O CONCEITO “HISTÓRIA” E A EVOLUÇÃO HISTORIOGRÁFICA NA ANTIGUIDADE ORIENTAL E CLÁSSICA

 

Conceito “História

 

A palavra História é de origem grega sendo a sua forma original “Históriê” que significa investigação ou inquérito.

 

Os gregos foram os primeiros a utilizar o termo Histor ao indivíduo que testemunhou os acontecimentos com os seus olhos. Nos tempos que correm este conceito é utilizado tanto para designar a narrativa dos acontecimentos assin como a própria série deles.

 

Heródoto (Considerado pai da História) deu título de  História ao resultado das investigações sobre as guerras entre os gregos e os persas.

 

Actualmente, a História é um conceito que se assume e é entendido com dois (2) sentidos:

 

1.      É um processo real como o conjunto de acontecimentos sociais, económicos, políticos e culturais;

 

2.      É conhecimento como o conjunto das informações e ideias que se formam por meio de estudo e da investigação.

 

Existem conceitos-chave ou palavras essenciais que são indispensáveis à definição de História, são elas: ciência, Homem, tempo e espaço.

 

Ciência – devido ao estudo que é científico;

 

Ciência dos Homem – estuda os feitos do Homem na sociedade, como objecto de estudo;

 

Tempo – deve-se referir ao momento histórico;

 

Espaço – deve-se referir a localização geográfica.

 

Existem várias formas de definir o conceito História mas deve-se ter em conta os conceitos-chave, atrás referidos.

 

 

 

O conceito ciência

 

Entende-se como o conhecimento de determinados factos com um objecto defenido e um método próprio ou seja é um conjunto de conhecimentos adquiridos e organizados metodicamente. Segundo a teoria de conhecimento, objecto de estudo da História, é o que o Homem procura compreender e explicar.

 

Para se chegar ao conhecimento histórico ocorre um trabalho de busca da informação sobre o processo histórico. Ora, esse trabalho é realizado pelo Homem mais concretamente pelo historiador e, por isso, a este é chamado sujeito do conhecimento aquele que faz e produz o conhecimento através da sua actividade intelectual.

 

 

 

O SURGIMENTO E A IMPORTÂNCIA DA HISTÓRIA

 

A EVOLUÇÃO DA HISTORIOGRAFIA ATÉ SÉCULO XIX

 

O Surgimento da História

 

Durante vários milénios da existência humana o passado foi sendo transmitido de geração em geração, por via de oralidade e de experiência.

 

O registo do passado dos homens começou por volta de IV milénio a.n.e. quando surgiu a escrita.

 

De facto, o aparecimento da escrita levou os sacerdotes a tentar pela primeira vez fixar por escrito o passado religioso até aí conservado pela oralidade.

 

Na mesma altura, começaram a ser registadas as memórias dos antigos heroísmos guerreiros – A tradição épica.

 

Neste processo foram produzidas as mais antigas cosmografias mitografias ou seja as primeiras formas de literaturas históricas que se conhecem.

 

 

 

I.                   Cosmogonias - são registos das primeiras tentativas pré-científicas de explicação do Universo, uma explicação que inclui elementos sobrenaturais.

 

Alguns exemplos de textos sumérios:

 

1.      No princípio era o mar primordial (...)

 

2.      Este mar primordial produziu montanha cósmica composta por céu e da terra ainda unidos;

 

3.      Personificados e concebidos como deuses de forma humana. O céu ou seja deus An, desempenhou o papel de macho e a terra Ki o de fêmea, na sua união nasceu o deus do Enlil.

 

4.      Enlil o deus de ar separou o céu e a terra e, enquanto o seu pai An, levava o céu, Enlil levava a terra, sua mãe.

 

A união de Enli e a sua mãe deu origem do Universo – criação do Homem, dos animais, das plantas e civilizações.

 

 

 

II.                Mitografias – é a narração dos factos com recursos a seres sobrenaturais.

 

Alguns exemplos:

 

O mito de Osiris (Egito antigo) o deus Osiris era um grande Rei que sucedera seu pai Geb (a Terra) de parceria com a sua mulher a deusa mágica Íris ensinou aos homens a agricultura, inventou o pão, vinho e a cerveja – elementos fundamentais na alimenta♪5ão do povo egípcio que lhe revelou a metalurgia. Mas o seu irmão, Tifão ou Sete mata-o, afoga-o no Nilo, corta-o em pedaços que espalha pelos canavais. Enato Íris procura, recolhe e reuni os membros espessos e refaz o corpo (como múmia) e, usando sua ciência ressuscita Osiris que vivera agora eternamente no céu. Vingando seu filho o deus Honis combate Sete e sucede seu pai no trono de Egipto. Dele recebem em herança este reino os reis humanos – Os faraós que assim, tem carácter divino.

 

A história nasceu do mito tal como a filosofia e a ciência. O mito diz respeito a quaisquer acções humanas, as figuras da narrativa são apenas os deus. Portanto, são acontecimentos não datados, do passado.

 

O objetivo das primeiras formas de literaturas históricas, era apenas, o de narrar os acontecimentos cuja finalidade seria de engrandecer (enaltecer) os deuses.

 

Pode-se concluir que:

 

Na antiguidade oriental fazia-se uma abordagem: mítica e teocrática da evolução da humanidade.

 

Objecto de estudo da história era os deuses e os homens importantes, a quem se atribuía total responsabilidade pela evolução da sociedade.

 

A escrita surgiu por volta 3500 a.n.e. ou seja no IV milénio no Egipto Antigo, no início essa escrita usava carácteres como forma de desenhos – a escrita hieroglífica ou sagrada que foi muito empregada nas inscrições de templos e de túmulos. A escrita hieroglífica foi decifrada, por um francês, no século XIX, chamado Champolion.

 

A escrita mais antiga é a cuneiforme, há cerca de 6 000 anos a.n.e na Mesopotâmia inventada pelos sumérios.

 

A importância da escrita insere-se no facto de permitir a conservação e registo dos acontecimentos, factos, armazenamento e propagação destes acontecimentos ou informações.

 

 

 

A CRONOLOGIA E A PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA

 

A EVOLUÇÃO DA HISTORIOGRAFIA ATÉ SÉCULO XIX: A HISTORIOGRAFIA JUDAÍCA

 

A palavra e o conceito tempo são fundamentais na História. Neste conceito emergem dois (2) sentidos fundamentais: a cronologia e a periodização.

 

A cronologia consiste no ordenamento sequencial dos factos históricos de acordo com as datas e/ ou períodos da sua ocorrência.

 

A periodização é o processo de enquadramento dos factos históricos em função de tempo em que os factos ocorreram.

 

A periodização facilita o estudo e a compreensão do processo histórico. Dois (2) tipos de periodização são: Tradicional e Marxista.

 

1.      A periodização tradicional – valoriza o critério político-religioso que divide a história universal pelos seguintes períodos:

 

§  Pré-história – desde o aparecimento do Homem até ao IV milénio a.n.e.

 

§  Antiguidade (oriental e clássica) – do IV milénio a.n.e. (descoberta da escrita) até século V.

 

§  Idade média – do século V ao século XV.

 

§  Idade moderna – do século XV ao século XVIII.

 

§  Idade contemporânea – do século XVIII até hoje.

 

 

 

2.      A periodização marxista – tem subjacente o marxismo. Esta teoria teve como ideólogo Karl Marx no contexto do Movimento Operário Internacional e prioriza a evolução das estruturas económicas ao longo do tempo ou dos modos de produção predominantes. Divide a História Universal pelos seguintes períodos:

 

§  Comunidade primitiva – desde o aparecimento do Homem até IV milénio a.n.e.

 

§  Esclavagismo – do IV milénio até século V.

 

§  Feudalismo – do século V até século XV.

 

§  Capitalismo – a partir do século XV.

 

§  Socialismo – em transição.

 

§  Comunismo.

 

 

 

HISTORIOGRAFIA JUDAÍCA E GREGA

 

Historiografia é um conjunto de obras concernentes a um assunto histórico ou seja a história da história. Por exemplo: a produção histórica de uma época e local.

 

A historiografia inclui quanto foi escrito para proporcionar informações sobre o passado humano, como testemunha.

 

A historiografia judaíca antiga baseia-se na Bíblia, velho testamento. A bíblia foi instrumento de unidade do povo judaíco, funcionou como instrumento para defender os objectivos da classe sacerdotal, conservando o carácter exclusivamente de defesa da tradição judaíca e o ataque à tudo que lhes fosse estranho.

 

As Caracteríticas da historiografia judaíca

 

§  Foi a incapacidade em aceder a uma concepção universalista do Homem e, de modo geral a historiografia oriental, apesar de nos ter deixado anais, listas de dinastias, autobiografias foiuma historiográfia Teocratica e Mítica sem nenhuma investigação documental, nem explicação causal, nem preocupação pela verdade ou objectividade.

 

A Bíblia como livro sagrado dos católicos, protestantes e cristãos ortodoxos teve uma credibilidade quase universal até século XIX, constitui a única  fonte sa história dos judeus e dos povos do médio oriente e outros que estiveram em contacto. Só no século XIX, com a decifração dos escritos egípcios. Surgiu uma alternativa para as fontes da História Judaíca. A Bíblia passaria a ocupar um lugar secundário como fonte histórica.

 

 

 

A Historiografia Grega

 

Antes do século V a.n.e. a historiografia grega era cosmogónica e mítica. Depois da democracia iniciou uma historiografia mais humanista.

 

A historiografia grega deu-se, em grande parte, graças ao papel de Heródoto de Halicarnasso (484 – 424 a.n.e), considerado “pai da História”. Mas este não foi único, foram vários outros historiadores como o Ciso e Tucídides.

 

Heródoto de Halicarnasso foi considerado “pai da História” pois a ele deve-se a visão e abordagem universalista do homem, faz história com base em testemunhos fidedignos ou seja de dignos de créditos.

 

Ele deu os primeiros passos para a cientificação da História, pelo facto de:

 

1.      Perpétua o passado;

 

2.      Glorifica os homens;

 

3.      Procura a causa dos acontecimentos;

 

4.      O historiador parte a procura da verdade e

 

5.      Deve ter uma visão universalista do “Homem”.

 

Tucídides (Foi o primeiro historiador a tentar uma narrativa crítica da história)

 

§  Questiona as fontes procurando a veracidade e credibilidade das fontes;

 

§  Deu um salto qualitativo na concepção histórica ao elaborar com precisão a análise dialéctica, causa-efeito.

 

A veracidade e credibilidade são conceitos muito abordados nas obras de Tucídides “História da guerra do Pelopeneso”, pois ele foi testemunha ocular, porque participou nesta guerra.

 

Características da Historiografia Grega

 

§  É uma história humanista, científica e auto-reveladora;

 

§  É pragmática;

 

§  Há um alargamento da noção das fontes históricas.

 

Limitações da historiografia grega reside no tempo, no facto de ausência de documentos escritos e no espaço, por ser uma história, meramente, regional.

 

 

 

Historiografia Romana

 

A Constituição do Império Romano inclui entre outros processos a conquista de vários Estados da Europa, Ásia e Norte de África. Este facto sugere uma miscelânia dos povos, costumes e formas de vida num só Estado que é o Império Romano.

 

Desta situação, resultou em Roma um desenvolvimento social do qual se inclui o pensamento bastante influenciado pelas outras civilizações.

 

 

 

Características da Historiografia Romana

 

§  Não se limitou a copiar mecanicamente a história grega, procutou dar umaforma tipicamente romana;

 

§  Apresenta traços comuns no objecto de estudo, método de estudo e a língua com a historiografia grega;

 

§  É uma historiografia exclusivamente romana com um carácter político ou seja a política de historiografia é feita pelos homens políticos em estreita relação com a política e com fins políticos e não encarada como conhecimento;

 

§  Em geral para os romanos a história é uma exaltação da cidade e do Império adquirindo um carácter nacional e patriótico;

 

§  É uma história apologética e pragmática.

 

 

 

Os principais historiadores romanos foram: Políbios, Tito Lívio e Tácito.

 

Políbio é um historiador de origem grega que viveu como prisioneiro onde produziu todas as suas obras históricas, e, naturalmente sobre o Império Romano.

 

Políbio aplicou à história, o modelo cíclico, conduziu a concepção segundo aqual a história é o conhecimento do geral, daquilo que se repete que obedece a leis e por isso, susceptível da previsão.

 

Políbio concebe a ideia da história cíclica defendendo que as sociedades como os indivíduos nascem, passam por uma juventude, maturidade e envelhecem.

 

Tito Lívio este mais virado para estudar o passado, foi um intelectual ao serviço da política imperial cuja preocupação maior foi elevar bem alto o Rei e o Império Romano.

 

Tácito (político e homem das letras) foi autor de uma importante obra histórica embora tenha misturado a história e a literatura.

 

O seu maior defeito, foi por ter feito uma comparação unilateral dos romanos, com bárbaros, bretões e os germanos revelando-se percursor da teoria do “bom selvagem” ao apresentar uns com os de costumes mais puros e outros mais corruptos.

 

 

 

HISTORIOGRAFIA CRISTÃ ANTIGA

 

O SURGIMENTO E A EVOLUÇÃO DO CRISTIANISMO

 

O cristianismo surgiu na Palestina, no contexto da conquista daquele território pelos Romanos. No Império Romano a religião cristã tornou-se oficial a partir de século IV.

 

Foi daquele ponto que se propagou para as restantes partes do mundo, o que em grande parte foi facilitado no facto de transmitir uma mensagem social e ecuménica, assumindo-se anti-esclavagista.

 

Existia no seio da Igreja, duas facções: uma mística e outra gnóstica que pretendia racionalizar o pensamento religioso ou seja sujeitar a razão as ideias religiosas.

 

A concepção cristã de História

 

Desde o princípio, o cristianismo assumiu-se como religião universalista e histórica ou seja teve a sua concepção do Universo e de evolução da humanidade.

 

Para os critão a história é um combate permanente entre o Lúcifer (o mal) e o Deus (bem) e a sua trajectória é irreversível e oposta a concepção cíclica defendida pelos gregos e romanos; no entanto começa com o pecado original, passa pela redenção e termina com o juízo final.

 

A ideia principal é que devido ao pecado original, o Homem espalhou o mal em toda a Terra e o Cristo apareceu para restabelecer a ordem e a Igreja triunfar, numa luta que terminará com o juízo final. Portanto, a Terra é um lugar transitório para a expiação e redenção dos pecados e o Homem em vida tem a oportunidade de se preparar para o juízo final.

 

Nas fontes da história cristã temos: as doutrinais e as históricas. Muitos documentos foram destruídos por serem inautênticos (apócritos) e isso é condenável em história, pois as fraudes também são matérias de estudo.

 

Em suma: a História Cristã baseou-se em informações tendenciosas, previamente relacionadas e por isso, constitui uma visão da história humana com ponto de vista apologético.

 

Os principais historiadores cristãos foram: Eusébio de Cesaria (260-339), Cassiodoro (487-583) e Santo Agostinho (354-430).

 

Eusébio de Cesaria (260-339) foi o principal obreiro da História Cristã. Produziu uma crónica que consistia de uma cronografia e de cânones cronológicos;

 

Cassiodoro (487-583) escreveu uma história gótica (bárbara) e uma crónica da época de Adão e Eva no ano 519 da n.e.

 

Santo Agostinho (354-430) foi autor da primeira até hoje a mais importante filosofia cristã de História “A Cidade de Deus”.

 

 

 

Exercícios de consolidação

 

1.      Em que reside a importância da Bíblia para o povo judaíco?

 

2.      Heródoto é considerado “pai da História” porquê?

 

3.      Em que medida éque a obra de Tucídides contribuiu para o enriquecimento da História?

 

4.      Demostre o carácter científico da História Grega.

 

5.      Refira-se as particularidades da História Romana

 

6.      Indique as características da Historiografia Cristã Antiga.

 

BIBLIOGRAFIA
 
MALATE, Erudito et al. História 11. 1ª Edição. Longman: Moçambique. 2010