O presente trabalho versa em torno de: O mundo como representação: independente de princípio da razão. É terceiro livro da obra de Arthur Schopenhauer “O mundo como vontade e como representação”. A abordagem do tema, prende-se nas teses concedidas pelo autor sobre o conhecimento do mundo a partir da contemplação estética, que faz do tema, um instrumento valioso ao serviço do saber, na medida em que estrai respostas, às várias questões que surgem sobre o mundo, de uma fonte comumente pouco explorada “a estética do belo”, mas também, contribuir no enriquecimento dos debates filosóficos.

A vida do homem neste mundo, resume-se num constante querer, contra cada desejo satisfeito existem dez que não o são, pelo que a tentativa de satisfação deles, acaba gerando sofrimento, por sua infinidade. Perante esta situação, levantam-se as questões seguintes: i) O que é intuição estética? ii) Como é que ela se manifesta na realidade? iii) Como pode o homem se livrar da dor e atingir a satisfação por meio da arte? É em torno destas questões em que o trabalho se desenvolve.

O trabalho tem como objectivo geral compreender a representação do mundo, independente dos princípios da razão. O objectivo específico deste trabalho é apresentar a saída encontrada pelo autor para a supressão do sofrimento e explicar como é que ocorre este processo.

O trabalho obedece como metodologia, a pesquisa bibliográfica, coadjuvada com a hermenêutica textual, que consistiu na leitura e interpretação da literatura disponível sobre o tema. Parte primeiramente a apresentar a representação independente do princípio de razão, depois debruça sobre o modo de conhecimento estético e por fim a arte como forma de libertação da dor. É no desenvolvimento deste, que parte da introdução a conclusão, onde estão arrolados o núcleo da pesquisa.

Representação independente de princípio da razão O mundo como representação de Schopenhauer é a objectividade da vontade, ou seja, é a vontade que se torna objecto. A pluralidade de objectos, só pode ser representada por meio de tempo espaço, enquanto o seu nascimento e morte só o são pela causalidade que é o princípio último de toda a finitude. Ao contrário as ideias não se submetem a este princípio, elas são unas, independentes da mudança. A vontade em Schopenhauer é aquilo que Kant chama de coisa em si (númeno), e Platão chama de ideias eternas ou formas imutáveis. Pois, ambos filósofos

…declaram o mundo visível como uma aparência, nela mesma nula, que tem significação e realidade emprestada apenas mediante o que nele se expressa…” (SCHOPENHAUER, 2013: 198).


Para Kant a coisa em si independe das categorias do conhecimento (tempo, espaço, causalidade), que correspondem a aparência, ou seja, as leis da experiencia não são válidas para a coisa em si. Platão por sua vez, diz que as coisas deste mundo, que os nossos sentidos percebem, não tem nenhum ser verdadeiro: elas sempre vem a ser, mas nunca são. São apenas objectos de uma opinião ocasionada pela sensação. Para Platão as ideias sempre são, entretanto, nunca vem a ser nem parecer, a elas não convém pluralidade alguma, pois todas conforma a sua essência são unas, na medida em que cada uma delas é a imagem arquetípica mesma, cujas cópias ou sombras são as coisas isoladas e efémeras da mesma espécie e de igual nome.

Por conseguinte, só a ideia é mais ADEQUADA OBJECTIDADE [sic.] possível da vontade ou coisa-em-si; é a própria coisa em si sob a forma de representação: […] o fundamento para a grande concordância entre Platão e Kant” (Idem: 202).


Intuição estética como forma de conhecimento do mundo Segundo  Japiassú e Marcondes (1993: 137), a palavra intuição vem do latim intuitio que significa acto de contemplar. É a forma de contacto directo ou imediato da mente com o real, capaz de captar sua essência de modo evidente, mas não necessitando de demonstração.

Na ideia, sujeito e objecto mantêm pleno equilíbrio. Aqui o objecto nada é senão representação do sujeito, do mesmo modo o sujeito, ao abandonar-se no objecto intuído, torna-se esse objecto mesmo, visto que toda consciência nada mais é senão a sua imagem nítida. Entretanto, o modo de conhecimento que considera unicamente o essencial

Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi um filósofo alemão do século XIX, fez parte de um grupo de filósofos considerados pessimistas. Propriamente dito do mundo, alheio e independente de toda relação, o conteúdo verdadeiro dos fenómenos, não submetido a mudança alguma e, por conseguinte, conhecido com igual verdade por todo tempo, ou seja, as ideias é a arte, a obra do génio.

Podemos […] definir a arte COMO O MODO DE CONSIDERAÇÃO DAS COISAS INDEPENDENTE DE RAZAO [sic], oposto justamente a consideração que o segue, que é o caminho da experiência e da ciência” (SCHOPENHAUER, 2013: 213).


Ela repete as ideias eternas apreendidas por pura contemplação, o essencial e permanente dos fenómenos do mundo, que expõe-se como arte plástica, poesia e música. Sua única origem é o conhecimento das ideias, seu único fim é a comunicação desse conhecimento. Sendo assim, a genialidade seria a capacidade de proceder de maneira puramente intuitiva de perder-se na intuição e afastar dos olhos o conhecimento que existe apenas a serviço da vontade, fazendo com que a personalidade se ausente plenamente por um tempo, de maneira duradoura e com tanta clareza de consciência quanto for preciso para reproduzir o que foi apreendido numa arte planificada.

A obra de arte é simplesmente um meio de facilitação do conhecimento da ideia, no qual repousa a satisfação. O artista nos permite olhar para o mundo mediante os seus olhos. Que ele possua tais olhos a desvelar-lhe o essencial das coisas, independentemente das suas relações. Encontramos no modo de conhecimento estético dois componentes inseparáveis:

Primeiro o conhecimento do objecto não como coisa isolada, mas como ideia platónica, ou seja, como forma permanente de toda uma espécie de coisas; depois a consciência de si daquele que conhece, não como individuo, mas como puro sujeito do conhecimento destituído de vontade. Estes dois componentes entram em cena devido ao abandono do modo de conhecimento ligado ao princípio da razão, único útil para o serviço tanto da vontade quanto da ciência.

A libertação da dor por meio da Arte Para Schopenhauer citado por Barboza (2001: 77), toda vida é sofrer, todo querer nasce de uma necessidade, de uma carência, de um sofrimento, ou seja, a vida é essencialmente incessante desejo. Então, a satisfação põe um fim ao sofrimento, mas para cada desejo satisfeito permanecem outros que não o são. A nossa cobiça dura muito, as nossas exigências não conhecem limites, a satisfação é breve. O desejo satisfeito imediatamente dá lugar a um outro. Enquanto somos sujeitos do querer, não possuiremos bem-estar nem repouso permanente.

Só podemos nos libertar da dor […] e nos subtrair a cadeias infinitas das necessidades mediante a arte…” (REALE; ANTISERI, 1991: 231).


Através da experiencia estética, o individuo se separa das cadeias da vontade, afasta-se dos seus desejos, anula as suas necessidades, deixando de olhar os objectos em função de eles lhe poderem ser úteis ou nocivo. Na experiencia estética, o homem se aniquila como vontade e se transforma em puro olho do mundo, mergulha no objecto e esquece-se de si mesmo e de sua dor.

A arte expressa e objectiva a essência das coisas é por isso que nos afasta da vontade. O prazer estético consiste em grande parte no fato de que, mergulhando no estado de contemplação pura, libertamo-nos por um instante de todo desejo e preocupação; despojamo- nos, em certo sentido, de nós mesmo; não somos mais os individuo que põe a inteligência a serviço do querer. De todas as artes, como a arquitetura, escultura, pintura, poesia, tragédia e música só a música expressa a própria vontade, por isso é a mais universal e profunda: a música é capaz de narrar a história mais secreta da vontade.

A música […], não é de modo algum, como as outras artes, cópia de ideias, mas cópia da vontade mesma…” (SCHOPENHAUER, 2013: 298).


As outras apenas falam de sombra e a música fala de essência. Arte portanto é libertadora, ela destaca o conhecimento da vontade e liberta-nos da necessidade e da dor. Ela faz de nós puros sujeitos contemplativos que, enquanto contemplamos, não desejamos e não sofrem.

CONCLUSÃO


Perante a abordagem do tema: O Mundo como Representação: A representação independente do princípio da razão. É importante anunciar que, a contemplação estética é um estado de forma de conhecimento do mundo, capaz de competir com as ciências e supera-las, se se leva em conta a satisfação e satisfação metafísica que ela proporciona. Pois, por ela o espectador compreende o mundo ao ler uma poesia, ao ver uma bela arte, ou a escutar uma música. Posto isso, a contemplação estética é um bálsamo em meio as durezas da vida, como um intervalo que trás um descanso em meio as durezas da vida.

É comum nos homens, principalmente os educados no espírito das ciências, até a própria filosofia, em dar primazia a razão em detrimento das outras dimensões que podem libertar o homem da dor e do sofrimento constante causado pela ingerência das vontades.

O homem não pode fugir de si mesmo, da sua própria condição, do seu maior delito “ter nascido”. Mas pode evitar o sofrimento através da arte, do desapego ao mundo físico, a causa do sofrimento. O homem pode se livrar do sofrimento por meio da metafísica do belo.

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BIBLIOGRAFIA


BARBOZA, Jair. A Metafísica do Belo de Arthur Schopenhauer. São Paulo, Humanitas, 2001.

JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico de Filosofia. 2 ed., Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1993.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: do romantismo até nossos dias. São Paulo, Paulus, 1991, v.3

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação. (Trad) Jair Barboza. 2 ed., São paulo, UNESP, 2013.