Notas introdutórias

Neste trabalho pretende-se resumir a quinta parte da obra Organon de Aristóteles, o tratado intitulado “ tópicos”. Este tratado aborda a invenção de um método para ensinar a argumentar acerca das questões propostas, partindo de premissas prováveis, e a evitar quando um argumento é defendido que este seja contrariado. Isto é obtido por meio da interpretação do sentido das palavras, através de um modo de filosofar que busca a verdade por meio de oposição e reconciliação de contradições lógicas ou históricas.

O trabalho tem como método a revisão bibliográfica, que consistiu na recolha do material necessário sua elaboração, sustentada pela hermenêutica textual e comparativa como técnicas que facilitaram na leitura, compreensão e interpretação do texto em análise.

 

Resumo

 “Tópicos” é a quinta parte (o quinto tratado) da obra Organon de Aristóteles. Essa parte é constituída por oito livros.

O autor indaga em torno do método que permita guiar o raciocínio humano. O mesmo método deve ser capaz de resolver qualquer problema e sustentar os argumentos. Nesta senda, parte-se da conceptualização do silogismo e especificação de suas espécies. O silogismo é concebido como um argumento, ou uma demonstração que parte das premissas primárias, extraídas do conhecimento geral.

No mesmo âmbito, busca-se fundamentar a base do silogismo dialéctico. No entendimento do autor, o alicerce de um silogismo são as opiniões de aceitação geral. Ou seja, as opiniões de aceitação geral são aquelas que se fundamentam no que todos pensam, isto é, aquilo que uma convicção. Assim sendo, um silogismo dialéctico parte de uma convicção geral, uma opinião geralmente aceite para chegar-se à uma conclusão de casos particulares.

É neste contexto que se define um argumento falacioso, como uma espécie atípica do silogismo. Aristóteles entende que, um argumento falacioso é aquele que se funda nas premissas aparentemente verdadeiras, mas que no fundo, não são de aceitação geral. Este tipo de argumento também pode ser chamado de silogismo polémico, pois, tem como base opiniões que aparentam ser premissas de convicção geral, mas, quando analisadas minuciosamente, não o são.

O autor menciona o campo dos dogmas (as opiniões próprias - sendo também as doxas, isto é, as opiniões estranhas) e as diaspórias (desenvolvimento de duas opiniões contrárias), afirmando que a dialéctica nos abre o caminho aos princípios de todo o método. Acredito que as opiniões contrárias estão presentes hoje em todos os dias de nossas vidas, assim como já estavam presentes na época do autor. Mas, o que seria da evolução humana sem as opiniões contrárias? Provavelmente estacionariam e nada de novo surgiria. É claro, que ao sermos submetidos a uma opinião contrária, reagimos e tentamos rebate-la, para tentar manter a nossa convicção.

Mas para isso, temos que ter bons argumentos, fundamentar bem o nosso raciocínio, e saber transmitir com clareza o que estamos pensando, sem dar origem a dúvidas por parte de quem está ouvindo. O Organon trata exactamente destas questões, ao citar os raciocínios dialécticos e a retórica.

A outra problemática que o autor levanta é sobre a utilidade de abordar-se sobre o tratado em questão. Neste âmbito, para o autor, há necessidade de estabelecer um instrumento de investigação deste género porque permite o exercício intelectual com eficácia. Além do mais, a disposição do método permite ao homem raciocinar sobre todo tipo de problema exposto.

Da mesma forma, a fundamentação do método é útil para evitar-se opiniões erróneas, em situações de discursos casuais. Inclusive no que diz respeito às ciências filosóficas, é necessário seguir-se um padrão metodológico, que permita o fácil discernimento dos pontos de vistas falsos dos verdadeiros. Neste contexto, a fundamentação do método é uma necessidade peculiar na ciência, já que a produção da mesma suscita o direccionamento por dados princípios orientadores.

Já que o método é instrumento essencial, através do qual o homem exerce a actividade mental e evita opiniões falaciosas, urge descobrir-se as bases nas quais se assenta o nosso método. De forma que os resultados a que o método conduzir-nos, possam ser confiáveis. Para tal, deve-se analisar atenciosamente a constituição dos silogismos, bem como as proposições que os compõe. Nesta senda, Aristóteles sublinha a questão de se definir e diferenciar os elementos constituintes de uma proposição e do argumento.

Alguns dos elementos distinguidos neste tratado são o conceito de género, que é entendido como aquilo que é afirmado na categoria do que é realmente. Por exemplo, no caso do ser humano, o animal é o género do ser humano.

Ademais, há que ter em conta em casos ambíguos. Veja-se Tanto o animal, quanto o boi pertencem ao género animal, mas neste caso, é preciso caracterizar a diferença específica de cada conceito. O outro termo que é definido é o conceito acidente, que é concebido como característica que pode se aplicar ou não se aplicar à determinada coisa, isto é, não representa a essência da coisa. Pode também ocorrer a identidade especifica, quando por exemplo, há várias coias que não se diferem na espécie.

Aristóteles afirma que os argumentos dialécticos derivam de proposições, enquanto os silogismos constituem problemas, sendo os seus elementos definidos como: o próprio, a definição, o género e o acidente. Estes elementos são divididos em dez categorias: essência, quantidade, qualidade, relação, lugar, tempo, estado, hábito, acção e paixão. Também menciona os paralogismos (raciocínios involuntariamente falsos). Visto isso, ao apresentar o termo "idêntico", afirma que para destruir a definição, basta demonstrar que os elementos não são idênticos, e a indução é definida como um exame dos casos particulares, além de ser a passagem dos particulares ao universal. Portanto, é um método convincente e mais claro, mais facilmente conhecível mediante a sensação, e por conseguinte, acessível ao vulgo.

Um interessante estudo sobre os contrários também é desenvolvido, apresentando a tese como uma opinião contrária ao senso comum, consistindo também em um problema. Quanto aos meios, estes incluem a aquisição de proposições, a capacidade de distinguir em quantos sentidos uma expressão pode considerar-se, a descoberta das diferenças e a conservação da identidade. E as proposições podem ser de três tipos, isto é, éticas, lógicas e físicas.

A teoria dos semelhantes é mencionada, mas também salientam-se as diferenças, sendo que esta é útil, tanto para os argumentos indutivos como para os silogismos hipotéticos, e também para a formulação de definições. A pluralidade de significados de um termo também é explorada.

O autor também afirma que os problemas podem ser universais e particulares. Assim, Aristóteles diz que um problema é apresentável como uma proposição, contra a qual dirigiremos as nossas objecções, pois que a objecção será um argumento contra a tese, que pode ser enunciada ou refutada. Se queremos enunciar a tese, temos de evidenciar todos os significados que a tese envolve, e dividir somente os necessários à enunciação. Caso contrário, isto é, se quisermos refutar a tese, produziremos todos os significados susceptíveis de desacordo com a tese, pondo tudo o mais de lado.

Neste sentido, o autor também considera a oposição dos relativos, os termos coordenados e as inflexões (desvios), os semelhantes e os contrários e o argumento da adição, afirmando também, que o mais durável e o mais estável é preferível ao que for menos durável e estável. Por outro lado, o que tem categoria de essência é preferível ao que não se acha nesse género. Afirma também, que o que é preferível, e o que é útil para todos ou para a maior parte é preferível ao que é menos útil.

De modo geral, Aristóteles recomenda o participante a se comportar, no debate,
demonstrando imparcialidade, não ser insistente, e colocar as premissas de modo a evitar pronta
oposição, levando em consideração o temperamento do adversário. Assim como,
Aristóteles recomenda não discordar do que é irrelevante para a tese em questão, dessa maneira,
o oponente, fazendo muitas perguntas, se cansa e, por fim, fica confuso. Essa é a táctica para se
lidar com quem foge do assunto, pois fugir do assunto não uma é atitude de um dialéctico
propriamente dito. Então, explicando um pouco mais a sutileza que apontamos, aquilo que ele
chama de “jeito sofístico” de conduzir o assunto para um ponto a respeito do qual temos mais
argumentos é só um “jeito”, mas não está em desacordo com as regras. Em desacordo com as
regras está o caso de fugir do assunto.

O autor também apresenta todo um estudo relativo a fundamentação de uma tese, e afirma que ao fundamentarmos a tese, temos de ver se o termo cujo próprio se conduz não apresenta vários significados, mas se é uno e simples, porque então o próprio terá sido conduzido de modo correto. A repetição confunde o ouvinte, assim, o significado torna-se necessariamente obscuro, e além disso, mais parece uma tautologia.

Afirma também, que ao refutarmos uma definição, basta que argumentemos contra uma única de suas partes, pois ao destruirmos uma única, seja ela qual for, teremos desde logo destruído a definição. E para construir uma definição, há necessidade de concluir todas as partes da definição que pertencem ao sujeito.

A afirmação de aristotélica na busca pela coerência dos silogismos está ligada à questão do método, quando diz que a disposição e o método a ser seguido nas interrogações também são considerados, e os axiomas devem ser os mais conhecidos e os mais próximos da questão, por serem deles que os raciocínios epistemônicos procedem.

Aristóteles aponta para a hipótese de se conduzir a discussão para um ponto a respeito do qual o debatedor está mais provido de argumentos, o que ele chama de jeito sofístico. Essa questão envolve uma sutileza importante para a leitura e interpretação dos Tópicos. É possível observar, no capítulo ao qual pertence esse exemplo, que há uma diferença entre conduzir a discussão a um ponto para o qual temos mais argumentos e desviar a discussão ou fugir do assunto em questão. A primeira situação é permitida pelas regras de dialéctica, mas a segunda não é tolerada. Antes, porém, de prosseguirmos com a questão da fuga do assunto, precisamos fazer algumas observações sobre a falsidade nos debates.

Portanto, as premissas necessárias são as que servem para a construção do raciocínio. Estas premissas podem ser de quatro espécies: as que servem para tornar aceite a premissa universal, para amplificar o argumento, para dissimular a discussão e para obscurecer o argumento. E um argumento é perspicaz quando a conclusão é tal, que não admite outra conclusão depois dela, ou quando as proposições apresentadas são tais, que a conclusão se revela necessariamente, e quando o argumento se conclui através de premissas, que são em si mesmas, conclusões.

Por outro lado, afirma que um argumento é falso quando parece concluir, sem deveras concluir. Ou então, quando obtém uma conclusão, mas esta não é a conclusão proposta, ou quando o argumento leva a conclusão proposta, mas não de acordo com o método próprio do sujeito. Outra forma seria a conclusão ser obtida por meio de premissas falsas.

Aristóteles não definiu a dialéctica, mas fez alguns comentários sobre quem é o dialéctico,
o que é muito útil para esse estudo. No último deste tratado em questão, o dialéctico é mencionado como um homem hábil em propor questões e levantar objecções.

Considerações finais

Esta abordagem consistiu na síntese do quinto tratado da obra Organon de Aristóteles. No qual abordou-se dentre muitas questões, o problema do método. Para este fim, recorreu-se à conceptualização do silogismo e a distinção de suas espécies, bem como o estabelecimento de suas regras de operações. O silogismo dialéctico é concebido como uma técnica de raciocínio conforme é aplicada ao treinamento académico e também, em certa medida, às disputas dialécticas. Nesta senda, Aristóteles faz uma distinção entre os raciocínios demonstrativos e os dialécticos. Os primeiros são definidos como os que partem de premissas primeiras e verdadeiras, ou do conhecimento obtido a partir delas. Os segundos, os raciocínios dialécticos, são os que partem de opiniões geralmente aceitas. As opiniões geralmente aceitas são definidas como aquelas que todo mundo admite, ou a maioria das pessoas, ou os filósofos, em outras palavras: todos, ou a maioria, ou os mais notáveis e eminentes.

 

BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES. (2005). Organon. Trad. Edson Bini. Bauru: Edipro.