Para Silva (1962), A intervenção social é um processo social em que uma dada pessoa, grupo, organização, comunidade, ou rede social, que se chama sistema-interventor, assumindo um recurso social de outra pessoa, grupo, organização, comunidade, ou rede social  a que se chama sistema-cliente,  com ele interagindo através de um sistema de comunicações diversificada com o objectivo de o ajudar a suprir um conjunto de necessidades sociais, potenciando estímulos e combatendo obstáculos à mudança pretendida.

Uma comunidade é designada por um conjunto de pessoas que partilham a mesma história e identidade, costumes, tradições, língua e etnia. Ora, o conceito de comunidade é utilizado para fazer referência a uma rede de pessoas que estabelecem laços e relações interpessoais, sendo uma comunidade caracterizada por ter uma forte dimensão psicológica  com pessoas com “sentimento ou consciência de semelhança e pertença” (Ander-Egg, 2003:20).

O conceito de comunidade  centrar-se nas relações sociais estabelecidas entre pessoas que têm os mesmos valores, interesses e objectivos comuns; como também para fazer referência a entidades funcionais (instituições, serviços, recursos, etc.).

Finalmente, deve estar atento a todos os elementos que configuram a interacção decorrente do processo de intervenção social, nomeadamente os que integram o sistema de comunicações em presença quer estas se façam sob forma presencial quer a distância. Nas comunicações feitas presencialmente deve o interventor estar atento tanto às mensagens verbais como às não verbais (por exemplo, mimico-gestuais e icónicas). Nas comunicações a distância, ou seja, naquelas em que a relação interventor-cliente é mediatizada por qualquer medium, torna-se indispensável que este saiba escolher os suportes de mediatização adequados (scripto, áudio, vídeo ou informático) e os canais de comunicação de que se vai servir (terceiras pessoas, correio, rádio, televisão, internet) de modo a evitar a ocorrência de filtros comunicacionais.

O desenvolvimento comunitário

A forma de intervenção social conhecida por Desenvolvimento Comunitário (DC) foi consagrada em 1950 num documento das Nações Unidas intitulado O progresso social através do Desenvolvimento Comunitário (Silva,1962).

De acordo com uma definição recente (Ander-Egg, 1980: 69) o DC caracteriza-se como uma técnica social de promoção do homem e de mobilização de recursos humanos e institucionais, mediante a participação activa e democrática da população, no estudo, planeamento, e execução de programas ao nível de comunidades de base, destinados a melhorar o seu nível de vida.

As formas de Organização Social na Sociedade Contemporânea

MARCOS PALÁCIOS (2001:4) defende que alguns elementos fundamentais caracterizam uma comunidade na actualidade:

  1. Sentimento de pertencimento;
  2. Sentimento de comunidade;
  3. Permanência (em contraposição à efemeridade);
  4. Territorialidade (real ou simbólica);

Forma própria de comunicação entre seus membros por meio de veículos específicos. Para ele, a questão da territorialidade assume novo sentido:

O sentimento de pertencimento, elemento fundamental para a definição de uma Comunidade, desencaixa-se da localização: é possível pertencer à distância. Evidentemente, isso não implica a pura e simples substituição de um tipo de relação (face-a-face) por outro (a distância), mas possibilita a coexistência de ambas as formas, com o sentimento de pertencimento sendo comum às duas (Palácios, 2001:7).

Nesse sentido, a territorialidade pode assumir carácter físico ou simbólico. A localidade geográfica passa a não ser considerada característica intrínseca de uma comunidade porque, mesmo à distância, pode-se se sentir parte.

A questão local

A noção de local engloba desde aspectos técnicos, como os limites físicos-rios, oceanos, lagos, montanhas, diferenças climáticas, características de solo, aspectos político-económicos, até diversidade sócio-cultural, histórica, de identidade, linguística, de tradições e valores etc., ou seja, estão em jogo as várias singularidades nas quais se constroem as práticas sociais.

Na perspectiva de PERUZZO (2006:144), o local se caracteriza como um espaço determinado, um lugar específico de uma região, no qual a pessoa se sente inserida e partilha sentidos. É o espaço que lhe é familiar, que lhe diz respeito mais directamente, muito embora as demarcações territoriais o lhe sejam determinantes.

BOURDIN (2001:25-57), por sua vez, acredita que a vulgata localista pode ser apanhada em três dimensões:

  • O local necessário;
  • O local herdado;
  • O local construído.

O local necessário é caracterizado pelo sentimento de pertença a um grupo comunitário, que poderia ser caracterizado pelos vínculos de sangue, da língua e do território. Para o autor, esse vínculo comunitário estaria apoiado em uma antropologia localista que é composta por factores históricos, etnológicos e pelo que o autor chamou de “evidência de falta”.

O local herdado relaciona-se aos aspectos históricos e representa o peso que o passado pode ter sobre o presente -portanto, leva em conta a genealogia e suas relações familiares: “o local é, pois, um lugar privilegiado de manifestação delas, se admitirmos que as estruturas antropológicas são principalmente um conjunto de representações e de códigos transmitidos pela prática, como os mitos se exprimem nos ritos” (BOURDIN, 2001:43).

A Região

Na Enciclopédia EINAUDI (1986:163-175), encontra-se uma classificação do conceito em:

  1. Região natural;
  2. Região homogénea;
  3. Região polarizada ou funcional.

A região natural seria aquela que considera a paisagem física, suas características geográficas como topografia, vegetação, etc. Entretanto, é a “ideia mais forte; a mais consistente e resistente às críticas e à erosão das teorias” (1986:163). A região homogénea é aquela que leva em conta o grupo humano como organização regional, e depende das especificidades “humanas”. Por fim, a região polarizada ou funcional é caracterizada pela uniformidade de trocas e fluxos que nem os vários elementos do mercado.

CARLOS CAMPONEZ (2002:35) defende que, por sinais que se fale que a globalização trouxe o fim das fronteiras e a abolição dos limites geográficos, o local ainda possui a sua geometria: o principal efeito da globalização é o de criar uma nova “gramática: do espaço, já que tal globalização tende ser uma ideia um tanto metafísica. É essa gramática do espaço que dá novos significados ao local, ao espaço.

Para CAMPONEZ (Idem:50), “a noção de marco geodésico fica profundamente perturbada: o centro está aqui e está em todo o lado.”

Nesse sentido, as distâncias espaciais podem desaparecer, tornando possível uma proximidade por confluência de identidades, independentemente de uma proximidade física.

Na comunidade, os laços são mais fortes e apresentam maior coesão entre seus membros quando comparados ao local-enquanto que o espaço local, por sua vez, apresenta características mais uniformes se colocado em contraste com a região (PERUZZO, 2006:146).

Bibliografia

BAUMAN, Z. (2003). Comunidade: a busca por segurança no mundo actual. Rio de Janeiro: Jorge Zajar.

LÍBERO. (2009). In PERUZZO, Cecília M. Krohling & VOLPATO, Marcelo Oliveira. Conceitos de Comunidade, local e região. Volume 12.

WEBER, M. (1973). Comunidade e sociedade como estruturas de socialização. In: FERNANDES, F. (ORG). Comunidade e sociedade: leituras sobre problemas conceituais, metodológicos e de aplicação. São Paulo.