Os Vândalos foram uma das várias tribos germânicas que migraram e invadiram o Império Romano no decorrer do século V. Acabariam por estabelecer um Reino no Norte de África que duraria pouco mais de um século. Nascido da conquista militar, o reino vândalo constitui-se, na Africa, num Estado guerreiro apoiado sobre um sólido exército, dividido pela região em grupos de mil homens.

Este Estado exige também uma severa segregação entre vencedores e aristocratas romanos, que viram suas terras confiscadas; a bem dizer, muitos haviam fugido para a Sicília ou Roma. O rei vândalo Genserico, inflige rudes golpes no Mediterrâneo romano, onde destrói as comunicações e ameaça constantemente os comboios de trigo, ainda indispensáveis ao abastecimento da capital; seus piratas atacam todas as costas até a Grécia e chegam mesmo a pilhar Roma, em 455.

A invasão da África

Bonifácio, governador da província da África Proconsular, rebelou-se contra o governo imperial, motivando o envio de tropas contra suas forças em Cartago. O quadro se mostrava amplamente favorável ao rei vândalo.

Aproveitando a disputa, 80.000 vândalos – 15.000 deles homens de armas – cruzaram o estreito de Gibraltar na primavera de 429, partindo de Tarifa e desembarcando em Ceuta.

Depois de várias vitórias sobre os defensores romanos, fixaram-se com controlo de um território que compreendia o atual Marrocos e o norte de Argélia, pondo sob assédio a cidade de Hipona, que tomariam ao cabo de catorze meses de duros combates. No ano seguinte, o imperador Valentiniano III teve que reconhecer Genserico como soberano de todos estes territórios.

Em 435, Genserico chegou a um acordo com o Império Romano pelo qual o reino vândalo passou a ser federa-tos de Roma com a concessão da Numídia.

Os romanos conservaram apenas conservaram o controlo de Cartago. Em 439 Genserico tomou a cidade de Cartago, capturando a frota imperial ali atracada. Com este movimento fez os vândalos donos do Mediterrâneo Ocidental, apoderando-se em seguida de bases marítimas de grande valor estratégico e comercial: as Ilhas Baleares, Córsega, Sicília e Sardenha. Roma, privada de uma das maiores zonas de produção do velho mundo, teve que comprar em seguida os grãos do norte da África para a sua própria provisão.

Convém primeiro definir bem que eles só ocupam apenas a parte oriental, a actual Tunísia e o Leste da Argélia; o resto, «a Africa esquecida», como lhe chama C. Courtois, o maciço de Aures, os planaltos do Oeste, a Mauritânia, escapam-lhes como tinham de facto escapado à autoridade de Roma. Eles têm de se defender das pilhagens que os pequenos chefes indígenas organizam e daí advirá uma causa de fraqueza.

A segunda característica da realeza vândala é a coexistência das duas sociedades bárbara e romana. A minoria vândala (80.000) não procurou fundir-se com os Romanos ou Púnicos, sobretudo por razões militares e religiosas. Os reis quiseram preservar o valor guerreiro dos seus homens, e por isso impediram todos os casamentos mistos e toda a conversão ao catolicismo. Além disso, Genserico e Hunerico (477-484) perseguiram cruelmente a Igreja.

Segundo Victor de Vita, historiador das perseguições, perto de 5000 clérigos e leigos foram deportados para o Sul da Tunísia, enquanto os bispos eram exilados para a Córsega e a Sardenha ou obrigados a trabalhar nas minas. Numerosos católicos se refugiarão em Espanha, na Gália e em Itália, levando consigo importantes manuscritos, em especial os de Santo Agostinho.

Ao mesmo tempo que conservam a sua religião, os Vândalos conservam as suas leis, os seus costumes, e cobram pesados impostos às populações.

No entanto, e é esta uma terceira característica da ocupação, não mudam em nada a organização administrativa da África romana. Estabeleceram grandes domínios (sortes), mas mandam-nos cultivar pelo mesmo pessoal; deixam os romanos aumentar os impostos e julgar as causas. O rei todo poderoso é o único senhor do reino, tendo o testamento de Genserico proibido a divisão das terras entre os seus herdeiros. Continua a ser vândalo, mas utiliza na sua corte romanos que redigem as leis em latim e o ajudam na sua administração.