A procedência dos primeiros habitantes do Continente e o momento em que se deu a imigração têm sido respondidos, neste século, a partir de hipóteses formuladas por inúmeros cientistas, dentre os quais historiadores, arqueólogos, biólogos e antropólogos.

Ao final do século XIX e o início do XX, foi amplamente discutida a hipótese de autoctonismo baseada em vestígios humanos erroneamente atribuídos a hominídeos anteriores ao homo sapiens e descobertos em camadas geológicas que, por equívoco, foram considerados mais antigas do que eram na realidade.

A maioria dos pesquisadores concorda que os primeiros habitantes da América pertenceram ao período Paleolítico, ou seja, tinham uma cultura material rudimentar, baseada na pedra toscamente lascada, (Carvalho, 2003):

“O homem penetrou na América vivendo à base de plantas e animais selvagens. A princípio, os primitivos habitantes possuíam toscos instrumentos de pedra lascada. Há cerca de dez mil anos […] nota-se a presença no continente americano dos chamados paleoíndios, nómadas, caçadores de grandes animais, que possuíam artefacto de pedra lascada mais aperfeiçoados, como o propulsor de dardos e pontas de lança habilmente lascadas”.

A ausência de grandes macacos fósseis e de tipos humanos mais primitivos que o homo sapiens nos terraços terciários e quaternários da América não permite considerar a possibilidade de uma evolução.

No início do século XX, autores aceitaram a homogeneidade biológica dos ameríndios, generalizando-se a crença de que as populações do novo mundo foram constituídas exclusivamente por ancestrais asiáticos e de que eles chegaram ao continente pelo estreito de Bering, entre a Sibéria e o Alasca, em épocas distintas, iniciando-se a imigração há 35.000 anos. Entre 35 e 12 mil anos do presente, a glaciação Wisconsin teria feito, por intervalos, o mar descer a uns 50 metros abaixo do nível actual.

Por essa hipótese, as variações morfológicas e culturais observadas entre os americanos contemporâneos se explicam, em parte, como resultado de distintos graus de evolução biológica de cada uma das imigrações no transcurso dos milénios e, em parte, pela influência que o meio ambiente exerceu em distintas regiões onde se estabeleceram.

Os outros estudiosos, pelo contrário, opinam que, desde tempos remotos, convivem na América grupos humanos de várias procedências. São os sustentadores da teoria pluriracial. A população indígena da América pré-colombiana resultou de diversas imigrações a partir de tipos raciais distintos: algumas efectuadas pelo Estreito de Bering (mongóis e esquimós), outras, através do Oceano Pacífico e da Antárctida (australiano e malaio-polinésios). A sequência de ilhas e arquipélagos no Pacífico e entre a Tasmânia e a terra do fogo teriam sido utilizados como caminho natural para o ingresso do homem pré-histórico na América do Sul.

A onda migratória mais antiga (Paleo-índios) teria dado origem aos actuais Ameríndios, habitantes da América do Sul, Central e grande parte da América do Norte. Esta primeira migração teria originado também os povos da cultura Clóvis (12.000 anos atrás), revelada em vários sítios arqueológicos da América do Norte. Uma segunda onda migratória mais recente teria originado os Na-Dene (Apaches, Navajos, etc.) que habitam o noroeste e alguns pontos do sudoeste da América do Norte. A terceira migração, bem mais recente, daria origem aos Esquimós (Inuites) e Aleutas, habitantes do círculo polar Árctico.

Considerando-se as antigas teorias de povoamento da América por via marítima, tanto transpacífica (Rivet, 1926; Meggers & Evans, 1966), como transatlântica (Hrdlicka, 1915; Greenman, 1963; Kehoe, 1962, 1971; Kennedy, 1971), e alguns dados recentes que trouxeram suporte sobretudo para contactos transpacíficos (Hather & Kirch, 1991), as descobertas da paleoparasitologia retomam a questão do povoamento da América com dados consistentes para que estas teorias sejam vistas como possibilidades concretas.

Além do mais, avançaram os estudos de genética e linguística (Cavalli-Sforza, 1991; Salzano, 1992); e novas técnicas conseguem recuperar material genético em restos arqueológicos humanos (Lawlor et al., 1991; Ward et al., 1991; Ortner et a l , 1992; Gibbons, 1993), possibilitando novas discussões sobre as origens e antiguidade do homem nas Américas. Trazem, ainda, novas contribuições sobre a presença do homem na América os sítios arqueológicos no Brasil (Guidon e Delibrias, 1986; Delibrias et al., 1988; Guidon, 1989; Guidon & Arnaud, 1991; Beltrão & Danon, 1987) e no Chile, cujas datações mostram antiguidades maiores do que as conhecidas actualmente.

Dentre os diversos povos pré-colombianos, destacam-se os esquimós, os sioux e iroqueses, os nauas (toltecas e os astecas), os maias, os chibchas, os caraíbas e aruaques, os incas, os guaranis e os tupi-guaranis e jês ou tapuias, muitos desses últimos fazendo parte dos índios brasileiros.

Para Carvalho, (2003), coloca três autores a se posicionarem a cerca de povoamento da América: AMEGHINO Paleontólogo argentino. Defendeu ter a humanidade sido originada na região meridional da América. Na Argentina teria surgido o primeiro ser adaptado à posição vertical, o TETRAPROTHOMO;

HRDLICKA as populações americanas teriam migrado pelo estreito de Bering;

PAUL RIVET Baseado em semelhanças etnográficas, linguísticas e biológicas, admitem a migração de asiáticos (Bering), melanésios (Pacífico) e australianos (ilhas entre a Austrália, a Antárctida e a América do Sul)

A partir das teorias propostas, alguns pontos convergentes são aceitos na actualidade. A Antropologia Física tem contribuído para o entendimento das migrações pré-históricas na América do Sul (Salzano, 1990), a partir de uma rota ao longo da Costa do Pacífico e outra para o norte da região amazónica. Ward (1975) sugere três direcionamentos: a costa do Pacífico, a costa Atlântica e o centro do Continente (planalto central e o chaco). A datação correspondente aos primeiros contingentes de caçadores-coletores do pleistoceno no Brasil tem sido ponto de controvérsias entre arqueólogos.

Bibliografia

ARRUDA, José Jobson de A., PILETTI, Nelson. Toda a História: História Geral e do Brasil. 4ª Edição; São Paulo, Editora Atica S. A. 1996
ATLAS MUNDIAL. O Sistema Económico/América do Sul. In Atlas Mundial. São Paulo: CIA. Melhoramento de São Paulo, 1999.
CARVALHO, Fernando Lins de. A pré-história sergiapana/Fernando Lins de Carvalho. Aracaju. Universidade Federal de Sergipe, 2003.