Conceito da teoria do conhecimento
Chama-se Teoria do Conhecimento ou Gnoseologia ao domínio da filosofia que trata do Conhecimento em função dos seus problemas, perspectivas de análise e buscando uma resposta para a questão da verdade. A teoria do Conhecimento não produz conhecimento como tal, mas reflecte sobre a problemática do conhecimento. É uma disciplina diferente da matemática, da física, da biologia, da história, entre outras que são estudadas na escola.
Perspectivas da análise do conhecimento
Argumentos da Filogénese
A espécie humana é produto de longo processo evolutivo que durou milhões de anos – desde os primatas até se chegar à actualidade do homo sapiens-sapiens, a espécie foi transformando-se
qualitativamente no núcleo genético e as diferenças entre eles são tão notórias mesmo nos caracteres externos;
Argumentos Ontogenéticos
Indivíduo humano é produto de longo processo de desenvolvimento das suas faculdades cognitivas, desde a infância até à idade adulta. Jean Piaget reconhece quatro estágios de desenvolvimento das faculdades individuais, a saber, o Sensório-motor (0 - 2 anos), o
pré-operatório (2 – 5/6 anos), o operatório concreto (7 – 12 anos) e operatório formal (12 anos em diante).
Perspectiva Fenomenológica
A Fenomenologia é uma perspectiva de análise que descreve os acontecimentos como factos observados. A perspectiva fenomenológica descreve o conhecimento como um acontecimento, um facto que ocorre no espaço e no tempo, da relação sujeito – objecto.
Problemas e Teorias Filosóficas Sobre o conhecimento
Os problemas gnosiológicos são fundamentalmente quatro: possibilidade, origem, natureza, valor e limites. As correntes filosóficas é que dão uma interpretação científica do conhecimento e justificam, desse modo, a teoria do conhecimento.
O problema da possibilidade do Conhecimento é levantado na era moderna pelo Cepticismo. O Cepticismo e dogmatismo são as duas principais correntes que discutem o problema, colocando dois extremos opostos da resposta. Cada uma das duas correntes permite no seu seio, certas tendências para a moderação. O pragmatismo dá uma nova orientação ao problema da possibilidade ou não do conhecimento, desviando-o no sentido da utilidade prática.
Níveis do conhecimento
Como já foi tratado nas aulas anteriores, conhecimento é a apreensão pela mente de alguma realidade, com a finalidade de analisar, explicar, descrever, prever e manipular determinados fenómenos e/ou objectos. Assim sendo, podemos encontrar vários tipos de conhecimentos, são eles:
Senso comum ou conhecimento popular
Senso comum é aquele tipo de conhecimento que resulta da experiência quotidiana do ser humano, ou seja, é todo conhecimento que provém dos hábitos e costumes das pessoas que vivem na sociedade sem precisar aprender na escola. Seu objecto é o mundo empírico do quotidiano. Tem as seguintes características: superficial, sensitivo, subjectivo, ametódico, assistemático e acrítico. Todavia, este conhecimento comum à todos os homens, é imprescindível para a resolução dos seus problemas do quotidiano, permite que os homens se orientem dentro da sociedade. Ex: um agricultor que olhando o céu pela manha ou à tardinha, prevê se no outro dia choverá ou não.
Conhecimento científico
Antes de definir o que é conhecimento científico é necessário definir o que é ciência.
A palavra ciência deriva do latim scientia, principio presente do verbo scire, que significa “conhecimento”. Ela tem dois sentidos: lato e estrito. No sentido lato, ciência significa uma espécie de conhecimento teórico, isto é, que tem como objectivo o próprio conhecimento e não as suas aplicações práticas. No sentido estrito, ciência significa conhecimento certo e racional, que trata da natureza das coisas e das suas condições de existência. Em geral, a ciência é entendida como organização de conhecimentos e de resultados que são aceites universalmente, visto que podem ser verificados na base de métodos. Tem as seguintes características: real (factual), contingente, sistemático e falível, racional, objectivo, analítico, claro e preciso, comunicável, verificável, acumulativo, útil.
O conhecimento científico se diferencia do senso comum especialmente por se pautar pelos métodos de verificação, observação e experimentação na produção do seu conhecimento, isto é, o conhecimento cientifico é baseado em provas, é um verdadeiro e convincente e permite o desenvolvimento da sociedade, enquanto que o senso comum deriva dos hábitos e costumes.
Importância e limites e perigos do conhecimento cientifico
Importância: o conhecimento científico trouxe e continua trazendo inúmeros benefícios para o homem, ela contribui significativamente para a melhoria das condições de vida dos homens. Por exemplo, o avanço da medicina ajuda a diminuir a dor dos homens e a prolongar o seu tempo de vida; a tecnologia facilita a comunicação entre os homens já não se importando com a distância, ajuda a locomoção dos homens com rapidez; a tecnologia realiza cálculos e tarefas o homem não tem a capacidade de efectuar.
Limites: a tecnologia contribui para a melhoria das condições de vida, porém, mostrou-se, ao longo do tempo que nem sempre é favorável ao homem. O homem confiou cegamente no conhecimento científico que culminou com o desastre vivido na Segunda Guerra Mundial. Com o avanço do industrialismo, sem precaução do meio ambiente, degradou-o, e regista-se hoje com o esgotamento dos recursos não renováveis e a deterioração da camada de ozono. Lyon e Fukuyama e muitos pensadores do nosso tempo concordam com esta constatação e apelam à exploração racional dos recursos que a terra nos dá.
Perigo: a tecnologia pode criar muitos outros problemas além dos ambientais, como os problemas de saúde humana na sua relação com as maquinas e tecnologia, a relação de dependência excessiva das máquinas e problemas de desemprego (com a substituição da mão-de-obra humana pelas maquinas), gera individualismo (as pessoas vivem mais rodeadas de pessoas do que por objectos, ou seja, possuem tecnologia de comunicação de ponta mas não comunicam com seus vinhos).
Conhecimento filosófico
O conhecimento filosófico é aquele tipo de conhecimento que obtemos a partir da razão. Ela difere dos dois anteriores, possui um método, o reflexivo, que tem a finalidade de apresentar respostas racionais para os problemas da origem do ser (ontologia), e de dar explicações acerca da existência humana. A filosofia utiliza a relação de causa e efeito para entender a realidade, e tem como objecto o mundo na sua totalidade. A filosofia se preocupa com o por quê das coisas, e o princípio último das coisas. Tem como característica: valorativo, racional, sistemático e não verificável.
Outros tipos de conhecimento
- Conhecimento religioso (teológico), cuja fonte primordial é a natureza divina ou sobrenatural. Tem como característica o facto de ser valorativo, inspiracional, sistemático, não verificável, infalível e exacto;
- Conhecimento mitológico, narrativa de significação simbólica, transmitida de geração em geração e considerada verdadeira ou autentica dentro de um grupo, tendo geralmente a forma de um relato sobre a origem de um determinado fenómeno, instituição, etc., e pelo qual se formula uma explicação da origem natural;
- Conhecimento intuitivo, sendo a intuição o acto ou a capacidade de pressentir, é um conhecimento imediato de um objecto na plenitude da sua realidade, seja este objecto de ordem material ou espiritual. Este tipo de conhecimento é imediato e difícil de se fundamentar.
Em suma, todos esses tipos de conhecimento querem solucionar esses enigmas, querem fornecer uma interpretação da realidade, uma visão de mundo. O que as diferencia é a origem dessa visão de mundo. Enquanto a visão filosófica de mundo brota do conhecimento racional, a origem da visão religiosa de mundo está na fé (Deus); a origem do conhecimento científico brota de provas com base no método de experimentação, verificação e observação; a origem do senso comum brota do hábito e do costume; a origem do conhecimento mitológico brota da fantasia.
Classificação das ciências segundo August Comte
August Comte foi um filósofo francês e criador do Positivismo que é a corrente que pressupõe que o conhecimento científico é o único aceitável. Nos seus estudos, formulou a lei de três estágios segundo a qual o espírito humano atravessa, a saber: teológico (infância), metafísico (juventude) e positivo (maturidade).
No estágio teológico os fenómenos são explicados como produtos da acção directa de agentes sobrenaturais, no estágio metafísico são explicados em função de essências, ideias ou forcas abstractas e no estágio positivo são explicados tendo e conta as suas leis efectivas através do raciocínio e observação. O último estágio está ligado ao empírico e ao prático.
Comte defende que só é ciência o conhecimento que passa pela observação, experimentação e mensuração. Assim sendo, as chamadas ciências positivas surgem quando o homem atinge a maturidade.
A classificação das ciências foi ordenada hierarquicamente por Comte em sete categorias, da mais simples a mais complexa: a matemática, a astronomia, a física, a química, a biologia, a sociologia ea moral.
A questão da verdade
Dizer que algo é verdadeiro implica fazer uma correspondência entre o que é dito e a realidade, ou seja, é a adequação do intelecto ao real. Portanto, não se pode confundir a realidade com a verdade porque a verdade está além da realidade. Existem quatro principais estados do espírito perante a verdade: ignorância, dúvida, opinião e certeza.
A ignorância é a ausência de todo o conhecimento relativamente a um enunciado. Esta pode ser culpável (quando se refere a coisas cujo conhecimento é possível para o ser humano) ou não culpável (quando se refere a coisas cujo conhecimento ultrapassa as possibilidades humanas de as conhecer), dependendo o dever de dominá-la.
A dúvida é a permanência no estado de meio-termo entre a afirmação e a negação, ou seja, quando a mente se encontra indecisa em relação a determinadas crenças.
A opiniãoé a união do espírito entre a afirmação ou negação em torno de um enunciado. Para Platão, a opinião é algo intermediário entre o conhecimento e a ignorância.
A certeza é a conformidade de uma verdade conhecida e afirmada sem receio de se errar. Na base da certeza encontra-se a evidência e a certeza do juízo.
O erro
O erro é a afirmação plena de um enunciado falso, mas do ponto de vista subjectivo parece verdadeiro. Quem erra não sabe, mas julga ou pensa que sabe. As causas psicológicas do erro são, falta de atenção e paixão. As causas morais são, a vaidade, o interesse, a preguiça e intelectual. Um dos remédios do erro é a reflexão profunda sobre todas as coisas e a falta de precipitação.
Epistemologia contemporânea
A epistemologia é a disciplina filosófica que estuda o conhecimento científico, esta refere-se as condições pelas quais se pode produzir o conhecimento científico e dos modos para alcança-lo avaliando a consistência logica de suas teorias. No debate sobre a epistemologia contemporânea, notou-se uma necessidade de se fala de várias ciências, porque não existe apenas uma ciência. A Matemática, a Física, a Biologia entre outras, são ciências autónomas, mas interdependentes. Portanto, não há uma só ciência, mas muitas ciências que apresentam aspectos comuns.
Continuísmo ou descontinuísmo
Continuísmo
No continuísmo encontramos duas perspectivas debatendo sobre a ciencia: continuísmo radical e moderado. O continuísmo radical defende que a ciência evolui de forma linear no qual os conhecimentos estabelecidos nunca são postos em causa e de forma acumulativa, pelo facto dos conhecimentos se juntarem aos anteriores. O continuísmo moderado acredita que o progresso da ciência de uma época depende das investigações e debates de épocas precedentes, em que os erros são examinados e corrigidos, havendo uma ligação entre as épocas.
Descontinuísmo
Gaston Bachelard (1884-1962), um dos defensores desta corrente, defende que é necessário que haja uma ruptura com o senso comum para estarmos a caminho da própria ciência. A objectividade da ciência é construída e não há verdades sem erros rectificados. “Não há verdades primeiras, o que há são erros primeiros”. Para um espirito científico, todo o conhecimento é uma resposta a uma questão. Se não há questão, não pode haver conhecimento científico.
Karl Raimund Popper (1902-1994)
A sua posição descontinuista reside na negação de acumulação de conhecimentos com pressuposto para o progresso da ciência. Para Popper, a ciência analisa e critica as teorias anteriores para corrigir e substituí-las. Este acredita que é a possibilidade de falsificar uma hipótese científica que permite a correcção e o desenvolvimento das teorias científicas, assim sendo, é impossível na ciência uma certeza definitiva.
Thomas Kuhn (1922-1996)
A sua análise constitui nas seguintes expressões chave: ciência normal, anomalia, ciência extraordinária e paradigma. Paradigma é um conjunto de padrões, regras, metodologias ou princípios que permitem os cientistas resolver um fenómeno em estudo.
Ciência normal é a fase em que a comunidade científica desenvolve com sucesso as suas pesquisas com paradigma vigente. É o momento em que o paradigma está forte e resolve os problemas cujos foi adoptado.
Anomalia é a violação do paradigma em vigor, ou seja, o aparecimento de problemas científicos dos quais o paradigma não consegue responder ou captar.
Ciência extraordinária é a procura de novo paradigma para responder a crise da ciência, por causa do paradigma anterior estar defeituoso. Portanto,em Kuhnsó há revolução científicaquando existe uma ruptura total do paradigma anterior. Trata-se de uma nova visão para a explicação dos fenómenos.
CONCLUSÃO
Ao longo da história da filosofia foram desenvolvidas várias teorias para a explicação do fenómeno de conhecimento, e para responder as seguintes questões fulcrais: É possível conhecer? ou Como conhecemos? não só em filosofia se tem debruçado sobre este problema, essa questão do conhecimento tem sido objecto de estudo também das ciências empíricas. Em especial no último século.
Assim para o estudo desta problemática abordou-se as temáticas acima vistas. Em geral, a ciência é entendida como organização de conhecimentos e de resultados que são aceites universalmente, visto que podem ser verificados na base de métodos. Tem as seguintes características: real (factual), contingente, sistemático e falível, racional, objectivo, analítico, claro e preciso, comunicável, verificável, acumulativo, útil.
Portanto, a origem do conhecimento científico brota de provas com base no método de experimentação, verificação e observação; a origem do senso comum brota do hábito e do costume; a origem do conhecimento mitológico brota da fantasia.
BIBLIOGRAFIA
GEQUE, Eduardo; BIRIATE, Manuel. (2010). Pré-universitário: Filosofia 11. Longman Moçambique, Lda. Maputo.
HESSEN, Johannes. (2000). Teoria do Conhecimento. Trad. Vergílio Gallerani Cuter. Martins Fonte: São Paulo