Geomorfologia

Segundo Christofoletti (1980), A Geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo (p. 1).  

Segundo Christofoletti (1980), As formas de relevo constituem o objeto da Geomorfologia. Mas se as formas existem é porque elas foram esculpidas pela acção de determinado processo ou grupo de processos. As formas representam a expressão espacial de uma superfície, compondo as diferentes configurações da paisagem morfológica. É o seu aspecto visível, a sua configuração, que caracteriza o modelo topográfico de uma área (p. 1).

Teoria do uniformitarismo

 Conforme Bastos et all (2019﴿ Um dos princípios basilares da ciência geológica é o do uniformitarismo segundo o qual "o presente é a chave do passado", ou seja, as leis da natureza são constantes de modo a que o estudo dos registros geológicos, essencialmente rochas e suas estruturas, decorrentes de processos atuais permite se interpretar a evolução geológica a partir de registros geológicos antigos. Este princípio, hoje, é adequado a novos conhecimentos que indicam ter existido variações de intensidade e/ou velocidade de processos geológicos como, por exemplo, a duração de um dia solar menor no passado, o gradiente geotérmico terrestre, maior no passado quando existiam mais elementos radiativos aquecendo a crosta terrestre.

O uniformitarismo defende que os acontecimentos do passado são resultado de forças da natureza idênticas às observadas hoje em dia (atualismo geológico) e que os acontecimentos geológicos são o resultado de processos lentos e graduais da natureza, denominados gradualismo. Assim James Hutton concluiu que "O presente é a chave do passado" (Bastos et all, 2019﴿.

James Hutton (1726 - 1797) é considerado o precursor da Teoria do Atualismo, por ser o primeiro a identificar a importância do conhecimento do presente para melhor compreender o passado. As concepções de Hutton foram divulgadas por seus discípulos John Playfair e Charles Leyll (1797 - 1875), cuja máxima era “O presente é a chave do passado”. Esse princípio estabeleceu as bases da pesquisa em Geologia, bem como em Geomorfologia (Bastos et all, 2019﴿.

Segundo Hutton, as leis da natureza são constantes. Assim o estudo dos processos geológicos atuais permite interpretar a evolução geológica, encaixando os registros geológicos impressos nas rochas e em suas estruturas como em um quebra-cabeças (Bastos et all, 2019﴿.

Lugar da Geomorfologia no sistema de ciências

Conforme Kostenko (1975), A geomorfoogia, no quadro geral das ciências da terra situa na interface  existente entre as ciências Geologicas e as ciências geográficas, segundo a classificação de Goguel. Essa ciência mantem profundos vínculos, já assinados, com a geologia. Mas é também essencialmente geográfica, na medida em, que depende dos conhecimentos de climatologia, paleogeografia, fitogeografia, pedologia e hidrografia e se fornece substancias informações necessárias ao entendimento da produção do espeço geográfico.

A geomorfologia funciona como uma ponte entre a geografia e a geologia, e estuda uma serie de problemas complexos e heterogéneos, alguns dos quais resolvem˗se através de métodos físicos geográficos e outros mediante a aplicação de métodos geológicos (Kostenko, 1975).

Teorias Geomorfológicas

Para Muhacha (2021) Teoria geomorfológica é o conjunto de conceitos e regras que condicionam todo trabalho científico, o que permite a cada pesquisador estruturar seu trabalho e nortear seu modelo explicativo sobre a dinâmica evolutiva da paisagem.

A teoria geomorfológica é uma ideia que se encontra no conhecimento geomorfológico que diz que o modelado terrestre evolui como resultado da influência exercida pelos processos morfogenéticos (Muhacha, 2021).

Principais Teorias Geomorfológicas

Para a explicação da evolução do modelado terrestre, foram criados modelos e teorias em geomorfológica onde destacam-se:

Teoria da Tectónica de Placas

Para Muhacha (2021) Placa tectónica é uma porção de litosfera limitada por zonas de convergência, zonas de subducção e zonas conservativas.

Para Muhacha (2021) Esta teoria foi formulada por J. Morgan, em 1967, na qual defendia que a crosta terrestre era constituída por cerca de vinte (20) blocos rígidos, os quais se movimentavam uns em relação aos outros.

As primeiras observações de grandes similaridades entre os contornos do Leste da América do Sul e Oeste de África foram feitas, em 1620, por Bacon. Entretanto, coube a Pellegrini, em 1958, a formulação da ideia de que as costas dos dois continentes mais eram que duas fáceis provenientes da quebra e separação de uma massa única e continua. Mais tarde, Le Pichon retomou esta hipótese reduzindo o número de blocos de 20 para 6 e apresentou um modelo do seu movimento relativo à escala global (Muhacha (2021).

Para Muhacha (2021) As placas crescem devido ao alastramento dos materiais que continuamente saem dos ríftes e são destruídas nas zonas de Benioff. Entretanto este crescimento provoca-lhes movimentos relativos que permitem a distinção de três diferentes tipos de limites que são:

  • Limites divergentes, onde as placas afastam-se uma vez que a subida de materiais do manto forma nova crosta oceânica;
  • Limites convergentes, onde as placas aproximam-se, chocam-se e uma mergulha-se sobre a outra, sendo reabsorvida pelo manto; e
  • Limites de fracturas transversais em que as placas sofrem movimentos tangenciais, deslizando uma ao longo da outra sem alteração.

Se o choque ocorre entre duas placas continentais, nenhuma mergulha mas as margens vão enrugar-se formando cadeias montanhosas como é o caso das cadeias montanhosas dos Alpes; quando colidam duas placas oceânicas, uma delas mergulha, e a consequente é absorvida pelo manto, enrugando os sedimentos e acumulados, formando-se assim as cadeias montanhosas submarinas como é o caso do arquipélago do Japão, e quando colidam uma placa continental e uma oceânica a mais densa mergulha, formando cordilheiras como é o caso dos Andes na América do Sul (Muhacha, 2021).

Teoria do Ciclo da erosão

De acordo com Muhacha (2021) A teoria do ciclo geográfico foi proposta por William Morris Davis que apresenta uma concepção finalista sistematizada na sucessão das formas de um ciclo ideal que procura uma terminologia.

O ciclo geográfico representa a primeira concepção desenvolvida de modo mais completo, pois nos tempos passados as formas de relevo eram explicadas pelos processos, mas nunca foram colocadas em séries evolutivas coerentes (Muhacha, 2021).

De acordo com Muhacha (2021) Esta teoria obteve sucesso porque havia qualidade em se adaptar os seus esquemas as observações panorâmicas da paisagem geomorfológica, e as designações do ciclo de erosão ou ciclo geomórfico são usualmente empregadas como sinónimos.

A teoria davisiana é o primeiro modelo evolutivo, foram desenvolvidos com base nas áreas temperadas húmidas, considerando-se que na vida dos seres há funções e aspectos que se sucedem invariavelmente do nascimento até a morte à sequência das fases sucessivas pelas quais passa o modelado a receber as designações antropomórficas de juventude, maturidade e senilidade (Muhacha, 2021).

De acordo com Muhacha (2021) A fase da juventude inicia quando uma região aplainada por movimentos rápidos tectónicos ou estáticos é uniformemente soerguido em relação ao nível de base, que é o nível do oceano no qual desembocam os cursos fluviais. Nesta fase, a grandeza das formas depende da amplitude entre o nível de base e as partes mais altas da superfície primitiva, onde se o desnível for grande surgem montanhas, os vales muito profundos terão uma secção transversal com V agudo, os afluentes desembocarão através de gargantas e rápidos ou cascatas; e se o desnível for menor os vales são menos profundos sendo preferencialmente estreitos como os antecedentes. As irregularidades dos declives e as ligações entre os talvegues são menos sensíveis e desaparecem muito depressa, e ao desmoronamento sucede o ravinamento e deslizamento de detritos surgindo a topografia de colinas.

De acordo com Muhacha (2021) A fase de maturidade é onde os progressos da erosão estão suficientemente desenvolvidos para que a erosão esteja perfeitamente organizada e o trabalho das forças harmoniosamente combinadas. O perfil longitudinal dos rios regulariza-se lateralmente, as rupturas de declives desaparecem do curso de água principais e das confluências dos rios principais, o entalhamento se faz de maneira lenta e como consequência do ritmo da erosão linear as vertentes alargam-se as declividades diminuem.

Segundo Christofoletti (1980), a senilidade caracteriza-se por:

Um rebaixamento lento do declive nas vertentes onde o ritmo evolutivo é mais intenso que os perfis longitudinais, pois qualquer que tenha sido o desnível entre a superfície primitiva e o nível de base, aquela superfície está destinada a desaparecer no fim do ciclo da erosão devido a intersecção das vertentes ao longo dos interfluvios, tornando-se uma sucessão de colinas rebaixadas cobertas por um manto contínuo de detritos intemperizados e separados por vales com fundo aluvial de largura considerável, a peniplanície (Christofoletti, 1980).

Christofoletti (1973) frisa que o ciclo de erosão davisiano compreende um rápido soerguimento da área por ação tectônica e um longo período de atividade erosiva. Chegando ao fim, na peneplanície, um novo soerguimento produzirá a instalação e a evolução de outro ciclo. Assim, através desse mecanismo, uma região poderá ser afetada por vários ciclos erosivos, cujos vestígios podem ser encontrados nas rupturas de declive dos cursos d’água e no estabelecimento das superfícies aplainadas. Aponta que todo e qualquer ciclo de erosão inicia-se a partir do nível de base e gradativamente se propaga pelo interior das massas continentais.

Teoria da Evolução do relevo

Esta teoria foi proposta por Luna B. Leopold e W. B. Langbein em 1962,onde usaram esta concepção na evolução das paisagens como um todo, empregando analogias simples como a termodinâmica. Esta teoria assenta-se sobre a existência de enumeráveis factores actuantes na forma do modelado (Muhacha, 2021).

As paisagens constituem respostas a um complexo de processos que na esculturação do relevo, essa complexidade é descrita pelas inúmeras variáveis envolvidas nomeadamente interacção, independência e mecanismos de retroalimentação. O mecanismo de cada processo assim como as de suas consequências podem ser perfeitamente conhecidas de maneira determinística (Muhacha, 2021).

De acordo com Muhacha (2021) A teoria central da distribuição pode ser descrita ou prevista, porém em nenhum momento do tempo é possível especificar as condições exactas para descrever um exemplo individualizado. Deste modo feito o estudo a um grupo de exemplos, encontra-se a possibilidade inerente entre os casos e as características individuais que compõe uma distribuição mais ou menos aleatória.

Conforme Muhacha (2021) Esta teoria apresenta perspectivas muito amplas e engloba o estudo histórico dos processos e das paisagens. Quando se pode especificar as probabilidades relacionadas com os vários estados alternativos de determinado sistema, está-se elaborando um processo estocástico no qual a história real descrita em determinada ocorrência, por isso não existem paisagens idênticas, as contingências relativas a energia e a matéria e as inter-relações espaciais e temporais entre os elementos são muito variadas e levam a resultados que podem ser semelhantes e não idênticos. Portanto todas paisagens terrestres fazem parte de um mesmo processo estocástico, sendo que as diferenças na intensidade da energia e na distribuição da matéria são as responsáveis pelas diversidades individuais.

Geomorfologia busca estudar e interpretar

De acordo com Werlang (2019) A geomorfologia estuda, portanto, as formas de relevo, que representam a expressão espacial da superfície, uma vez que tem na relação forma/processo o seu objetivo central, pois considera a concepção que, ao mudar a forma, muda o processo e vice-versa. As formas estruturais expressam a estrutura local de maneira mais ou menos evidente, isto é, dependem também do grau de erosão (p. 12).

De acordo com Werlang (2019) O fenômeno ou processo geológico que se realiza no interior da Terra denomina-se endógeno. Os agentes geológicos endógenos referem-se à interação de forças internas da Terra, tais como:

Aquecimento provocado por radioatividade; variações de pressão e temperatura provocadas por reações e recristalizações minerais para fases minerais mais ou menos densas com emissão ou absorção de calor, o que leva a desequilíbrios densitométricos e poderosas movimentações de massas rochosas, magmas e fluidos no interior da terra. São exemplos de processos endógenos a formação de magma e sua intrusão, dando origem a rochas plutónicas e hipabissais; tectonismo, dobramentos, falhamentos e metamorfismo em áreas orogênicas; subducção; geração de abalos sísmicos (terremotos); soerguimentos e abatimentos da crosta (p. 12).

Influência da geologia no desenvolvimento da geomorfologia

De acordo com Pena (2022) A Geologia estuda a Terra quanto à sua origem, composição, estrutura e evolução, por meio do entendimento dos processos internos e externos responsáveis por suas transformações. É parte das Ciências Naturais e das Ciências da Terra (ou Geociências) e interage com outras áreas como Física, Química, Matemática e Biologia.

As atividades de campo e de laboratório são fundamentais para estudos que variam do nível global ao microscópio e abrangem processos que ocorreram há bilhões de anos atrás ou que ocorrem atualmente.

A Geologia influencia no desenvolvimento da geomorfologia através da compreensão de fenômenos como a formação de minerais e rochas; o significado dos fósseis; a origem de vulcões, terremotos, maremotos e montanhas; a formação de solos; o transporte e deposição de sedimentos; e a acumulação de água subterrânea (Pena, 2022)

As atividades profissionais englobam o mapeamento geológico e os levantamentos geoquímicos e geofísicos; a descoberta e o aproveitamento de recursos minerais, energéticos e hídricos; a indicação de locais adequados para a implantação de áreas urbanas, estradas e barragens; e a prevenção de impactos ambientais, naturais ou não, como erosão, deslizamentos de encostas e inundações.

De acordo com Pena (2022) A Geomorfologia estuda a origem e a estrutura das formas de relevo. A formação de elementos da superfície terrestre é identificada pela natureza das rochas, pelo clima e por fatores endógenos e exógenos.

O Sensoriamento Remoto pode desempenhar importante função na identificação, no inventário e no mapeamento dos solos superficiais terrestres. As informações sobre a composição química das rochas e minerais da superfície terrestre, além da análise espaço-temporal dos processos atuantes no relevo possibilitam a identificação ou a prevenção de processos de degradação ambiental relacionados aos elementos físicos (Pena, 2022).

Conforme Bastos et all, (2019﴿.O Geólogo pode atuar em empresas públicas e privadas do sector mineral, companhias de petróleo, empresas de engenharia e meio ambiente, órgãos governamentais e instituições de ensino e pesquisa ou como autônomo, sendo que atualmente o mercado de trabalho apresenta grande demanda por profissionais de Geologia

Conclusão

A geomorfologia é a ciência que estuda as formas de relevo terrestre sob diversos pontos de vista. Na geografia física, essa disciplina constitui uma área de fundamental importância, tendo em vista que, assim como a paisagem (principal objeto de estudo da geografia física), os relevos demandam análises complexas para serem adequadamente compreendidos.

Em forma de conclusão verificamos que durante o desenvolvimento do trabalho os grandes pilares que edificaram a Geomorfologia tais como: James Hutton, William Morris Davis e Walter Penck. Enquanto o primeiro elabora uma explicação cientifica para a origem e evolução da paisagem terrestre com sua teoria do atualismo e o segundo introduz uma interpretação do relevo através do seu ciclo de erosão ideal, oferecendo à ciência geomorfológica um instrumento de raciocínio lógico, Penck se opõe ao paradigma davisiano, proporcionando uma contradição ou uma situação dialética que impulsiona a geomorfologia a se desenvolver atendendo às exigências cientificas.

Bibliografia

Bastos, F. de H; Maia, R. P. & Cordeiro, A. M. N (2019). Geografia ˗ Geomorfologia. 1ª 

edição, Fortaleza – Ceará, EdUECE.

Conceito˗de˗Geologia disponível em https://geologia.ufes.br/isto-%C3%A9-geologia Acesso

em 16/08/2022.

Christofoletti, A. (1980) Geomorfologia. 2ª edição. São Paulo: Editora Blucher.

Christofoletti, A. (1973). As Teorias Geomorfológicas. Notícia Geomorfológica, Campinas.

Kostenko, N. P. (1975). Geomorfologia Estructural. México: UNAM, Faculdade de Geografia.

Muhacha, B. (2021) Teorias Geomorfológicas disponível em https://sopra-educacao.com/2021/01/22/teorias-geomorfologicas/ Acesso em16/08/2022.

Pena, R. F. A. (2022) GeomorfologiaBrasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/geomorfologia.htm. Acesso em 16 de agosto de 2022.

Teoria do uniformitarismo ˗ na Infopédia Porto: Porto Editora. Disponível em https://www.infopedia.pt/$teoria-do-uniformitarismo Acesso em 17/08/2022.

Werlang, M. K. (2019). Geografia ˗ Geomorfologia. 1ª  edição. Universidade federal de santa Maria, Santa Maria | RS