Durante a primeira metade do segundo milénio, a China era mais avançada que a Europa, que mal começava a sair da Idade Média, isso é válido até mesmo no plano tecnológico. Entre as invenções chinesas destacam-se o papel, a imprensa, a bússola e a pólvora. Todas, após serem logo utilizadas e aperfeiçoadas numa modernização conquistadora, tornar-se-iam instrumentos essenciais da dominação europeia sobre o mundo.

Para o Ocidente, a fechada e enigmática China poderia tanto ser uma parceira, uma rival ou uma inimiga. De todo modo, era o único país no Oriente e no mundo que poderia ser considerado como “igual”, quando não “superior”, descartada a outra principal civilização asiática, a Índia, por sua notória heterogeneidade interna, causa principal da sua fácil conquista pelos ingleses.

Quando chegaram os portugueses por via marítima como primeiros europeus, não foram recebidos com manifestações de amizade. Junto aos recém-chegados, contudo, predominavam juízos positivos. Os visitantes ficaram muito impressionados com o império chinês, merecedor da maior admiração e do mais profundo interesse, não só por sua enorme extensão e sua incrível riqueza, mas também pela forma eficiente como tinha conseguido superar os principais problemas materiais.

Logo, houve relações comerciais pacíficas entre os chineses e os portugueses instalados desde 1557 no minúsculo território de Macau e importantes intercâmbios culturais e científicos, mutuamente benéficos, protagonizados pelos jesuítas que foram a Pequim passando pelo porto português.

Durante os séculos seguintes, os contactos foram muito limitados, porém lucrativos, canalizados por Macau e logo depois por Cantão e Hong Kong, todos situados no delta do Rio das Pérolas. A porcelana de alta qualidade é chamada, em inglês, até hoje de “China-ware” e o chá se tornou inseparável dos costumes britânicos. A China, por outro lado, adaptou o milho, que hoje ocupa grandes extensões de terra no norte do país, e os red chillies, típicos da cozinha temperada de Sichuan. Em contraste com esse brilho chinês de civilizaçãoa fundação de Hong Kong não foi um título de glória para a civilização ocidental.

Nesse entreposto de comércio internacional a civilização ocidental revelou suas piores características: a fundação foi consequência da primeira Guerra do Ópio (1840-42), fundamental para impor o moderno narcotráfico capitalista, negócio considerado pelos ingleses necessário para pagar as importações de chá, seda e porcelana da China.

O Império do Meio não tinha interesse nenhum em estreitar relações com o Ocidente. Em 1793, em plena revolução industrial inglesa, o imperador Qian Long escreveu ao rei Jorge III: “o nosso Império Celestial possui todas as coisas em abundância prolífica e não carece de nenhum produto de dentro de suas fronteiras, não tem por isso nenhuma necessidade de importar produtos manufacturados”.

A negação da china à cooperação com o exterior deveu se ao facto de que a China era totalmente auto-suficiente, praticamente invencível militarmente e rodeada de povos comparativamente bárbaros. E como foi visto, naquela época a China ainda era um país bastante rico, tendo como problema o fato de que, no plano tecnológico e consequentemente também no industrial, já tinha ficado bem para trás.

Durante esse período e até o final do século XIX, a China permaneceu praticamente fechada, mas a civilização moderna, barulhenta, expansiva e conquistadora por necessidade económica vinha bater às portas hermeticamente fechadas do Império Celeste. Contudo, a China seguia sendo virgem de todo contacto estrangeiro. Parecia que o povo mais antigamente civilizado devia, também, adoptar os procedimentos e as modas da nova civilização, e como se veria, tal imobilismo se tornou perigoso.

A China moderna não se abriu ao exterior e ao ocidente por decisão própria, mas forçada pela Grã-Bretanha a partir da primeira guerra do ópio em 1840. A derrota do império nesta guerra foi um choque para os chineses, pois os ingleses impuseram exigências ao país, após ocuparem os portos de Shangai e Cantão, através do tratado de Nanking, de 29 de Agosto de 1842 que concedeu direitos aos ingleses como:

Abrir os portos chineses ao comércio;

Criar a extraterritorialidade (empresas e cidadãos britânicos são julgados no pais de origem);

Conceder aos britânicos o porto e a cidade de Hong Kong;

Criar tarifa única de imposto de importação de 5%; e

Liberdade de comércio de ópio.

 A famosa frase de Marx e Engels no “Manifesto”, o capitalismo tinha que forçar, por necessidade histórica, as muralhas da China com sua produção industrial moderna. Todavia, a China havia mostrado muito pouco interesse nesses produtos, mas esta auto-suficiência, certamente, não excluía influências exteriores nem violentas crises e fomes desastrosas. Assim, a rebelião massiva dos Taiping nos anos 1850 e 1860, dirigida por um líder que se acreditava ser irmão de Cristo, teve consequências devastadoras, com milhões de mortes em grandes regiões do Sul e do Leste do país, enfraquecendo ainda mais um país já muito debilitado.

Após um período longo de isolamento e fechamento da civilização chinesa, esta é assolada por uma serie de crises de nível económico e social, que fizeram com que ela se abrisse a cooperação internacional, na tentativa de resolver, mas esta manobra foi muito perigosa dado que, levou a civilização chinesa ao colapso. Obrigando o, a adoptar novas políticas que iriam tornar a China numa das maiores potências do mundo na actualidade.

A queda do Império e a Primeira Guerra Mundial constituíram um divisor de águas visto que a China atravessava uma profunda crise que reflectia em sua situação demográfica. Os recursos proporcionados pelo solo pareciam ter chegado a seu limite máximo, dando lugar a uma situação malthusiana.

A solução podia residir talvez na redução dos nascimentos combinada com a emigração ou em uma revolução da economia que proporcionasse novos recursos e possibilidades de aumentar a importação de alimentos paralela a elevação do número de empregos ”. Isso, combinado com a traumática entrada do país no que então ainda não se chamava de “globalização”, mas que já exigia adaptações bem difíceis, foi o estopim estrutural do fim do Império, das guerras civis dos anos 20 a 40, da queda de Chiang Kai-Shek e da revolução vitoriosa em 1949.