Socialismo refere-se a qualquer uma das várias teorias de organização económica, advogando a administração, e a propriedade pública ou colectiva dos meios de produção, e distribuição de bens e de uma sociedade caracterizada pela igualdade de oportunidades/meios para todos os indivíduos, com um método mais igualitário de compensação.

O socialismo moderno surgiu no final do século XVIII tendo origem na classe intelectual e nos movimentos políticos da classe trabalhadora que criticavam os efeitos da industrialização e da sociedade sobre a propriedade privada. Karl Marx afirmava que o socialismo seria alcançado através da luta de classes e de uma revolução do proletariado, tornando-se a fase de transição do capitalismo para o comunismo.

A maioria dos socialistas possuem a opinião de que o capitalismo concentra injustamente a riqueza e o poder nas mãos de um pequeno segmento da sociedade que controla o capital e deriva a sua riqueza através da exploração, criando uma sociedade desigual, que não oferece oportunidades iguais para todos a fim de maximizar suas potencialidades. Todavia, o socialismo tem sofrido varias críticas, principalmente pela visão dos realistas, segundo a qual, estamos prerante uma visão utópica e deslocada da realidade. Nesta obra, Claude Willard percorre os caminhos da ideia socialista desde o Renascimento até aos dias de hoje, passando pelas Internacionais, Revoluções e surgimento das democracias populares na Europa do pós-guerra.

1.Análise Textual

1.1.Vida e Obra

Claude Willard foi um professor em mérito da universidade de París, São Denis VIII e presidente da associação dos amigos da Comuna de París. Autor de numerosas obras: Jules Guesdes: escolhas de textos (1867 – 1882), Edição Social 1959; Movimento Socialista na França (1893 – 1905); As Guias, Tese dos Estados, Edição Social, 1965, O Socialismo – Do renascimento aos nossos dias, 1971, Socialismo e Comunismo Francês, Colin, 1978, A Génese do Partido Liberal, Edição Social 1981; O Lendário que Canta, Messidor 1986, Jules Guesdes; A Aposta e a Lei – Biografia, Edições Liberais, 1991. Ele dirigiu desde os anos 1980 um grupo de trabalho de CNRS do Instituto Banimento e Mudanças Urbanas. 1.2.Vocabulário Socialismo - É uma doutrina política e económica que surgiu no final do século XVIII e se caracteriza pela ideia de transformação da sociedade através da distribuição equilibrada de riquezas e propriedades.

Utopia – É a ideia de um futuro ideial. Cenário, país ou Estado ideial em que tudo estaria organizado da melhor forma possível para a felicidade completa de todos. Comunismo - é uma ideologia política e socioeconómica, que pretende promover o estabelecimento de uma sociedade igualitária, sem classes sociais e apátrida, baseada na propriedade comum e no controle dos meios de produção e da propriedade em geral. Idealismo – é uma corrente filosófica que emergiu apenas com o advento da modernidade, uma vez que a posição central da subjectividade é fundamental

Revolução – É uma mudanç fundamental no poder politico ou na organização estrutural de uma sociedade e, que ocorre em um período relativamente curto de tempo.

Babuvismo – Doutrina de Babeuf e de seus discípulos, que visava a instauração de uma espécie de comunismo igualitário. Marxismo – É o conjunto de ideias filosóficas, económicas, políticas e sociais elaboradas primariamente por Karl Marx e Friedrich Engels e desenvolvidas mais tarde por outros seguidores.

Ideologia – No senso comum o termo ideologia é sinónimo ao termo ideário, contendo o sentido neutro de conjunto de ideias, de pensamentos, de doutrinas ou visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo.

Bolchevismo – É de origem russa e significa maioria do russo Bolchinstwo. É uma prática política baseada nas teorias de Karl Marx, formulada, adoptada e desenvolvida por Vladimir Lenine e Joseph Stalin.

Estalinismo – designa o período em que o poder político na antiga União Soviética foi exercido por Joseph Stalin.

Fascismo – É um regime autoritário criado na Itália, que deriva da palavra fascio, que remetia para uma aliança ou federação. 1.3.Factos Históricos O Babuvismo – comunismo igualitário e frugal do Séc. XVIII – com a destruição das estruturas feudais e instauração da liberdade económica abre-se o caminho para capitalismo e que por conseguinte recebe críticas e e ferozmente combatido com a conspiração de Marco de 1796, a qual pretende instaurar uma Sociedade dos Iguais. Todavia, o plano fracassa com a denúncia de um informador e os insurgentes são presos e jugados. Fazem parte desse leque de insurgents, Babuef e Darthe, que foram condenados a morte e executados. Marxismo – caracterizado pela publicação do “Manifesto do Partido Comunista” em Dezembro de 1847 e publicação do primeiro volume de “O Capital” em Setembro de 1867. Também podemos referenciar os “Manuscritos de 1844”. A.I.T. – Associação Internacional dos Trabalhadores – nasce a 28 de Setembro de 1864 em Londres, o qual se guia pelos estatutos escritos por Marx. Atinge o seu apogeu entre 1868 e 1870, tendo sido desmantelada em 1876, quando ja encontrava-se moribunda. Comuna de Paris – de 18 de Março a 28 de Maio de 1871, considerada como uma revolução de transição entre as revoluções do Séc. XIX e as do Séc. XX. Revolução de Fevereiro e de Outubro de 1917 – as quais abalaram a Rússia e trazem inúmeras reformas no sistema político e social. O movimento de 4 de Maio de 1919 e o nascimento do Partido Comunista Chines –o qual insurge-se contra a antiga ordem e simultaneamente contra o captalismo estrangeiro. Revolucao Chinesa – 1927 a 1949 – consubstanciada pelo apoio dos camponeses como a força principal. Consagração da autoridade de Mao Tse-Tung – Janeiro de 1935 – no decurso da “Longa Marcha” muito por causa do triunfo da estratégia rural. Em 1937 ocorre a Invasão da China pelo Japao e em 1949 sucede o triunfo da Revolução Chinesa. A subida de Hitler ao poder – 5 de Marco de 1933 – torna pesada a atmosfera internacional e vislumbra-se um cenário de conflito mundial. 1.4.Esquematizacao do Texto A obra ora em análise, apresenta 15 (quinze) capítulos os quais estão subdivididos e subcapítulos descrevendo a tragectoria do socialismo em diferentes épocas e a sua consolidação como filosofia politico-social. A mesma segue a seguinte ordem: I – Orientação e fontes da história do socialismo II – O comunismo utópico e religioso III – O comunismo e frugal do século XVIII: o babuvismo IV – O “socialism utópico” (primeira metade do seculo XIX) V – A propósito de Marx e do marxismo VI – A I Internacional (1864-1876) VII – A Comuna de París (18 de Marco – 28 de Maio de 1871) VIII – A II Internacional (antes da primeira Guerra mundial) IX – As recoluções europeias de 1917-1919 X – Eclosão e metamorphose do Partido Comunista Frances XI – A edificação do socialismo na U.R.S.S. XII – A Frente Popular XIII – As origens da Revolução Chinesa XIV – Criação de um Sistema socialista mundial XV – Problemas internos do mundo socialista 2. Análise Temática 2.1. Tema O presente trabalho tem como premissa a leitura analitica da obra de Claude Willard - “O Socialismo: do renascimento aos nossos dias”. 2.2. Ideia Central O autor baseia-se em aspectos negligenciados no percurso e evolução do sistema socialista, fazendo historial detalhado sobre a origem e principais acontecimentos marcantes na história global os quais de certo modo influenciaram a ascenção do proletariado a revoltas e criação de um sistema igualitário tendo como pressuposto a eliminação das assimetrias das classes. 2.3. Raciocínio do autor Willard não se limita a uma mera narrativa dos factos que ditaram a dinâmica dos movimentos socialistas. Ele mergulha na profundidade das circunstâncias e dos acontecimentos que são a determinante para criação de alicerces do sistema ora em aprêço. 2.4. Esquematização das ideias do texto A obra ora em análise encontra-se disposta de forma cronológica para melhor compreensão dos factos e acontecimentos arrolados tendo em conta a ligação dos diferentes aspéctos determinantes na sustentação do socialismo e seus subprodutos. O autor faz deste modo uma resenha historial do socialismo desde a fase embrionária até aos nossos dias passando pelas diferentes revoluções, sendo algumas efectuadas com sucesso e outras remetidas ao fracasso devido a diversos factores mencionados e explicados detalhadamente. 3. Análise Interpretativa 3.1. Interpretação do texto Capítulo I – Orientações e fontes da história do socialismo Durante longo período, a história do socialismo e dos movimentos sociais descrevia apenas os pontos altos, enaltecendo as ideologias, satisfazendo a centralidade e legitimidade dos conflitos sociais. Todavia, a história social apoia-se no estudo concreto dos grupos sociais respondendo uma infinidade de questões baseadas nas relações ideológicas, políticas, culturais. Numa análise aprofundada dos partidos socialistas tomam-se em conta não só suas doutrinas, programas e acções políticas, mas também aspectos ora negligenciados a citar: a) Os efectivos – com estatísticas com uma margem de erro, as quais baseiam-se nas publicações do partido e que tendem a agradarem aos responsáveis e os partidários. A contagem com uma menor margem de erros tende a ser do número de membros pagantes, tal que ajuda no cálculo da quotização. Todavia, nem todos partidos tem em sua rotina essa cultura. b) A sua implantação geográfica – como esta configurada a distribuição das forças pelo território. Estas estatísticas têm menor margem de erro no número de votos angariados em cada votação, nos registos de actos difundidos na imprensa baseados na capacidade de influência das massas em acções conjuntas. Todavia, há a registar contagem fictícias ou de registos policiais que tendem a aumentar ou diminuir a existência de determinado número em função da necessidade. c) A sua composição social – baseados nos inquéritos feitos para verificação da estratificação social, tendo registado maior número na classe média e baixa, sendo estas facilmente manipuláveis. d) As estruturas de organização – o estudo comparativo revela diversidade nos partidos socialistas consubstanciados pela localização, no funcionamento das organizações de base (periodicidade das reuniões, recursos financeiros...), no relacionamento com organizações de massas (sindicatos, cooperativas, grupos juvenis...), na hierarquização dos partidos nas relações entre centralismo e democracia. e) Tipologia do militante e do dirigente – invoca-se os motivos da adesão ao socialismo a citar: origens (sociais, regionais e familiares), formação e cultura (educação e ambientação), meio profissional, acontecimentos relevantes (guerras, revolução, escandalos políticos...) e propaganda ou acção do partido socialista. f) Orgãos e temas de propaganda – o modo de actuação e propagação de informação partidária, que levam em conta os seguintes aspectos: organização, difusão e financiamento dos jornais (subentende orgãos de informação controlados ou finaciados pelo partido); apresentação e estilo dos jornais (formato e estrutura física); abrangencia as classes média e baixa de modo a guiar a opinião pública e por fim o conteúdo intelectual (dando forma a espaço físico ocupado e escolha de vocabulário). As fontes impressas – sendo o principal elo de dessiminação propagandístico, no qual podemos citar três grandes tipos: obras socialistas (revistas, brochuras, memórias...), imprensa socialista e relatórios dos congressos partidários. b) Os arquivos públicos franceses – os quais tinham como objectivo a vigilância e repreensão oferecem uma imagem totalmente distorcida do sistema socialista, tendo em conta a necessidade de por um lado diabolizar o sistema e por outro, tranquilizar os superiores. Assim sendo, deparamo-nos com um enorme problema de credibilidade apesar da utilidade das mesmas. Podemos referenciar os arquivos judiciais e arquivos administrativos. c) Arquivos particulares – um importante acervo dos partidos socialistas, que ate 1914 confundiam-se com arquivos dos dirigentes, e negligenciados pelos familiares ou herdeiros, pelo facto de temerem estar na mira de perseguições. Mais importante ainda são os arquivos pessoais dos dirigentes dessidentes ou excluidos, que a posterior eram enriquecidos e continham informações valiosas sobre as dinâmicas partidárias e itinerário ideológico de determinado teórico. d) As fontes culturais – que por muito são ignoradas e mal exploradas, todavia tem muita informação sobre a formação, tipologia, a cultura e a mentalidade dos homens que defendiam determinada ideologia. O campo de abrangência vai desde bibliotecas até as universidades populares. e) Os testemunhos – compreende-se o relato pessoal dos determinados intervenientes do processo de evolução socialista, o qual poderá estar eivado de lacunas devido a acrescimos ou esquecimentos da fonte e a parcialidade da informação. Esta recolha de informação pode ser decepcionante, mas pode-nos revelar factos inéditos e recriar a atmosfera do cenário real. f) Os inquéritos a opinião – muitas fezes efectuados por institutos especializados tomando em atencão determinadas técnicas para evitar alterações de conteúdo e deformações. O carácter retrospectivo faz emergir duas grandes alterações a compreender: a recolha de informação baseada na morte da fonte oral, mudança de residência recusa de resposta de inqueritos e as falhas de memória e deformações incoscientes devido aos acontecimentos posteriores e eventuais atitudes políticas. Estas afectam em grave medida a fiabilidade e tornam incoerentes as informações recolhidas. O uso de longo período de tempo para elaboração de uma obra ou opinião tende a cair no desuso e fazem emergir problemas por resolver: a) O empirismo resultante da variedade de fontes; b) A comparação, evitando aproximações ou oposições exageradas tornando homogéneas. c) A multidisciplinaridade dos especialistas. Emergem assim novos métodos de abordagem com a constituição de equipas multidisciplinares em volta dos investigadores. Porem, vislumbra-se um perigo resultante da falta de coesão do grupo, fraquezas físicas ou quantitativas de um ou vários membros. De um outro lado, uma mecanização, permite a diminuição do tempo de processamento da informação mesmo sendo esta abundante e complexa. Este processo, depende de dois factores: a precisão e homogeniedade da informação e ainda a codificação. Um exemplo foi o recenseamento de 1946, o qual para evitar dispersão de informação em centenas de categorias e para facilitar a utilização da mecanografia, elaborou uma codificação socioprofissional baseada na profissão, lugar na produção e nível de formação. Capítulo II – O Comunismo utópico e religioso Tendo em conta a evolução, podemos aqui descrever alguns marcos importantes na construção socialista: 1516 – Thomas More, conselheiro de Henrique VIII e amigo de Erasmo, publica a obra “A Utopia”, descrevendo como sendo uma ilha fabulosa onde impera a felicidade, graças a erradicação da propriedade privada, sendo uma sociedade sem classes e problemas. 1521/1525 – Thomas Munzer incita os camponeses a uma revolução contra a nobresa e o clero, tentando contruir uma comunidade de eleitos. Estes surgiram como resultado da reforma luterana que desorientou a Alemanha e fez surgir um grupo de cristãos obcecados pela visão da Igreja primitiva. Todavia, a revolta foi suplantada e Munzer desacreditado. 1602 – Campanella, um frade dominicano que três anos antes liderou a ideia de expusão do invasor espanhol e a istalação de uma republica celestial e comunista. Foi preso, torturado e mantido sob carcere durante vinte e sete anos e redigiu na prisão a “Cidade do Sol” onde impera a felicidade e a comunhão dos bens. 1649 – Durante a primeira Revolução inglesa e sobre a corrente niveladora, Lutaud, recruta adeptos nas cidades e no exército e promove o movimento nivelador rural que insurge-se contra os cerrados que asfixiam a classe rural pobre e defendem a implantação de um comunismo agrário. Baseando-se no método comparativo, filósofos, historiadores e sociólogos tentaram apresentar a distinção entre utopia, ideologia, romance, reformas, mitos, ficção científica, romances fantásticos e outros, tendo sugerido algumas definições. K. Mannhein, sociólogo, da ênfase a circunstâncias sociais e políticas definindo que “um estado de espírito é utópico quando se encontra em desacordo com o estado da realidade dentro do qual se gera”. R. Ruyer, filósofo, apenas encara a utopia como um puro ponto de vista “num exercício mental sobre os possíveis laterais”. A. Gerlo apresenta a completa e mais exacta definição, baseada no colóquio consagrado de utopiasdo Renascimento: “A utopia aparece como uma forma de reflexão que se dedica a descrever de forma pormenorizada ou simplesmente delineada... uma sociedade ideal, imaginária, por consequência, onde os cidadãos vivem nas condições políticas e sociais que o autor considera melhores, isto é, as mais desejaveis”. Completando a definição com a descrição de J. Delameau, teremos “voltado resultantemente as costas ao presente, elas tinham duas faces, uma que olhava o passado e outra um futuro ainda longínquo”. O cenário pressupõe um universo em plena mutação, em crise político-social e ideológica profunda e que põe em causa todos valores consagrados. Um mundo em desespero e de esperança onde pensar em utopias e idealismos fora da realidade estão fora de questão. Uma questão ressalta: não serão os utópicos uns inadaptados? Os do séc. XVI e princípios do séc. XVII estavam atrasados em relação a sua época e não ficaram cientes disso. Enquanto o mundo virava para o individualismo, eles defendiam o colectivismo restrito. Construiam estados sem tradição e deslocados no tempo. Enquanto o captalismo ascendia, os utópicos mantiveram-se firmes na ideia de recusa da propriedade privada e a moeda. Pode-se considerar uma inadaptação ao presente, sobretudo o caso de More, onde prevalece o conflito com o existente. Ele pinta a Inglaterre com umas cores sombrias, e culpa as injusticas sociais como causa da miséria pública. Defende que “enquanto o direito a propriedade for o fundamento de todo o edifício social, a classe mais numerosa e mais digna de estima não recebera outro quinhão senão miséria, tormentos e desespero”. Vai ainda mais longe ao confesser pretender mais do que o possível e percebe que o utópico voa para um futuro irreal. A. Gerlo, sugeriu um programa sistemático e comparativo das grandes utopias renascentistas e dos seus temas essenciais podendo depois fazer-se uma comparação entre a renascentista e as passadas e toda a forma idealista em vigor. Primeira originalidade das utopias do renascimento era o seu caracter profundamente religioso Segunda característica sera a aparicão de uma utopia socialista baseada na ideia concebida por Platão. E por fim a terceira, que esse socialismo era ascético, tendo a mistura vários factores socio-produtivos. Afinal, qual a concepção humana na prespectiva utópica? Por um lado dedicam-se a descrever a condição desumana que os seres apresentam e procuram um remedio para o mal. Dai em diante, os caminhos tomam rumos diferentes, tendo Maquiavel caminhado para o realismo político e More para vagueia em direcção a Utopia. Qual a diferença nas suas abordagens? Embora pessimistas, More cre na criação como coisa em princípio boa demostrando ser um humanista cristão. Maquiavel por seu turno, não vê com bons olhos a sociedade, sendo que caracteriza-a como de indivíduos maus e incorrigíveis e nos quais não há esperança neles. Pode-se vislumbrar um choque entre o homem do passado, do presente e do futuro. A resposta para essa contradição está na forma visionária de cada investigador e a forma de análise das raízes. Ate ao séc. XX, as revoltas foram sempre caluniadas e despresadas pelo facto de serem os vencedores os escritores da história. A busca pela essência ocultada nos escritos, veio a ser obra de outros revoltados e revolucionários os quais procuravam anexa-las e apagando o registo temporal. O estudo das revoltas levanta sérios problemas, muito mais graves do que o investigador pelo défice documental. Por um lado vemos a revolta singular e por outro a rebelião das massas. Como esplicar essa problemática? A revolta surge como corrolário da opressão e miséria, sendo que o estudo dos problemas económicos e sociais indispensáveis para tal. O problema económico dos camponeses desprovidos não se torna suficiente a desencadear uma revolta. Para tal, também temos que contar com motivações religiosas, psicológicas e culturais. Capítulo III – O Comunismo igualitário e frugal do século XVIII: O Babuvismo O captalismo teve a sua porta aberta com a revolução que destruiu as estruturas feudais e instaurou a liberdade económica. Todavia, o captalismo foi imediatamente criticado e combatido com base numa conspiração para instauração da Sociedade dos Iguais. A história dispõe de um acervo relativamente rico sobre Babuef tal como nenhum outro protagonista da Revolução. Babuef teve o cuidado de guardar seus escritos e até rascunhos o que possibilitou a percepção dos seus ideais, apesar da historiografia alterar de certo modo os seus traços. As origens e marcha do comunismo de Babuef são descritas da seguinte maneira: primeira, a livresca, qual faz uma menção sobre a educação e influências sofridas pelo mesmo e o acervo que terá dado origem a tal pensamento; a segunda baseada no meio onde viveu até aos 33 anos de idade onde temos duas ideias divergentes, sendo uma que defende o ruralismo como uma influência preponderante e outra que defende que tratou-se da influência das mudanças económicas e sociais registadas na época e que precipitaram o surgimento de ideiais com cunho social; a terceira, a prática revolucionária, consubstanciada pela sua inclinacao a filosofia das luzes. Assim, Babuef está envolto em uma polémica de influência ideológica que ele mesmo também provocou com a sua mudança de pensamento ao longo dos anos de reflexão. Babuef, prevendo a necessidade de uma exploração colectiva das propriedades, atinge o que chamamos de comunismo de produção. Entretanto, muitos historiadores permanecem apegados a ideia de que Babuef não teria ultrapassado um comunismo de repartição. Assim surgem dois problemas, um quantitativo que põe em evidência as forças numéricas e outro o foco das massas. Capítulo IV – O Socialismo utópico (primeira metade do século XIX) Composta por três grandes nomes a citar: Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen. O socialismo utópico tem como seu ponto de origem a Franca, exceptuando o britânico Owen e era baseado na resistência ao antigo regime hóstil e que obrigou a burguesia a protagonizar uma Guerra sem piedade a qual denomina-se Revolução Francesa. A teoria das luzes, constitui a mais abundante e variada fonte de ideologia do socialismo utópico. Certos teóricos acreditam na possibilidade de construção de um mundo racional e depositam a fé na perfeição humana. Outros vão mais longe ao buscarem suporte nas obras de Rousseau e Morelly os quais criticavam ferozmente a propriedade privada. Semelhanças e diferenças são aqui apontadas de tal modo que uma análise económica não está aqui só em questão, mas também a maneira da abordagem, tendo uns defendendo o modo pacífico de encarar os factos e os outros de uma violência tal para impôr o seu ideal. Durante muito tempo a ideologia socialista e o movimento operário caminharam sem conhecere-se. Os raros encontros são provocados pelos vulgarizadores e não pelos grandes teóricos. A médio e longo prazo, a influência do socialismo utópico parece difícil de detectar com precisão, muito pela sua abordagem periférica dos assuntos sociais. Na actualidade, estas aparecem mais devido a publicações de obras e edições sobre estudos que lhes são consagrados. Capítulo V - A propósito de Marx e do marxismo Karl Marx e Frederich Engels redigem em Dezembro de 1847 “Manifesto do Partido Comunista” e publicação do primeiro volume de “O Capital” em Setembro de 1867. Neles defendem a ideia que a ciência destrona a utopia. Marx apoia-se sobre a análise aprofundada do capitalismo para lançar as bases da sociedade socialista. Vagueia entre o futuro e agarra-se sobretudo as teorias da sociedade capitalista e do movimento proletariado. A biografia de Marx esteve envolta de muitas zonas de penumbras as quais foram dessipadas com a publicação das suas correspondências e pelo exame dos seus cento e cinquenta cadernos que contem resumos e apontamentos e ainda extactos de livros lidos. A primeira etapa relaciona-se com a formação que está baseada na Alemanha e mais tarde influenciado pelas crises revolucionárias no império. Uma segunda etapa esta circunscrita a um periodo de dezassete meses, de Outubro de 1843 a Fevereiro de 1845, sendo a etapa decisiva na qual faz uma leitura dos escritos dos socialistas utopicos e faz pesquisas sobre a Revolução Francesa e estuda e anota grande acervo de economistas ingleses. Em 1844, Marx sente a necessidade de fazer balanço da sua actividade e lança os “Manuscritos de 1844” onde reflecte sobre a alienação do trabalho e defendendo o desaparecimento da propriedade privada dos meios de produção com a aparicao da sociedade comunista. Ele vrifica que na sociedade captalista, o ser sofre uma tripla alienação, sendo a do produto do seu trabalho, do seu acto de produção e por fim do homem pelo homem. Assim sendo, nesta nova adesão ao comunismo, convergem três grandes ideias do marxismo: a filosofia alemã, a economia politica inglesa e o socialism francês. Marx confia na classe operária a missão de instaurar o socialism, tornando-se uma classe actuante. Lança a estratégia de apoio comunista em todos os países com movimentos revolucionários afim de derrubar a ordem social e politica existente. Capítulo VI - A I Internacional (1864-1876) A Associação Internacional dos Trabalhadores nasce no dia 28 de Setembro de 1864, em Londres. Marx e quem redige os estatutos e o discurso inaugural. Esta Primeira Internacional, cujo apogeu se situa em 1868-1870, irradia a sua acção sobretudo na Grã-Bretanha, na Alemanha, na França, na Bélgica, na Suíça, em menor grau, na Itália, na Espanha, nos EUA. Mas começa a cair desde 1872 no Congresso de Haia e morre em 1876. Durante muito tempo a historiografia da A.I.T. estagnou-se numa história ideológica principalmente focalizada em debates entre Marx , Bacunine e os proudhonistas no seio do conselho geral, nos congressos ou nas secções nacionais Primeiro dizer que a A.I.T surge no contexto da Revolução Industrial, onde havia diferenciação das entre os operários. Uns ganhavam bem e outros não, e isso provocava reacções variáveis de operário para operário como brutalidade, ódio social voltado contra o patrão ou contra a máquina, enfim, isso ameaçava ser o início de uma nova revolução libertadora. A A.I.T implantou-se na Bélgica (industria mineira, metalúrgica, têxtil), na Grã-Bretanha (artesanato e construção civil), e na França (têxteis, bronze, chapeleiros, etc). Dividia-se em categorias dependendo do país. A A.I.T e dotada de uma estrutura muito variegada: associações operárias de socorros mútuos, cooperativas, sindicatos, reuniões de grevistas, enfim, secções políticas de cidade ou de bairro (embriões de um partido socialista estruturado). As secções nacionais teriam movimentado uma massa de trabalhadores assalariados e uma parte de trabalhadores organizados que movimentavam-se num mundo operário jovem, maleável, inarticulado que exercia um poder de irradiação desproporcionado a sua fraca importância numérica. A conjuntura política, propícia aquando do nascimento da A.I.T, torna-se desfavorável depois de 1870. A imaturidade de um movimento operário que permanece no estado de balbuceio. A A.I.T e vítima da desigualdade do desenvolvimento dos diferentes movimentos operários, desigualdade que ela ajuda, de resto, a agravar, a Internacional, através das suas secções nacionais, favorecendo e apressando o crescimento dos movimentos operários, que tomam em cada país caminhos divergentes e originais. O balanço só pode ser feito depois de uma comparação minuciosa entre o estado do movimento operário e socialista antes do nascimento e depois da morte da internacional. Capítulo VII - A Comuna de París (18 de Marco-28 de Maio de 1871) A guerra de 1870-71, desastrosa provocou o deflagrar de uma crise do Estado. Por outro lado, a guerra e o cerco provocam uma brusca politização das massas populares parisienses. Dois acontecimentos fazem subir mais ainda a temperatura: a assinatura do armistício, a designação de Thiers como chefe do executivo no dia seguinte a vitória eleitoral dos monárquicos e isso cria um ódio nos dirigentes militares e políticos, cercados de traidores. Sobre este patriotismo ferido, enxerta-se um republicanismo ardente e inquieto. Para a sua tese, cujo acabamento esta próximo, J. Rougerie examinou os 15000 processos dos revoltosos da Comuna julgados pelos conselhos de guerra. Em separata publicou trabalhos nos quais utilizou o relatório estatístico Appert, elaborado pelas repartições militares logo a seguir a Comuna, relatório que trata de 36309 revoltosos da Comuna presos e de 13450 condenados. A Comuna e a última revolução do século XIX, ponto final e definitivo da gesta revolucionária do século XIX. Mas ao mesmo tempo, desponta a aurora de uma nova era. O famoso decreto de 16 de Abril de 1871 confiado a gestão das oficinas abandonadas pelos patrões as organizações operárias. A Comuna seria assim uma revolução de transição entre as revoluções do século XIX e as do século XX. Capítulo VIII - A II Internacional (antes da primeira guerra mundial) Treze anos, quase certos, depois da dissolução oficial da A.I.T., nascem Paris, em Julho de 1889, a II Internacional e precedendo a este parto na Europa ocidental formam-se pequenos partidos socialistas mais ou menos embrionários. A Internacional ate 1914 pode ser dividida em duas ou três partes. A primeira fase e a de infância ou juventude, em que o socialismo funciona com muita flexibilidade e durante a qual a Internacional se parece com sua mae A.I.T (a mesma vontade de delimitar, contra os anarquistas, as fronteiras do socialismo, o mesmo messianismo revolucionário). A segunda fase surge com a crise revisionista do fim do século XIX em que os partidos socialistas, cujo crescimento quantitativo e espectacular, sofrem profundas mudanças na sua estrutura social, na ideologia e na prática política e integram-se aos poucos na vida nacional perdendo o revolucionarismo. Nos finais do da segunda fase e no início da nova fase a revolução russa marca uma era de desenvolvimento relativamente pacífico do socialismo, que se segue a Comuna, e uma nova era de desorientação, de guerras, e de revoluções. A II Internacional apoia-se sobre os mesmos bastiões que a A.I.T (os países industrializados da Europa central e ocidental). No entanto, contrariamente a A.I.T., a II Internacional recusa dotar-se de uma estrutura centralizada e constitui apenas uma federação lassa de partidos nacionais autónomos. O socialismo internacional impressiona ao mesmo tempo pela sua unidade e pela sua multiplicidade (o marxismo, o anarquismo, o reformismo, revestem em cada pais aspectos originais, uma intensidade variável). Os elementos de diferenciação continuam sendo mal interpretados por conta da sua complexidade e do carácter ainda balbuciante da história comparada. A Grande disparidade das estruturas económicas e sociais constitui um primeiro factor essencial, de diversificação (a antiguidade e o nível do desenvolvimento industrial, a repartição da população activa, a importância numérica, a concentração e a homogeneidade da classe operária, o nível de vida dos assalariados, etc. Outro factor e a especificidade das instituições e dos costumes políticos. A II Internacional manifesta pouco interesse pelas questões coloniais sobre as quais se opera facilmente uma unanimidade de fachada. Nesse contexto, de 1905 a 1910, o antagonismo franco-alemão, em Marrocos, as brutalidades das conquistas e da exploração colonial, a resistência oposta por muitos povos colonizados ou ameaçados de o serem, a radicalização do movimento operário e socialista europeu, sensibilizam a Internacional relativamente aos problemas coloniais e cavam importantes divergências. Após 1910, a partilha quase completa do mundo susceptível de colonização e a luta prioritária contra a ameaça crescente de uma guerra europeia relegam de novo para segundo plano as questões coloniais, e o aparecimento do socialismo na Ásia põe ao socialismo internacional o problema da aliança entre o proletariado dos países colonizadores da aliança dos países dependentes. As soluções podem ser agrupadas em três conjuntos: socialismo imperialista, humanitária e socialista, anticolonialismo. Nos finais do século XIX desenvolve-se atravéz de toda a Europa uma ofensiva multiforme poderosa para rever o marxismo, incorporando-lhe parcialmente outros sistemas doutrinais. O revisionismo progride simultaneamente em muitos planos: na Filosofia, crítica o materialismo, reencontra Kant e tende a regressar ao idealismo. Na política, volta a porem questão a natureza de classe do Estado e rejeita a luta de classe como motor principal da história, esperando chegar ao socialismo apenas por vias pacíficas e prega a aliança com as fracções avançadas da burguesia. As causas da aparição do revisionismo são as dificuldades económicas. Capitulo IX - As Revolucoes Europeias de 1917-1919 O Estado czarista, inepto para potência moderna, incapaz de conduzir a guerra, abandonado ate pelos seus suportes tradicionais que são a aristocracia, o exército e uma força revolucionária composta pela conjunção de diferentes oposições. As jornadas de Fevereiro não foram desencadeadas pelos partidos revolucionários. Foram surpresos pela amplidão e pela força das manifestações e aproveitaram por embarcar. Uns e outros despresam o potencial revolucionário por diversos factores como análises de erros da situação e da relação de forças, divisão, desconfianças paralisantes. No início do Outono d 1917, a Rússia encontra-se na situação revolucionária que Lenine, numa brochura redigida dois anos antes, reconhecida atravéz de três indícios principais: Impossibilidade para as classes dominantes de conservar o seu domínio numa forma não modificada, crises no alto nível, crise na política da classe dominante que abre uma fenda atravéz da qual o descontentamento e a indignação das classes oprimidas abrem caminho. Agravamento maior do que o e o habitual, da miséria e das desesperadas classes oprimidas. Marcada acentuação, pelas razões acima indicadas, da actividade das massas, que em período de paz se deixam pilhar tranquilamente, mas que em período de tempestade são chamadas tanto pelo conjunto da crise como pelo próprio alto nível a uma acção histórica independente. Os espartaquistas dirigem em fins de 1918 o movimento revolucionário na Alemanha, mas Rosa Luxemburgo e K. Liebknecht são assassinados em Janeiro de 1919 e a revolução e esmagada pelo exército. Na Hungria, a desagregação, a desordem das esferas governamentais responsáveis pela derrota, são tais que a revolução democrática burguesa triunfa sem derrame de sangue, em fins de Outubro de 1918. Nesse país agrário atrasado, o governo democrático a que preside o conde Karollyi apoia-se sobre bases sociais ainda do que aquelas sobre as quais se apoia o governo provisório russo. Desse modo menos de cinco meses depois da primeir revolução, uma nova revolução, igualmente pacífica, vence uma revolução socialista, o governo Karolyi esfuma-se em Marco de 1919 perante a República dos Conselhos. A contra-revolução esconde cotradição e fendas. Os menchevistas e os socialistas-revolucionários, associados aos generais brancos por uma vontade comum de abater o bolchevismo, não tem, no entanto, nem os mesmos objectivos nem a mesma política. Os oficiais brancos expõem aquilo que são as suas diferenças, incapacidade política e militar, a corrupção, a brutalidade, os exércitos brancos com os seus êxitos favorecem o regresso maciço e ofensivo das antigas classes possuintes e a russuficação, o que afastou deles a classe rural e as minorias alógenas. Os soviéticos atingiram a sua vitória, a sua política agrária e federalista contrastando vivamente com a dos brancos, dá-lhes maneira de ganhar e travar as massas rurais e as minorias nacionais. Capitulo X - Eclosão e Metamorfose do partido comunista Francês Nasceu do fogo da guerra, da revolucao russa, do fogo que apos Babeuf abrasou milhares de revolucionários franceses caídos pela emancipação dos trabalhadores, o partido comunista Francês responde a uma exigência da história. A história comparativa do nascimento de vários partidos comunistas confirmaria provavelmente que as modalidades das cisões socialistas, a determinação dos planos de fractur, foram de forma larga influenciadoas pelas conjunturas, nomeadamente pela data de nascimento e por certos dados nacionais. A primeira guerra mundial provocou tento nas cidades como no campo, múltiplas e profundas mutações cujos efeitos exactos do nascimento do P.C.F são difíceis de observar. A guerra muda por completo as condições de vida, a evolução do salário do operário e apenas conhecida de forma imprecisa, mas com a alta vertiginosa dos preços, parece ter havido, contrariamente as afirmações de M. Sauvy, uma pauperização apreciável, de que os operários tomam consciência, tanto mais que contrasta com o enriquecimento rápido dos que aproveitam com a guerra. Com pouco salário para dias longos de trabalho os operários faziam greves, cujo estudo quantitativo e qualitativo está por fazer, mas de que as estatísticas oficiais ilustram a progressão. Em 1918-1920 o movimento grevista reveste uma amplitude ate então nunca atingida.Tais greves, com excepção das essenciais, dos ferroviários, não foram nunca seriamente estudadas. A greve geral de Maio de 1920 salda-se com uma grave derrota, cujas causas são bem conhecidas, tal derrota mostra-se pesada de consequências: duma parte, uma desmoralização do exército operário, testemunhada pela diminuição dos efectivos sindicais e pela baixa tiragem de L’Humanité, mas por outro lado os impasses a que vão dar as duas grandes vias abertas ao movimento operário francês de antes da guerra, a via revolucionária da greve geral, a via socialista de uma conquista parlamentar do poder, obrigam os revolucionários franceses a orientar-se para outra via bolcheviista, que, sob outros céus, havia conduzido ao êxito. A S.F.I.O. reivindica 178372 aderentes antes da cisão de Tours, em Outubro de 1921 o P.C.F. ultrapassa, segundo parece, 100000 inscritos. Diferentemente de outros partidos comunistas, o P.C.F., saído da maioria do Partido Socialista, nasce, pois, como partido de massa, fugindo, por essa razão, a certas estruturas mentais próprias das seitas, mas arrastando uma pesada herança. Não havia informação sobre o itinerário político e ideológico daqueles que em 1920-1921 optaram pela III Internacional. Entre a extrema-esquerda socialista e sindicalista de 1914, a minoria zimmerwaldiana e os primeiros efectivos do P.C.F., a descontinuidade, ao nível dos homens, dos militantes, e, segundo parece, superior, de longe, a continuidade. A fonte mais abundante onde vai abastecer-se o P.C.F., nos seus inícios, e, evidentemente a S.F.I.O.,de onde saiu. A Internacional Comunista lança em 1924 uma campanha para a metamorfose dos partidos comunistas, para a sua bolchevização, mas a transformação de um partido europeu de tipo antigo, parlamentar do tipo antigo, parlamentar, reformista nos actos e mal tingido de cor revolucionária, num partido de novo tipo, realmente revolucionário e realmente comunista. Por exemplo, a França e sem dúvida aquele que mostra mais nitidamente esta dificuldade. A bolchevização põe em pantanas, em primeiro lugar, as estruturas de organização herdadas da social-democracia. Bolchevização da ideologia: o eclectismo e a heterogeneidade da II Internacional são substituídos ou tendem a ser, por um corpo único de doutrina, o marxismo-lenimismo. Bolchevização, enfim, da prática atravez das muitas batalhas relativamente bem conhecidas, tais como a luta contra a ocupação do Ruhr, contra as guerras coloniais (Marrocos, Síria). Capitulo XI – A Edificação do Socialismo na U.R.S.S. O alcance histórico e politico da experiência soviética alteraram e alteram a sua historiografia tendo como base enormes criticas ao regime, isto pela falta de acesso ao arquivo dos mesmos. Estruturas economicas, sociais, mentais atrasadas herdadas da Russia czarista, desenham um cenário de país arruinado após anos de Guerra. Ao instaurar e edificar o socialismo, a U.R.S.S. tem duas tarefas muito pesadas: acumulação de capital e a industrialização, tarefas deixadas pelo captalismo ocidental que realizara durante séculos muito a custa de sangue e lágrimas das classes populares. Durante a sua instauração, o socialismo depara-se com elevados índices de analfabetismo, mentalidade retrógrada, ausência de hábitos de organização, incapacidade de trabalhar de maneira ordenada, falta de instrução e de formação. Este cenário sombrio faz surgir uma nova classe operária que tem apenas um longínquo laço com a que realizou a Revolução de 1917. Sao compostos basicamente por operários que estão disprovidos de conhecimentos técnico-profissionais e politicos para segurarem firmemente os ideais e a causa. Torna-se assim complicada a marcha para o desenvolvimento, muito por causa da mediocridade instrucional e elevado espirito de ociosidade. Surgem deste modo conflitos internos o quais são causados ideologias contraditórias, problemas políticos e pessoais. Estes problemas vão acumulando-se e tornando-se cada vez mais dificeis de resolver, aliados ao monopartidarismo imposto pela força dos acontecimentos num país desprovido de sólidas tradições democráticas Uma outra vertente esta na planificação da economia, sendo dado mais ênfase a produção de equipamentos. Desta maneira a agricultura ficou negligenciada, tendo sido feita uma correcçao com a introdução progressive do colectivização dos campos e desenvolvimento de formas de cooperação. Mais tarde surge a necessidade de mecanização da agricultura como fruto do interesse de acumulação de capitais para fortalecer a economia. Para manter firme o percurso rumo ao desenvolvimento, surge uma corrente liderada por Staline, o qual vai criticar e desacreditar todos os críticos do sistema, usando para tal todos o meios possiveis, desde vigilância a repressão do opositores. Entramos numa era de autoritarísmo. Capitulo XII – A Frente Popular Hitler e Mussolini aproveitam-se da miopia politica occidental para ascenderem ao poder e proclamarem o nazismo e fascism como regimes dominantes na Europa. Apesar da advertência de Staline para aniquilação do mal pela raiz, nada foi feito, dando espaço para o uso da manipulação popular e invocação do espirito patriótico para perpectuação dos regimes ora em ascenção. Ha três grandes factores que levam ao surgimento das frentes populares: a crise economica que o mundo viveu, desencadeando uma crise politica, social, ideológica, moral e que conjugadas fizeram estremecer o muro captalista: a desigualidade de classes, o que afectou de maneira diferenciada a condição de vida da sociedade, atiçando ainda mais a revolta popular e por ultimo, a chegada de Hitler ao poder, sendo considerada como a pior peste que a humanidade já vivênciou. A Europa esta tomada de assalto por partidos e revoluções socialistas e comunistas, umas tendo sucesso e outras fracassado dependendo da sua filosofia e mecânica de implementação. Capitulo XIII – As Origens da Revolução Chinesa Com a implantação do imperialismo europeu na China, este assume um papel duo, por uma lado de destruidor com o choque de civilizações e por outro de regenerador com o surgimento de classes sociais sendo elas: burguesia, proletariado, uma ala intelectual. Desenha-se deste modo um cenário de salvação para a rudimentarização chinesa. Todavia, o tradicionalismo e a coesão social impedem a assimilação rápida dos valores ocidentais, tal como aconteceu no Japão. Há no entanto aqui uma hesitação em quem combater, por um lado estão as estruturas feudais e por outro o capitalismo occidental tendo este último a vantagem de salvaguardar os valores patrimoniais nacionais. O movimento de 4 de Maio de 1919 investe pela primeira vez e simultaneamente uma ofensiva contra a ordem antiga e o capitalismo estrangeiro. O Comunismo Chinês nasce assim da conjunção entre o processo interno – a evolução da ala radical dos movimentos nacionais, e um processo externo – a extensão à Asia do campo de actividades do Komintern. A tentativa de revolução operária sofreu um fracasso devido a problemas de organização e impelentação. Todavia a mesma abriu espaço para o surgimento do Partido Comunista Chinês. Em Janeiro de 1935, no decurso da “Longa Marcha”, a Conferência de Tsuen-Yi consagra a autoridade de Mao Tsé-Tung e por conseguinte da estratégia rural. Depois de muita retecência, aderem a táctica de “Frente Única”. Em 1937 o Japão invade a China mantem-se até 1949, com um novo triunfo da Revolução Chinesa devido ao esforço empreendido pelo exército, apoiado pelos operários. Torna-se assim efectiva a edificação de um sistema socialista. Capitulo XIV – Criação de um Sistema Socialista Mundial Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o socialism tende a espandir-se pela Europa e pelo mundo for a, devido a críticas levadas a cabo por grupos anti-capitalistas, culpando-os da destruição e caos gerado pela guerra e pelas ambições ocidentais. Tal veio a ter frutos em 1947 a 1948 com as forças socialistas a vencerem em toda parte. A historiografia tenta seconder a verdade sobre a causa da victória comunista na Europa, baseando-se maquinismos de Estado, influência dos serviços de segurança e influência da U.R.S.S.. Todavia, reza a história que o sucesso deveu-se em grande parte aos sucessos alcançados onde a politica socialista estava em vigor. O socialismo também teve influência positive na descolonização, apoiando directamente os movimentos como forma de combater o capitalism e o imperialismo ocidental e aproveitando para expander o socialismo. Após as independências aparece uma nova abordagem com o apoio aos paises, só sofrendo interupções quando verificado um Golpe de Estado. Capitulo XV – Problemas Internos do Mundo Socialista O socialism teve grande sucesso durante a sua implementação e culminou com a diminuição das assimetrias entre as classes socias, devendo-se muito a politica de engajamento do proletariado na condução dos destinos dos paises. Seguindo o exemplo da U.R.S.S. o mundo socialista prosperou e criu bases para ascenção de Frentes Populares em paises do Terceiro Mundo. Todavia, esta façanha foi interrompida pela intervenção dos Estados Unidos ao implementar o Plano Marshall que foi prontamente recusado pelos socialistas, pensando ser uma especie de colonização americana. Esta recusa teve um revés nas economias socialistas que dependiam grandemente do comércio e interacção com a U.R.S.S. e esta não tendo recursos suficientes para fazer face as suas necessidades e a dos seus aliados. Assim, colapsa grande parte da estrutura socialista, e tendo tambem como uma das causas a espionage da CIA que vai deste modo recolher informação e depois canalizar aos movimentos anticomunistas e socialistas. Surge a necessidade de implementação de profundas reformas para a sobrevivência dos partidos comunistas e socialistas de modo a encararem a derrota da U.R.S.S. no âmbito da guerra fria e a perda de um forte aliado nas suas convicções ideológicas e encarando assim a disputa em um mundo liberal e democratico ao estilo ocidental. 3.2. Criticas Empatia Negativa A confianca excessiva num sistema igualitário consubstanciado pela inexistência de classes e num modelo em que há uma ascenção do proletariado a princípio parece válida. Todavia, a mesma peça pelo facto de a médio e longo prazo está a degenerar-se e dar lugar a sistemas autoritários e ditatoriais os quais usam o poder de repreensão e perseguições para eliminar discordância com as filosofias do sistema e possíveis mobilizacoes para uma reforma drástica e consequente queda do regime. Assim sendo, este sistema está voltado ao fracasso e por conseguinte so vislumbra-se a sua substituição com sistemas alternativos ditadoriais ou a derrocada dos mesmos e ascenção de outros com cariz democrático e com abertura para debates filosóficos constantes. Empatia Positiva Apesar das inúmeras críticas ao socialismo, podemos salientar aspectos positivos nele assentes, os quais promovem a divisão equitativa dos dividendos da produção, valorização das classes mais desfavorecidas e negligenciadas pelo sistema capitalista. Uma visão do povo para o povo onde o poder esta assente na classe trabalhadora e cultiva-se uma repulsa pelo parasitivo e ociosidade da burguesia. As instituições que detem o monopólio da força e do poder decisivo, estão assim entregues a maioria e desenvolve-se uma democracia popular. 4. Problematização 1. Até que ponto o sistema socialista podera ser sustentável tendo em conta o advento da globalização? O socialismo esta refém das amarras utópicas, o que por sí condena-o ao desmoronamento. O sistema foi desde os primórdios assolado pela ideia do fracasso, pelo facto de demostrar uma incapacidade de materialização dos seus ideiais, consubstanciado pela tendência de degenerar em regimes autoritários. Os pressupostos de uma sociedade igualitária está sentenciado ao fracasso tendo em conta a globalização. Outrossim, este ainda mantém alguns redutos em alguns países, fruto da inércia em abertura para o sistema liberal e de concorrência mundial. Deste modo, podemos notar que ate mesmo os países com esse sistema implantado tende a introduzir reformas de modo a adaptarem as suas políticas à realidade global. 2. Que ganhos adviram com o surgimento do Socialismo? O socialismo trouxe uma nova abordagem sobre a questão social, defendendo a atenção as classes mais desfavorecidas, tendo como filosofia a distribuição de modo igualitário o produto do trabalho e dos rendimentos. Tambem podemos perceber o enérgico combate ao analfabetismo, mentalidade retrógrada, ausência de hábitos de organização, incapacidade de trabalhar de maneira ordenada, falta de instrução e de formação e o apelo ao sentido de patriotismo e identificação com as cores nacionais, desenvolvendo um espirito nacionalista e vincado a valores socio-culturais. Foi uma força motriz no combate ao sistema feudal e que defendia a ociosidade da burguesia. Síntese De todo o exposto, restou documentada no presente trabalho uma leitura analítica da obra de Claude Willard “O Socialismo: do renascimento aos nossos dias”. A leitura deteve-se, essencialmente, no percurso cronológico. Com fulcro em todas estas premissas, conclui-se que, o socialismo teve como base as desigualidades sociais e a opressão da burguesia sobre a classe operária. Aqui podemos observer que o autor fez uma descrição cronológica e tambem previlegiou aspectos negligenciados sobre as circunstâncias e acontecimentos que ditaram a evolução do socialismo. Assim sendo, o mesmo não tece nenhuma opinião pessoal, mantendo-se distante de qualquer influência sobre o raciocínio do leitor e por conseguinte dando a liberdade de tomarmos nossas proprias conclusões e generalizacoes. Bibliografia WILLARD, Claude – O Socialismo: Do renascimento aos nossos dias, 2ª Edição, 1971, Colecção Saber