os Sofistas – GÓRGIAS.
 
GÓRGIAS nasceu em Leôncio, na Sicília, provavelmente em 484 a. C. Obteve grande glória diante do povo através dos seus discursos, quer em Leôncio, quer em Atenas. Foi contemporâneo de Sócrates, com quem travou grandes debates e ambos quem afirmava ser amigo. É o epónimo e protagonista da obre de Platão, “Górgias”. Morreu na Tessália, com cerca de cem anos. Durante sua vida andava de cidade em cidade a ensinar retórica. O nome SOFISTA é criação dos seus discípulos a ele atribuído para significar “mestre da sabedoria”. Na sua obra intitulada “SOBRE A NATUREZA”, ou seja, “SOBRE O QUE NÃO É”, Górgias transforma o relativismo de Protágoras em cepticismo radical ao afirmar que “nada existe”.
 
Segundo o nosso ilustre filósofo, nada existe, pois para existir é necessário: ou existir sem não gerado ou então sendo gerado. Se não foi gerado, é eterno e assim também é infinito; mas se é infinito não está em nenhum lugar. Mas se foi gerado é necessário admitir aquele que o gerou, e esse o seu gerado e assim por diante sem que se chega ao ser. Ainda uma coisa é o pensa e outra o ser, pode-se pensa algo que não existe, por exemplo as fantasias. Por final, as palavras não são as coisas mesmas mas querem significar as coisas, logo se existisse algo não se deixaria comunicar. Conclusão, “nada existe, se existisse algo não poderíamos conhecê-lo; e se pudéssemos conhecê-lo não poderíamos comunicar nosso conhecimento aos outros.”
 
Assim, tudo é incerto, não há verdades absolutas, não há verdade nem mentira. A verdade ou a mentira é fruto do poder ou fraqueza da palavra, do discurso, daí a retórica ser a arte mas nobre. Isso também vale na política: não existe leis universais, nem uma política que é detentora de um discurso verdadeiro a prior. Pois a verdade e a falsidade estão sempre presentes. Assim a autenticidade de toda a política não está nas leis universais, mas no KAIROS (momento oportuno). Assim o KAIROS ou o momento oportuno é o único critério para a acção política e de todo o homem político. Toda a acção política é justa se realizada no momento oportuno. Assim, Platão estaria errado ao afirmar que é o filósofo o detentor da verdade e, portanto, é o filósofo que deveria governar. Para Górgias, o filósofo não tem também senão opinião das coisas como qualquer outro cidadão.
 
Nesse sentido, já que tudo é uma aparência, uma incerteza, a verdadeira justiça social consiste em iniciar todos os cidadãos na retórica, isto é, a saber manipular o logos, a palavra. Pelo poder da palavra cada um traria a existência tudo aquilo que não existe, como a ideia de amor, beleza, justiça, morte… e faria de todas as coisas o que elas mesmas são: nem verdadeiras nem falsas, mas uma ocasião certa.
Bom, parece ser uma filosofia mesquinha, mas dizer que em Górgias podemos tirar várias implicações e é o que faremos na próxima intervenção. 
 

Implicações da filosofia de GÓRGIAS.

 
Como propomos, hoje tiraremos algumas implicações da filosofia de GÓRGIAS. Você lembra que GÓRGIAS começa logo a chocar com a pretensão de verdades absolutas. Essa ideia de que é uma ilusão querer encontrar verdade nas coisas, pois ela (a verdade) não existe, vai influenciar quase toda a história da filosofia mormente a Filosofia Contemporânea. Por exemplo Nietzsche, o loco mais lúcido da história (ironia), chamará isso de SEDE DE VERDADE; e dirá: “os homens inventaram o ideal para fugir do real”, ou seja, a realidade é agressiva, ela espanca o homem que desejando a felicidade não a encontra na chuva que leva a sua casa, no forte que domina o fraco, na mulher/homem que trai o seu amor… assim foge da própria vida (REAL) inventando outra (IDEAL) na qual se refugia. Assim surge o amor, a humildade, o paraíso…, ou seja, o homem criou tais verdades que se mostram absolutas para negar a incerteza. Hoje é difícil pensar assim, mas talvez O HOMEM É FRACO DEMAIS PARA VIVER A VIDA TAL COMO ELA É, SEM VERDADE.
 
Outra implicação, entre várias, e sobre o KAIROS ou momento oportuno. Daremos aqui um exemplo que de tão simples que é vale para tudo. Você se apaixona por uma mulher e ela te rejeita. O que você pensa? Certamente terás o complexo de inferioridade e pensarás que a tua configuração estética não desperta aquiescência. Tudo porque te ensinaram desde criança a pensar que a beleza, valor absoluto, existe. Ninguém pode negar que hoje é de facto assim que se passa. Mas nessa circunstância, GÓRGIAS pegaria nos teus ombros e diria que não é assim. Não existe beleza em si para conquistar alguém. Tudo o que existe é o momento oportuno. Se calhar a mulher que você gostou já esteja tão repleta de carinho que acha que já não tens nada a lhe acrescentar, ou ainda, talvez não precisa do amor que tanto tens mas somente do dinheiro que tanto te falta, ou seja, o teu amor está a ser aplicado num momento errado inoportuno, espera o momento certo, oportuno, ou seja, o KAIROS, isto é, espera que lhe falte carinho, ou tenha dinheiro, que a mulher será tua.
 
Bom, não vim aqui julga nenhum filósofo, por isso não direi se Górgias está certo. Mas uma coisa digo, tudo o que esse cara falou deve nos levar a pensar muito sobre a nossa vida: sobre nós mesmos e o que fazemos, sobre nosso comportamento e sobretudo sobre o que acreditamos. Talvez exista mesmo verdade absoluta mas nunca teremos certeza se não a buscarmos por nós mesmos e não porque a mãe disse. Quanto a maior verdade absoluta, talvez amássemos melhor a Deus se lhe amássemos por nós mesmos e não porque o padre ou pastor obriga. Comece agora mesmo a se questionar. PENSAR FAZER SER.