De acordo com RUSCHMANN (1997), a territorialização do espaço turístico é chamada de processo de turistificação. Para se compreender o processo de turistificação do espaço é preciso destacar o papel do turismo no reordenamento do território, sua acção e reacção perante sua apropriação do território.

SOUZA (1995), refere-nos que o turismo é um grande consumidor do espaço e de tempo livre, sendo também considerado produtor e transformador, isto por ter em seus investimentos a criação e a adaptação de infra-estrutura no espaço consumido. O turismo concorre no processo de transformação dos territórios para seu uso, com outros usos do território.

A actividade turística é capaz de criar, de transformar e, inclusive, de valorizar espaços, através do trabalho que envolve o processo de turistificação, além de toda a lógica que se insere nos pacotes turísticos.

SANTOS (1992), justifica que paisagens naturais são grandes atractivos para pessoas que pretendem descansar e sair do seu quotidiano. Em geral, como foi escrito no parágrafo anterior, vistas para as águas, sejam mares ou rios, montanhas, e áreas verdes, dentre outros componentes da paisagem natural, são sempre valorizados pelo turismo e geralmente despertam grande demanda. As redes de serviços destinadas ao turismo levam em consideração essas vantagens de localização representadas pela presença de riquezas naturais. Por este motivo, muitas localidades litorâneas sofreram drásticas mudanças em seu quotidiano: passaram a receber turistas em temporadas, finais de semana, ou até o turismo de segunda residência, ou seja, alojamentos turísticos particulares, utilizados temporariamente, nos momentos de lazer, por pessoas que têm seus domicílios permanentes em outro lugar.

O turismo é uma prática sócio-espacial complexa e multifacetada que interage fixos e fluxos, e tem seus rebatimentos nas diferentes esferas da organização sócio-espacial. Dentre outras, Assis (2003, p.109) destaca:

-Económica: requalifica os espaços através da diversificação, do crescimento e/ou decréscimo das actividades, provocando alterações nos perfis de emprego, na renda e na base produtiva;

-Cultural: modifica os sistemas de valores, o estilo de vida e os padrões de consumo das populações receptoras;

-Política: (re) define o papel do Espaço como gerenciador da infra-estrutura turística e de ordem;

-Ideológica: articula estratégias e tácticas que permeiam o imaginário do turismo como via de salvação do mundo e como mecanismo de manutenção de ordem; e

-Espacial: refere-se a espaço como meio de produção, como produto de consumo e como o lócus das práticas sócio espaciais.

As incidências do turismo nessas diversas esferas da organização sócio-espacial mostram como elas se encontram articuladas num campo de acções conjuntas que denotam a totalidade do espaço turístico.

De acordo com RUSCHMANN (1997), a complexidade do espaço do turismo se dá nas relações sociais materializadas territorialmente nas zonas de recepção, de deslocamento e de recepção de turistas que resultam no processo de produção e reprodução do espaço. Assim o turismo articula os elementos do espaço, comercializando a natureza como atractivo, articulando fluxos populacionais, inserindo uma rede de equipamentos de infra-estrutura, transportes, serviços.

Processo de Turistificação

OLIVEIRA (1998), sustenta que para se analisar algo a respeito do tema “Turistificação” é necessário a verificar-se três aspectos importantes do desenvolvimento da actividade turística, sendo eles:

  • O planeamento turístico
  • Os programas públicos de apoio ao turismo
  • As especificidades da localidade envolvida, representada pelos seus aspectos humanos, socioeconómicos, culturais, políticos e ambientais

A “turistificação” pode ser entendida como o processo de implantação, implementação e/ou de apoio da actividade turística em espaços turísticos ou com potencialidade para o turismo. A ferramenta para esse trabalho deve ser o planeamento estratégico integrado a actividade turística.

Lugar, aspectos socioculturais e turistificação

O turismo possui diferentes maneiras de abordagem. Fenómeno económico, político, social e cultural dos mais expressivos das sociedades ditas pós-industriais”. De acordo com a amplitude, constitui um conjunto de equipamentos muito diversificados de empresas e práticas cujos impactos sobre o meio ambiente diferem quantitativa e qualitativamente entre si e, por isso, necessitam ser avaliados isoladamente.

SOARES (2006), sustenta que constantemente a ideia de património é entendida a partir de sua classificação quanto natural, histórico e cultural. Muitas vezes essa classificação é dúbia. Pode ocorrer dessa maneira reducionismo de alguns níveis abordados como acontece com a utilização dos termos cultura, turismo e ambiente, de acordo com ficando em “gavetas separadas no resto da organização social e económica” ficando comummente nos planos de governo “como que pairando no ar”, “o que reduz a dimensão de seus conteúdos” empobrecendo a “possibilidade de planeamento.

Por isso, a necessidade de se recorrer à sazonalidade enquanto conceito que considera o movimento temporal na manifestação de tais práticas, onde estão incluídas: a pesca, o futebol de areia, as reuniões associativas ou não, entre outras. Por isso a importância da concepção miltoniana de buscar compreender o mundo a partir do lugar.

A transformação em produtos de consumo massificado tem provocado problemas sérios na apreensão, interpretação e comunicação de seu património histórico, além da exclusão social de parcela de sua população. O planeamento turístico ainda não atendeu a questões infra-estruturais que podem preservar a cidade e incluir a população no usufruto do bem patrimonial que elas são e no bem de consumo em que elas se transformaram.

Os agentes do mercado

 O agente do turismo está directamente relacionado com a actividade económica que surge do fenómeno turístico e, vincula-se ao processo de apropriação do tempo livre do trabalhador pelo capital.

SANTOS (1992), justifica que apoderando-se do discurso que prega a necessidade do lazer para a recuperação das energias necessárias para a continuidade do trabalho, o capital transformou o tempo livre em tempo de consumo e, o lazer em mais um produto a ser consumido. Esses agentes do mercado, conhecidos pela denominação de trade turístico, são os agentes produtivos da actividade turística. A partir das necessidades geradas pelos deslocamentos temporários do homem o capital, através dos seus representantes –  empresários  – mercantilizou o fenómeno e o transformou em mais uma actividade económica típica da actual sociedade de consumo.

Os agentes planeadores e promotores

Podem ser representados por iniciativas locais, regionais, nacionais, tendo como responsáveis poderes públicos. Os planeadores e promotores “territoriais”, diferentemente dos dois primeiros agentes que, em sua grande maioria são externos aos espaços que tristificam, nesse caso, esses agentes são sempre ligados ao lugar. A partir da ideologia do desenvolvimento local, muito comum nos discursos dos gestores públicos do turismo, são criados planos estratégicos para atrair turistas e empreendedores. Nesses casos, é comum identificar-se por trás do plano estratégico, o interesse de líderes locais que, por desconhecimento das características do fenómeno turístico ou por apresentarem intenções políticas específicas, apresentam o turismo como a solução de todos os problemas locais.

OLIVEIRA (1998), sustenta que isto nos coloca a necessidade de termos sempre em consideração o papel do turista na turistificação dos espaços. É ele que, com as avaliações subjectivas das suas próprias necessidades, acaba por definir quais partes do espaço são turísticos. Portanto, a compreensão dos processos de turistificação dos espaços e a construção dos territórios turísticos, passa pelo entendimento dos processos subjectivos que motivam os turistas a optarem por determinados destinos em detrimento de outros. A simples existência de belas praias, clima ameno, florestas preservadas ou de patrimónios arquitectónicos de reconhecido valor, não é garantia para que ocorra a turistificação de um determinado trecho do espaço, ou seja, nem todo espaço potencialmente turístico é turistificado.

Imagem e forma da cidade

STADEN (2009), sugere que o lugar é munido da noção de imagem. Por ser utilizada por diferentes áreas, tais como a semiótica, o marketing e o urbanismo, dedicar-se-á brevemente sobre a concepção a que cabe servir de caminho para compreender os embates que sustentem a questão da dialéctica entre informação e identificação de lugares.

De acordo com RUSCHMANN (1997), no início da década de 1970, T. S. Pinto apresentou a argumentação de que a preocupação com a forma urbana havia suscitado uma diversidade de explicações, ou “diferentes metodologias que visam a compreensão da cidade”, levando a admitir a incipiência científica da problemática da forma urbana (p.191). Dentre as correntes que se desenvolveram desde o último terno do século XX, a compreensão dos aspectos simbólicos e suas relações espaciais na cidade adquiriu, com K. Lynch, um horizonte ao urbanismo, mesmo diante da questionável validação da forma urbana enquanto status científico.

 

Bibliografia

CHRISTOL, C. B. Introdução à Ciência Política. Trad.: MENEZES, M. T. Rio de Janeiro: Agir. 1959

OLIVEIRA, M. A. Turismo e Meio Ambiente, v. 1. Fortaleza: Ed. UECE, 1998.

RUSCHMANN, D. Turismo e Ambiente: reflexões e propostas. São Paulo: Hucitec, 1997.

SANTOS, M. Espaço e método 3. ed. São Paulo: Nobel, 1992.

SOARES, A. Informação verbal. Actividades do Operação Verão/IAP. Dez. 2006.

SOUZA, M. L.O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.

STADEN, H. Duas viagens ao Brasilprimeiros registos sobre o Brasil. Tradução de Angel Bojadsen. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009.