Por: dr.Nelito  Daniel; dra. Vaira  Simbine; dr. Sérgio  Cossa;  dr. Armando Bauque; dr. Duarte  Amaral

Conceito de cultura

De acordo com Martinez (2014: 44), o termo cultura provém do  latim colturaecoliscolerecultum que significa cultivar, cuidar, ter cuidado, prestar atenção. Na mesma linha, o autor diz que  o termo cultura é usado no sentido material para significar o cultivo da terra, no sentido espiritual  para significar a veneração, prestar atenção aos deuses protectores do lugar, cuidar os deuses da terra.

De acordo com Martinez (2014: 44), o termo cultura provém do  latim colturae, colis, colere, cultum que significa cultivar, cuidar, ter cuidado, prestar atenção. Na mesma linha, o autor diz que  o termo cultura é usado no sentido material para significar o cultivo da terra, no sentido espiritual  para significar a veneração, prestar atenção aos deuses protectores do lugar, cuidar os deuses da terra.         A cultura tem várias definições como veremos com alguns autores. De acordo com Taylor apud De Mello (1982: 37) cultura é todo conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade. Taylor nos faz entender que todo homem é um ser cultural. Diante da definição dada por Taylor, podemos ainda perceber a ideia segundo a qual a cultura não faz parte da dimensão biológica, isto é, ninguém nasce com a cultura, mas sim adquirimos na medida que vamos crescendo e desde que nos inserimos numa determinada sociedade     Vinigi L˗Grotanelli apud Martinez, Imc (2014: 48), a cultura é toda actividade consciente e deliberada do homem como um ser racional, como membro  de uma sociedade e o cunjunto das manifestações concretas que derivam daquela actividade. Na mesma linha de ideias, Martinez, Imc apresenta-nos uma definição dada pelo concílio  do vaticanoII segunda a qual, cultura é dimensão humanista, que inclui bens e valores da natureza, aspectos históricos e sociais. Mondin afirma que são as diversas facetas do homem que nos leva a estudar a cultura do homem.    (…) Defronte a nós se estende uma maravilhosa série de produtos humanos: cidades, estradas, canais, pontes, ferrovias, trens, catedrais instrumentos musicais, obras de arte de todos os gêneros (pintura, escultura, obras arquitetônicas), línguas, poemas, romances, jornais, teatros, ritos, religiões, sistemas políticos, instituições civis, etc, (…) que nos leva a estudar a cultura do homem. (MONDIN 1980: 170).    De acordo com De Mello (1982: 41) a cultura no sentido mais abrangente, é todo o conjunto de obras humanas. Ela é a das características mais fundamentais do homem e que distingue este dos outros animais. De acordo com este autor, a distinção reside na inconsciência que denomina na actividade dos animais e a consciência que esta presente no acto humano, sendo o homem um ser cultural. Diante das diversas definições  acima apresentadas pelos diversos autores, encontramos dois  sentidos de definição da cultura. Primeiro sentido de definição da cultura, é sentido material e  segundo é cultura no sentido espiritual.     Cultura no sentido espiritual ou subjectivo   De Mello (1982: 44) entende que a cultura no sentido subjectivo implica ao conjunto de valores, conhecimentos, crenças, aptidões qualitativas, experiências presentes em cada indivíduo e normais que guiam o comportamento humano. Nessa perspectiva, pode se perceber que o homem diferentemente dos animais, possui uma dimensão importante que lhe guia, essa dimensão reside no seu interior. Poderíamos dizer que todo homem possui no seu interior a imagem dos seus antepassados, a imagem de Deus, e de todos entes que não se manifestam fisicamente.    Cultura no sentido material ou objectivo  É indiscutivelmente que o homem é um ser constituído por hábitos, aptidões, ideias, comportamentos, artefactos, objectos da arte. O homem constrói casas, fabrica objectos, produz alimentos, homem utiliza tecnologias, homem organiza-se, cria sociedades, cria modos para uma boa convivência, homem cria a religião, cria a política entre outras coisas. A estas capacidades mencionadas, essas faculdades, a esses conjuntos de obras humanas de todos os tempos e toda face da terra, Mello vai chamar de cultura no sentido material.     De acordo com Martinez, (2014: 97) embora as sociedades sejam diversificadas, existem traços culturais comuns em todos homens. Como por exemplo: comer e beber o suficiente, cuidados mútuos, protecção diante dos perigos, a procura de explicações satisfatórias  dos fenómenos do mundo observados, a linguagem, a existência de um sistema de parentesco, entre outros. Isso leva nos a dizer que somente os homens possuem a cultura.     Fundamentos da cultura   Poder-se-ia questionar sobre qual seria a base última, o componente principal, o elemento fundamental da cultura? Na tentativa de solucionar a questão, muitos pensadores apresentaram o seu ponto de vista, embora alguns tenham encontrado soluções divergentes. Sob o ponto de vista dos positivistas e os neopositivistas, o elemento fundamental da cultura é a ciência, outros como os idealistas e os filósofos seguidores do pensamento hegeliano o fundamento da cultura é a filosofia, mais avante outros como os marxistas vem afirmar que o fundamento da cultura é a economia. Ao mais tardar, certos autores bem qualificados como por exemplo: Dawson, Tillich e Toynbee afirmam categoricamente que o elemento fundamental, o elemento principal da cultura é a religião.    Peso embora, o fundamento religioso da cultura seja a menos conhecida por um lado e parece ­nos uma tese original e interessante por outro, a atenção será concentrada acima de tudo sobre ela. É daí que surge Cristopher Dawson em que afirma que é a religião que constitui o fundamento principal o fundamento último da cultura, ele não está a afirmar que a religião é o produto da cultura, mas a mesma faz parte dela sendo o seu princípio vital e essencial. Existe uma relação recíproca entre a cultura e a religião, na medida em que a primeira é moldada e modificada pela segunda. De facto, há que se considerar que pela maneira que o homem vive automaticamente corresponde a sua maneira de conceber a realidade e por consequência aproximar ­se da religião, isto é, o mundo da potência e do mistério divino frente a experiência humana e a conduta social.    "Através da parte mais ilustre da história humana, em todos os séculos e em qualquer período da sociedade, a religião foi a força central e unificadora da cultura. Foi guardiã da tradição, preservadora da lei moral, educadora e mestra da sabedoria” (MONDIM, 1980: 176). O que implica afirmar que não se pode compreender a estrutura de uma sociedade se não se conhece a sua religião e da mesma maneira, compreender as suas conquistas culturais se não se conhece as crenças religiosas. Um outro autor que sustentou o fundamento da cultura é Paul Tillich afirmando que os sistemas científicos, políticos, sociais, filosóficos, as produções artísticas e literárias têm como base ou fundamento a religião: uma fé, uma busca pelo absoluto. Segundo Tillich a religião é a dimensão do profundo em todas as funções da vida espiritual do Homem. O Homem torna ­se incapaz sem abraçar a religião, tornasse debilitado sem recorrer ao ser divino, portanto para Tillich a religião é a substância última que dá significado à cultura que dá ênfase à cultura. Um outro autor que validou a tese de Dawson é Arnold Toynbeen em sua obra "A study of  History" em que ele apresenta a religião como sendo o fenómeno fundamental e decisivo para a existência humana. Ele afirma ainda que a história do mundo tem demonstrado a imagem de uma máquina que se move ao nível mais alto e esse motor da máquina é constituído pela religião em que representa a cultura e com o aparecimento desta religião fez com que a humanidade retomasse o seu caminho para avançar, ele também reconstrói a história como uma sucessão de civilizações, ou seja, da cultura.    Esta questão se expandiu e preocupou a vários outros autores, principalmente os estudiosos da antropologia religiosa como por exemplo: Van der Leeuw, Luckmann e Nijk. Eles também afirmam que o componente principal da cultura é a religião. Arte, linguagem, agricultura procede do encontro do homem com Deus ­isto nas palavras de Van der Leeuw. Em contrapartida Luckmann afirma que em qualquer civilização, o seu factor determinante e fundamental é a religião, pois haveria uma conduta em todas situações da sociedade em que as representações religiosas desaguariam como parentesco, divisão do trabalho e exercício do poder. E consequentemente Nijk também entra na mesma linha de pensamento com os seus conterrâneos, que está mais que claro que a cultura tenha origem no rito religioso, justificando que o rito contém uma cultura, isto é, o rito cria um mundo, cria um grupo.    Ora bem, o que seria a religião e o que seria a cultura visto que muito se debateu em torno do fundamento último da cultura e, muitos autores olharam mais pela perspectiva da religião sendo esta, o elemento principal. Numa perspectiva geral a religião é uma estrutura de discursos e práticas comuns a um grupo social referentes a algumas forças e diante das quais se consideram obrigados a um certo comportamento em sociedade com os seus semelhantes, por sua vez a cultura seria a organização simbólica do mundo, ou dimensão simbólica expressiva da vida social sendo a mesma um conjunto de sentidos e significados, de valores e padrões, incorporados e subjacentes aos fenómenos perceptíveis da vida de um grupo social concreto, conjunto que, consciente ou inconscientemente, é vivido e assumido como uma expressão própria de sua realidade humana. No entanto, a religião de facto é um elemento primordial e perene da cultura, dá ­se mais importância a religião para fundamentar a cultura.     Principais características da cultura  A cultura enquanto conjunto complexo de sistemas que incorpora os valores, fé, conhecimentos que orientam o comportamento de uma sociedade, pode ser caracterizada por três perspectivas, nomeadamente: origem, forma e finalidade. Mondin (1980:179) refere que a cultura na sua perspectiva de origem é oriunda de uma actividade essencialmente humana, pelo facto de ser uma produção, não de Deus nem da natureza, mas de uma capacidade criativa do homem. Pois, ela é uma realização humana e do esforço intelectual e das mãos da pessoa. “A cultura é produção e produto é actividade de cultivar e o resultado desta actividade. O homem cria, baseando-se no que já foi criado, num processo histórico interminável” (EDVINO 2001: 49). Por conseguinte, a cultura é essencialmente resultado do pensamento e da acção em imitação a natureza. Além disso, sob ponto de vista de origem, a cultura não pode ser concebida como uma actividade de um único indivíduo, mas de todos membros de uma determinada sociedade, que vão conjuntamente produzi-la.     Nesse ponto ainda, a cultura é laboriosa, isto quer dizer que ela não é transmitida automaticamente e mecanicamente, mas exige um trabalho, um esforço para que se afirme como uma identidade de um povo. Portanto, a cultura sob ponto de vista de origem é algo humano, social e laborioso. Quanto a forma, a cultura subdivide-se em quatro pontos, tais como a sensibilidade, dinamismo, multiplicidade e criatividade. A cultura deve compreender a dimensão sensível visto que as suas manifestações, inclusive aquelas expressões altamente espirituais como a religião, a música, a arte, poesia e filosofia, devem ser perceptíveis pelos sentidos. Todavia, nessa perspectiva tudo quanto não assume a dimensão sensitiva não pode pertencer à cultura.      O dinamismo da cultura consiste na abertura de uma possível evolução e transformação contínua, visto que sendo ela o produto do homem, este mesmo homem está em contínua mutação, dai que a cultura sofre as mutações. Segundo Bernardi (2007), a cultura na perspectiva dinâmica incorpora três processos enculturação, aculturação e desculturação. A enculturação compreende todo o processo educativo onde os membros de uma cultura se tornam conscientes da própria cultura. Neste processo, o individuo recém-chegado ao mundo é transmitido e doutrinado, informal e formalmente, sobre valores que devem a acompanhar todo o comportamento humano na sociedade, por meio da família, escola e encontros de brincadeiras infantis. Na aculturação decorre o intercâmbio e transferência de valores culturais de uma cultura para outra. “A aculturação refere-se às relações existentes entre as demais culturas e aos efeitos que derivam do seu contacto. As relações culturais fazem-se através de migração dos povos; com os povos desloca-se e renovam-se a cultura” (BERNARDI 2007:110). No processo da aculturação, não se pode falar sobre o mono-cullturalismo, mas de multiculturalismo visto que na mesma sociedade coexiste varia culturas devido a esta transferência de valores. A desculturação é o aspecto negativo da dinâmica cultural, porque é nesse processo onde decorre a subtracção e a destruição de algumas identidades do património cultural. Esta perda pode suceder no momento de aculturação, pois com a troca de valores, alguns valores primitivos e originários da sociedade desaparecem.    Segundo Mondin (1980: 180), A cultura é múltipla na medida em que assume várias formas que é a consequência do dinamismo que a cultura compreende. Além disso, a multiplicidade da cultura é a consequência das múltiplas capacidades do homem e das infinitas possibilidades da natureza. Nessa perspectiva, os valores que cada cultura procura realizar em qualquer tempo ou em qualquer lugar são numerosos. Por ultimo, na criatividade expressa-se a dimensão genial da criação.     Quanto a finalidade, a cultura é, por alguns, considerado essencialmente religiosa, por outros humanistas, por outros naturalistas: religiosa na medida em que o seu fim último é Deus, a sua exaltação, o elevar-se até ele. É humanista quando se  pressupõe que a sua finalidade primordial é a satisfação do homem, isto é, seu progresso e seu bem-estar. Naturalista se ela se propõe como alvo principal. No entanto, segundo Niebuhr apud Mondin (1980:181), refere que todos os objectivos da cultura são compatíveis entre si, visto que a cultura pode ser ao mesmo tempo humanista, naturalista e religiosa porque todas essas áreas cooperam e encontram a sua razão de existência no homem. A compreensão das características da cultura, portanto, desdobra-se respectivamente em torno de origem, forma e finalidade. A cultura só pode ser compreendida enquanto um fenómeno social, existente e desenvolvida pelo homem, a partir dessas características já apresentadas.      O Individuo e as estruturas culturais  Na visão de Mondin (1980: 179), durante os últimos decénios a antropologia cultural virou-se na cultura onde teve como uma das pistas mais válidas para descobrir o sentido profundo da realidade humana, com isso, concebe-se dois tipos principais de antropologia científica: o outro é a física onde se estuda a origem e a evolução do homem, os elementos biológicos e fisiológicos, passado e presente que mostram como constitui-se o ser humano no particular. Essa antropologia, trata das relações sociais particularmente, se não exclusivamente, nos povos primitivos. Apresentam um método autónomo rigorosamente científico, é com base a isso que estudiosos franceses transformaram essa antropologia em sistema filosófico universal que denominaram: estruturalismo.    Os estruturalistas apresentaram a tese principal denominada de binómio homem-cultura, “homem-estrutura cultural” o primado não cabe ao primeiro factor mas ao segundo, na medida em que, “não seria o homem que cria a cultura e as suas várias estruturas culturais da sociedade, mas ao contrário, seria a cultura com as várias estruturas, em particular as sociais, que formam e modelam o homem” (MONDIM, 1980: 179).     Os estruturalistas apresentam a relação como categoria fundamental e não o ser, uma vez que a primeira apresenta-se superior que a segunda e o todo é tomado como superior que as partes, na medida em que, os elementos particulares não são reais nem têm valor fora do enlaçamento das relações que os constituem e as unidades podem ser definidas apenas por meio das suas relações recíprocas: são formas e não substâncias.    O estruturalista como movimento surge como reacção ao existencialismo que coloca em evidência o valor do indivíduo, a sua independência, liberdade, autonomia com relação ao estado, à sociedade, ao universal, ao genérico, às leis e às estruturas de qualquer tipo. Mas o estruturalismo de Lévi-Strauss surge nas premissas linguísticas de Saussure, onde a língua não é formada de vocabular, mas de estruturas fonéticas e estas tornam possíveis as palavras e significados. Pois, a propriedade estrutural sobre os conteúdos significativos não é exclusiva da língua, mas é comum em todas as manifestações culturais: religião, arte, filosofia, ciência, mitos que são manifestações diferentes de determinadas estruturas elementares do espírito.    Na visão de Reale; Antiseri (1991: 945), o estruturalismo de Lévi-Strauss se configura como um kantismo sem sujeito transcendental: há um inconsciente formado de categorias, que constituiria a matriz de todas as outras estruturas. Com base nisso, pode-se compreender também a polémica anti historicista que afirma que a história não tem nenhum sentido, nela não existe nenhum fim, nem se desenvolve de modo contínuo e progressivo; o que opera nela são estruturas inconscientes e não homens, com seus fins declarados, os quais são apenas aparências. A acção humana é toda uma acção regulada pelas poucas normas formais que o estruturalismo faz emergir. Neste sentido, o estruturalista pretende captar as regras que estruturam, não apenas as configurações da vida social dos homens, mas também os seus produtos mentais. O pensamento “selvagem” não é de modo algum menos lógico do que o pensamento do homem “civilizado”, o que pode ser visto na catalogação que os “primitivos” fazem dos fenómenos naturais ou em suas classificações totémicas. Sustenta ainda dizendo que, o mito é uma estrutura lógico-formal que dá lugar a produtos com os quais a mente humana ordena, classifica e dá sentido aos fenómenos.    Na perspectiva de Mondin (1983: 259), Foucault considera a análise da linguagem de Saussure não como modelo a transferir para outros campos. E concentra sua atenção nas sociedades evoluídas, modernas, do que as primitivas, selvagens, como faziam Lévi-Strauss. Ele se propõe em demostrar que cada período da cultura tem o seu a priori histórico, que consiste no abstracto comum de todas as ciências, áreas e ideologias e que condiciona o pensamento e actividades do homem do tal período, designando de Episteme para significar o campo particular, o espaço e a ordem no qual em cada em cada época histórica a Episteme é única, ao passe que a sua imagem se reflecte, inevitavelmente, com nuanças diferentes em todos os campa aos quais se aplica o pensamento humano, pois, ele se encontra sempre na origem do pensamento.     Com base a isso, Foucault declarou que de agora em diante não se trata mais de anunciar “a morte de Deus” como fizera Nietzsche: nos nossos dias, antes que a ausência ou morte de Deus, é proclamado o fim do homem, pois, este está para desaparecer. Assim, eliminando-se, qualquer sujeito da antropologia, isto é, o homem, passa a ser considerado não como centro de relações e, ainda, como uma zona vazia onde se cruzam linhas de força. Renova-se, desse modo, o trágico erro do empirismo humano.     Cultura e Natureza   Tendo a pretensão de compreender os conceitos e demonstrar a relação existente entre ambos, convém lembra que neste ponto a natureza, tornar-se-á o conceito que será abordado com um cuidado muito especial, pós o conceito cultura já fora trabalhado nas páginas anteriores. Neste caso, a natureza, como é expressa, de um modo simples de compreender, ela por excelência é o aconchego do homem, é nela onde o homem habita, é única coisa que ele não cria, apenas a transforma para que se adeqúe às circunstâncias da sua existência e para responder as suas necessidades.         Ainda nesta ordem conceptual da natureza Blaunde (2018: 52), quando faz menção da natureza como fonte do conhecimento humano, coloca este conceito ao pé de igualdade com os conceitos universo e mundo, querendo assim dizer que a natureza é tudo oque existe, pós admite que é o universo que forma tudo, tomando assim, a natureza como a força da vida, a força que dá vida, ao homem, se assim preferirmos, pois, é na natureza que o homem se reinventa e inventa, a natureza é vista como superior não só ao homem mas também a sua existência.    O homem não cria a natureza ele já nasce e vive dependendo da natureza, para tudo quanto lhe diz respeito, mas a cultura não, pós a existência da cultura depende necessariamente da intervenção do homem, o homem faz a cultura para puder se identificar não só como um ser natural mas um ser bainhado por alguns princípios culturais, que quando distinguindo em diversos espaço-tempo, criará uma diferença em relação aos outros seres fora e/ou dentro daquele espaço-tempo, “a natureza é o dado originário que foi posto à disposição do homem; ao contrário, a cultura é tudo aquilo que o homem extrai desse dado original, mediante a sua iniciativa” (MONDIN, 1980: 172).    A relação entre estes conceitos e de forte dependência, ainda como queira Mondin, sendo a cultura o que o homem cria, a sua relação com a natureza é de dar e receber, pois a natureza recebe do homem que por seu turno é um elemento da natureza, a cultura, e a cultura recebe da natureza o próprio homem que a cria. “Hoje prevalece a tendência de interpretar as relações entre cultura e natureza como uma espécie de diálogo, o qual comporta um recíproco dar e receber: por meio da cultura o homem humaniza a natureza; e vice-versa: mediante os seus recursos, o mundo naturaliza o homem” (ibdem).     Cultura como segunda natureza do homem  O questionamento sobre o subtema supra, torna-se necessário na medida em que, anteriormente apresentamos uma relação que também nos leva à distinção da cultura e natureza, mas, em contra partida pretendemos apresentar aqui a cultura como a segunda natureza do homem, ora vejamos, a natureza é um todo e o homem depende efectivamente dela para sobreviver, ao passo que a cultura é uma criação humana com vista à catapultar a existência humana dentro da natureza. É em novas gerações, que através da educação dos fenómenos mundanos dada pelos homens anteriores à elas, que se pode tomar a cultura como segunda natureza do homem, mas também, aos homens criadores da cultura fazem dela a sua segunda natureza, pois é dela que estes demonstram a sua significância enquanto seres culturais inseridos na natureza e diferentes dos outros seres que com eles nela coexistem.     As aquisições do desenvolvimento histórico das aptidões humanas não são simplesmente dadas aos homens nos fenómenos objectivos da cultura material e espiritual que os encarnam, mas são aí apenas postas. Para se apoiar destes resultados, para fazer deles as suas aptidões, os órgãos da sua individualidade, a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenómenos do mundo circundante através de outros homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim a criança aprende a actividade adequada. Pela sua função este processo é, portanto um processo de educação (LEONTIEV, 2004: 290).    “Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos” (SOUSA, 2008: 27). Isto é, é através desta adaptação ao seu embasamento biológico que é natural, desde a nascença à morte, que o homem procura insere-se neste sistema para poder encarnar-se não apenas como um ser naturalmente formado, mas também como um ser, de iniciativas e que cria e desenvolve os seus princípios de comunhão com os outros seres iguais a ele. Portanto a cultura torna-se a segunda natureza do homem, na mediada em que este cria ela para poder se distinguir com outros seres vivos na natureza, criando assim os seus costumes, hábitos e princípios de convivência que os seus sucessores herdarão, e deixarão para os outros, adaptando-se em função do comportamento de cada sujeito que nela bainha-se, para poder existir num meio harmonioso, ordenado pela dependência activa da natureza.    CONCLUSÃO   No presente trabalho com tema: O Homem como um ser cultural, constatou ­se que, numa primeira instancia a cultura é um instrumento de civilização do homem em que a mesma procura-se melhorar e refinar através da intervenção humana. Também pode-se afirmar que a cultura é o conjunto dos modos de viver e de pensar, de maneira que o homem procura cultivar-se e civilizar-se. A ideia de cultura como um cultivo de capacidades humanas e como resultado do exercício dessas capacidades é toda ideia formal de uma filosofia da cultura e as investigações sobre a estrutura da cultura no âmbito do sistema da sociedade.    Considera-se ainda que a cultura é tudo aquilo que o homem adquire ou produz, com o uso das suas faculdades, ou seja, todo o conjunto do saber e com o seu fazer extrai directamente da natureza. Ora bem, o que seria a natureza? Poder ­se ­ia afirmar que a natureza é o dado originário que foi posto à disposição do homem, portanto a cultura seria tudo aquilo que o homem extrai desse dado original.    O homem é um ser cultural sim, de facto é. Mas a cultura não é tudo no ser humano, no entanto essa capacidade recriadora da cultura permite ao homem reproduzir o mundo de forma a dinamizar a existência dos que existem. Na medida em que o homem vai criar ou recriar as suas obras ou as suas manifestações faz da cultura uma das marcas mais tipicamente humanas, pois é principalmente pela sua capacidade de criar ou recriar que o homem se diferencia dos demais existentes. É essa capacidade de criar ou recriar, fazer ou refazer que permite ­lhe ser chamado de homo faber, (o Homem que produz o mundo) e o homo sapiens, (o Homem sabedor de si ou consciente). Portanto, esta consciência de sua capacidade produtiva e criadora é o que determina a sua dimensão cultural.   BIBLIOGRAFIA   BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos etno-antropológicos. 70, Coimbra, 2007.   BLAUNDE, José. A filosofia do conhecimento científico de Gaston Bachelard: Uma urgência para a epistemologia africana? Maputo, imprensa universitária-UEM, 2018.   DE MELLO, Luiz Gonzaga. Antropologia cultural: iniciação, teoria e tema. Vozes. 19ª ed. petropolis, vozes, 1982.   LEONTIEV, Alexis. O desenvolvimento do psiquismo. Trad. Helena Roballo, 2,ed., São Paulo, Conexão editorial, 2004.   MARTÍNEZ, Francísco Lerma; IMC. Antropologia cultural: guia para o estudo. 7ª ed., Maputo, Paulinas, 2014.    MONDIN, Battista. Homem quem ele é: elementos da antropologia filosófica. São Paulo, Paulus, 1980.   ––––––––––––. Curso de Filosofia: os filósofos do ocidente. São Paulo, Paulus, 1983, V3.   RABUSKE, A. Edvino. Antropologia filosófica. Rio de Janeiro, Vozes, 2001.   REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Do romantismo até nossos dias. 2ed., São Paulo, Paulus, 1991, 3 v,      SOUSA, Lúcio. Antropologia cultural. Lisboa, Universidade Aberta, 2008.



 
 
 
 
 A cultura tem várias definições como veremos com alguns autores. De acordo com Taylor apud De Mello (1982: 37) cultura é todo conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade. Taylor nos faz entender que todo homem é um ser cultural. Diante da definição dada por Taylor, podemos ainda perceber a ideia segundo a qual a cultura não faz parte da dimensão biológica, isto é, ninguém nasce com a cultura, mas sim adquirimos na medida que vamos crescendo e desde que nos inserimos numa determinada sociedade.

 
 
 
Vinigi L˗Grotanelli apud Martinez, Imc (2014: 48), a cultura é toda actividade consciente e deliberada do homem como um ser racional, como membro  de uma sociedade e o cunjunto das manifestações concretas que derivam daquela actividade. Na mesma linha de ideias, Martinez, Imc apresenta-nos uma definição dada pelo concílio  do vaticanoII segunda a qual, cultura é dimensão humanista, que inclui bens e valores da natureza, aspectos históricos e sociais. Mondin afirma que são as diversas facetas do homem que nos leva a estudar a cultura do homem.

 
 
 
(…) Defronte a nós se estende uma maravilhosa série de produtos humanos: cidades, estradas, canais, pontes, ferrovias, trens, catedrais instrumentos musicais, obras de arte de todos os gêneros (pintura, escultura, obras arquitetônicas), línguas, poemas, romances, jornais, teatros, ritos, religiões, sistemas políticos, instituições civis, etc, (…) que nos leva a estudar a cultura do homem. (MONDIN 1980: 170).

 
 
 
De acordo com De Mello (1982: 41) a cultura no sentido mais abrangente, é todo o conjunto de obras humanas. Ela é a das características mais fundamentais do homem e que distingue este dos outros animais. De acordo com este autor, a distinção reside na inconsciência que denomina na actividade dos animais e a consciência que esta presente no acto humano, sendo o homem um ser cultural. Diante das diversas definições  acima apresentadas pelos diversos autores, encontramos dois  sentidos de definição da cultura. Primeiro sentido de definição da cultura, é sentido material e  segundo é cultura no sentido espiritual.

 

  Cultura no sentido espiritual ou subjectivo

 
 
 De Mello (1982: 44) entende que a cultura no sentido subjectivo implica ao conjunto de valores, conhecimentos, crenças, aptidões qualitativas, experiências presentes em cada indivíduo e normais que guiam o comportamento humano. Nessa perspectiva, pode se perceber que o homem diferentemente dos animais, possui uma dimensão importante que lhe guia, essa dimensão reside no seu interior. Poderíamos dizer que todo homem possui no seu interior a imagem dos seus antepassados, a imagem de Deus, e de todos entes que não se manifestam fisicamente.

 

 Cultura no sentido material ou objectivo

 
 
É indiscutivelmente que o homem é um ser constituído por hábitos, aptidões, ideias, comportamentos, artefactos, objectos da arte. O homem constrói casas, fabrica objectos, produz alimentos, homem utiliza tecnologias, homem organiza-se, cria sociedades, cria modos para uma boa convivência, homem cria a religião, cria a política entre outras coisas. A estas capacidades mencionadas, essas faculdades, a esses conjuntos de obras humanas de todos os tempos e toda face da terra, Mello vai chamar de cultura no sentido material. 

 
 
 
De acordo com Martinez, (2014: 97) embora as sociedades sejam diversificadas, existem traços culturais comuns em todos homens. Como por exemplo: comer e beber o suficiente, cuidados mútuos, protecção diante dos perigos, a procura de explicações satisfatórias  dos fenómenos do mundo observados, a linguagem, a existência de um sistema de parentesco, entre outros. Isso leva nos a dizer que somente os homens possuem a cultura. 

 
 
 

Fundamentos da cultura 

 
 
Poder-se-ia questionar sobre qual seria a base última, o componente principal, o elemento fundamental da cultura? Na tentativa de solucionar a questão, muitos pensadores apresentaram o seu ponto de vista, embora alguns tenham encontrado soluções divergentes. Sob o ponto de vista dos positivistas e os neopositivistas, o elemento fundamental da cultura é a ciência, outros como os idealistas e os filósofos seguidores do pensamento hegeliano o fundamento da cultura é a filosofia, mais avante outros como os marxistas vem afirmar que o fundamento da cultura é a economia. Ao mais tardar, certos autores bem qualificados como por exemplo: Dawson, Tillich e Toynbee afirmam categoricamente que o elemento fundamental, o elemento principal da cultura é a religião.
 
 
 

Peso embora, o fundamento religioso da cultura seja a menos conhecida por um lado e parece ­nos uma tese original e interessante por outro, a atenção será concentrada acima de tudo sobre ela. É daí que surge Cristopher Dawson em que afirma que é a religião que constitui o fundamento principal o fundamento último da cultura, ele não está a afirmar que a religião é o produto da cultura, mas a mesma faz parte dela sendo o seu princípio vital e essencial. Existe uma relação recíproca entre a cultura e a religião, na medida em que a primeira é moldada e modificada pela segunda. De facto, há que se considerar que pela maneira que o homem vive automaticamente corresponde a sua maneira de conceber a realidade e por consequência aproximar ­se da religião, isto é, o mundo da potência e do mistério divino frente a experiência humana e a conduta social.

 
 
 
"Através da parte mais ilustre da história humana, em todos os séculos e em qualquer período da sociedade, a religião foi a força central e unificadora da cultura. Foi guardiã da tradição, preservadora da lei moral, educadora e mestra da sabedoria” (MONDIM, 1980: 176). O que implica afirmar que não se pode compreender a estrutura de uma sociedade se não se conhece a sua religião e da mesma maneira, compreender as suas conquistas culturais se não se conhece as crenças religiosas. Um outro autor que sustentou o fundamento da cultura é Paul Tillich afirmando que os sistemas científicos, políticos, sociais, filosóficos, as produções artísticas e literárias têm como base ou fundamento a religião: uma fé, uma busca pelo absoluto. Segundo Tillich a religião é a dimensão do profundo em todas as funções da vida espiritual do Homem. O Homem torna ­se incapaz sem abraçar a religião, tornasse debilitado sem recorrer ao ser divino, portanto para Tillich a religião é a substância última que dá significado à cultura que dá ênfase à cultura. Um outro autor que validou a tese de Dawson é Arnold Toynbeen em sua obra "A study of  History" em que ele apresenta a religião como sendo o fenómeno fundamental e decisivo para a existência humana. Ele afirma ainda que a história do mundo tem demonstrado a imagem de uma máquina que se move ao nível mais alto e esse motor da máquina é constituído pela religião em que representa a cultura e com o aparecimento desta religião fez com que a humanidade retomasse o seu caminho para avançar, ele também reconstrói a história como uma sucessão de civilizações, ou seja, da cultura.

 
 
 
Esta questão se expandiu e preocupou a vários outros autores, principalmente os estudiosos da antropologia religiosa como por exemplo: Van der Leeuw, Luckmann e Nijk. Eles também afirmam que o componente principal da cultura é a religião. Arte, linguagem, agricultura procede do encontro do homem com Deus ­isto nas palavras de Van der Leeuw. Em contrapartida Luckmann afirma que em qualquer civilização, o seu factor determinante e fundamental é a religião, pois haveria uma conduta em todas situações da sociedade em que as representações religiosas desaguariam como parentesco, divisão do trabalho e exercício do poder. E consequentemente Nijk também entra na mesma linha de pensamento com os seus conterrâneos, que está mais que claro que a cultura tenha origem no rito religioso, justificando que o rito contém uma cultura, isto é, o rito cria um mundo, cria um grupo.

 
 
 
Ora bem, o que seria a religião e o que seria a cultura visto que muito se debateu em torno do fundamento último da cultura e, muitos autores olharam mais pela perspectiva da religião sendo esta, o elemento principal. Numa perspectiva geral a religião é uma estrutura de discursos e práticas comuns a um grupo social referentes a algumas forças e diante das quais se consideram obrigados a um certo comportamento em sociedade com os seus semelhantes, por sua vez a cultura seria a organização simbólica do mundo, ou dimensão simbólica expressiva da vida social sendo a mesma um conjunto de sentidos e significados, de valores e padrões, incorporados e subjacentes aos fenómenos perceptíveis da vida de um grupo social concreto, conjunto que, consciente ou inconscientemente, é vivido e assumido como uma expressão própria de sua realidade humana. No entanto, a religião de facto é um elemento primordial e perene da cultura, dá ­se mais importância a religião para fundamentar a cultura.
 


 Principais características da cultura

 
A cultura enquanto conjunto complexo de sistemas que incorpora os valores, fé, conhecimentos que orientam o comportamento de uma sociedade, pode ser caracterizada por três perspectivas, nomeadamente: origem, forma e finalidade. Mondin (1980:179) refere que a cultura na sua perspectiva de origem é oriunda de uma actividade essencialmente humana, pelo facto de ser uma produção, não de Deus nem da natureza, mas de uma capacidade criativa do homem. Pois, ela é uma realização humana e do esforço intelectual e das mãos da pessoa. “A cultura é produção e produto é actividade de cultivar e o resultado desta actividade. O homem cria, baseando-se no que já foi criado, num processo histórico interminável” (EDVINO 2001: 49). Por conseguinte, a cultura é essencialmente resultado do pensamento e da acção em imitação a natureza. Além disso, sob ponto de vista de origem, a cultura não pode ser concebida como uma actividade de um único indivíduo, mas de todos membros de uma determinada sociedade, que vão conjuntamente produzi-la. 
 
 
Nesse ponto ainda, a cultura é laboriosa, isto quer dizer que ela não é transmitida automaticamente e mecanicamente, mas exige um trabalho, um esforço para que se afirme como uma identidade de um povo. Portanto, a cultura sob ponto de vista de origem é algo humano, social e laborioso. Quanto a forma, a cultura subdivide-se em quatro pontos, tais como a sensibilidade, dinamismo, multiplicidade e criatividade. A cultura deve compreender a dimensão sensível visto que as suas manifestações, inclusive aquelas expressões altamente espirituais como a religião, a música, a arte, poesia e filosofia, devem ser perceptíveis pelos sentidos. Todavia, nessa perspectiva tudo quanto não assume a dimensão sensitiva não pode pertencer à cultura.  
 
 
O dinamismo da cultura consiste na abertura de uma possível evolução e transformação contínua, visto que sendo ela o produto do homem, este mesmo homem está em contínua mutação, dai que a cultura sofre as mutações. Segundo Bernardi (2007), a cultura na perspectiva dinâmica incorpora três processos enculturação, aculturação e desculturação. A enculturação compreende todo o processo educativo onde os membros de uma cultura se tornam conscientes da própria cultura. Neste processo, o individuo recém-chegado ao mundo é transmitido e doutrinado, informal e formalmente, sobre valores que devem a acompanhar todo o comportamento humano na sociedade, por meio da família, escola e encontros de brincadeiras infantis. Na aculturação decorre o intercâmbio e transferência de valores culturais de uma cultura para outra.“A aculturação refere-se às relações existentes entre as demais culturas e aos efeitos que derivam do seu contacto. As relações culturais fazem-se através de migração dos povos; com os povos desloca-se e renovam-se a cultura” (BERNARDI 2007:110)No processo da aculturação, não se pode falar sobre o mono-cullturalismo, mas de multiculturalismo visto que na mesma sociedade coexiste varia culturas devido a esta transferência de valores. A desculturação é o aspecto negativo da dinâmica cultural, porque é nesse processo onde decorre a subtracção e a destruição de algumas identidades do património cultural. Esta perda pode suceder no momento de aculturação, pois com a troca de valores, alguns valores primitivos e originários da sociedade desaparecem.
 
 
Segundo Mondin (1980: 180), A cultura é múltipla na medida em que assume várias formas que é a consequência do dinamismo que a cultura compreende. Além disso, a multiplicidade da cultura é a consequência das múltiplas capacidades do homem e das infinitas possibilidades da natureza. Nessa perspectiva, os valores que cada cultura procura realizar em qualquer tempo ou em qualquer lugar são numerosos. Por ultimo, na criatividade expressa-se a dimensão genial da criação.

 
 
 
 Quanto a finalidade, a cultura é, por alguns, considerado essencialmente religiosa, por outros humanistas, por outros naturalistas: religiosa na medida em que o seu fim último é Deus, a sua exaltação, o elevar-se até ele. É humanista quando se  pressupõe que a sua finalidade primordial é a satisfação do homem, isto é, seu progresso e seu bem-estar. Naturalista se ela se propõe como alvo principal. No entanto, segundo Niebuhr apud Mondin (1980:181), refere que todos os objectivos da cultura são compatíveis entre si, visto que a cultura pode ser ao mesmo tempo humanista, naturalista e religiosa porque todas essas áreas cooperam e encontram a sua razão de existência no homem. A compreensão das características da cultura, portanto, desdobra-se respectivamente em torno de origem, forma e finalidade. A cultura só pode ser compreendida enquanto um fenómeno social, existente e desenvolvida pelo homem, a partir dessas características já apresentadas. 

 
 
 

 O Individuo e as estruturas culturais

 
Na visão de Mondin (1980: 179), durante os últimos decénios a antropologia cultural virou-se na cultura onde teve como uma das pistas mais válidas para descobrir o sentido profundo da realidade humana, com isso, concebe-se dois tipos principais de antropologia científica: o outro é a física onde se estuda a origem e a evolução do homem, os elementos biológicos e fisiológicos, passado e presente que mostram como constitui-se o ser humano no particular. Essa antropologia, trata das relações sociais particularmente, se não exclusivamente, nos povos primitivos. Apresentam um método autónomo rigorosamente científico, é com base a isso que estudiosos franceses transformaram essa antropologia em sistema filosófico universal que denominaram: estruturalismo.
 
 
 
Os estruturalistas apresentaram a tese principal denominada de binómio homem-cultura, “homem-estrutura cultural” o primado não cabe ao primeiro factor mas ao segundo, na medida em que, “não seria o homem que cria a cultura e as suas várias estruturas culturais da sociedade, mas ao contrário, seria a cultura com as várias estruturas, em particular as sociais, que formam e modelam o homem” (MONDIM, 1980: 179). 
 
Os estruturalistas apresentam a relação como categoria fundamental e não o ser, uma vez que a primeira apresenta-se superior que a segunda e o todo é tomado como superior que as partes, na medida em que, os elementos particulares não são reais nem têm valor fora do enlaçamento das relações que os constituem e as unidades podem ser definidas apenas por meio das suas relações recíprocas: são formas e não substâncias.

 
 
 
O estruturalista como movimento surge como reacção ao existencialismo que coloca em evidência o valor do indivíduo, a sua independência, liberdade, autonomia com relação ao estado, à sociedade, ao universal, ao genérico, às leis e às estruturas de qualquer tipo. Mas o estruturalismo de Lévi-Strauss surge nas premissas linguísticas de Saussure, onde a língua não é formada de vocabular, mas de estruturas fonéticas e estas tornam possíveis as palavras e significados. Pois, a propriedade estrutural sobre os conteúdos significativos não é exclusiva da língua, mas é comum em todas as manifestações culturais: religião, arte, filosofia, ciência, mitos que são manifestações diferentes de determinadas estruturas elementares do espírito.
 
Na visão de Reale; Antiseri (1991: 945), o estruturalismo de Lévi-Strauss se configura como um kantismo sem sujeito transcendental: há um inconsciente formado de categorias, que constituiria a matriz de todas as outras estruturas. Com base nisso, pode-se compreender também a polémica anti historicista que afirma que a história não tem nenhum sentido, nela não existe nenhum fim, nem se desenvolve de modo contínuo e progressivo; o que opera nela são estruturas inconscientes e não homens, com seus fins declarados, os quais são apenas aparências. A acção humana é toda uma acção regulada pelas poucas normas formais que o estruturalismo faz emergir. Neste sentido, o estruturalista pretende captar as regras que estruturam, não apenas as configurações da vida social dos homens, mas também os seus produtos mentais. O pensamento “selvagem” não é de modo algum menos lógico do que o pensamento do homem “civilizado”, o que pode ser visto na catalogação que os “primitivos” fazem dos fenómenos naturais ou em suas classificações totémicas. Sustenta ainda dizendo que, o mito é uma estrutura lógico-formal que dá lugar a produtos com os quais a mente humana ordena, classifica e dá sentido aos fenómenos.
 

Na perspectiva de Mondin (1983: 259), Foucault considera a análise da linguagem de Saussure não como modelo a transferir para outros campos. E concentra sua atenção nas sociedades evoluídas, modernas, do que as primitivas, selvagens, como faziam Lévi-Strauss. Ele se propõe em demostrar que cada período da cultura tem o seu a priori histórico, que consiste no abstracto comum de todas as ciências, áreas e ideologias e que condiciona o pensamento e actividades do homem do tal período, designando de Episteme para significar o campo particular, o espaço e a ordem no qual em cada em cada época histórica a Episteme é única, ao passe que a sua imagem se reflecte, inevitavelmente, com nuanças diferentes em todos os campa aos quais se aplica o pensamento humano, pois, ele se encontra sempre na origem do pensamento.
 Com base a isso, Foucault declarou que de agora em diante não se trata mais de anunciar “a morte de Deus” como fizera Nietzsche: nos nossos dias, antes que a ausência ou morte de Deus, é proclamado o fim do homem, pois, este está para desaparecer. Assim, eliminando-se, qualquer sujeito da antropologia, isto é, o homem, passa a ser considerado não como centro de relações e, ainda, como uma zona vazia onde se cruzam linhas de força. Renova-se, desse modo, o trágico erro do empirismo humano.
 

 Cultura e Natureza 

 
Tendo a pretensão de compreender os conceitos e demonstrar a relação existente entre ambos, convém lembra que neste ponto a natureza, tornar-se-á o conceito que será abordado com um cuidado muito especial, pós o conceito cultura já fora trabalhado nas páginas anteriores. Neste caso, a natureza, como é expressa, de um modo simples de compreender, ela por excelência é o aconchego do homem, é nela onde o homem habita, é única coisa que ele não cria, apenas a transforma para que se adeqúe às circunstâncias da sua existência e para responder as suas necessidades.     
 
 
Ainda nesta ordem conceptual da natureza Blaunde (2018: 52), quando faz menção da natureza como fonte do conhecimento humano, coloca este conceito ao pé de igualdade com os conceitos universo e mundo, querendo assim dizer que a natureza é tudo oque existe, pós admite que é o universo que forma tudo, tomando assim, a natureza como a força da vida, a força que dá vida, ao homem, se assim preferirmos, pois, é na natureza que o homem se reinventa e inventa, a natureza é vista como superior não só ao homem mas também a sua existência.
 
 
O homem não cria a natureza ele já nasce e vive dependendo da natureza, para tudo quanto lhe diz respeito, mas a cultura não, pós a existência da cultura depende necessariamente da intervenção do homem, o homem faz a cultura para puder se identificar não só como um ser natural mas um ser bainhado por alguns princípios culturais, que quando distinguindo em diversos espaço-tempo, criará uma diferença em relação aos outros seres fora e/ou dentro daquele espaço-tempo, “a natureza é o dado originário que foi posto à disposição do homem; ao contrário, a cultura é tudo aquilo que o homem extrai desse dado original, mediante a sua iniciativa” (MONDIN, 1980: 172).
 
 
A relação entre estes conceitos e de forte dependência, ainda como queira Mondin, sendo a cultura o que o homem cria, a sua relação com a natureza é de dar e receber, pois a natureza recebe do homem que por seu turno é um elemento da natureza, a cultura, e a cultura recebe da natureza o próprio homem que a cria. “Hoje prevalece a tendência de interpretar as relações entre cultura e natureza como uma espécie de diálogo, o qual comporta um recíproco dar e receber: por meio da cultura o homem humaniza a natureza; e vice-versa: mediante os seus recursos, o mundo naturaliza o homem” (ibdem).
 

 Cultura como segunda natureza do homem

 
O questionamento sobre o subtema supra, torna-se necessário na medida em que, anteriormente apresentamos uma relação que também nos leva à distinção da cultura e natureza, mas, em contra partida pretendemos apresentar aqui a cultura como a segunda natureza do homem, ora vejamos, a natureza é um todo e o homem depende efectivamente dela para sobreviver, ao passo que a cultura é uma criação humana com vista à catapultar a existência humana dentro da natureza. É em novas gerações, que através da educação dos fenómenos mundanos dada pelos homens anteriores à elas, que se pode tomar a cultura como segunda natureza do homem, mas também, aos homens criadores da cultura fazem dela a sua segunda natureza, pois é dela que estes demonstram a sua significância enquanto seres culturais inseridos na natureza e diferentes dos outros seres que com eles nela coexistem. 
 
 
As aquisições do desenvolvimento histórico das aptidões humanas não são simplesmente dadas aos homens nos fenómenos objectivos da cultura material e espiritual que os encarnam, mas são aí apenas postas. Para se apoiar destes resultados, para fazer deles as suas aptidões, os órgãos da sua individualidade, a criança, o ser humano, deve entrar em relação com os fenómenos do mundo circundante através de outros homens, isto é, num processo de comunicação com eles. Assim a criança aprende a actividade adequada. Pela sua função este processo é, portanto um processo de educação (LEONTIEV, 2004: 290).

 
 
 
Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos” (SOUSA, 2008: 27). Isto é, é através desta adaptação ao seu embasamento biológico que é natural, desde a nascença à morte, que o homem procura insere-se neste sistema para poder encarnar-se não apenas como um ser naturalmente formado, mas também como um ser, de iniciativas e que cria e desenvolve os seus princípios de comunhão com os outros seres iguais a ele. Portanto a cultura torna-se a segunda natureza do homem, na mediada em que este cria ela para poder se distinguir com outros seres vivos na natureza, criando assim os seus costumes, hábitos e princípios de convivência que os seus sucessores herdarão, e deixarão para os outros, adaptando-se em função do comportamento de cada sujeito que nela bainha-se, para poder existir num meio harmonioso, ordenado pela dependência activa da natureza.

 
 
 

CONCLUSÃO 

 
No presente trabalho com tema: O Homem como um ser cultural, constatou ­se que, numa primeira instancia a cultura é um instrumento de civilização do homem em que a mesma procura-se melhorar e refinar através da intervenção humana. Também pode-se afirmar que a cultura é o conjunto dos modos de viver e de pensar, de maneira que o homem procura cultivar-se e civilizar-se. A ideia de cultura como um cultivo de capacidades humanas e como resultado do exercício dessas capacidades é toda ideia formal de uma filosofia da cultura e as investigações sobre a estrutura da cultura no âmbito do sistema da sociedade.

 
 
 
Considera-se ainda que a cultura é tudo aquilo que o homem adquire ou produz, com o uso das suas faculdades, ou seja, todo o conjunto do saber e com o seu fazer extrai directamente da natureza. Ora bem, o que seria a natureza? Poder ­se ­ia afirmar que a natureza é o dado originário que foi posto à disposição do homem, portanto a cultura seria tudo aquilo que o homem extrai desse dado original.

 
 
 
O homem é um ser cultural sim, de facto é. Mas a cultura não é tudo no ser humano, no entanto essa capacidade recriadora da cultura permite ao homem reproduzir o mundo de forma a dinamizar a existência dos que existem. Na medida em que o homem vai criar ou recriar as suas obras ou as suas manifestações faz da cultura uma das marcas mais tipicamente humanas, pois é principalmente pela sua capacidade de criar ou recriar que o homem se diferencia dos demais existentes. É essa capacidade de criar ou recriar, fazer ou refazer que permite ­lhe ser chamado de homo faber, (o Homem que produz o mundo) e o homo sapiens, (o Homem sabedor de si ou consciente). Portanto, esta consciência de sua capacidade produtiva e criadora é o que determina a sua dimensão cultural.

 

BIBLIOGRAFIA 

 
BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos etno-antropológicos. 70, Coimbra, 2007.
 
BLAUNDE, José. A filosofia do conhecimento científico de Gaston Bachelard: Uma urgência para a epistemologia africana? Maputo, imprensa universitária-UEM, 2018.
 
DE MELLO, Luiz Gonzaga. Antropologia cultural: iniciação, teoria e tema. Vozes. 19ª ed. petropolis, vozes, 1982.
 
LEONTIEV, Alexis. O desenvolvimento do psiquismo. Trad. Helena Roballo, 2,ed., São Paulo, Conexão editorial, 2004.
 
MARTÍNEZ, Francísco Lerma; IMC. Antropologia cultural: guia para o estudo. 7ª ed., Maputo, Paulinas, 2014.
 
 MONDIN, Battista. Homem quem ele é: elementos da antropologia filosófica. São Paulo, Paulus, 1980.
 
––––––––––––. Curso de Filosofia: os filósofos do ocidente. São Paulo, Paulus, 1983, V3.
 
RABUSKE, A. Edvino. Antropologia filosófica. Rio de Janeiro, Vozes, 2001.
 
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia: Do romantismo até nossos dias. 2ed., São Paulo, Paulus, 1991, 3 v,   
 
SOUSA, Lúcio. Antropologia cultural. Lisboa, Universidade Aberta, 2008.