O comportamento de cuidado parental (materno e paterno) é definido como “qualquer comportamento dirigido à prole que aumenta a probabilidade de sobrevivência dos filhos”.

Tal comportamento é continuação do comportamento reprodutivo tal como (estabelecer e definir território, cortejar, copular) e tem início com a fertilização.

Por tanto O cuidado parental é constituído por um repertório de comportamentos exibidos pelos pais para com sua prole com o objectivo de assegurar a sobrevivência de seus descendentes.

PRADO, (2005) diz que:

“A resposta de cuidado depende de variáveis individuais do progenitor (experiência, condições físicas e status social) e da prole (estágio de desenvolvimento, condições físicas e risco social) além de variáveis sociais (presença de cuidados cooperativos, presença de um parceiro) e variáveis ambientais (recursos disponíveis) ”.

Outra consideração importante sobre cuidados parentais refere-se ao investimento parental que, de acordo com TRIVERS, (1972) é qualquer forma de investimento que os pais e as mães despendem a uma prole específica, com o propósito de ampliar sua chance de sobrevivência e, em consequência disso, sua chance de reproduzir a fim de investir em outras proles.

 De acordo com o autor, as mães investem mais recursos e tempo na prole do que os pais, devido à gravidez e à amamentação para o caso dos mamíferos.

Qualquer progenitor (pai ou mãe) ou ambos os progenitores podem realizar os cuidados que variam de acordo com o sistema de acasalamento de cada espécie.

Como já se fez referência, os animais possuem adaptações diferentes nas suas estratégias de reprodução. Estas estratégias foram adaptadas de acordo com o que o animal faz no seu ecossistema. Existem animais que durante a época reprodutiva laçam muitas células reprodutivas e outras poucas.

Animais que dão muitos descendentes sem oferecer cuidados

No ambiente marinho há uma variedade de espécies que produzem grande número de descendentes em uma mesma ninhada. Tomando como exemplo a Ostra como verifica-se que uma fêmea de Ostra pode produzir cerca de 500 milhões de ovos por ano.

A Ostra é um animal marinho que habita as regiões costeiras e vive fixada às raízes do mangal ou nas pedras. Na época da reprodução, as fêmeas libertam os óvulos directamente na água, assim como os machos libertam os espermatozóides para a água.

Os ovos originados da fecundação ficarão flutuando, fazendo parte do plâncton.. Podendo se observar que esses ovos não receberão cuidados dos pais. Dessa forma, uma parte dos ovos estará sujeita ao ataque de vários predadores.

Além disso, as correntes marítimas podem levar uma outra parte para regiões poluídas que impedirão a eclosão dos ovos.

Nas ostras, a taxa de mortalidade juvenil é elevada. Porém, esta taxa é compensada pela grande quantidade de ovos produzidos. Cerca de 99% dos ovos e larvas irão morrer e apenas 1% chegará à vida adulta.

A eclosão do ovo não garante que as larvas cheguem à fase adulta. Novamente, as correntes marítimas e os predadores estarão diminuindo o número de indivíduos jovens.

As larvas, para completarem o seu desenvolvimento, saem da fase planctônica e buscam um local para se fixarem e iniciarem a fase adulta. Porém, não são apenas as larvas de Ostras que utilizam o mesmo local para a fixação; outros organismos, como as algas e os mexilhões, também se fixam a rochas e raízes das plantas aquáticas. Com isso, uma parte das larvas não irá conseguir local para fixação e morrerá.

Além disso, tanto as larvas como os ovos estão sujeitos a grandes tempestades, derramamento de petróleo, despejo de esgoto, entre outros factores, que acarretarão em um aumento da taxa de mortalidade juvenil.

Animais que dão poucos descendentes cuidando deles

Numa outra estratégia de reprodução, verificam-se animais que dão poucos descendentes por cada gestação.

Tomando como exemplo os golfinhos verifica-se que estes geram apenas um descendente por gestação. A gestação demora um ano, e a mãe amamenta o filho até um ano e meio de idade.

Durante o período de amamentação o filho não precisa gastar energia na busca de alimento. A procura por alimento o afastaria dos pais, deixando-o mais vulnerável ao ataque de predadores.

Os golfinhos não só cuidam de seus filhos como também possuem comportamentos sociais. No momento do parto, a mãe se afasta do grupo de golfinhos e é acompanhada por outra fêmea que irá auxiliá-la.

Após o parto, a mãe leva o filho até a superfície para que ele possa respirar pela primeira vez. O comportamento de cuidar dos filhos é chamado de cuidado parental. Esse tipo de comportamento traz uma série de vantagens.

Como cada fêmea gera somente um filho, os pais cuidam dele para que sobreviva até a fase adulta. Os filhos estão sujeitos à acção de alguns predadores, como o tubarão. Em um possível ataque ao filho, o pai, mais experiente e mais forte, o defende do tubarão.

Durante o período em que o filho fica sob os cuidados dos pais, ele passa por uma aprendizagem. Ele poderá observar seus pais buscando alimento e aprender o método para a captura dos peixes.

Além disso, ele também poderá aprender como fugir e se defender dos predadores. O convívio com outros filhos permite uma série de brincadeiras que servirão como treino para a vida adulta.

Se fazer-se uma comparação entre os animais que têm cuidado com a prole com aqueles que não cuidam de seus filhos, pode-se perceber que no primeiro caso a taxa de mortalidade juvenil é menor.

Para algumas espécies, porém, o melhor é que os dois, pai e mãe, se revezem nestes cuidados; e para outras, a forma encontrada para garantir a evolução é que o pai tome conta sozinho da cria. “Nestas casos é mais importante para a espécie que a fêmea esteja livre para reproduzir-se novamente”,

Vários machos de espécies de mamíferos e aves apresentam este comportamento de cuidado parental, zelando pela alimentação e protecção dos filhos. Algumas aves do sexo masculino, inclusive, constroem o ninho e cuidam dos ovos na ausência da fêmea.

Muitos pássaros incubam seus ovos sentando sobre eles ou mantendo-os entre os pés, para protegê-los do frio e garantir que os embriões permaneçam aquecidos.

Outras aves, como algumas espécies de patos, cujo embrião é sensível a altas temperaturas, protegem os ovos do calor cobrindo os ninhos com penas, folhas secas ou gravetos.

Nidifugo, os folhos logo após a eclosão dos ovos ou após o nascimento, encontram-se em condicoes de andar acompanhando os pais na procura do alimento.

O contrario  verifica-se em seres que nascem muito imaturos, permanecem no ninho ate adquirir uma forma muscular suficiente para andar a procura da alimentação, este denominado nidícolas.

Algumas espécies que cuidam dos descendentes

Uma das mais cuidadosas espécies da natureza é anfíbia, o sapo dos dedos azuis (Colostethus caeruleodactylus). Esta espécie de sapo tem um comportamento de cuidado parental tão complexo quanto ao de algumas aves ou dos mamíferos.

 Nesta espécie, a relação paternal envolve a presença directa do pai, que constantemente limpa o ninho, hidrata os ovos urinando sobre eles e defende o território contra predadores.

Entre 25 a 40 dias depois do nascimento dos girinos, o macho leva os seus filhos para carregá-los até a água. Um a um, os pequenos indivíduos vão subindo às costas do pai que os leva de uma só vez para o local onde poderão se desenvolver.

Um outro bom exemplo é o cavalo-marinho. Nesta espécie é interessante porque é o macho que carrega os ovos em vez da fêmea. Ela deposita-os numa espécie de bolsa ventral que o macho carrega, onde são incubados até o nascimento dos filhos, já completamente formados.

 Existem muitos outros exemplos de animais cuidadosos com os seus filhos na natureza, entre eles, insectos, onde os machos geralmente constroem o ninho e cuidam dos filhotes.

 Os machos de algumas espécies de aves ficam responsáveis por buscar comida para os filhos e também defendem o ninho a todo custo para que nenhum predador se aproxime.

Os animais que apresentam comportamentos mais delicados no cuidado com as crias são os primatas, onde entre os eles, a espécie humana é a única que investe de forma extrema em instinto paternal.

Exemplo de alguns animais que cuidam dos seus descendentes

Pinguim – Normalmente, os pinguins machos ficam com o ovo e o aquecem enquanto a fêmea sai em busca de alimento para o filho que está para nascer. Quando a fêmea retorna, os papéis se invertem e é a vez do pai pinguim sair em busca do alimento o alimento.

Peixe-palhaço – Na época de reprodução, o macho arruma uma área sobre uma rocha próxima à anémona que o casal escolhe como local de residência. E ali a fêmea põe seus 300 a 700 ovos, que são vigiados pelo macho até o nascimento. Além disso, na presença de predadores, os machos de peixe-palhaço cuidam dos alevinos colocando-os na boca até o perigo passar.

Avestruz – Os machos vivem em ambientes de extrema poligamia, pois para cada macho há cerca de sete fêmeas. Enquanto elas botam os ovos, em média 50 por estação os machos se encarregam de chocá-los. Tomam conta dos filhos e cuidam da cria até a idade adulta.

Lobo- Os machos são os responsáveis pela alimentação da fêmea e de todos os filhos. Enquanto a mãe fica com os filhos, o macho sai do ninho para caçar e trazer comida.

Pica-pau – O macho pode ficar vários anos com uma mesma fêmea. Nesse meio tempo, constrói um ninho, juntos e se revezam na chocagem dos ovos. Os filhos são muito dependentes dos pais após o nascimento e precisam que o pai busque o alimento, triture-o e o coloque em seus bicos.

Dados da observação

Durante a observação notou-se que na presença do corvo sobrevoando a área onde a galinha se encontrava com os pintainhos, ela emitia primeiro alguns sons com um tom mais alto comparando com os sons que esta emite normalmente.

Esses sons provocavam um pânico nos pintainhos que logo corriam em busca de um esconderijo.

Numa outra situação, verificou-se que o corvo era mais rápido e encontrava a galinha despercebida e sem antes emitir sons, ele retirava um dos descendentes. A galinha reagia de forma violenta contra o predador e tentava sobrevoar sem sucesso perseguindo predador que retirara-lhe um descendente.

Discussão dos dados

Os sons emitidos pela galinha provavelmente funcionavam como sinal de alerta da presença de um perigo. Isto porque logo a primeira emissão, os pintainhos se escondiam em pequenas plantas e folhas e nesta situação escapavam do perigo. É importante referir que o facto de a galinha emitir sons de alerta aos pintainhos surge como uma estratégia ou forma de cuidado que esta oferece aos seus descendentes.

A galinha mostra uma situação em que não deixa escapar de forma simples os seus descendentes, comportamento este que é descrito como cuidado com a prole garantindo a sua segurança.

Sistemas de acasalamento

Em Biologia acasalamento significa um emparelhamento ou cruzamento de indivíduos de sexos opostos ou hermafroditas para a realização da cópula com finalidade de reprodução.

Por outras palavras acasalamento é considerado um processo pelo qual são unidos dois indivíduos de sexos opostos (macho e fêmea) com finalidade de possibilitar a junta de gâmetas e a geração de um novo ser da mesma espécie.

A cópula é considerada a união dos órgãos sexuais dos dois indivíduos que se reproduzem sexualmente para a fecundação interna.

Os dois indivíduos podem ser de sexos opostos ou hermafroditas, como é o caso de alguns caracóis.

Os métodos de acasalamento incluem o acasalamento ao acaso, acasalamentos preferenciais e a inseminação artificial que é induzida muito mais pelo Homem no processo de criação de animais.

“No mundo animal existe varias adaptações desenvolvidas pelos animais, no que diz respeito as suas formas de acasalamento, tudo isto com propósito de maximizar o seu sucesso reprodutivo”.

Os sistemas de acasalamento classificam-se de acordo com o número de parceiros envolvidos e com a duração da associação entre eles.

  • Poliginia- o macho se acasala com diversas fêmeas, enquanto as fêmeas cruzam com apenas um macho.
  • Poliandria- fêmea pode cruzar com diversos machos, enquanto os machos se associam a uma única fêmea.
  • Monogamia, um macho assim como fêmea se acasalam com um e único parceiro. Ex. Pombas.

Poligamia ou “Acasalamento Poligâmico” é o sistema de acasalamento em que um único macho fecunda várias fêmeas em uma mesma temporada de cria ou vários machos fecundarão várias fêmeas nas mesmas condições

Relação entre sistemas de acasalamento e cuidados com a prole

Na monogamia, geralmente, tanto o pai como a mãe cuidam da prole (cuidado biparental); este sistema é muito comum entre as aves.

Na poliginia, o cuidado parental costuma ser realizado pela fêmea; este é o caso da maioria das espécies de mamíferos.

 No sistema de poliandria é comum que apenas os machos apresentem comportamentos de cuidados com os descendentes; este é o caso dos cavalos-marinhos e dos pantopodas (pequenos artrópodes marinhos também conhecidos como aranhas-do-mar).

 Na poligamia, qualquer um dos sexos pode realizar o cuidado parental, sendo também comum a ausência desse tipo de comportamento. Este é o caso da maioria das espécies de peixes.

Os cavalos-marinhos são um exemplo de espécie de peixe monogâmica e com cuidado parental por parte dos machos. Nestes animais, os casais permanecem unidos ao longo de toda a estação reprodutiva.

Durante o acasalamento, a fêmea introduz seu órgão ovopositor no interior de uma pequena bolsa, situada no abdómen do macho, e deposita seus óvulos. Dentro da bolsa são libertados os espermatozóides e a fecundação ocorre.

Essa bolsa do macho é similar ao útero de uma fêmea de mamífero e contém um fluido que fornece nutrientes e oxigénio aos ovos. No decorrer da gestação, a composição do líquido vai se tornando cada vez mais parecida com a composição da água do mar e, assim, evita a possibilidade de um choque osmótico durante o nascimento da prole.

O período de maturação dos ovos é de duas a quatro semanas. Em seguida, o macho “dá a luz” a dezenas de filhotes. Após o nascimento não há mais nenhum tipo de cuidado parental.

 Entre artrópodes geralmente não se observa cuidado parental; porém, entre os pantopodas (aranhas-do-mar) os machos carregam os ovos fertilizados numa estrutura localizada sob suas pernas, transportando-os e protegendo-os até a sua eclosão.

 Sobrevivência e reprodução

Algumas hipóteses já foram levantadas como explicação a respeito das diferentes estratégias de cuidados com a prole. Uma explicação para a monogamia e o cuidado biparental das aves é a capacidade de alimentar em dobro os filhos no ninho, aumentando sua chance de sobrevivência.

 A predominância nos mamíferos do cuidado da prole apenas por parte da mãe talvez possa ser explicada pelo longo período de gestação dos filhos no corpo da mãe e pela lactação após o nascimento.

 Dessa forma, os cuidados que o macho pode fornecer são escassos, e este acaba por abandonar a parceira em busca de novas oportunidades de acasalamento.

 Teoricamente, quanto maior o período durante o qual os pais cuidam de seus filhos, maior a chance destes sobreviverem. Porém, quanto maior o tempo de cuidado parental, menor o período no qual os pais se vêem livres para procurar novos parceiros e gerar novos descendentes.

Assim, acredita-se que, ao longo da evolução, tenham sido favorecidos aqueles comportamentos que apresentam um balanço ideal entre o sucesso de sobrevivência da prole e o sucesso reprodutivo dos pais, maximizando a dispersão da espécie.

 

Bibliografia

BROWN, R. E. Harmónios e Comportamento Parental. In: COSTA, M. J. R. P.;
CROMBERG, V. U. Comportamento Materno em Mamíferos. São Paulo: SociedadeBrasileira de Etologia, p. 53-99. 1998.PRADO, A.B. Semelhanças e Diferenças entre Homens e Mulheres na Compreensão do Cuidado Paterno. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2005.TRIVERS, R.L. Parental Investment and Sexual Selection. In: CAMPBELL, B. (Ed.). Sexual Selection and the Descent of Man 1871-1971. Aldine Chicago USA, p. 136-179. 1972