1. Breve contexto e ponto de partida do pensamento de Edgar Morin


Edgar Morin, pseudónimo de Edgar Nahoum, nasceu em 1921 em Paris, é antropólogo, sociólogo e filósofo, ainda esta vivo com 96 anos. O seu pensamento surge em reacção às limitações da ciência clássica, constatadas através das revoluções científicas decorridas no início do século XX: Teoria da Relatividade de Einstein que mudou a concepção de espaço e tempo; Mecânica Quântica de Max Planck que trouxe a probabilidade eliminando as certezas físicas, a Teoria do Caos segundo a qual a ordem pode nascer dela.

Estas revoluções, permitiram Morin aliar a ciência clássica ao paradigma da simplificação: redução do conhecimento em unidades simples, em leis universais, eliminação do sujeito, confiança absoluta na lógica e toda a contradição é erro, a ordem como palavra-chave “A ordem soberana das leis da natureza é absoluta e imutável. Elas excluem a desordem desde sempre e para sempre” (Morin, 1997 p., 38).

Estas limitações demandam um método de complexidade para mudar o olhar sobre as coisas da física e compreender a natureza (o ser, a existência e a vida). O método, primeiramente visava analisar cientificamente o homem, de ser individual ou social, para homem como individuo, sociedade e espécie

Este ramo prematuro de O Método […] esforça-se por reformular o conceito de homem, […] que aos meus olhos apelava para um princípio de explicação do complexo e para uma teoria da auto-organização” (idem, p., 14).

 

2. Surgimento da ordem, desordem, organização e sua relação


Com base no método de complexidade e em oposição ao reducionismo clássico, pode se entender que todos nascem ao mesmo tempo durante a constituição do universo, as regras das interacções é que definem ordem cósmica e as suas leis universais. Os encontros causam interacções, estas por sua vez permitem relacionar a ordem, desordem e organização.

2.1.O surgimento da ordem


A ordem na física era defendia no primeiro princípio da termodinâmica, em que ela era indestrutível como a energia. Ela nasce do caos e a ele tenta sobreviver. O caos é uma dispersão que se constitui como ordem

Deste caos surge a ordem e a organização, mas sempre com a co- presença complementar/antagónica da desordem” (Morin, op. cit., p., 60).


Na ideia do autor, diferentemente do reducionismo clássico, a ordem esta em tudo que antes considerava-se erro ou desordem. O sol é um puro caos que cria a ordem, o mundo é um mistério criado pela harmonia das contradições, esta complexidade lembra Heráclito que defendia a harmonia entre os contrários através da guerra

É necessário saber que a guerra é comum e que a justiça é discórdia e que tudo acontece mediante discórdia e necessidade. A guerra é a origem de todas as coisas e de todas ela é soberana…” (Kirk, at all, 1994, p., 200).

 

2.2.O Surgimento da desordem


À semelhança da ordem, a desordem surge no século XIX sobre os princípios da termodinâmica na física, a energia defendida como indestrutível, no segundo princípio, devido o aumento da entropia, ela degrada-se e acontece o mesmo com a ideia da ordem,

O espanto é que o principio de degradação da energia […] se tenha transformado em principio de degradação da ordem, …” (Morin, 1997, p., 39). Esta ideia, transportada à escala do universo, contraria a antiga visão da desordem, porque ela surge como força que participa na génese do universo.


Com base na ordem, o universo era considerado incriado e auto-suficiente, a teoria da expansão que é mais tarde o sustentáculo da teoria do Big bang, defende a ordem a partir do caos, porém, para Morin, estas teorias têm pouca justificação epistemológica, cedem à catástrofe que é complexa

a catástrofe, ideia metamórfica, não se identifica com um começo absoluto e deixa em aberto o mistério do desconhecido acósmico ou protocósmico (…) longe de excluir, inclui a ideia de desordem...” (idem, p., 47).


A desordem em forma de calor, as temperaturas altas, criam a ordem e a organização cósmicas, produz átomos, planetas sendo o terceiro a terra. Na ideia do autor, o universo nasce num calor extremo. No segundo principio há sempre uma parte de desordem que não é recuperada e se torna dispersão.

2.3. O Surgimento da organização


O debate sobre a organização inicia com a constatação de que o átomo já não é unidade elementar. Morin, no segundo capítulo reflecte sobre a complexidade da organização e afirma que tudo que a antiga física concebia como simples, é organização, a vida é organização. “A organização é para nós, aquilo que constitui o núcleo central da phisis” (idem, p., 92). Para definir a organização Morin se propõe a discutir os conceitos: objecto, sistema, estrutura, porque de forma reducionista eram usadas como mais extensos e sem dialéctica com o conceito de organização.

    •  Objecto - a partir do século XX, o átomo já não é unidade elementar, deixa de ser elemento sólido que fundava o universo, ele passa a ser visto como organização ou sistema em que o sujeito passa a participar na sua definição “a partir daqui o átomo surge como objecto novo, o objecto organizado ou sistema …” (Morin, 1997, p., 96).

 

    •  Estrutura – é o conjunto de regras de agrupamento, de ligação, interdependência, de transformações, porém, não esgota relações complexas “A noção de estrutura, muito útil e integrável na ideia de organização, não pode resumir em si esta ideia” (idem, p., 128). A organização é mais complexa que estrutura, ela é articuladora e multiramificada.

 

    • Sistema – o objecto tornou-se sistema, sistema é objecto complexo formado por partes distintas, mas ligadas por relações interdependentes que causam a organização do universo. A definição de sistema, é subjectiva, relativa, cria incertezas, deve ser corrigida e guiada “…Já não existe um objecto totalmente independente do sujeito” (idem:136). O uno é complexo, Heraclito já estabelecia a ordem entre os contrários “O equilíbrio total do cosmos só pode ser mantido, se […] houver uma «discórdia» infindável entre contrários” (Kirk, at all, op. cit., P., 200). A ideia de sistema é insuficiente para explicar o universo, todos que tentaram caíram na simplificação, a complexidade ultrapassa sistema. A organização é mais extensa em relação a todos conceitos arrolados e garante a durabilidade do sistema mesmo quando há perturbações, ela transforma, produz liga e mantém.



2.4.Relação entre a ordem, a desordem e organização


O anel tetralógico (desordem, interacção, ordem e organização) é a base do entendimento desta relação. As interacções permitem que estes conceitos adquiram sentido na sua relação com o outro, permitem sua coexistência. Esta relação controla todas as teorias. Em suma, a ordem, a desordem e a organização na sua complexidade, permitem a génese do cosmo, a explicação do real obedece esta relação trinitária.

A advertência do autor, é que para a compreensão do seu pensamento é necessário que os leitores estejam isentos de conhecimentos fragmentados causados pelo paradigma de simplificação e considerarem a existência de harmonia entre opostos

…devo considerar todas as coisas não só em função do princípio de ordem mas em função da problemática ordem/desordem/organização; nunca esquecer o sujeito observador/conceptor no objecto observado/concebido; começar a desprender os princípios de complexidade” (Morin, 1999, p., 421-422).

 

CONCLUSÃO


O desenvolvimento do trabalho foi uma tentativa de explicar a concepção da natureza através do método de complexidade de Edgar Morin, onde a analise gravitou em torno dos conceitos de Ordem, Desordem e Organização. As ideias chaves, transparecem que as primeiras teorias e seus conceitos já não estão isolados e auto-suficientes, passam a se relacionar; a ideia de catástrofe pensada a nível do anel tetralógico pode ser considerada criadora.

As consequências desta análise, permitem uma nova postura em relação ao conhecimento: o novo universo é feito de agitação, nasce uma dupla articulação interdependente entre o objecto e o sujeito criando a incerteza cósmica, o problema dos limites do entendimento do homem, o calor surge como a base da revolução da ciência, esta abordagem vai permitir a disfunção de todas as teorias clássicas pelas novas.

A Ordem, Desordem e Organização são conceitos que só podem ser entendidos numa relação de complexidade, a ideia da organização é fundamental para o entendimento de como estes conceitos se articulam, para entender este conceito na sua complexidade, foi necessário compreender outros conceitos como objecto e estrutura e sistema. O sistema como uma inter- relação entre o observador e o universo é a base da complexidade, porém, os desenvolvimentos da complexidade vão ultrapassar a noção de sistema noutros tomos. A proposta do autor é que deve se concentrar nos problemas e não nas soluções para não cair no paradigma de simplificação.

BIBLIOGRAFIA


KIRK, Geoffrey at all. Os Filósofos Pré-Socráticos. 4ª ed., Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1994.

MORIN, Edgar. O Método: a vida da vida. Portugal, Publicações Europa-América Lda, 1999.

____________. O Método: a natureza da natureza. 3ª ed.,  Portugal, Publicações Europa-América Lda, 1997.

Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Edgar_Morin. Acedido em 27 de Sept. de 2017.