Sobre Mia Couto

António Emílio Leite Couto, mais conhecido por Mia Couto, nasceu em 5 de Julho de 1955 na cidade da Beira em Moçambique. É filho de uma família de emigrantes portugueses. Actualmente é o autor moçambicano mais traduzido e divulgado no exterior e um dos autores estrangeiros mais vendidos em Portugal.

As suas obras são traduzidas e publicadas em 24 países. Várias das suas obras têm sido adaptadas ao teatro e cinema. Tem recebido vários prémios nacionais e internacionais, por vários dos seus livros e pelo conjunto da sua obra literária.

Introdução

Este trabalha urge no âmbito da disciplina de Português leccionada no Ensino Secundário Geral em Moçambique (concretamente no Ensino Pré-universitário, 11ª Classe) cuja debruçar-se-ia sobre a sumula da obra do escritor moçambicano Mia Counto (Vozes Anoitecidas).

A maioria dos contos em (Vozes Anoitecidas), o autor mostra personagens passando por dificuldades e problemas sociais, questões que o incomodavam, uma vez que na época em que o livro foi escrito, o país passava pela Guerra Civil e a população sofria. A seguir apresenta-se o resumo da abra.

1- A Fogueira

Conta-se uma história de um casal cujo esposo pretende enterrar a esposa ainda em vida. Um conto sobre um homem que, com receio que não houvesse quem enterrasse a esposa quando ela morresse, começou a abrir a sua cova antecipadamente e o esforço excessivo levou à morte dele.

Somos pobres, só temos nadas. Nem ninguém não temos. É melhor começar já a abrir tua cova, mulher. Como és bom marido! Tive sorte no homem da minha vida. (p23).

2- O último aviso do corvo falador

O pintor Zuzé, após um acesso de tosse cospe um corvo, animal este, muito especial. Oriundo da fronteira da vida e capaz de fornecer informações sobre os mortos através de seu crocito.

“Foi ali, no meio da praça, cheio da gente bichando na cantina. Zuzé Paraza, pintor reformado, cuspiu migalhas do cigarro “mata-ratos”. Depois, tossiu sacudindo a magreza do seu todo corpo. Então, assim contam os que viram, ele vomitou um corvo vivo.” (p. 29).

A notícia, como um relâmpago, correu a povoação. Afinal, esse Zuzé! Era mesmo, o gajo. Dono de bruxezas, realmente. No dia seguinte, todos levantaram cedo. Correram à casa de Zuzé Paraza. Todos queriam ver o pintor, todos queriam-lhe pedir favor, encomendar felicidades.” (39).

3- O dia em que explodiu Mabatabata

Relata a história de Azarias, um órfão, cujo sonho era ir à escola, mas que não o podia fazer, por ser obrigado a guardar o gado, que serviria de “lobolo” ou dote para pagar o casamento do seu tio.

Um dia Azarias vê o melhor boi da manada Mabata Bata, explodir ao pisar uma mina, o que fez fugir o resto do gado e com ele o lobolo. Com medo de represálias do tio, Azarias fugiu e o gado dispersou-se.

4- Os pássaros de Deus

Este conto retrata a história de Ernesto Timba, um pescador, que de forma estranha, um pássaro decide ficar sob os seus cuidados. Azarias aceita cuidar o pássaro, uma vez que ele acreditava que aquele pássaro tinha sido enviado por Deus.

Azarias cuida dos pássaros, desviando inclusive a comida que devia servir para alimentar a família. Esta situação levou com que o resto da comunidade o achasse louco. Até que certo dia ao voltar da faina, Timba se apercebe que atearam fogo sobre a gaiola e os pássaros estavam mortos, Timba acreditava que quem fizesse mal aos pássaros seria amaldiçoado.

Mas, ele pede a Deus para não castigar a comunidade pelo facto e, que ele se entregava em nome da comunidade.

‘’Vais zangar, eu sei. Vais castigar os teus filhos. Mas olha: estou pedir desculpa. Faz morrer a mim sozinho, eu. Deixa os outros no sofrimento que já estão sofrer. Mesmo podes esquecer a chuva, podes deixar a poeira encostada no chão, mas faz favor, não castigues os homens desta terra. (p.98).

E estranhamente, Timba é encontrado morta a margem do rio. E ninguém conseguiu retirar o cadáver deste a margem do rio, uma vez que era demasiado pesado, mesmo os homens mais fortes da aldeia.

5- De como se vazou a vida de Ascolino do Perpétuo Socorro

Narra as peripécias de um português que vai ao bar todos os dias, montado na bicicleta que seu empregado vai pedalando. Até que um dia, ao retornar para casa de uma de suas bebedeiras, descobre que sua mulher o abandonou e parte em seu encalço.

“Houvesse ou não visitas repetia-se o ritual. Vasco João Joãoquinho, fiel e dedicado empregado, surgia da sombra das mangueiras. Fardava caqui, balalaica e calção engomado. Aproximava-se trazendo uma bicicleta. Ascolino Fernandes, protocolar, inclinava-se perante ausentes e presentes. O empregado entregava-lhe uma pequena almofada que ele ajeitava no quadro da bicicleta. Acomodava-se, com cuidado de não manchar as calças na corrente. Ultimados os preparos, Vasco João Joãoquinho montava no selim e, com um puxão vigoroso, dava início ao desfile.” (p. 64).

6- Afinal, Carlota Gentina não chegou de voar

O conto retrata a história de um indivíduo que comete um homicídio, mata a sua esposa, ao tentar provar se realmente ela era uma feiticeira. Depois de consumado o acto, ele se entrega para ser julgado, contudo, ele fica indignado, uma vez que na opinião dele, ele deve ser julgado pela justiça tradicional, já que eles o julgariam tendo em conta a tradição. Partindo do principio que o seu crime é ou foi por justa causa

7- Saíde, o Lata de Água

Conta a história de uma rapariga homossexual que por causa da sua orientação sexual acaba sendo forçada a abandonar a sua família amigos e terra natal por causa da descriminação. Foi viver com seus avos no campo, que por sua vez também não viam com bons olhos a sua orientação sexual, achando que era obra de feitiçaria. Decide fugir desta situação para não embaraçar a família, e numa cidade longe do seu local de nascença, adopta uma nova personalidade, masculina, que não deixa ninguém saber e nem sequer desconfiar.

Torna-se uma artista plástica, Entretanto um destes dias conhece uma prostituta “Júlia” e se apaixona por ela, convida-a a viver em sua casa. O tempo passa, Saide e Júlia não passam das preliminares, as pessoas do bairro começam a falar sobre o casal por não terem filhos, Júlia insiste com Saide para continuarem para além das preliminares, mas Saide furta-se, até que um dia Saide decide revelar a sua verdadeira identidade e disse:

‘’Temos que ter um filho. – Não podemos, você sabe. – Temos que arranjar maneira. – Maneira, como? Se eu não tenho a culpa? O hospital explicou o problema: você que não tira os filhos. – Não estou a falar de culpa. Já estudei o problema, a solução já descobri: abastecese lá fora, mulher. – Não estou perceber. – Estou-te dizer: dorme com outro. Eu não vou zangar. Só quero um filho mais nada’’. (p. 71).

8- As baleias de Quissico

Bento era um homem simples, do interior, que viu sua família, seus amigos, e todas as pessoas que moravam ali nos arredores, morrerem de fome. Nada podia ser feito. A crise estava afectando a cada ser humano ali existente. Comida era luxo. Comida era vida, que precisava de luta para mantê-la.

Bento escutou boatos, de que todas as noites, na calada da madrugada, uma baleia aparecia. Era como um supermercado ambulante. Ela trazia tudo dentro de si. Abria a boca e ali estava tudo o que precisavam. Bento não parava de indagar sobre isso e foi chamado de louco. Mas Bento não desistiu do seu objectivo, viajou para o litoral a fim de encontrar a tal baleia. De mostrar que estava dizendo a verdade.

De provar que acreditava que poderia salvar as pessoas que estavam sofrendo com a fome. Para conseguir dinheiro, vendia algumas coisas que poderia encontrar dentro da baleia. Durante sua peregrinação muito aprendeu. Curiosidades que ele não poderia imaginar que existia. Mas o tempo foi passando, as noites silenciosas e frias se acabando. Bento estava desacreditado. Porém sua fé mantinha-se intacta.

9- De como o velho Jossias foi salvo das águas

Estória mítica sobre os ciclos de seca e enchentes e o destino do intitulado Jossias atrelado a eles.

‘’A água vai andar ter o chão. Vai lamber as feridas da terra, parece um cão vadio – dizia o velho. E voltava ao silêncio, os olhos no alto a medir as nuvens, por precaução. – Parece só metade da chuva. Há-de caber bem na terra. Enquanto profetizava, amoleciam-lhe os olhos de promessas, uma procissão de verde a tomar-lhe conta dos sonhos. – O milho vai-me tratar por senhor. E era já gente grande, sorrindo do gozo antecipado da fartura’’ (p.89).

10- A história dos aparecidos

Critica velada a governantes corruptos. O aparecimento de (des) desaparecidos, que tira do eixo toda uma aldeia que entra em debate para decidir se os recém chegados estariam vivos ou mortos, estopim em que se desvelam escusas administrações governamentais.

11- A Menina de Futuro Torcido

O pai forçou a sua filha seguir uma profissão, certo de que lhe traria uma boa vida, mas acabou por levar à sua morte.

12- Patanhoca, o cobreiro apaixonado

O patanhoca foi ele que matou a china Mississe, dona da cantina da Muchatazina. Agora, a razão que lhe fez matar, não sei. Falam muita coisa, cada qual conforme. Perguntei, fui respondido. Vou contar a estória. Nem isso, pedaços de estória. Pedaços rasgados como as nossas vidas. Juntamos os bocados mas nunca completa.

Veja!

Referências:

COUTO, Mia. Vozes Anoitecidas, Caminhos, Lisboa, 1987.