Em 476, o imperador infante Rômulo Augústulo era deposto pelo exército do Itália. Odoacro, chefe de uma pequena tribo de bárbaros – os Érulos ou Skiros – é, pouco depois, reconhecido “patrícia” pelo imperador Zenão de Constantinopla. Toma-se, de fato, o senhor de um exército composto por mercenários de origens muito diversas e de um verdadeiro reino bárbaro limitado à Itália e cujo centro vital situa-se na planície do Norte, entre Ravena, a Milão.

Em 489, porém, Teodorico, chefe dos ostrogodos, invade a península, comandando um exército também compósito, e inflige a Odoacro uma re­tumbante derrota perto de Verona. Teodorico cerca Odoacro em Ravena, engana-o ao oferecer a partilha do poder e, finalmente, faz com que seja assassinado (março de 493).

O governo de Teodorico inspira-se a seguir na sábia política de Odoa­cro: uma espécie de dualismo que, com muita habilidade, mantém igual­mente tradições imperiais romanas e bárbaras. Generalíssimo romano, “patrícia” e, por outro lado, rei dos germanos, Teodorico formara-se du­rante longas permanências na corte de Constantinopla. Mantém as antigas leis, deixa o nome do imperador nas moedas, conserva os magistrados e empregados nos cargos de outrora; sobretudo, sabe ganhar o apoio da classe senatorial, respeitando-lhe os privilégios, e o do povo de Roma, sempre alimentado e entretido.

Restaura as termas, as lojas, os aquedutos e os esgotos da capital.

Suas ambições ultrapassam em muito a Itália e parece ter sonhado com uma espécie de hegemonia dos godos sobre o conjunto do mundo germânico, unificado sob sua autoridade. Conserva estreitos contatos com as tribos estabelecidas na Germânia, onde recruta soldados e envia legados destinados a reforçar a solidariedade dos bárbaros. Esforça-se por estabelecér laços familiares com outras casas reinantes; ele mesmo casa-se com uma irmã de Clovis e sua irmã desposa Thrasamundo, rei dos vândalos; casa uma de suas filhas com o visigodo AIarico n e uma outra com o borgúndio Sigismundo.

Após 507 e a vitória de Clóvis sobre os visigodos, salva· a Provença da invasão franca, envia víveres para Arles, retém a Septimânia e, de 511 a 526, impõe um verdadeiro protetorado sobre o reino visigótico da Espanha, governado então por· oficiais de Ravena.

Nos últimos anos de sua vida, entretanto, Teodorico perseguiu os católicos e os membros da aristocracia acusados de constituírem um partido bizantino e imperial. Vítima de uma verdadeira mania de perseguição, o rei vê por toda parte conspirações tramadas contra ele, faz morrer na prisão o papa João II e seu próprio amigo Boécio. Além disso, sua morte, em 526, deixa um problema sucessório difícil, pretexto para a intervenção dos exércitos de Justiniano, em 536.