O Haiti foi o primeiro país latino-americano a se tornar independente da França, por meio da Revolução Haitiana. Denominada de colônia Saint Domingue, o país era o maior produtor de açúcar do mundo e o principal exportador de café para a Europa.

Com os acontecimentos da Revolução Francesa, membros da elite e escravos vislumbram a oportunidade de dar fim às exigências impostas pelo pacto colonial francês. Em meio a contradições de interesses entre a elite, que buscava maior autonomia política para expansão de seus negócios, e os escravos de origem africana, que queriam a execução dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade provenientes da França revolucionária, o Haiti se preparava para o seu processo de independência. Sua população era constituída de cerca de 500 mil habitantes: 35 mil brancos, 30 mil mulatos livres e mais de 430 mil escravos negros oriundos da África Ocidental.

Percebendo que estavam em maioria, em 1791, uma mobilização composta por escravos, mulatos e ex-escravos se uniu com o objetivo de dar fim ao domínio exercido pela elite branca que controlava os poderes e instituições políticas do local. Sob a atuação do líder negro Toussaint Louverture, os escravos conseguiram tomar a colônia. Três anos mais tarde, quando a França esteve dominada pelas classes populares, o governo metropolitano decidiu acabar com a escravidão em todas as suas colônias.

A essa altura, a população de escravos haitiana já havia conquistado a sua liberdade. Contudo, as lutas responsáveis pela consolidação dessa nova realidade estariam longe de chegar ao seu fim. No ano de 1801, Louverture organizou uma nova mobilização que estendeu a liberdade para os escravos da região da ilha colonizada pelos espanhóis, que hoje corresponde à República Dominicana. Nesse período, Napoleão Bonaparte assumia a França e se mostrou contrário a perda desse importante domínio colonial.

 No ano de 1803, Bonaparte enviou um grande exército ao Haiti que, sob o comando de Charles Leclerc, conseguiu deter Louverture. Logo em seguida, o líder revolucionário acabou falecendo em uma prisão francesa. Apesar desse grande revés, os revolucionários haitianos contaram com a liderança de Jacques Dessalines para derrotar as forças do exército francês e, finalmente, proclamar a independência do Haiti. Logo em seguida, Dessalines foi alçado à condição de imperador do novo país.

Somente no ano de 1806, quando Dessalines foi traído e assassinado, o Haiti passou a adotar o regime republicano. O reconhecimento da independência do país só aconteceu no ano de 1825, quando o governo francês recebeu uma indenização de 150 milhões de francos. Depois disso a notícia da independência no Haiti inspirou a revolta de escravos em diferentes regiões do continente americano.

Principais momentos da Revolução Haitiana

Em 1791 deu se o início da insurreição dos escravos negros contra seus senhores. Em meio à anarquia e aos massacres, facções de negros, mulatos e brancos formaram alianças temporárias.

Governo de Sonthonax 1792-1794) – Em 1792, o governo revolucionário francês, cada vez mais radicalizado (a monarquia foi derrubada e a república proclamada), enviou o Comissário Léger Sonthonax, um jacobino, para assumir o governo de Saint Domingue. Com poderes especiais, Sonthonax instalou um regime ditatorial de terror, aliou-se aos mulatos e perseguiu os brancos, acusados de serem monarquistas e contra-revolucionários.

Intervenção da Espanha (1793-1795) – Em março de 1793, a Espanha, que dominava a parte oriental da ilha de Hispaniola (colônia de Santo Domingo), invadiu Saint Domingue, com apoio dos brancos e ocupou o norte da colônia. Os espanhóis também utilizaram tropas de negros de Saint Domingue. Um desses batalhões foi comandado por Toussaint L’Ouverture.

Abolição da escravidão (1793-1794) – Buscando aliados para enfrentar os espanhóis e os monarquistas, Sonthonax decretou a abolição da escravidão (23 agosto 1793). Na França, a Convenção Nacional jacobina confirmou esse ato e aboliu a escravidão em todas as colônias francesas (4 fevereiro 1794). Com a abolição, Toussaint L’Ouverture se voltou contra os espanhóis e passou para o lado dos franceses.

Intervenção da Grã-Bretanha (1793-1798) – Em setembro de 1793, a Grã-Bretanha invadiu Saint Domingue, também com apoio dos grands blancs, e tentou tomar a colônia dos franceses. Mas os britânicos acabaram fracassando. Doenças (febre amarela e malária) e a violenta resistência dos mulatos e negros pró-franceses (destacando o comando de Toussaint L’Ouverture) mataram 13 mil dos 20 mil soldados britânicos enviados. Além disso, os acontecimentos em Saint Domingue e a ação de agitadores jacobinos espalharam a revolução dos escravos pelas outras ilhas do Caribe, inclusive nas Índias Ocidentais Britânicas, impedindo a Grã-Bretanha de mandar reforços para o Haiti.

Em 1795, Espanha abandona Saint Domingue – A Espanha saiu da guerra contra a França e cedeu sua colônia de Santo Domingo para os franceses.

Consequências da Revolução Haitiana

Em 1822, o Haiti reconquistou Saint Domingue e por mais de duas décadas dominou toda ilha de Hispaniola. Em 1844, a Republica Dominicana ficou independente do Haiti (as tentativas haitianas de reconquistar o território dominicano nas décadas de 1840 e 1850 fracassaram).

As destruições causadas pela revolução, o extermínio e fuga dos brancos (mais instruídos e preparados tecnicamente), o desenvolvimento da agricultura de subsistência e as lutas internas entre negros e mulatos levaram ao colapso econômico e empobrecimento do Haiti. Outro problema foi que a França só reconheceu a independência  em 1825, depois que o Haiti pagou uma grande indenização.

O exemplo haitiano assustou as elites brancas das outras colônias europeias na América, especialmente no Caribe e no Brasil, onde existiam sociedades mais parecidas com a de Saint Domingue. Temendo revoluções semelhantes em seus territórios, elas adotaram uma postura conservadora de evitar o confronto com suas metrópoles, o que reduziu, temporariamente, o ideal de independência.