Introdução

A ética, originada do grego “Ethos”, significa costumes e está intimamente relacionada à moral, derivada do latim “Mores”, que se refere a hábitos (Nalini, 2009). No contexto organizacional, a ética representa um pilar fundamental para guiar a conduta humana e promover relações justas e equitativas.

O objectivo geral deste trabalho é explorar a importância da ética no ambiente profissional e seu impacto no compromisso social. Especificamente, busca-se:

  • Compreender os conceitos de ética e ética profissional;
  • Analisar a interligação entre ética profissional e relações sociais; e
  • Discutir o papel da actividade voluntária como uma expressão da ética profissional.

A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, fazendo revisão de obras de autores renomados sobre o tema para fundamentar as discussões apresentadas ao longo do trabalho. Foram consultados livros e manuais de ética geral e profissional, juntamente com algumas dissertações e artigos científicos com temas relacionados aos aspectos abordados no corpo do presente trabalho.

 

ÉTICA E O COMPROMISSO SOCIAL

  1. Conceito da Ética e a sua Etimologia

De acordo com a etimologia, a palavra “ética” tem sua origem no grego “Ethos”, que significa costumes, enquanto a palavra “moral” deriva do latim “Mores”, que se refere a hábitos, corroborando a proximidade de seus significados (Nalini, 2009). No entanto, existe uma certa dificuldade em distinguir entre ética e moral, com muitas pessoas usando-os como sinónimos (Camargo, 2011).

O termo “ética” é reservado para a disciplina filosófica que se dedica a uma análise racional da conduta humana, sob a perspectiva dos deveres e virtudes morais. A ética representa o conhecimento racional e a reflexão crítica sobre a acção na vida moral (Nalini, 2009).

Segundo Morin (2007), a ética abrange um ponto de vista superior ou meta-individual, enquanto a moral se concentra no nível da tomada de decisão individual. Nesse sentido, a moral individual depende implicitamente ou explicitamente de uma ética, uma vez que esta última se torna vazia sem as morais individuais. Com base nesse conceito, fica evidente que os termos ética e moral estão intrinsecamente ligados.

 

  • Conceito da Ética Profissional

Segundo Guareschi (2008), a ética envolve a busca por práticas virtuosas que promovem o bem-estar colectivo e individual, sendo essencial na definição das interacções humanas no contexto profissional. Ele argumenta que a ética não é meramente um conjunto de regras[1], mas um guia para a acção virtuosa que se baseia em relações justas e equitativas.

Guareschi (2008) destaca a importância de compreender a ética como algo intrinsecamente ligado às relações humanas. Para ele, o ser humano é um ser de relações, e é através dessas interacções que se manifesta a ética. A moralidade individual se transforma em ética social quando as acções de um indivíduo impactam directamente os outros e o ambiente ao seu redor. Assim, a ética profissional exige um compromisso não apenas com a competência técnica, mas também com a integridade moral e a responsabilidade social.

Por outro lado, conforme Andrade,

Ética profissional é o conjunto de normas éticas que formam a consciência do profissional e representam imperativos de sua conduta. [...]. As organizações seguem os padrões éticos sociais, aplicando-as em suas regras internas para o bom andamento dos processos de trabalho, alcance de metas e objetivos (Andrade, 2017, p. 32).

Portanto, fica evidente que uma vez que, de modo geral, a ética é o campo que estuda a conduta humana sob a perspectiva do bom e do mau, a ética profissional, por sua vez, será o conjunto de normas e valores que orientam a conduta de profissionais em suas actividades específicas (Nalini, 2009).

  • Ética Profissional e Relações Sociais

A ética profissional está profundamente interligada com as relações sociais, uma vez que as acções dos profissionais têm repercussões directas nas pessoas e comunidades com as quais interagem. Guareschi (2008) argumenta que a justiça é um elemento central na ética das relações sociais. Ele afirma que a ética das relações deve promover a justiça, entendida como a virtude que governa nossas interacções com os outros.

Segundo Guareschi, “a justiça é a virtude central da ética, pois ela comanda os atos de todas as virtudes” (Guadreschi, 2008, p. 7), ela se aplica a todas as relações humanas, assegurando que cada indivíduo seja tratado com equidade e respeito.

Fonseca (2008) acrescenta que as relações sociais são fundamentais para a construção da ética profissional. “As organizações aplicam os padrões éticos da sociedade as suas regras internas para o bom andamento dos processos de trabalho, alcance de metas e objetivos” (Andrade, 2017, p. 32). A ética profissional, nesse sentido, deve ser vista como uma prática social que contribui para o bem-estar colectivo e para a criação de uma sociedade mais equitativa e solidária (Fonseca, 2008).

Jacques (2008) explora a relação entre a saúde mental e o trabalho, sugerindo que um ambiente de trabalho eticamente orientado deve considerar o bem-estar psicológico dos trabalhadores. Assim, Jacques apropria-se das palavras de Engels quando diz que “o trabalho (...) é a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E, em tal grau que, até certo ponto podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem” (Jacques, 2008, p. 54).

Por isso, conforme Jacques, a ética profissional deve incluir práticas que previnam o adoecimento mental e que promovam um equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal.

De modo geral, podemos notar que a ética profissional e as relações sociais estão intrinsecamente ligadas, pois as práticas profissionais éticas promovem relações sociais justas e saudáveis. A ética profissional deve, portanto, ser orientada por princípios de justiça, respeito e responsabilidade social, visando sempre o bem-estar colectivo e o desenvolvimento humano.

  • Ética Profissional e Actividade Voluntária

A actividade voluntária é uma expressão prática da ética profissional, pois envolve a aplicação de habilidades e conhecimentos profissionais em benefício da sociedade sem expectativa de compensação financeira.

O voluntariado é uma prática que reforça a responsabilidade social dos profissionais e que contribui para a construção de uma sociedade mais solidária, conforme argumentado por Andrade, ao explicar que a “responsabilidade social é a contribuição voluntária das empresas para uma sociedade mais justa e um ambiente mais limpo” (Andrade, 217, p. 40).

As palavras de Andrade significam que uma empresa não deve visar apenas o lucro financeiro. Ela também deve desempenhar um papel social, contribuindo positivamente para a comunidade ou sociedade em que está inserida, oferecendo benefícios como cultura, educação e outros ganhos para a sociedade.

  1. Individualismo e Ética Profissional

O individualismo frequentemente se manifesta na busca prioritária pelos interesses próprios, o que pode gerar sérios problemas quando esses interesses não são éticos. Ele é “fundamentada na ideologização liberal de um ser humano separado de todo o resto, absoluto” (Guareschi, 2008, p. 8).

No contexto profissional, o individualismo se reflecte na execução de trabalhos meramente para ganho financeiro, sem preocupação com o bem-estar colectivo (Andrade, 2017, p. 43). O verdadeiro valor ético do trabalho, no entanto, é alcançado quando se trabalha com amor e visando o benefício dos outros, demonstrando uma consciência social e contribuindo para o bem comum.

Segundo Camargo (2011, p. 39), as leis profissionais são criadas para proteger tanto os profissionais quanto a comunidade que depende deles, mas muitos aspectos éticos vão além das regulamentações e dependem do compromisso individual com a ética. A busca apenas pelo lucro, por exemplo, conduz ao egoísmo desmedido, afectando negativamente a sociedade. Portanto, é fundamental que os profissionais actuem de maneira ética, considerando o impacto de suas acções na comunidade e contribuindo para um ambiente de trabalho mais justo e solidário.

  1. Perigos do individualismo

O individualismo nas organizações pode apresentar diversos perigos, especialmente no que diz respeito à coesão e ao desempenho colectivo. A valorização excessiva do sucesso individual sobre os objevtivos comuns pode levar a uma fragmentação das relações interpessoais e à falta de espírito de equipe. Nas palavras de Perreira (2012), o individualismo enfatiza a busca das metas e do sucesso pessoal, enquanto o colectivismo prioriza as necessidades e o desempenho do grupo​​. Esse desequilíbrio entre as metas individuais e colectivas tem o potencial de criar um ambiente competitivo, onde os indivíduos veem seus colegas como rivais, comprometendo a colaboração e a inovação dentro da organização.

Segundo Perreira (2012), a falta de alinhamento entre os objectivos individuais e os da organização também pode resultar em baixa satisfação no trabalho e aumento da rotatividade de funcionários. Perreira (2012) argumenta que, em culturas colectivistas, o bem-estar do grupo tem precedência, e os membros estão dispostos a sacrificar interesses pessoais pelo sucesso colectivo​​. No entanto, em um ambiente fortemente individualista, os colaboradores podem sentir que seus esforços não são devidamente reconhecidos ou recompensados, levando a frustração e desmotivação.

O individualismo também pode enfraquecer a capacidade de uma organização de enfrentar desafios externos, conforme observado por Perreira (2012). Em ambientes onde predomina o individualismo, a falta de um sentido colectivo pode dificultar a implementação de mudanças organizacionais necessárias, uma vez que os indivíduos podem resistir a alterações que não beneficiem directamente suas próprias metas e interesses. Essa resistência tem o potencial de comprometer a flexibilidade da organização e sua capacidade de inovar e se adaptar a novas realidades de mercado.

Conclusão

Com o fim do trabalho compreende-se que a a ética no contexto profissional é crucial para promover um ambiente de trabalho justo e colaborativo. Através da análise de diversas perspectivas teóricas, ficou evidente que a ética profissional não se resume a um conjunto de normas, mas envolve um compromisso profundo com a integridade moral e a responsabilidade social.

Também notou-se que o individualismo, quando exacerbado, pode minar a coesão e o desempenho colectivo, levando à fragmentação das relações interpessoais e à resistência a mudanças organizacionais necessárias. Por outro lado, defende-se que uma abordagem ética que valorize tanto os objectivos individuais quanto colectivos contribui para um ambiente de trabalho mais satisfatório e produtivo.

Assim, como forma de conclusão, notamos que é essencial que as organizações promovam uma cultura ética, equilibrando o reconhecimento das realizações individuais com o bem-estar e os objectivos do grupo, garantindo assim um desenvolvimento humano sustentável e solidário.

 

Referências bibliográficas

Andrade, I. R. (2017). Ética geral e profissional. Salvador: Universidade Federal da Bahia.

Camargo, M. (2011). Fundamentos de ética geral e profissional. 10.ª ed. São Paulo: Vozes.

Fonseca, T. M. (2008). Acerca da ética e da perspectiva interdisciplinar. In: “Relações sociais e ética [online]”. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais.

Guareschi, P. (2008). Ética e relações sociais entre o existente e o possível. In: “Relações sociais e ética [online]”. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais.

Jacques, M. G. (2008). Doença dos nervos: o ser trabalhador como definidor da identidade psicológica. In: “Relações sociais e ética [online]”. Rio de Janeiro: Centro Edelstein de Pesquisas Sociais.

Morin, E. (2007). O Método 6: Ética. 2.ª ed. Porto Alegre: Sulina.

Nalini, J.R. (2009). Ética geral e profissional. 7.ª ed. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunais.

Perreira, S. I. (2012). O Individualismo e o coletivismo nas organizações do terceiro setor. (Dissertação). Covilhã: Universidade da Beira Interior.

 

[1] Na distinção entre ética e moral feita por Guareschi, “moral [...] é a ordem estabelecida. [...] Moral é [por exemplo,] responder às expectativas da família, do grupo ou do país, independentemente das consequências que daí possam advir” (Guareschi, 2008, p. 10). Por isso Guareschi afirma que o comportamento de seguir a moral “muitas vezes não é ético” (Guareschi, 2008, p. 10).