Formado no século XVI por Imigrantes da Ilha de Moçambique experimentou maior estabilidade que o anterior, devido à sucessão por alternância de linhagens.
A sua localização entre o Lumbo e Mongicual com numerosos braços de mar de fácil acesso, permitia-lhe grande intercâmbio comercial com o exterior. Mantendo uma lealdade à coroa portuguesa.
Entretanto, neste presente trabalho falará-se doXeicado de Sancul, desde a sua formação, estrutura económica, ideologia até a sua decadência.
Os Estados afro-islâmicos da Costa
A partir do século XII, começaram a aparecer os povoamentos comerciais islâmicos na costa oriental africana, com destaque para quatro importantes:
- Sancul, na baía Mokambo, mesmo a sul da Ilha de Moçambique, entre Lumbo e Mongincual;
- Sangaje, no rio Metomode;
- Quitangonha, que Ocupava toda área da península de Matibane e o Norte da Ilha de Moçambique.
Com a presença Portuguesa na baía de Sofala iniciou-se uma nova era que se caracterizou pelopermanente Confronto entre estes estados e os portugueses. A relação entre estes dois povos não foi linear nem idêntica em todos os Xeicados e sultanatos. Aparentemente, os Xeicados e sultanatos da costa estavam subordinados à administração portuguesa, mas, na prática, a situação não era essa. A subordinação existia e parecia ser do foro comercial quando as autoridades portuguesas não se envolviam em questões de soberania dos mesmos.
Xeicado – É um sistema de governo dirigido por um xeque, chefe de tribo árabe.
Sultanato –Sistema de governo dirigido por um sultão, título dado a certos príncipes maometanos, senhores poderosos e despóticos.
O XEICADO DE SANCUL
Formação
Este Estado formou-se no século XVI e terá sido fundado por gentes oriundas da Ilha de Moçambique. Pensa-se que foram expulsos da ilha pelos Portugueses.Formado no século XVI por Imigrantes da Ilha de Moçambique experimentou maior estabilidade que o anterior, devido à sucessão por alternância de linhagens.
A sua localização entre o Lumbo e Mongicual com numerosos braços de mar de fácil acesso, permitia-lhe grande intercâmbio comercial com o exterior. Mantendo uma lealdade à coroa portuguesa.
Base económica
O comércio com o exterior era a actividade económica por excelência. No início, o Xeicado vivia do comércio do ouro, depois passou a comercializar o marfim, mas o seu grande negócio eram os escravos.
Em quase todo o período do século XIX, a aristocracia dominante deste Estado esteve envolvida no tráfico de escravos ao serviço dos governadores portugueses. Isto é, mesmo depois da abolição da escravatura, o xeque de Sancul continuou a traficar escravos. Para o conseguir, serviu-se da cumplicidade que tinha com os Portugueses.
Estrutura social e aparato ideológico
O poder dos chefes do Xeicado de Sancul apoiava-se na religião. Encontrando suporte nos símbolos e rituais religiosos ligados ao islamismo, as autoridades defendiam a legitimidade do poder político. A religião era, assim, um factor de coesão social de grupos diferentes e de unidade contra qualquer ameaça ou ingerência externa no poder político. É importante referir que o islamismo, no Xeicado de Sancul, era a religião preponderante e elemento primordial para a mobilização e a organização da resistência contra a invasão externa feita pelos Portugueses.
O sistema de sucessão neste Estado foi feito de firma alternada entre as várias linhagens existentes, como forma de contentar famílias rivais. Esta alternância parece ter contribuído para a sua estabilidade.
CRONOLOGIA DOS XEQUES DE SANCUL | |
Anos | Nomes dos Xeques |
1212-1797 | Não há referências |
1797-1800 | Raja Mohammad Mukusedi |
1800-1804 | Mutirua Muhammad |
1804-1810 | Hasan Raja |
1810-1822 | UthmanMolidi |
1822-1832 | Raja Mukusedi Muhammad Ali |
1832-1841 | BurehimuUsufu (regente até 1834) |
1842-1862 | Hasan Musa Mukusedi |
1875-1886 | UsufuHasanibnAbdAliah “MuntuUmkubu” |
1886-1898 | MolidiHasan |
1898-1910 | Ali ibnSauliIbrahimu “marave” |
Decadência
Os seus governantes sempre tentaram estabelecer boas relações com as autoridades portuguesas, apesar de existirem algumas contradições. No ano de 1753, o xeque de Sancul foi assassinado por um comandante de uma força portuguesa, durante uma campanha contra os chefes Makua da região que escondiam escravos.
Nos finais do século XiX, com a ocupação colonial efectiva, os portugueses começam a impor o seu domínio, o que vai chocar com os interesses dos dirigentes locais, que vêem a sua soberania ameaçada. Assim se iniciam as confrontações armadas entre o Xeicado e os portugueses.
Apesar da forte resistência das forças militares do Estado contra as ofensivas portuguesas, o xeque foi obrigado a seguir uma política moderada a partir de 1899. Em 1910, o Xeicado de Sancul foi declarado extinto.
leia também: O Xeicado de Quitangonha
Bibliografia
BICÁ, Firoza, MAHILENE, Ilídio, Saber História 10, 1ª edição, Longman Moçambique, Lda., Maputo, 2010
NHAPULO, Telésfero de Jesus, História 12ª classe, Plural Editores, Maputo, 2013