagem social, essa discussão terá lugar aqui. A medida que um professor interage com os seus alunos existe uma determinada quantidade de informação que vai para além do próprio ensino. Com os seus professores, os alunos podem aprender coisas sobre higiene, relaxamento, altruísmo, egoísmo, autodisciplina e desorganização. Enquanto é bom para os professores falarem com os seus alunos sobre ser simpático, generoso, útil, estudioso e trabalhador, é mais eficaz se eles estiverem assíduos expostos a exemplos deste tipo de comportamento. É irrealista esperar que os alunos sejam trabalhadores e estudiosos quando os seus professores vêm para as aulas sem estarem preparados e demoram muito tempo a marcar os trabalhos. É igualmente irrealista esperar que eles sejam simpáticos uns para os outros quando não passa um dia em que uma criança não seja severamente punida por acontecimentos triviais.

Tem sido destacado que a aprendizagem pode ocorrer de forma vicariante. Por exemplo, o professor pode ser do agrado ou não dos seus alunos com base no que os alunos anteriores tenham dito sobre ele. De forma semelhante, o professor pode gostar ou não do aluno pelo que o professor anterior disse acerca dele. Embora isto acontece na vida real, isto não pode ser encorajado. É importante que ambos, professores e alunos, tentem ser mais objectivos na avaliação do comportamento humano do que meramente ficar-se só pelo que os outros disseram. Deve ser da responsabilidade/obrigação do professor ser amigo dos seus estudantes e, através da utilização de princípios psicológicos, assisti-los de modo a que venham a ser as pessoas que ele e a sociedade esperam que eles sejam. Esta é uma das razoes para a existência de escolas e instituições de socialização.

Uma repreensão a um aluno que não esta atento a aula pode impedir/dissuadir outro aluno de ter um comportamento semelhante, enquanto a aprovação de um comportamento ou desempenho de um aluno, pode ser um exemplo para os outros estudantes que desejam semelhante aprovação. É provável que um professor cuidadoso seja mais popular e modelado. Para além disso, provavelmente, os alunos gostam mais das suas disciplinas e, então, estudarão mais arduamente para agradar e receber a sua aprovação. Embora não seja desejável que os alunos devam trabalhar arduamente com o único propósito de agradar os seus professores, isto servirá como uma motivação extrínseca para preparar a motivação intrissica.

A aprendizagem por observação pode ser facilitada pelos alunos se trabalharem frequentemente em pequenos grupos, para que aqueles que têm melhores resultados sirvam de modelos aos outros. Finalmente, os alunos precisam de orientações académicas, vocacionais, sociais e de personalidade, e os professores são responsáveis por favorecer essas orientações que guiam/levam ao melhor conhecimento e capacidades.

 

Bibliografia

CARDOSO, Adelino at al. Rumos da psicologia. 6ª ed. Lisboa, 1993.

MWAMWENDA, Tuntufye. S. Psicologia Educacional uma Perspectiva Africana. Texto Editores, 2004.