Origens e Evolução do reino do Congo

O reino de Congo ou Império do Congo, foi um reino africano localizado no sudoeste da África no território que hoje corresponde ao noroeste da Angola, a Cabinda à República do Congo, à parte ocidental da República Democrática do Congo e à parte centro-sul do Gabão.

O reino do Congo formou-se no primeiro milénio da nossa era por volta do século IX, fundado por Nimia Lukeni, do rei de um pequeno reino de Bungu, que se situava na região norte do rio Congo.

Nessa região encontravam-se vários grupos da etnia banta, principalmente são os bakongo, ocupavam os territórios. Apesar da feição centralizada, o reino do Congo contava com a presença de administradores locais provenientes de antigas famílias ou escolhidos pela própria autoridade monárquica.

Em suma concordando com os autores acima citados entende-se que o reino do Congo é resultado da fixação bantu na África central, onde com o aumento da produção agrícola passaram a desenvolver o comercio regional. Verificou-se a acumulação de riquezas e a consequente divisão da sociedade em explorados e exploradores, os beneficiados viram a necessidade de proteger as suas riquezas organizando-se em reino, foi este cenário que levou a formação de alguns dos primeiros estados africanos no primeiro milénio da nossa era (Congo, Luba e Lozi).

Este reino estabeleceu-se no curso inferior do Congo (o Nzaindi dos autóctones), mis tarde transformado em Zaire. Os autóctones eram de origem ambundo, o seu fundador chamava-se Nimia Lukeni e viera do leste. Tratava-se de Mutinu, que à cabeça de grupos conquistadores, desceu do norte do Maiombe para o baixo Congo (província do Nsundi), que serviu de base para uma conquista em redor sobretudo em direcção ao sul. Celebrou-se uma aliança entre o novo chefe e o dignitário local. Esta aliança foi selada por um casamento e a província do dignitário, o Mbata foi incorporada no reino, ora a cidade tinha o nome principal de Congo. O rei tomou portanto, o título de Manicongo, ou Senhor do Congo.

Na sua maior extensão, por volta dos séculos XV e XVI, este reino estendia-se do baixo Congo, ao norte ate ao rio Cuanza, ao sul do rio, Cuango, a leste ate à costa atlântica. O reino era composto por seis provincianas a saber: Mbemba, Mbata, Mbamba, Soyio, Nsundi e Mpangu. As duas províncias mais importantes eram Nsundi, ao norte e Mbamba, ao sul. Nsundi, com efeito era o domínio do primeiro rei da dinastia. Tinha tradicionalmente como governador o filho mais velho, herdeiro presuntivo. Quanto a Mbamba, na actual Angola revestia-se de uma importância estratégica de guarda avançada encarregada de velar pelas terras conquistadas, contra as investidas dos inimigos vindos do sul.

De acordo com a informação desenrolada pelos autores acima referidos entende-se que muito antes da chegada dos europeus em África, estes povos tinham uma politica sólida e uma divisão administrativa bem definida, onde existia um soberano (o Mani-congo) e seis, províncias todas elas sob o seu comando. Nestas seis províncias, a autoridade real era directa e efectiva enquanto as províncias do litoral situadas ao norte, o Ngoyo, o Kakongo e o Luango, eram sobretudo reinos vassalos.

A organização sociopolítica do Congo

No século XV, o Congo era o único Estado capaz de exercer sua hegemonia sobre toda a região, entre o planalto de Benguela e os planaltos bateke, e desde o mar até além do rio Cuango. De início, era dividido entre uma grande cidade, a capital Mbanza Kongo, e o campo. Ali coexistiam três camadas sociais bem definidas, a nobreza, os aldeões e os escravos.

A nobreza, os aldeãos e os escravos diferenciavam-se pelo seu estatuto legal, suas actividades e seu estilo de vida. A alta nobreza compunha-se dos parentes do rei ou de um de seus predecessores, constituía a ossatura do reino, vivia nas cidades, excepto quando deviam ocupar cargos de comando nas províncias. Construíam‑se em casas bilaterais ligadas entre elas por alianças matrimoniais.

A matrilinearidade determinava o acesso as terras, o lugar de residência e a sucessão a frente da aldeia. O rei nomeava seus parentes próximos para os cargos chave do governo das províncias, da magistratura superior e da administração fiscal.

Apoiando-se nas afirmações anteriores podem concluir-se que no reino do Congo existia uma diferenciação social onde a nobreza que era composta por parentes próximos do chefe ocupava os lugares mais privilegiados, diferentemente dos camponeses e artesãos, a sucessão na posse de terras era determinada pela herança matrilinear que era muito usada também para a escolha do sucessor do manicongo.

O Mani-congo não tinha um reino hereditário, todos os parentes mais chegados ao rei: filhos ou sobrinhos podiam disputar o trono, mas a preferência ia para a sucessão matrilinear, o rei antes de morrer indicava a sua escolha. No entanto, o conselho eleitoral, tendo em sua frente três grandes eleitores, Mani Vunda, Mani Mbatu e Mani Soyo, era quem decidia. A esposa principal do rei devia ser a filha ou a irmã do governador de Mbata, província esta em que o governo era hereditário dentro do parentesco matrilinear dos Nsaku Lau, o príncipe reinante ali se casava, por sua vez, com uma parente próxima do rei.

O poder absoluto do rei caracterizava-se pelo facto de os governadores não serem hereditários, o rei designava o sucessor na família do defunto, salvo para as províncias de Soyo e Mbata, onde os notáveis locais escolhiam os candidatos que eram confirmados pelo rei. A centralização era ainda reforçada pela existência de uma moeda cuja emissão o rei controlava. Tratava-se de conchas de olivancilaria nana, chamadas de nzimbu procedentes das pescarias de uma ilha que fazia parte do reino, a de Luanda.

A capital Mbaza Congo incluía uma floresta sagrada onde era interdito o abate de arvores, era a necrópole dos reis, ao sul da capital, uma praça chamada Mbaziera o tribunal onde o rei julgava os suspeitos. O rei sentava-se numa cadeira de marfim e trazia braceletes de ferro e de marfim, ostentava um busto negro e luzidio.

O exército do manicongo era composto por guerreiros com arcos e setas apropriadas cujo veneno era altamente mortal, realizavam-se três cultos importantes nela desempenhavam um papel: o dos antepassados cujo lugar sagrado era o bosque do cemitério real, o dos espíritos territoriais (o espírito de Mbanza Kongo era zelado pelo mani kabunga, o clero encarregado dos espíritos, tanto no nível da aldeia quanto do reino) e o dos sortilégios reais. Atribuíam‑se as doenças e desgraças aos ndoki (feiticeiros), estes últimos podendo ser descobertos pelos nganga ngombo (adivinhos), por vezes com a ajuda de ordálios.

Olhando para estas afirmações podem afirmar-se que o rei tinha um poder absoluto onde controlava quase tudo dentro do reino, possuíam um exército para prevenirem-se de qualquer invasão externa. Tinham uma noção de justiça cujo órgão responsável era o manicongo que julgava os suspeitos, praticavam como religião o culto aos antepassados e praticavam enterramento dos mortos. O reino do Congo praticava a religião tradicional africana (o culto dos antepassados).

Actividades económicas no reino do Congo

A base da economia do Congo era a agricultura e o comércio onde predominava a compra e venda de sal, metais, tecidos e produtos de origem animal. A prática comercial poderia ser feita através do escambo (trocas) ou com a adopção do nzimbu, uma espécie de concha somente encontrada na região de Luanda.

Tinham actividades complementares como o artesanato, a metalurgia do ferro, a pastorícia, a mineração e a caca, os artesãos eram mestres na arte de tecer a partir de folhas da rifa ou de palmeiras panos bordados, na mineração extraiam cobre, ouro, ferro, prata, chumbo e zinco. Os ferreiros faziam facas, lanças enxadas e machados, também fabricavam anéis, braceletes e outro tipo de pulseiras as quais eram usadas em grandes quantidades pelas mulheres da aristocracia, alguns objectos que fabricavam eram símbolos tradicionais respeitados, o machado representava o poder político, o martelo e a bigorna marcavam o inicio das artes manuais.

O comercio era o pilar da vida económica, comercializavam produtos como a palma, o sal, cobre, ferro, cestos, madeira vermelha esteiras e marfim. A principio o comercio restringia-se somente as aldeias, mas a medida em que o tempo foi passando o comercio a longa distancia começou a desenvolver-se, mantinham o comercio com os reinos vizinhos e vassalos. Em troca recebiam produtos da costa e do interior como tecidos europeus e indianos, quinquilharias, vinho das Canárias da Madeira e de Málaga.

 A corte do Congo usava os rendimentos desse comércio para pagar os técnicos e os missionários portugueses, assim como para que os nobres do país pudessem estudar em Portugal. Desde o início, uma boa parte desses rendimentos foi também absorvida pela importação de tecidos, de vinho e de objectos de luxo que o rei redistribuía a nobreza.

Pode-se admitir a hipótese de que o reino do Congo possuía um capital económico bem forte, enriquecido pelas numerosas actividades económicas praticadas no reino, o que permitiu a acumulação de riquezas por parte dos nobres.

O reino do Congo e o contacto com os portugueses

Os portugueses chegaram pela primeira vez ao Congo em 1482, atracaram na foz do rio Congo comandados por Diogo Cão. Tiveram contacto com os povos locais da chefatura de Soyo e com o próprio mani-soyo, a notícia espalhou-se rapidamente ate Mbaza Congo a capital do reino, onde vivia o mani-congo  Nzinga Nhuvu, a partir de então foram estabelecidas relações entre o reino do Congo e Portugal. No decorrer de uma segunda viagem, Diogo Cão levava missionários e negros da Guine, a quem mandou descer perto do rio como intérpretes, os quais descobriram que para o interior existia um rei poderoso.

Foi portanto mandada uma delegação naquela direcção sem qualquer receio, pois os autóctones, nem estavam amedrontados nem eram hostis. Simplesmente mostravam sinais de grande doçura e amizade. Como os delegados não voltavam Diogo cão aproveitou-se do facto de os notáveis congueses se encontrarem a bordo para levantar ferro leva-los como reféns. No ano seguinte voltava com os congueses baptizados e trajados como nobres portugueses. Os portugueses largaram com uma embaixada real, em Lisboa essa embaixada foi convidada por D. João II para um banquete oficial, o chefe da delegação Nsuka adoptava em breve o nome de João da Silva, tendo como padrinho do baptismo o próprio rei.

Em 1512 o mani-congo Nziga Mbemba assinou um acordo com o rei de Portugal onde Portugal comprometia-se a enviar para o Congo missionários, professore, pedreiros, carpinteiros, médicos e enviar jovens a Portugal e Roma para aprender a ler e escrever. Em contrapartida o manicongo retribuía com facilidades comerciais para os comerciantes portugueses, obtenção do ouro, marfim, cobre e escravos.

Com este acordo o Mani-congo pretendia obter ajuda técnica, científica e económica para desenvolver o reino, para os portugueses significava penetração e obtenção de riquezas como pretexto difundir o cristianismo.

A presença portuguesa no Congo trouxe graves consequências na sociedade, o Mani-congo quando pedia ajuda os portugueses nunca o satisfaziam, eles queriam o monopólio comercial marítimo na costa oriental africana e conseguiram fazer com que os comerciantes residentes no reino circulasse livremente. Os jovens enviados na Europa para estudar eram transformados em escravos. Iniciou-se o processo de profunda transformação económica social e política. Os comerciantes portugueses envolveram-se cada vez mais no tráfico de escravos, muitos chefes dos reinos dependentes faziam comércio directamente com os comerciantes do São Tomé. O Mani-congo não conseguia controlar o tráfico e alguns reinos tributários entraram em luta pela sua autonomia. A hegemonia do Congo na região estava aniquilada, já que, em 1575, houve um conflito de autoridade entre o Ngala (chefe do Ndogo) e o manicongo que terminou com a fixação da fronteira entre os dois reinos no rio Dande.

Os portugueses pretendiam apoderar-se das minas dos Zimbus e a ilha de Luanda que estavam sob monopólio do Mani-congo. Esta situação levou a agressão militar por parte dos portugueses que conquistaram os reinos do sul do rio Congo e o próprio reino do Congo. (Idem)

Em suma a presença portuguesa contribuiu para a decadência e a destruição do poderoso e prospero império. Na área socioeconómica verificou-se um intenso comércio de escravos o que levou o enfraquecimento da forca produtiva e na área política verificaram se alianças com os português e a conversão do Mani-congo ao cristianismo.

Bibliografia

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