O Mundo capitalista nos finais do século XIX e começos do século XX

Nos finais do século XIX e princípios do século XX, os países capitais da Europa apresentavam um desenvolvimento muito desigual. Por um lado existiam os países da Europa ocidental e do norte que já haviam realizado as suas revoluções industriais e, por conseguinte, encontravam-se num estágio de desenvolvimento bastante avançado, tendo inclusivo participado com sucesso na corrida colonial do final do século. Neste grupo destacam-se a Inglaterra, França, Bélgica e o reino dos países baixos.

Por outro lado, existiam os países da "Europs Agrária", ainda presos às velhas formas de produção feudais ou em fase de transição para as novas formas de produção capitalistas. Entre estes países encontramos os grandes impírios centrais, como o Austro-Húngaro e Otomano, a Alemanhã, Itália e Rússia. Os EUA na América d Norte e o japão no extremo oriente eram outros dois estados cujo rápido desenvolvimento não passava despercebido aos olhos do mundo.

Inglaterra

Em 1900 a Inglaterra era a primeira potência industrial e imperial do mundo. A esquerda inglesa dominava os mares e a paz britãnica era a regra de convívio internacional quebrada pelo crescimento rápido e inquietante da Alemanha, pelos episódios distantes em que russos e japoneses se defrontavam e os boeres oferenciam resistencia inesperada à dominação inglesa na África do sul.


Economicamente os ingleses tinham sacrificados a agricultura as exigências do mercado da industria e esta não chegava a empregar 20% da população total. A Inglaterra importava do seu vasto império colonial tudo o que precisava parao seu consumo, enquanto os esforços internos eram concetrado na exploração da indústria, do comércio e da banca que aumentavam a riqueza do país, tornando-o na fábrica da Europa, no banco e no grande mercado mundial, com efeito, a libra substituía o outro nas transacções universais.

A nível político a Inglaterra apresentava um grande equilíbrio e organização. As instituições políticas funcionavam com uma precisão e equilibrios perfeitos. O sistema político procurava adaptar-se as necessidades do tempo sem abandonar as suas caracteristica (a monorquia) e os diferentes órgãos de estado trabalhavam em coordenação mútua.

A nível colonial, a Inglaterra apresentavam o maior império do mundo e as colónias faziam as suas vidas com governos dirigidos por nativos directamente subordinados a coroa britãnica. Os parlamentos locais eram eleitos entre as elites nacionais, garantindo-se assim a defesa dos interesses ingleses em cada uma das colónias.  Desta forma,  império britãnico tomava a feição de uma comunidade de nações, tendências confirmada no final da IIGuerra Mundial com a formação da COMMONWEALTH, agregando antigas colónias britãnicas. Porém, a opulência britãnica era ameaçada por graves problemas internos e pela grande concorrência externa que o império sofria.

A nível interno, vários problemas dilaceravam o velho monstro continental. O contraste entre a opulência ostentada pela burguesia e nobreza e as penúria em que vivia a classe operária; a questão da Irlandia que era uma ferida aberta no governo britãnico; a guerra com os boers (1899-1902) demostravam as grandes carências e as deficiências militares da grande potência colonial.

Do outro lado do Atlântico, os EUA revelaram as suas possibilidades ilimitadas e os seus recursos inesgotáveis. No continente, o rápido crescimento da Alemanha constituía não o sinal de uma competição pacífica, mas o indício de uma ameaça temerosa. Estas novas potências, ávida de riquezas e conquistas, da revelação de novas doutrinas e novas concepções sociais e pelos novos métodos de concorrência e conquistas militares, ameaçavam a hegemonia naval, o esplêndido isolamento, a prosperidade económica, a supremacia industrial e a influência mundial da Inglaterra.

A França

Em 1900 os franceses entravam na consolidação da 3ª República, caracterizada pela derrota dos inimigos das instituições republicanos, isto é, da nobreza conservadora e pela instalação defenitiva da burguesia radical no poder. Porém, o triunfo da nova instituição não venceu as grandes contrariedades existentes no seio da  sociedade francesa, caracterizada por uma grande heterogeneidade ideológica.

A nível económico, a Revolução industrial não afectou, tal como na Inglaterra e Alemanha, a produção agrícola que conservou a sua importãncia tradicional e constituiu, tanto na paz como na guerra, a principal riqueza da nanção. Na metalurgia, na indústria de transporte e têxtil, a França conheceu um  grande desenvolvimento; tendência acompanhada, como noutros países fortemente industrializados, pela concentração de produção e capital e formação de um partido socialista numeroso e aguerrido.

A solidez económica e a saúde finaceira, apoiada e mesmo baseada num amplo império colonial, que na prática dominava parte considerável da África e Ásia, tornavam o país invulnerável as vicissitudes exteriores quando estas se traduziam em crises profundas nos mercados ou nas bolsas de valor.

Em compensação a esta estabilidade económica, a luta de ideias, o debate das paixões, o gosto da independência individual geraram um ambiente de insatisfação e polémica em que a agitação das ruas se somava ao tumulto das assembleias com ideias bastante  heterogéneas e composição diversificada. As disputas entre o parlamento e o presidente provocam uma forte interferência deste último no papel do primeiro, razão pela qual a França não conheceu uma tranquilidade política como a inglaterra e a Alemanha.

A Rússia

Com 174 milhões de súbditos e uma superfície de 21. 784.000 km2, o Império Russo constituía, nos finais do século passado e primórdios deste século, um mundo complexo e original. Tratava-se de um verdadeiro mundo de contrastes, muits vezes violentos, onde estavam juntos o antigo e o moderno.

O poder político encontrava-se nas mãos do ditador Czar Nicolau II, Até 1950, o despotismo czarista foi total. Tratava-se de uma ditadura onde não havia lugar para qualquer instituíção representativa eleita, mesmo de carácter aristocrática, susceptível de servir de contrapeso as decisões do poder executivo (czarista). De um modo geral, o czarismo era o escudo protector de uma classe privilegiada a nobreza.

A igreja ortodoxa era, juntamente com a polícia e o exétcito, um dos pilares do regime. Czar era a sua figura máxima. O seu principal papel era de pacificar as massas para melhor domínio czarista. Neste período o Império Russo continuava a ser marcado por uma nítida preponderância rural. Cerca de 85% da população vivem no campo e 80% da população activa  vivem da agricultura que é deveras pobre, sendo a própria charrua um privilégio das famílias nobres. Nos finais do século, a industrialização começa a ser uma realidade e a Rússia ocupa então o 5º lugar na  produção industrial do mundo.

A Alemanha

A Alemanha do século XIX era um autêntico "jovem gigante". O desenvolvimento da produção e da riqueza assumiu neste país proporções inesperadas e impressionantes. A Alemanha agrícola transformou-se numa Alemanha fortemente industrializada. A sua riqueza assentava em abundantes reservas de carvão e ferro, as quais lhe permitiam criar, rapidamente, uma indústria pesada e uma indústria de guerra que se tornou uma ameaça para o resto do munda Europa e do Mundo.

Os êxitos germânicos não tinham comparação com os resultados alcançados pela Inglaterra e França. À exploração racional dos seus recursos, os alemães juntavam a aplicação consciente das qualidades que os distinguiam: o método, a disciplina e a audácia. Com efeito a sua industria abastecia-se incessantemente com estudos laboratoriais dos seus engenheiros, o que se traduzia numa maior qualidade de produtos manufacturados. A facilidade de crédito industriais e a grande preocupação do governo em assistir os trabalhadores conferiam rendimentos sociais fortes.

A Política de carteis limitava a concorrência e permitia a estabilização dos preços, medida aprovada pela política proteccionista adoptada pelo estado germânico para defender a produção nacional e facilidade de transportes e comunicações de que o país se dispunha.  A vida económica da Alemanha dependia essencialmente da indústria em constante evolução. A produção, apesar do aumento rápido da poplação, dependia dos mercados externos, cuja conquista era para os alemães uma necessidade vital, pois a sua unificação tardia não lhe permitiu a tomada de colónias como a França, Ingleterra ou a Rússia.

Contrariamente a França, a Alemanha apresentava uma estabilidade política forte e, apesar da diversidade de classes, era comum o respeito pelo poder central. O Reichstang (parlamento) não exercia influência directa sobre o poder executivo. O regime parlamentar, nas palavras de Bismark em 1885, não tinha grandes mandos, pois "só há um senhor" no Império germânico o Imperador.

Império Austro-Húngaro

O império Áustro-Húngaro era, no limiar do nosso século, o "estado das diversas nações" em que os grupos minoritários, sujeitos à dominação estrageira manifestavam incessantemente a sua ânsia de libertação e independância, coagidos não só pelo direito natural, como pela acção externa movida pelo vizinho e rival Império Russo.

A heterogeneidade na composição populacional era igual nos aspectos de raças,  idiomas e variedades de tendências políticas, sem, por isso, existir uma coesão política e uma legislação económica uniforme para o governo. Mesmo em termos académicos e de desenvolvimento económico notava-se um forte desnível: a Áustria era predominantemente industrial, o mesmo acontecendo na Bósnia. Nos dois países a existência de uma buerguesia culta contrastava com o baixo nível intelectual da população rural do resto do Império.

Em contrapartida, os habitantes da planície húngara ainda não haviam alcançado um nível de desenvolvimento forte, tendo sido relegados à práica d agriultura e fraca afluência política. A subjugaçãopolítica de grupos fortes e instruídos, como os croates e romenos da Transilvância pelos Magiares, alimentaram uma hostilidade latente e fatak para, fortificação do Império fortemente roído por intrigas dos impérios vizinhos.

A formação de alianças militares

Nos anos anteriores a 1914, a Europa tinha-se organizado em dois sistemas destinados a preservar o equilibrio do poder, conhecidos como "Equilibrio Europeu". O equilíbrio europeu consistia na existência de blocos militares rivais. A Triplice Aliança de 1882, reunia a Alemanha, a Áustria-Húngaro e a Itália e a Tríplice Entente, datada de 1907, agrupava a Rússia, a França e o Reino Unido. Ambos afirmavam-se combinações formalmente defensivas, mas susceptíveis de operar ofensivamente.

A primeira era uma verdadeira aliança, obrigava as partes a prestar assistência aqulquer das outras qe fosse atacada. Porém, a Itália, a pouco e pouco, ia se afastando deste, grupo graças a diplomacia francesa e a contrariedade de interesses entre  este e a Áustro-Húngaro no mar báltico. A Tríplice Entente cotemplava  circuit da aliança franc-russa de 894, por um lado, eda Entente Cordialle de 1904, que puseram fim a rivalidade colonial franco-britânica, por outro.

No que se referia ao Reino Unido, este não assumia comprimissosmuito definidos. Efectiamente, londres não desejava e nem podia assumir qualquer compromisso com a França, com quem tinha num passado recente sérias rivaidades colonias. Foi assim que,no lugar de uma aliança foi assumido o termo entene coralle (entendimeno cordial em português). A crise diplomática provocada pelo ultimatum austríaco a Sérvia, agravada pela declaração de guerra, desenvolveu-se com base nestes canais que acabaram por opor os dois gruois rivais.

O  nacionalismo, suas origens e manifestações

O século XX, foi para a Europa o século dos nacionalismo exacervados até ao fanatismo. Antes da Primeira Guerra Mundial, os povos oprimidos no quadro dos vastos impérios autocráticos (Império Áustro-Húngaro e Russo) identificaram o seu destino com o das nações a que tinham pertencido e cuja independencia reivindicavam. O problema nacionalista foi para esses povos: os polacos, checos, finlandeses, servis e croatas o problema da recuperação da sua soberania, e paraos opressores foi o problema das minorias raciais e linguísticas, cuja vitalidade resistia intacta a todas as formas de dominação.

É importante referir que nas grandes potências, o fenómeno nacionalista não se dissociou dos interesses das classes exploradoras. Na Rússia foi uma expressão do eslavismo que levou o governo de S. Petersburgo a proclamar-se protector de todos os eslavos, onde quer que estes se encontrassem. Na Grã-bretanha o Jingoísmo e o imperialismo colonial foram as suas manifestações mais típicas e reveladoras.

Na França, a pátria do nacionalismo moderno, conhecia uma grande popularidade e adesão além fronteiras com a expansão da bandeira tricolor e dos modernos ideas ilumistas triunfados na Revolução do século XVIII. A causa da nação advogada pela cúpula fracesa, era a desforra a  derrota de 1870, o que equivalia a um sentimento de profunda hostilidade a Alemanha, vizinha e inimiga que com os seus actos arrogantes, inúteis e provocatórias, exalava os ânimos dos franceses.

Na Alemanha do começo do nosso século, a propagação do nacionalismo militante teve repercussões profundas e dramáticas na vida do mundo. Os alemães aliaram o seu nacionalismo a uma doutrina científica que estabeleceu a confusão entre os conceitos de raça e língua. Para eles a raça alemã, confundia-se com a raça germânica, que não existiu nunca, e o seu sinal, exterior, visivel, da diferenciação que os superiozava aos outros povos era a sua língua.

Em suma, o nacionalismo alemão foi radical, chauvinista e racista onde os seus percursores se achavam sucessores dos passados germânicos, representantes inconfundiveis da raça branca, arianos puros e superiores a outros povos. A repressão que sofriam os judeus, como fruto do nacionalismo alemão e russo, que os considera inferiores e exigia a sua retirada dos seus territórios, exacerbava o sentimento nacionalista destes que passaram a reivindicar a posse de uma nação em que se concentrasse. O sistema, que no começo era uma aspiração vaga, tomou forma e tornou-se num fenómeno político incontestável  na evolução dos acontecimentos mundiais até aos nossos dias.

Adapatado: João Baptista H. Fenhane.