A forma de Inteligência em Henri Bergson
A história Revolucionária da vida em Bergson
A história revolucionária em Bergson, é destacada por um movimento que opera em determinadas direcções diferentes, pois, este movimento, não têm uma trajectória única para determinar as suas direcções, (BERGSON, 2005: 107). Porém, a evolução da vida humana, obedece uma estrutura de direcções divergentes ou desigual, pois, a partir desta série de divergência de espécies, pauta-se em um desenvolvimento e, essas espécies divergentes, possibilitarão o alcance de personagem original, valendo deste modo, para evolução da vida, que Bergson chama de “evolução criadora”. Uma evolução que vá além das dificuldades e das falsidades do mecanicismo e do finalismo.
Bergson, na obra em referência, procura desmascarar a consciência que nos habita, o que nos conduz a um conhecimento verdadeiro do ser vivo. Ele procura ainda visionar e pressentir a nossa participação num movimento criador do universo, do qual nós não somos nem a origem nem o fim. Todavia, este posicionamento de Bergson, leva na ideia de um universo aberto, criador e a uma filosofia do futuro, do tempo e de transformação.
Não obstante, Bergson apresenta sua teoria de origem, do desenvolvimento ou da evolução através da inteligência humana em intuição criadora. É nesta obra em que Henri Bergson, constrói sua teoria sobre a origem da vida, partindo do impulso vital (elã vital), que desenvolve uma inteligência com sua função fabricadora e a sua superação, caminhando em direcção a intuição criadora.
Para Bergson, a vida é móvel e a evolução é um processo criador que exclui a ideia de um finalismo radical. A evolução dos organismos sobre a terra é algo que a ciência dificilmente poderá provar, pois “ há coisas que apenas a inteligência é capaz de procurar, mas que, por si mesma, não encontrará nunca. Essas coisas, apenas o instinto as encontraria; mas não as procurará nunca.
Mas essa vantagem da inteligência sobre o instinto só aparece tardiamente, quando a inteligência tende elevar-se a fabricação da sua potência superior, […] instrumento fabricado e instrumento natural, contrabalançam-se tão bem que seria difícil dizer qual dos dois assegurará ao ser vivo um maior domínio sobre a natureza, (BERGSON, 2005:153).
2. A Inteligência e o Instinto em Bergson
É imprescindível fazer referência antes, que é incontornável falar da inteligência sem mencionar o instinto, pois, os dois elementos em Bergson são inseparáveis, isto é, ambos se complementam na sua funcionalidade.
Não há inteligência ali onde não se descobrem vestígios de instinto, não há instinto, sobretudo, que não esteja envolto por uma franja de inteligência” (idem, p.147).
A inteligência e instinto, encontra-se emaranhados, não há inteligência sem vestígios de instinto, pois, uma continua assombrar a outra. Daí que conclui-se que a inteligência e instinto, são coisas da mesma ordem.
Segundo Bergson (idem, p.152), advoga que a diferença existente entre instinto e inteligência, é a seguinte: O instinto acabado é uma faculdade de utilizar e mesmo de construir instrumentos organizados; a inteligência acabada é a faculdade de fabricar e de empregar instrumentos inorganizados. Nesta perspectiva, o autor considera o instinto como aquele que apresenta um instrumento apropriado, um instrumento que se fabrica e se conserta por si mesmo, a partir das obras da natureza, conservando deste modo uma estrutura invariável, isto é, um instrumento definido e determinado, ao passo que a inteligência, fabrica um instrumento imperfeito, aquela que só é obtida a partir de um esforço e de manejo muito difícil, pois, é um órgão artificial que prolonga o organismo natural e, em cada necessidade que satisfaz, cria uma necessidade nova.
A inteligência em vez de se colocar certas limitações ou fechar-se como instinto, ela cria um círculo de acção que se move automaticamente, abrindo um campo de actividade indeterminado, um movimento ininterrupto e livre. Para Bergson, a inteligência está destinada a assegurar a inserção perfeita de nosso corpo no meio em que estamos inseridos, representa as relações entre as coisas exteriores e pensa em matéria sempre por dedução, criar algo novo para si, e está associada à evolução em intuição criadora.
A inteligência pode ser considerada como a faculdade de aprender e aplicar o aprendido, adaptando-se a situações novas através do conhecimento adquirido em processos anteriores de adaptação, sendo assim essencialmente criativa. (JAPIASSÚ E MARCONDES, 2001:105).
Olhando para este autor, percebe-se que a inteligência, tanto para Bergson, tem um carácter comum, que é adaptar-se a situação real em uma situação nova, passando a ser uma faculdade criativa, que vai inovar uma situação qualquer a partir de uma acção abstrativa. Em Bergson, a inteligência é despertada no ser humano pelo acto de organizar o sólido inorganizado, pois, a vida cria, e a inteligência humana não admite esse tipo de novidade, de maneira que a “inteligência é caracterizada por uma incompreensão natural da vida.” No seu livro, Bergson faz uma famosa analogia do conhecimento humano com o método do cinema.
3. Características da inteligência e instinto
Segundo Reale e Antiseri, (2006: 354), a inteligência é caracterizada por uma incompreensão natural da vida. Este, trata as coisas mecanicamente, procurando moldar a matéria bruta de forma operante. A inteligência, é um signo móvel, uma mobilidade feita que passa duma coisa para outra. Ela fabrica e emprega instrumentos inorgânicos, é artificial, não é hereditário, é irreversível, é conhecimento das relações entre coisas, consciente, criativa, conhece as formas e a sua realidade é mediata.
O instinto, funciona por meio dos órgãos naturais, é hereditário, reversível, inconsciente, repetitivo, rígido, é hábito, invariável, imediato, apresenta soluções adequadas e constrói um instrumento orgânico.
Olhando para esta disparidade da inteligência e instinto, não significa que ambos andam separadamente, mas a inteligência está a volta do instinto, e possui um instrumento que provém da modificação da matéria inorgânica, construindo um instrumento incessante, que está em constante movimento revolucionário.
Quando extraordinariamente, as abelhas nidificam ao ar livre, inventam dispositivos novos e verdadeiramente inteligentes para adaptar-se a essas novas condições” (BERGSON, 2005:154).
Esta, é um sinal claro de existência da inteligência no instinto, isto para dizer que os seres vivos animais, não só possuem instinto, mas sim, um instinto associado à inteligência. Para dizer que não foi por acaso em as abelhas nidificaram-se no espaço trazendo uma forma diferente.
4. A Intuição como Desenvolvimento da Inteligência
Tendo em conta que a inteligência em Bergson, é aquela que não se separa do instinto, aquela que funciona sempre coadjuvada com instinto, em algum momento pode voltar para o instinto. É daí que a intuição ganha espaço de actuação.
Segundo Reale e Antiseri (200:355), a inteligência gira em torno do objecto e torna o maior número possível de visões dele a partir do exterior, mas nunca entra nele, ao contrário, a intuição é que nos conduz ao interior da vida. Porém, a intuição aparece para reflectir em torno daquilo que está dentro do objecto.
A intuição para este autor, é a visão do espírito pelo espírito, isto é, imediato como instinto e consciente como inteligência. Esta revela-nos a direcção da consciência e o tempo real, por outro lado, no que respeita a vida em seu movimento criador, é pela intuição que se pode obter uma experiência mais profunda.
Pois é como se a intuição tivesse em si a capacidade de ‘renunciar’ a toda aparência activa e se voltar para o certo sentido íntimo ou simpático de relação com seu objecto, podendo constituir uma relação desinteressada com o mundo (MASCARENHAS, 2009:209). Essa experiência ultrapassa a inteligência, uma vez que tem seu alcance o conhecimento de todo e não mais apenas um recorte temporal da duração. Na intuição, os sentidos do real podem ser apreendidos como um todo, em um único golpe.
O filósofo afirma: ela, “ [...] é a simpatia pela qual nos transportamos para o interior de um objecto para coincidir com o que ele tem de único e por consequência de inexprimível” (BERGSON, 2005:263).
Podemos compreender com essa afirmação que, a intuição só é possível através de uma compreensão do objecto dada por outro mecanismo, a saber, o instinto. Ele, que como apresentado anteriormente, é especialista e que carrega em si a criação, possibilita esta simpatia e essa transposição para o interior do objecto, resultando no conhecimento absoluto.
Se nos equipássemos apenas de inteligência, esta capacidade de conhecer algo em sua totalidade não seria possível. Assim, instinto e inteligência, um deixando de assombrar o outro apenas como uma franja, e passando a se fazer presente, poderiam ultrapassar a inteligência, rumo a uma intuição criadora.
CONCLUSÃO
Neste presente trabalho, olhando para aquilo que é a forma de inteligência em Bergson, pode se concluir que a inteligência é limitada à criação, e restringe-se a estabelecer relações entre os mesmos resultados esperados. Porém, este autor, ao propor a evolução criadora, por onde a inteligência circula, pretendia desenvolve sua teoria do “elã vital” (impulso vital), para explicar a origem e a evolução da vida, pois, para compreender este fluxo constante da criação de novidade que nos possibilita o poder de criar algo novo, precisamos ir para além da inteligência através de uma intuição criadora.
Em Bergson, há hipótese metafísica de uma intuição que supera a inteligência rumo a uma intuição criadora, onde o fluxo da vida continua a fluir e a produzir novidades. Neste sentido, podemos afirmar que não se trata de certo ou errado, mas de duas teorias acerca da inteligência humana em que os estudiosos, cada qual em sua área de pesquisa específica, desenvolvem conceitos que hoje nos auxiliam a compreender a origem, o funcionamento e o desenvolvimento da inteligência humana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERGSON, Henri. (2005). A Evolução Criadora. Bento Prado Neto (trad). São Paulo, Martins Fonte.
GIOVANNI, Reale e ANTISERI, Dário. (2006). História da Filosofia: de Nietzsche à escola de Frankfurt. Ivo Storniolo (trad). São Paulo: Paulus. V6.
JAPIASSÚ, Hilton e MARCONDES, Danilo. (2001). Dicionário Básico de Filosofia. 3a Ed., Rio de Janeiro: Zahar.
MASCARENHAS, Aristeu. (2009). Intuição, ciência e metafísica em Bergson. Débora Cristina Morato (Trad); São Paulo: Alameda.