A CONCEPÇÃO DE ARISTÓTELES SOBRE A “NATUREZA


Aristóteles também aborda sobre as questões ligadas a “Natureza” na sua obra intitulada “De anima” e nesta obra ele faz um tratado sobre alma que segundo ele é o princípio animador de todos os seres vivos. Nesta obra, ele discorre sobre a alma e defende a ideia de que alma é o princípio que diferencia os seres animados dos inanimados, vista a priori como o princípio de organização do corpo.

Sabe-se que até então a questão corpo e alma foi construída, no mundo grego, pela posição dualista platónica (a alma como substância incorpórea) ou pela materialista demócrita (a alma é matéria). Aristóteles por sua vez apresenta novidades ao estabelecer essa relação, apresentando as duas dimensões dos seres animados e encontrando um meio-termo entre as duas tendências a pouco expostas, nesse sentido ele concebe a alma de variadas formas, a saber:

A alma como princípio dos animais


Tal como se pode ver em Aristóteles (2012: 65), no versículo 410a13, existem seres e estes são aquilo que são, podendo ser ditos de variadas maneiras (por um lado pode significar, por outro lado, pode ser algo determinado e por outro, qualidade, quantidade ou ainda outra das diversas categorias). Dentro do conceito “ser”, Aristóteles distingue dois tipos de seres, a   saber: os seres animados e os seres inanimados. Os seres animados são os que têm vida e os seres inanimados são aqueles que não têm vida. Nesse sentido pergunta-se sobre o que na realidade vivifica ou simplesmente dá vida a esses seres animados. À resposta desta indagação que a ele mesmo se faz, sobre o que vivifica os seres animados ele diz que é a alma. Para ele, existe um princípio que garante esta diferenciação dos seres animados dos inanimados, que é a alma.

A alma enquanto uma substância e a sua relação com o corpo


Segundo Aristóteles citado por Reale & Antiseri (1990:189), é necessário que a alma seja substância como forma de um corpo físico que tem vida em potência, mas a substância como forma é enteléquia de um corpo assim. Nesse sentido, a alma é enteléquia primeira de um corpo físico que tem vida em potência. É por isso que a alma é a primeira actualidade de um corpo em potência da vida.

A alma para Aristóteles é a substância segundo a determinação, vale dizer, o que é para um corpo de tal tipo, ser o que é. “Se um instrumento fosse um corpo natural, por exemplo um machado, a sua substância seria o que é ser para machado e isto seria neste caso a sua alma” (Aristóteles, 2012: 72). Nota-se entretanto que a alma não é a determinação e o que é ser o que é para um corpo desse tipo, mas sim de um corpo natural, tal que tenha em sim mesmo um princípio de movimento e repouso.

Na sua relação com o corpo, a priori a questão lançada pelo filósofo, a primeira relação que faz com o corpo e a alma, está em dizer que “na maioria dos casos, a alma nada sofre sem o corpo” (Aristóteles, 2012: 46) É com esta afirmação que ele começa a relacionar estas duas categorias em seu tratado, de início parecem se distanciar ou separar. Diz ele que há ainda dificuldade de saber se as afecções da alma são todas comuns àquilo que possui alma ou se há também alguma afecção própria à alma tão somente.

Revela-se que em muitos casos, a alma nada sofre ou faz sem o corpo, como por exemplo irritar-se, persistir, ter vontade e perceber em geral, por outro lado, parece ser própria à ela particularmente o pensar. “…se também o pensar é um tipo de imaginação ou se ele não pode ocorrer sem a imaginação, então nem mesmo o próprio pensar poderia existir sem o corpo ” (Aristóteles, 2012: 47). Nesse sentido, pode-se perceber que se alguma das funções ou afecções é própria à alma, ela poderia existir separada, mas se nada lhe é próprio, a alma não separável do corpo.

Parece também que todas as afecções da alma como: ânimo, mansidão, medo, comiseração, ousadia, bem como a alegria, o amar e o odiar são afecções que ocorrem com um corpo, pois o corpo é afectado de alguma forma simultaneamente a elas. Diz Aristóteles na mesma página supra citada, que isto é indicado pelo facto de que algumas vezes mesmo emoções fortes e violentas não produzem em nós excitação ou temor; outras vezes contudo somos movidos por emoções pequenas e imperceptíveis. Assim, é evidente que as afecções são determinações na matéria.

A alma como o ponto de partida do movimento local


Segundo Aristóteles (2012: 80), de facto, a alma é também de onde primeiro parte o movimento local, embora esta potência não subsista em todos os seres vivos. Inclusive o crescimento e alteração existem segundo a alma, pois há a opinião de que a percepção sensível é uma certa alteração e aquele que não participa da alma, nada percebe. De maneira semelhante ocorre também em relação ao crescimento e ao decaimento, pois nem decai e nem cresce naturalmente aquele que não é nutrido e nada que não compartilhe a vida se nutre.  A alma é também um em vista de algo, pois assim como o intelecto produz o em vista de algo, da mesma maneira a natureza também o faz e este algo é o seu fim.

Como os fenómenos da vida pressupõem determinadas operações constantes claramente diferenciadas, então também a alma que é o princípio da vida, deve ter capacidades, funções ou partes que presidem essas operações e as regulam. Ora os fenómenos fundamentais da vida são: de carácter vegetativo (como nascimento, nutrição e crescimento), carácter sensitivo-motor (como sensação e movimento) e de carácter intelectivo (como conhecimento, deliberação e escolha).

A divisão das almas e as suas respectivas funções segundo Aristóteles


Segundo Reale & Antiseri (1990: 198) citando Aristóteles, as plantas possuem só uma alma vegetativa, os animais possuem a alma vegetativa e sensitiva e os homens possuem as as almas vegetativa, sensitiva e a racional. Para possuir a alma racional, o homem deve antes possuir as outras duas. Da mesma forma, para o animal possuir a alma sensitiva é necessário que possua a vegetativa, no entanto é possível possuir a alma vegetativa sem possuir as outras almas subsequentes.

A alma vegetativa é o principio mais elementar da vida, vale dizer, o principio que governa e regula as actividades biológicas. A alma sensitiva tem como função a sensação. E a alma intelectiva é o pensamento e as operações a ele ligadas. É a alma que percebe a sensação.

CONCLUSÃO


Face aos detalhes patentes no tema: “A concepção de Aristóteles a Natureza” chegamos a conclusão de que Aristóteles concebe a Natureza como alma, porque a alma é o que dá vida aos seres animados. A alma é a substância de certo modo; é o que torna os distintos os seres animados dos seres inanimados; é o princípio que dá vida ou que vivifica os seres animados.

Ficou claro também que para Aristóteles, a Natureza nada é, separada da matéria, tal como a alma e o corpo são dois elementos relacionados; a alma depende do corpo, pois como diz Aristóteles, a alma sem o corpo nada pode sentir e nada pode fazer.

Aristóteles distingue três tipos de almas que são: alma vegetativa que é própria das plantas, a alma sensitiva que é própria dos animais e a alma intelectiva que é própria do homem e que não pode possuir esta última sem antes possuir as duas primeiras, do mesmo modo que não se pode possuir a segunda sem antes possuir a primeira, porém pode-se possuir a primeira, que é a vegetativa, mas sem se possuir as duas últimas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ARISTÓTELES. De Anima. (trad.) Maria Cecília Gomes dos Reis. 2. ed., São Paulo: 34, 2012.

REALE, Giovani; ANTISERI, Dario., História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média. 3. ed., São Paulo: Paulus, 1990, vol. 1.