Por: Delfina Estevão Bambo

Filo mollusca

Moluscos

Como o nome sugere, são animais que apresentam o corpo mole, viscoso e não-segmentado.

Depois dos artrópodes, é o filo mais numeroso, com cerca de 80.000 a 100.000 espécies. O corpo está dividido em cabeça, pés e massa visceral e, geralmente, protegido por uma ou mais conchas ou valvas.

Embriologicamente falando, são invertebrados triblásticos, celomados do tipo esquizocélicos, neuromiários do tipo hiponeuros e protostômios; possuem simetria bilateral, vida livre e, raramente, parasitária (larva gloquídia); são em geral móveis (ostras e mariscos são fixos) e apresentam rádula, que é uma língua provida de dentículos para a mastigação, exclusiva dos moluscos, excepto os pelecípodos.

Os moluscos vivem no meio aquático, terrestre e orgânico. Em sua maioria, vivem no mar, fixos sobre as rochas, como as ostras e os mariscos, ou nadando activamente, como os polvos e as lulas, ou ainda, enterrados na areia, como os dentálios.

Importância econômica

São largamente utilizados na culinária, conhecidos como frutos-do-mar (ostras, mexilhões, polvo e lulas) ao lado dos crustáceos (camarões e siris). Alguns caramujos terrestres também são comestíveis, como é o caso do escargot (helicicultura = criação de helix aspersa). Além disso, os moluscos fornecem pérolas, para a fabricação de jóias, e conchas, que são transformadas em botões, colares e outros adornos, e, até mesmo, em cabos de guarda-chuva ou de revólver

Importância médica

Os moluscos dulcícolas dos géneros lymnea e biomphalaria, já estudados nos platelmintes, são vectores biológicos da fasciolose e esquistossomose, respectivamente.

Sistemática

A classificação dos moluscos está baseada na posição ou forma dos pés, que são órgãos de locomoção, fixação ou escavação. Assim, temos cinco classes, a saber:

Classe gastropoda

Os gastrópodos possuem uma concha calcária em espiral (univalvos) formando um exoesqueleto, como os caracóis e caramujos; alguns não têm conchas (avalvos), como as lesmas.

Apresentam rádula e são encontrados no meio aquático marinho e dulcícola, por isso têm respiração branquial, excepto a biomphalaria e o lymnea, que têm respiração pulmonar (ordem pulmonata). Alguns gastrópodos são de hábitat terrestre e a sua respiração é pulmonar.

Classe pelecypoda ou bivalve

Exemplo: ostras e mexilhões.

Também são chamados lamelibrânquios, em razão de as brânquias estarem constituídas em lâminas, sendo exclusivamente aquáticos e predominantemente marinhos.

As brânquias têm dupla função: respiração e alimentação. Os pelecípodos são moluscos filtradores:

Filtram partículas de alimento (algas microscópicas), que são, em seguida, levadas para a boca. Às vezes, as bordas do manto se fundem formando um sifão inalante, por onde entra água contendo alimento e oxigênio, e um sifão exalante, por onde sai a água com excretas e gás carbônico.

A cabeça é muito reduzida, como se não existisse; o pé tem forma de machado para escavação e a massa visceral é o conjunto dos órgãos internos. Nos mariscos, uma parte secreta filamentos, ditos bissos, que prendem o molusco nas pedras.

Os pelecípodos não têm rádula para a mastigação.

Classe cephalopoda

Os polvos e as lulas são os mais evoluídos dos moluscos, inclusive mostrando vestígio de cérebro e olhos semelhantes aos dos vertebrados. A massa visceral é globosa no polvo e alongada na lula; o pé transforma-se em oito tentáculos no polvo e dez na lula, que são usados na locomoção e captura de presas.

O nome cefalópodos origina-se do fato de os tentáculos com ventosas saírem diretamente da cabeça.

Os cefalópodos são exclusivamente marinhos e as lulas são os maiores dos invertebrados conhecidos (há lulas gigantes, com mais de 15 m de comprimento).

Curiosidade

Os cefalópodos locomovem-se por jato-propulsão, isto é, a saída de água dá-se através de um sifão. Eles defendem-se por camuflagem e, ainda, por eliminação de tinta, facilitando a sua fuga, pois essa secreção confunde o inimigo.

Classe amphineura (=polyplacophora)

Os quítons são muito primitivos, possuindo uma cabeça reduzida, sem olhos ou tentáculos. A concha dorsal está formada por oito conchas imbricadas produzidas pelo manto. O animal rasteja no fundo e, com auxílio da rádula, raspa algas nas pedras.

Classe scaphopoda

Os dentálios são os mais atrasados dos moluscos, tanto é que, apesar de serem exclusivamente marinhos, não têm brânquias, a respiração é cutânea (pelo manto). Vivem enterrados na areia, alimentando-se de plâncton capturado pelos tentáculos ciliados perto da boca. O manto secreta uma concha cônica.

Fisiologia dos moluscos

Revestimento

A epiderme é simples, ou seja, possui uma única camada de células rica em glândulas de muco e ciliada em geral. A massa visceral é revestida por uma dobra da pele, o manto ou pálio. Este contém glândulas que secretam a concha.

Na região posterior do animal, o manto faz uma dobra que delimita uma cavidade entre ele e a massa visceral, chamada cavidade palial ou cavidade do manto, onde encontramos o ânus, as brânquias e, às vezes, o pneumóstoma, os poros de excreção e a abertura genital.

A concha corresponde a um exoesqueleto e os moluscos podem ser univalvos, quando há apenas uma concha. Se ela for externa, como na maioria, chama-se exoconcha; se for interna, como na lula, formando uma pena transparente (gládio, pena ou siba), chama-se endoconcha. Às vezes, podem apresentar duas conchas. Neste caso, são ditos bivalvos.

Digestão

O tubo digestivo é completo e a maioria apresenta na boca uma estrutura característica do grupo, que é a rádula.

Com essa língua munida de dentículos quitinosos, o animal raspa algas e outros alimentos. A rádula não aparece nos bivalvos filtradores como a ostra e o mexilhão. A digestão é, via de regra, extracelular.

Excreção

É realizada por um par de rins esbranquiçados chamados nefrídios ou órgãos de bojanus, situados na câmara pericárdica.

Cada nefrídio é uma espécie de funil, longo e dobrado, que retira as excreções da cavidade pericárdica e dos vasos sangüíneos que circulam em sua proximidade. Pelo conduto do nefrídio as excreções são eliminadas do corpo do animal.

Respiração

Na maioria dos moluscos, a respiração é feita por meio de brânquias ditas ctenídeos, localizadas na cavidade palial.

Em alguns moluscos terrestres (lesma) e nos transmissores da esquistossomose e fasciolose

(biomphalaria e lymnea) a respiração é pulmonar, isto é, realizada pela própria cavidade palial. Esta funciona como um pulmão primitivo, tendo um orifício para a entrada de oxigênio e saída de gás carbônico, o pneumóstoma. Os moluscos primitivos não têm sistema respiratório; portanto, a respiração é cutânea ou tegumentar.

Circulação

Na maioria dos moluscos, a circulação é aberta (também chamada lacunar) ou hemocélica, como nos artrópodos. O coração tricavitário (duas aurículas e um ventrículo) é um órgão musculoso dorsal que recebe o sangue oxigenado proveniente das brânquias e o impulsiona por um sistema ramificado de vasos e de lacunas (hemoceles ), nas quais estão mergulhados os órgãos.

O pigmento respiratório, como nos crustáceos, é a hemocianina de cor azulada ou a hemoglobina.

Nos moluscos mais complexos, os cefalópodos, a circulação é fechada, pois o sangue circula apenas no interior dos vasos e as trocas de alimentos e gases ocorrem entre

Coordenação

O sistema nervoso é do tipo ganglionar ventral descentralizado, mostrando vários pares de gânglios unidos por cordões nervosos:

 

    • Gânglios cerebróides: localizam-se na cabeça e são centros sensoriais.

 

    • Gânglios pedais ou pediosos: localizam-se nos pés e comandam a locomoção.

 

    • Gânglios viscerais: inervam os órgãos internos e têm função vegetativa.

 

    • Gânglios pleurais: inervam o manto.

 


Os moluscos possuem olhos complexos nos cefalópodos e olhos pedunculados nos gastrópodos

(ocelos); estatocistos para o equibrio; osfrádios, que são células quimiorreceptadoras, e células de Fleming no tegumento para o tacto.

Reprodução

Os moluscos em geral são dióicos (sexos separados), embora os caracóis terrestres sejam monóicos. A fecundação é recíproca, cruzam interna ou externamente, sendo, portanto, ovíparos ou ovulíparos. O desenvolvimento é direto nos cefalópodos e caracóis terrestres; entretanto, é indireto nos:

 

    • gastrópodos aquáticos - larvas véliger e trocófora.

 

    • pelecípodos - larvas gloquídie e véliger .

 

    • anfineuros e escafópodos - larva trocófora.

 


Nos polvos e lulas, o macho usa um dos tentáculos para transferir uma bolsa de espermatozóide para a fêmea

 

  • O espermatóforo.

Nos hermafroditas é rara a autofecundação, sendo mais comum a fecundação recíproca. Em algumas espécies, o indivíduo produz, inicialmente, só gametas masculinas, funcionando como macho; a seguir, produz gâmetas femininos, funcionando como fêmea. Essa gônada denomina-se ovotestis e também existe nas aves.

Bibiografia

AMARAL, L; MENDES, F, Ciências da natureza matemática e suas tecnologias, São Paulo, S/A.