República de Moçambique

Ministério da Educação

Escola Secundária de Mabote

Ficha de apoio, Geografia 12ª classe 2020/2021

 

INTRODUÇÃO À INDÚSTRIA E COMÉRCIO

Indústria é um conjunto de actividades que transforma matérias-primas em produtos acabados ou semiacabados, através da mecanização (emprego de máquinas).

A indústria distingue-se do artesanato, pois, neste último, o trabalho é completamente manual e a produção é de menor escala, ao passo que, na indústria, a produção é de grande escala, o trabalho é mecânico e, até certo ponto, automático (isento de intervenção humana), os produtos são standard (idênticos de modo que é quase impossível distinguir a olho nu).

 

Comércio significa troca de mercadorias, ou seja, é a aquisição de bens ou serviços tendo em vista a sua venda à terceiros.

O ambiente social onde ocorrem as operações comerciais designa-se mercado.

O mercado pode ser localizado geograficamente ou apenas existindo virtualmente. Por exemplo, o mercado de emprego, o mercado de acções, apenas existe virtualmente.

O comércio pode ser classificado em interno ou nacional e externo ou internacional, consoante dá origem ou não à entrada ou saída de mercadorias do/no país.

O comércio internacional consiste na exportação ou importação de mercadorias.

Exportação é a venda de mercadorias nacionais fora do país, e importação é a aquisição de mercadorias estrangeiras para dentro do país.

A diferença entre o valor das exportações e das importações designa-se balança comercial. Se o valor das exportações for superior às importações, a balança comercial é positiva e diz-se que há saldo; mas, se o valor das importações for superior às exportações, a balança comercial é negativa, e diz-se que há défice comercial ou financeiro.

 

Evolução histórica da actividade industrial

De um modo geral, reconhece-se três fases na evolução da transformação das matérias-primas, nomeadamente: artesanato, manufactura e indústria.

 

O artesanato é o estágio mais primitivo da transformação da matéria-prima, no qual não há divisão do trabalho, ou seja, o artesão realiza sozinho todas as tarefas necessárias para obtenção do produto acabado. Por sua vez, a manufactura é o estágio intermédio entre o artesanato e a indústria, prevaleceu na Europa ocidental até o século XVIII, existindo ainda hoje em alguns países em desenvolvimento.

A indústria propriamente dita surgiu com a revolução industria, nos meados do século XVIII, caracterizada por uma grande divisão de trabalho, com a consequente especialização. Mas o facto mais marcante da sua aparição é o emprego de máquinas, movidas por diversas fontes de energia.

 

A indústria do paleolítico ao neolítico

O fabrico de instrumentos foi o primeiro passo dado pelo homem na transformação das matérias-primas. Os primeiros instrumentos foram fabricados a partir da pedra, pau e osso em utensílios usados na caça, pesca ou na defesa contra animais ferozes.

A sedentarização e a vida agrícola no Neolítico levaram aos novos inventos, como cerâmica, a cestaria, a moagem e a tecelagem. O homem inventa a roda, instrumento este que alterou profundamente as condições da sua vida. Estas actividades eram desenvolvidas a nível doméstico e familiar e tinham como objectivo responder às necessidades do agregado familiar.

 

A indústria na Antiguidade

No IV milénio A.C descobre-se a metalurgia (cobre, bronze e ferro), o que veio revolucionar todas as técnicas até então empregues; os instrumentos fabricados deixam de ser de pedra, pau ou osso e passam a ser de metais.

O aumento da produção no campo liberta do trabalho agrícola algumas pessoas, que passam a dedicar-se exclusivamente ao artesanato, olaria, tecelagem, mercenária, ourivesaria e metalurgia, possibilitando a produção de uma grande gama de objectos e a invenção de novos processos de fabrico. Esta especialização do trabalho (artesãos, mercenários, camponeses, etc) deu lugar às trocas comerciais.

Não existiam ainda máquinas, pelo que o trabalho dependia da força muscular humana e, mais tarde, da força do vento e da água.

Inventou-se neste período o torno, o veículo a rodas, do arado e da vela do navio.

Em suma, este foi o primeiro estágio da transformação da matéria-prima, o artesanato, e tina como objectivo a troca ou a venda dos produtos.

 

A indústria na Idade Média

Durante a Idade Média, surge a indústria do ofício, uma pequena indústria do domicílio, caracterizada pelo artesanato. Esta concentrava-se nos bairros cujas ruas tomavam o nome do grupo social que aí se fixava (rua dos sapateiros, dos fanqueiros, dos padeiros, etc.) e que formavam associações de carácter profissional. Cada associação ou corporação de ofícios tinha um regulamento escrito que estabelecia os horários, as condições de trabalho, os processos de fabrico, os preços e o número dos trabalhadores, etc.

Os membros das corporações estavam organizados segundo uma rigorosa hierarquia que ia desde a categoria de aprendiz até à mestre, o topo da carreira, a qual era atingida após vários anos de trabalho e experiência. Apenas os mestres podiam ser donos das oficinas, porem dificultavam a obtenção deste grau aos outros membros, como forma de evitar a concorrência e dispor de mão-de-obra barata. Portanto, a Idade Média foi a consolidação plena do artesanato virado à comercialização.



REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Revolução industrial é o conjunto de transformações tecnológicas, económicas e sociais que acompanharam o desenvolvimento industrial.

A revolução industrial iniciou na Grã-Bretanha (Inglaterra), nos meados do século XVIII e posteriormente estendeu-se a outros países da Europa (França, Alemanha, Bélgica e Rússia) e para fora da Europa (EUA e Japão) durante a segunda metade do século XIX. Só depois da Segunda Guerra Mundial é que se expandiu para o resto do mundo, alcançando países como China, Índia, México, RSA e Austrália.

 

Causas da revolução industrial

  1. A riqueza do subsolo inglês em recursos minerais (carvão e ferro), indispensáveis para o fabrico de máquinas diversas e para o funcionamento da indústria da época.
  2.  Acumulação de enormes capitais pela classe burguesa, resultante do comércio externo, o que permitiu bons investimentos na indústria.
  3. A posse de um enorme império colonial, o que permitiu obter mais matérias-primas e acumular riqueza.
  4. A revolução agrícola, que permitiu a libertação da maior parte da mão-de-obra rural de que a indústria necessitava.
  5. A revolução demográfica, que aumentou a procura pelos produtos industriais e o fornecimento da mão-de-obra jovem.
  6. Invenções técnicas, como é o caso da invenção de diversas máquinas de tecer, fiar, cardar, máquina a vapor e novos métodos de produção de ferro e aço.
  7. A situação geográfica junto das principais vias de transporte (rios navegáveis e bons portos) com fácil acesso às vias mais importantes do comércio mundial.
  8. O espírito empreendedor

 

Fases da Revolução Industrial

1ª Fase: A força mecânica (carvão e máquina a vapor) 1750 – 1875

Esta fase marcou a passagem da manufactura para a mecanização da produção industrial como forma de responder à elevada demanda de produtos industriais.

A invenção da máquina a vapor e a utilização do carvão mineral como combustível foi o maior evento desta época. Foram igualmente inventadas as máquinas de tecer, fiar e o descaroçador de algodão, por isso a indústria têxtil foi a primeira beneficiada por estas transformações.

As indústrias tiveram que se localizar nas bacias carboníferas, devido às dificuldades de transporte do carvão mineral.

Os transportes tiveram uma revolução importante com a invenção do navio a vapor, locomotiva a vapor e a construção de caminho-de-ferro.

Apareceram os neste período os primeiros sindicatos. 

Foi marcada também pela abertura do canal de Suez e de Panamá.

 

2ª Fase: Revolução energética (1880 – 19509)

Esta fase é também designada por revolução da electricidade e do motor de explosão.

Foi marcada pela descoberta da electricidade, petróleo e gás-natural como fontes energéticas alternativas ao carvão mineral, pois este apresentava enormes dificuldades de transporte.

Inventou-se o motor de explosão, a rádio, a televisão e o avião.

Surgem novas indústrias (metalúrgica de alumínio e indústria química)

A indústria é caracterizada pela produção em grande escala, em cadeia, especialização e divisão do trabalho.

 

3ª Fase: Automação e automatização, revolução da energia atómica

Esta fase é caracterizada pela automação e automatização da produção industrial;

  • Uso de informática e de computadores
  • Utilização de energia nuclear, geotérmica, eólica e solar
  • Desenvolvimento da indústria electrónica, telecomunicações, radiodifusão, radioastronomia, comunicação via satélite, internet, etc.
  • O trabalho humano é substituído pelo robot e computador.

 

Consequências da revolução industrial

A revolução industrial teve consequências socioecónomicas que se fizeram sentir, em especial, a nível demográfico, na agricultura, nos transportes, na comunicção e no desenvolvimento urbano.

A nível demográfico verificou-se um acelerado crescimento populacional, resultante de progressos técnicos e científicos nas áreas de agricultura e medicina, contribuindo para a redução da fome, epidemias e mortalidade, melhoria das condições de vida e aumento da longevidade.

A nível da agricultura, a revolução industrial trouxe novos instrumentos agrícolas, que permitiram a mecanização e o aumento da produção e produtividade agrícola.

Nas áreas de transporte e comunicação, a revolução industrial permitiu o desenvolvimento e modernização dos meios de transporte e de comunicação, permitindo o contacto entre diversas áreas e povos do mundo e o desenvolvimento da actividade comercial.

No desenvolvimento urbano, a revolução industrial permitiu o surgimento e o desenvolvimento de grandes centros urbanos. A maior parte dos centros urbanos tem a sua origem ligada à actividade industrial, tendo se desenvolvido arredores da indústria como residências dos operários.



CLASSIFICAÇÃO INDUSTRIAL

As indústrias são classificadas observando alguns critérios, nomeadamente: a classificação clássica, a classificação baseada no peso e valor dos produtos laborados, classificação baseada na finalidade dos produtos laborados, classificação baseada na fase de acabamentos dos produtos, e classificação baseada na afinidade tecnológica.

 

Classificação clássica ou tradicional

A classificação clássica diferencia as indústrias em três grandes tipos, nomeadamente: indústria extractiva, indústria transformadora e indústria de construção civil e obras públicas.

Indústrias extractivas são as que produzem matéria-prima bruta (não transformada) e de produtos energéticos. Exemplo: extractivas de minérios de ferro, alumínio, ouro, carvão, etc, que as fornecem às indústrias transformadoras. 

A indústria extractiva é considerada indústria primária, pois ela não transforma as matérias-primas, daí que não pode ser considerada indústria propriamente dita.

Indústria transformadora é a que transforma matérias-primas e produtos. Em princípio toda a indústria é transformadora. Exemplo: indústria alimentar, de material eléctrico e electrónico, automobilísticas, farmacêuticas, têxtil, etc.

Indústrias de construção civil e obras públicas são as que produzem grandes infraestruturas (edifícios, pontes, estradas, barragens, etc).

 

Classificação baseada na finalidade ou destino dos produtos laborados

Este critério divide as indústrias em dois tipos, nomeadamente, indústrias de bens de equipamento e indústrias de bens de consumo.

Indústrias de bens de equipamento são as que fornecem equipamentos às diversas actividades produtivas. Ex: máquinas, utensílios, meios de transporte, etc.

Indústrias de bens de consumo são as que produzem produtos destinados ao consumo directo, isto é, sem fins produtivos.

Este critério apresenta certas limitações, pois uma única indústria pode ser simultaneamente de bens de equipamento e de consumo. Por exemplo, a indústria automobilística fornece veículos para uso particular (bens de consumo) e veículos utilitários (bens de equipamentos). Este exemplo se aplica para uma variedade de tantas outras indústrias.

 

Classificação baseada no peso ou valor dos produtos laborados

Este critério divide as indústrias em pesadas e ligeiras.

Indústrias pesadas são as que trabalham com grandes quantidades de matérias-primas que tem pouco valor em relação ao peso para transforma-las em produtos semi-elaborados de mais alto valor por unidade de peso. Exemplo: Indústria siderúrgica, metalúrgica de alumínio e outros metais não ferrosos, refinação de petróleo, petroquímica e carboquímica, etc.

Indústrias ligeiras são as que trabalham com matérias-primas que já tem maior valor em relação ao peso. Abarca uma vasta lista de indústrias que seria cansativo enumerar.

 

Classificação baseada na fase de acabamento dos produtos

Segundo este critério, as indústrias dividem-se em indústrias de base e indústrias transformadoras.

Indústrias de base são as que realizam uma primeira transformação das matérias-primas em produtos brutos ou semitrabalhados a fim de serem transformadas por outras indústrias. Exemplo: Siderúrgica e tratamento de minerais não ferrosos.

As indústrias de base ou de equipamento são a base de desenvolvimento industrial dos países, pois fornecem todo o equipamento indispensável para o funcionamento das restantes indústrias e qualquer outra actividade.

Por exigir avultados investimentos, estas indústrias são detidas pelos países economicamente desenvolvidos.

 

Classificação baseada na afinidade tecnológica

Este critério classificam as indústrias em indústrias de ponta e não de ponte, dependendo do gru de tecnologia empregue.

Indústrias de ponta são as que empregam tecnologia altamente avançada, recorrem a uma constante e dispendiosa pesquisa científica, muitas vezes em conexão com centros de investigação, institutos tecnológicos, laboratórios e universidades, empregam pessoal altamente qualificado (engenheiros, investigadores, e outros quadros superiores), e laboram produtos de alto valor unitário.

Exemplo: indústria aeronáutica e aeroespacial, indústrias electrónicas e de material informático, electronuclear, indústria farmacêutica e de ectividades ligadas a saúde (genética, bioquímica).



Factores de localização industrial

A localização das indústrias pode ser ocasionada quer pelos factores naturais tanto pelos factores humanos.

 

Factores naturais

Os factores naturais que condicionam a localização das indústrias são os recursos naturais e o meio físico, tais como: a matéria-prima, recursos energéticos, recursos minerais, água, espaço e meio ambiente físico.

 

Os recursos energéticos

A energia é indispensável para o funcionamento de qualquer indústria. Na primeira fase da revolução industrial, a indústria usava como combustível a energia hidráulica, a lenha, o carvão vegetal e carvão mineral, pelo que as indústrias tinham que se localizar na clareira, borduras das floresatas, junto dos cursos de água e nas bacias carboníferas. Ainda hoje, a indústria siderúrgica se localiza junto dos jazigos de carvão.

Com a descoberta de novas fontes energéticas, petróleo, gás-natural e electricidade, as indústrias deixam de depender das fontes energéticas para a sua localização, embora as petroquímicas e as refinarias de petróleo tenham que se localizar nos jazigos de petróleo.

 

Matéria-prima

Muitas indústrias, como, por exemplo, a siderúrgica, a metalúrgica, de cobre, cimento, da pasta para papel, utilizam matérias-primas brutas e muito volumosas e/ou muito dispendiosas para transporte, daí que as respectivas indústrias se localizem junto dos locais de extração das matérias-primas.

 

O espaço 

Qualquer indústria moderna necessita de um espaço para operar.

Nos centros urbanos, as barreiras jurídicas e os preços altos dos terrenos dificultam a localização e expensão das grandes unidades industriais, pelo que o mais rentável é implantar as indústrias nas periferias urbanas (arredores da cidade) ou nos meios rurais onde os terrenos são mais baratos e as operações industriais se tornam mais facilitadas.

 

O meio ambiente

Algumas indústrias são altamente poluidoras para a saúde das populações que vivem nas áreas circundantes; os fumos, os gases, as poeiras, o ruido, e o lançamento de substâncias químicas nas águas que circulam nas fábricas são os principais aspectos da poluição industrial.

Assim, as indústrias poluidoras são afastadas dos locais de grandes aglomerados populacionais, especialmente centros urbanos, como forma de salvaguardar a saúde das populações e do meio ambiente.

 

A água

Toda a indústria necessita de água para laborar. Algumas indústrias usam-na para o arrefecimento, outras para a lavagem e diluição, e outras como matérias-prima.

As indústrias grandes consumidoras de água, como por exemplo, as metalúrgicas, as de pasta de papel, as químicas, as têxteis e as agropecuárias, são obrigadas a se localizarem onde há disponibilidade de água em grandes quantidades.



Factores humanos ou socioeconómicos

Entre o factores humanos que condicionam a localização das unidades industriais, destacam-se: o mercado consumidor, a mão-de-obra, os transportes, o capital, a acção do estado, a inércia geográfica e a solidariedade técnica.

 

Mão-de-obra

A disponibilidade da mão-de-obra tanto em quantidade como em qualidade constitui um dos factores de localização industrial.

Há indústrias que exigem mão-obra abundante, como têxtil, eléctrica, elctrónica, de aparelhos de precisão, a de confecção, a de calçado, as construções mecânicas ligeiras, daí que é natural que tais indústrias se localizam nas áreas de forte densidade populacional, particularmente nas cidades.

Noutros casos, o que está em causa é a qualidade da mão-de-obra; certas indústrias, como a aeronáutica, aparelhos de precisão, electrónica, etc, exigem mão-de-obra altamente qualificada de que só grandes centros urbanos dispõem, já que neles se localizam os principas centros de investigação, universidades, universidades e outros organismos de formação superior.

 

Mercado consumidor

As indústrias cujo produto final é mais dispendioso transportar do que a matéria-prima se localizam preferencialmente no mercado consumidor. É o caso das indústrias de aparelhos electrónicos, as de montagem de automóveis, etc.

 

A solidariedade técnica

A instalação de um conjunto industrial num certo local pode constituir uma força de atração de outras indústrias que fornecem ou obtem bens e serviços complementares (assim como não) àquela indústria, criando uma vasta rede industrial com uma eficiente complementaridade técnica, trazendo como benefício a redução dos custos de produção para as respectivas indústrias.

 

Inércia geográfica

A inércia geográfica das indústrias é a sua resistência ao declínio (falência) quando as vantagens de localização inicial desaparecem ou diminuem.

As razões que explicam a inércia geográfica são duas: (1) a imobilidade do equipamento (edifícios, máquinas, infraestruturas) que é durável e de investimentos avultados; (2) a existência da força de trabalho qualificada, o desenvolvimento dos meio de transporte e de comunicção, a existência de facilidade económica e sociais, e ainda a existência de interdependência técnica entre várias indústrias.

 

A acção do estado

A accção do estado condiciona, de certa maneira, a localização das indústrias; procura-se que a localização das indústrias responda às necessidades do país e de cada uma das suas regiões. Procura-se, por um lado, localizar as indústrias nas zonas economicamente deprimidas, onde o desemprego é elevado e, por outro lado, evitar que ela continue a acumular-se em áreas já desenvolvidas superpovoadas. Em suma, o papel do estado é minimizar as assimetrias regionais no desenvolvimento económico.

 

O transporte 

Os custos do transporte e a eficiência das vias é um dos critérios básicos que influem na decisão de localização das unidades industriais.

As indústrias devem ser continuamente alimentadas em matérias-primas, muitas vezes de origem longínqua, e devem escoar os seus produtos o mais rápido possível, a menor custo possível, pelo que as indústrias devem estar perto das vias de transporte (estradas, linhas férreas, bons portos).

Em alguns casos, as vias de transporte são criadas como resultado da existência de unidades industriais.

 

NB: As indústrias, geralmente, localizam-se onde os factores de produção proporcionam baixos custos de produção e a maximização dos lucros.

 

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO INDUSTRAL

A indústria é uma das actividades humanas mais organizada. Dentre várias formas de organização do trabalho industrial, pode destacar: o taylorismo, o fordismo, a estandardização, produção em série, o trabalho em cadeia, a especialização e a organização industrial das grandes concentrações.

 

Taylorismo

Frederick Taylor propôs como forma de organização do trabalho, a divisão de trabalho e a especialização, onde cada operário ou grupo de operários executa mecanicamente, de acordo com as suas aptidões, uma tarefa específica. Isto permitiria aumentar os rendimentos e a eficiência da produção, assim como reduzir a necessidade em mão-de-obra.

Entretanto, o taylorismo apresenta alguns inconvenientes, tais como a monotonia das tarefas que acabam cansando o operário, pelo ele baixa do rendimento; limita a iniciativa do operário; exclui uma gama de operários não aptos para certas tarefas; contribui para elevar os índices de desemprego.

 

Fordismo

Henry Ford aperfeiçoou o taylorismo, permitindo integrar todos os operários sem descriminação, incluído os deficientes físicos, cegos, etc.

O fordismo tem uma abordagem humanista, preocupa-se com o bem-estar dos operários.

 

Standardização

A estandardização ou produção standard consiste na produção de objectos de dimensões e formas equivalentes, de modo que a sua utilização se torne universal, independentemente da marca de fabrico. Por exemplo, uma vela de automóveis, uma pilha, um pneu, um parafuso, etc, podem servir no mesmo veículo, aparelho ou dispositivo, independentemente da sua marca de fabrico, desde que a sua forma, dimensão e utilidades seja equivalente.

 

Produção em série consiste em produzir em massa produtos idênticos, isto é, tanto a máquina como o operário adaptam-se a cada fim específico, desde a entrada da matéria prima até à saída do produto final. A cada momento de operação corresponde a uma tarefa distinta com um produto diferente.

 

Trabalho em cadeia é o aperfeiçoamento da produção em série. As várias fases sucedem ininterruptamente do princípio ao fim e todas elas interligadas, ordenadas harmoniosamente segundo uma orientação racional. O operário não se desloca e executa a mesma tarefa previamente determinada. Se um operário não executar a sua tarefa no tempo previsto, causa embaraços à fase seguinte e assim em diante. O operário é limitado a pensar, pois age mecanicamente, o que fadiga facilmente.

 

Especialização é a divisão do trabalho em tarefas específicas por cada operário, tendo em vista a maximização da produção e produtividade.

 

Organização das grandes concentrações industriais

Uma concentração industrial pode acontecer a nível das empresas (concentração económica) ou a nível de estabelecimentos (concentração geográfica).

Empresa é a unidade económica, administrativa e financeira duma actividade produtiva e é, geralmente, invisível; ao passo que, Estabelecimento é a unidade geográfica que ocupa lugar no espaço e é visível. Uma empresa pode possuir vários estabelecimentos.

 

Vários são os factores que levam as indústrias a unirem-se uma a outra (concentração industrial), dentre os quais podemos salientar: 

  • A concorrência, onde as indústrias mais fracas acabam sendo absorvidas pelas maiores, de grande capacidade técnica e financeira.
  • Progressos técnicos, em que as empresas de menor dimensão não têm capacidade de se adaptar.
  • Concentração de capitais, a necessidade de reunir capitais que permitam a aquisição de instalações e equipamentos muito onerosos.
  • Crises económicas, em que as empresas menores são incapazes de sobreviver à crise, passando a ser controladas pelas empresas maiores.

 

São vários os processos através dos quais pode ocorrer uma concentração económica das indústrias, dos quais podemos destacar:

  • A ampliação de uma empresa inicial que constrói novas unidades fabris;
  • A fusão, que é a reunião, numa só empresa, de várias empresas de importância semelhante.
  • A absorção, em que uma empresa maior absorve outras mais pequenas que com ela não podem competir;
  • A tomada de posição em sociedades por ações. As grandes sociedades que participam noutras procuram controlar estas por meio de uma posição maioritária.

 

Tipos de concentração económicas

  • Trusts são agrupamentos de empresas associadas, com uma direcção (gestão) única; mantém juridicamente a sua personalidade e existência própria, mas perdem a independência e personalidade económica e financeira a favor de uma outra. O objectivo é de controle, isto é, monopólio. Exemplo: Esso, Shell, Philips, General motors, etc.
  • Holdings são sociedades por ações controladas por quem detém a maioria do capital social, normalmente grupos bancários, quem impõem as suas decisões.
  • Carteis são associações de empresas do mesmo ramo que, apesar de manter a sua personalidade jurídica e financeira, tem como objectivo controlar o mercado e suprimir a concorrência; cada empresa mantém a sua direcção, mas regulam-se por códigos de cumprimento mútuo. Exemplo: OPEP, CEE, etc.
  • Conglomerados são associações de empresas de actividades muito variadas  e que por vezes se desconhecem entre si por existência de relações mútuas, mas existindo sempre entre elas uma ligação financeira.
  • Empresas Multinacionais são aquelas que têm sede num país, mas operam em vários países do mundo através de filiais. Caracterizam-se, assim, por serem empresas de expansão internacional. Exemplo: coca-cola, Microsoft, Toyota, apple, google, Samsung, etc.



PAISAGENS INDUSTRIAIS

Paisagens urbanas

As cidades desde sempre exerceram uma forte atração sobre as indústrias, existindo mesmo grandes cidades que surgiram a partir da actividade industrial. É nas cidades que a indústria encontra uma abundante e diversificada mão-de-obra, capitais, terminais das vias de transporte, uma vasta gama de consumidores e vários serviços de apoio (bancos, repartições públicas, conselhos jurídicos, etc).

Em alguns casos, as indústrias tendem a agrupar-se num único lugar, formando um parque industrial urbano; noutros casos, as indústrias dispersam-se de forma desordenada pelos quarteirões das cidades.

Migração das indústrias para a periferia urbana

A partir dos fins do século XIX e princípios do século XX, muitas indústrias, até então localizadas no interior das cidades, começaram a emigrar para a sua periferia, devido a um conjunto de factores, tais como: escassez e altos preços do espaço urbano, congestionamento do trânsito rodoviário urbano, a poluição ambiental, e o desenvolvimento do transporte que permitiu o escoamento da mão-de-obra.

Contudo, existem indústrias que, pela sua natureza, permanecem nos centros urbanos. São de pequena dimensão, não utilizam energias poluidoras, baseiam-se na mão-de-ora urbana e são condicionadas pelo mercado consumidor urbano. Exemplo: indústria editorial, indústria tipográfica, etc.

 

Indústria portuária

São indústrias cujas matérias-primas ou produtos acabados são respectivamente importados ou exportados por via marítima ou fluvial e, por isso, localizam-se junto aos portos.

As indústrias pesadas (indústria siderúrgica, refinarias de petróleo, petroquímicas, a construção naval, fábricas de cimento e alumínio, etc), indústrias de pescado e seus derivados localizam-se habitualmente nas áreas portuárias, pois ali recebem as suas matérias-primas do estrangeiro através de navios e escoam os seus produtos para o exterior facilmente.

 

COMPLEXOS INDUSTRIAIS

Os grandes aglomerados industriais

Os grandes aglomerados industriais são enormes concentrações geográficas de unidades industriais num espaço relativamente restrito, onde entram em jogo entre si muitas e complexas ligações técnicas complementares.

Umas, em regra as mais antigas, são de geração espontânea, e outras, geralmente as modernas, edificaram-se a partir de uma política de programação do espaço industrial.

A edificação de grandes aglomerados industriais obedeceu a uma grande variedade de factores.

Os aglomerados de indústrias de base fora das zonas portuárias estão essencialmente ligados à proximidade das matérias-primas e de fontes energéticas, o que permite reduzir os custos de transporte.

Os aglomerados de indústrias transformadoras de bens de uso e de consumo situados em volta de um polo urbano, a sua existência está ligada à presença de mercados, à solidariedade técnica, às boas vias de transporte e uma abundante e diversificada mão-de-obra.

Porém, o factor fundamental na formação das grandes aglomerações industriais modernos é a existência de eficazes redes e vias de transporte, pela facilidade de abastecimento e escoamento de mercadorias. Vias férreas, autoestradas, vias aquáticas, suportam ao longo dos seus percursos grandes concentrações industriais.

 

As indústrias dispersas

Os elevados custos sociais, êxodo rural, movimentos pendulares, dificuldades de alojamento, poluição, congestionamento das vias de transporte e os desequilíbrios regionais explicam as tendências actuais para uma maior dispersão da indústria por todo o território nacional.

Mas, a dispersão industrial resulta também do facto de muitas indústrias serem, por razoes variadas, caracteristicamente dispersas logo a partir do seu nascimento.

O tipo mais vulgar de indústrias dispersas é o que está ligado à exploração dos jazigos minerais relativamente limitados, daí que muitas metalúrgicas se encontram frequente isoladas.

A indústria de materiais de construção (cimento, telhas, tijolos) é também muito dispersa, localizando-se junto dos locais de extração das matérias-primas (argila, calcário, margas, etc) que são muito pesadas e volumosas.

Frequentemente dispersas são também indústrias agroalimentares, como as de transformação de tomate, as açucareiras, as de conserva de frutas e legumes e a indústria de lacticínios.

Finalmente, a política de descentralização industrial procura estimular a instalação das indústrias social e economicamente menos desenvolvidas.