Por: Ezequiel Cumbe

FONTES HISTÓRICAS

 

PRIMEIRAS SOCIEDADES MOÇAMBICANAS

 

FONTES HISTÓRICAS


A história, como conhecimento do passado humano, não pode atingir diretamente o passado, mas apenas através de vestígios que esse passado deixou e que servem de base ao trabalho do historiador. Fonte histórica é tudo aquilo que exprime o homem, um indício que revela a presença, actividade, sentimentos, mentalidade do homem.

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Tipos de fontes históricas


A noção de fonte histórica abarca textos, monumentos, observações de toda a ordem, sinais, palavras e paisagens, em resumo é tudo o que nos pode informar sobre o passado dos homens. Portanto, podem se identificar diferentes tipos de fontes históricas: escritas, figuradas, orais e gravados ou audiovisuais.

    1. Fontes Escritas - manuscritas ou impressas, incluem inscrições, jornais, cartas, documentos oficiais, entre outras¸ dividem-se em:

 

    1. a) Epigráficas – inscrições gravadas em materiais duros como a pedra, o bronze, ou a cerâmica. Geralmente são textos curtos, com fins comemorativos, funerários, etc.

 

    1. b) Arquivísticas ou Diplomáticas: documentos de carácter oficial (diplomas, tratados) ou de carácter jurídico (escrituras notariais, actas de assembleias, inventários, sentenças, registos paroquiais, Legislação geral ou especial, documentação geral).

 

    1. c) Literários ou Narrativas: Livros, oratória, anais e crónicas, hagiografias, narrativas diversas.

 

    1. Fontes Materiais ou Arqueológicas - Vestígios materiais do homem (fósseis, restos de utensílios domésticos, monumentos, objectos de arte, ou paisagens com marcas dos homens que a trabalharam).

 

    1. Fontes Orais - informações transmitidas de geração em geração sob a forma de conto, lenda e outras formas com o objectivo de transmitir a memória dos antepassados.

 

    1. a) Documentos gravados ou audiovisuais - Transmitido por sons ou imagens (fita magnética, disco, cilindro, desenho, pintura, mapa fotografia, filme, microfilme).



PRIMEIRAS SOCIEDADES MOÇAMBICANAS


Moçambique foi inicialmente habitado por comunidades pertencentes a dois grupos – os Khoi- Khoi e os San, conjuntamente designados Khoisan. Em virtude de terem na caça e na recolecção as suas actividades económicas principais são também conhecidos como comunidades de Caçadores e Recolectores. Trata-se de comunidades com formas de vida económica, política e sócio-cultural bastantes simples.

Economia e organização social


A base da economia das comunidades Khoisan era a caça e recolecção. Os Khoisan limitavam-se a caçar ou recolher frutos, mel, ovos, folhas e outros produtos disponíveis no meio em que viviam. Significa isto que estas comunidades não desenvolviam qualquer actividade produtiva.

Na comunidade, todos os membros envolviam-se na vida económica e social, mas cada um ocupava-se de tarefas que estivessem de acordo com a sua capacidade física. Assim as mulheres, os velhos e as crianças realizavam tarefas relativamente menos pesadas e menos perigosas como a recolecção, a limpeza dos acampamentos, e outras enquanto aos homens cabiam as tarefas mais pesadas e perigosas em especial a caça. A esta forma de organização do trabalho chama-se divisão natural do trabalho.

Para a realização das suas actividades eram usados instrumentos pouco aperfeiçoados geralmente feitos de pedra, madeira, ossos, chifres. Uma vez que a pedra constituía o principal material para o fabrico de instrumentos de trabalho considera-se que uma das características destas comunidades é o uso da técnica líctica, ou seja, da técnica da pedra.

Tanto a caça como a recolecção são actividades cujo produto serve para o consumo imediato, por isso a economia destas primeiras comunidades caracterizou por aquilo a que se chama Imediatismo de produção/consumo. Não havia qualquer acumulação de excedente.

A caça e recolecção são actividades que podem ser realizadas individualmente. Uma pessoa, sozinha, pode caçar um pássaro ou um animal de pequeno porte ou ainda apanhar um fruto ou qualquer produto no mato. Portanto, neste tipo de economia, não existe uma estrita necessidade de as pessoas se juntarem para conseguir alimento. Sendo assim, nestas comunidades não foram constituídas formas de organização social permanentes.

As pessoas viviam em bandos instáveis. Também eram nómadas, uma vez sempre que os animais ou plantas começavam a escassear num certo lugar as pessoas eram obrigadas a procurar novos sítios com maior disponibilidade de alimentos.

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III. A EXPANSÃO E FIXAÇÃO BANTU


Depois da predominância das comunidades Khoisan, a partir do século III começaram a chegar a Moçambique novos povos provenientes da África Ocidental, especialmente da orla noroeste da Grande Floresta Equatorial – os povos de língua bantu.

Vários autores debruçaram-se sobre a expansão Bantu apresentando as mais diversas ideias sobre as origens dos bantu, as razões da sua expansão e percurso até a África Austral incluindo Moçambique. Analisando as diversas ideias, Martin Hall resume em três aspectos fundamentais as grandes discussões que linguistas, arqueólogos e historiadores têm realizado sobre a expansão bantu:

1º Aspecto

Os povos bantu eram uma nova raça que teria emigrado para o sul, substituindo e absorvendo as comunidades primitivas que habitavam a África Austral – Esta é uma concepção rácica da expansão. Ela foi prontamente criticada e posteriormente abandonada.

2º Aspecto

Os povos bantu não eram uma nova raça, mas sim, povos falantes de línguas aparentadas entre si – o bantu. É a chamada teoria linguística. O termo bantu passou a ser utilizado a partir de 1862, graças ao trabalho do linguista alemão Bleek, que descobriu o grande parentesco em cerca de 300 línguas faladas na região Austral.

Esta teoria, tem várias vertentes para explicar a expansão bantu:

i) Para GREENNBERG, Joseph, a migração bantu deu-se em direção ao sul, a partir da zona de fronteira entre os Camarões e a Nigéria;

ii) GUTHRIE, Malcom, defende que o centro da expansão teria sido a região de Luba na Província de Shaba, na República Democrática do Congo;

iii) OLIVER, Roland, concordou com ambos, defendendo que suas teorias se complementavam e acrescenta um novo dado – a expansão obedeceu a quatro fases distintas;

iv) PHIPLLIPSON, David, defende que a origem da expansão encontra-se na floresta dos Camarões, com dois movimentos distintos: um que contornou a Grande Floresta para a região dos Grandes Lagos (a Oriente) e outro que seguiu atravessando a Grande floresta em direção a República Democrática do Congo e Angola;

v) EHRET, Cristopher, acredita que as línguas bantu espalharam-se através da zona tropical com um período de diferenciação local nas regiões de floresta de Savana antes da sua expansão final para oriente e região sul-oriental.

3º Aspecto

A expansão bantu estaria ligada à domesticação das plantas e animais, à cerâmica e ao trabalho do ferro. O desenvolvimento desta economia mista (agricultura, pastorícia e metalurgia), permitiu a sedentarizarão das populações, a especialização no trabalho e o surgimento da desigualdade social.

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NOTA: em Moçambique, as evidências da fixação bantu, foram gradualmente reveladas, em diversas estações arqueológicas. Estamos a falar das estações de Matola, Xai-Xai, Vilanculos, Marrape, Hola-Hola, Mavita, Chongoene, Bilene, Zitundo, Serra Maúa, Monte Mitukwe, entre outras