Os Portugueses chegaram a Moçambique nos finais do século XV-1498, chefiados por Vasco da Gama, movidos por motivos económicos, sociais e religiosos. Interessados pelo ouro e marfim de Moçambique, embarcaram pela primeira vez no rio Inharrime ( Inhambane, em Sofala-1505, Ilha de Moçambique em 1507; Sena e Tete em 1530 Quelimane em 1544 e começaram a fundar feitorias locais, quer de comercio, quer de defesa contra os ataques árabes e dos chefes locais rebeldes.

Período do ouro (1505-1693)

Antes da presença Portuguesa em Moçambique a actividade mercantil era exercido pelos MOUROS (Swahilis-árabes ) no império dos Mwenemutapas. O ouro era o principal artigo do comercio, daí que se pode afirmar que foi o ouro que trouxe os Portugueses a Moçambique. O ouro permitia aos Portugueses comprar as especiarias asiáticas com quais entravam no mercado europeu como produtos exóticos. Daí que Moçambique passou a constituir uma espécie de reserva de meios de pagamento das especiarias, razão pelo qual os Portugueses se fixaram nesse pais primeiramente como mercadores e mais tarde comocolonizadores efectivos.

A sua fixação nas zonas costeiras e no interior do Zimbabwe era só para controlar as vias de escoamento do ouro e no interior do Mwenemutapa, mas também para controlar o próprio acesso às zonas produtoras do ouro e de marfim.

De lembrar que o controlo e o acesso as zonas produtoras do ouro pelos portugueses foi possível com aliança destes com a classe reinante local (Gatsi Lucere). Em 1560 e 61, os portugueses organizaram e enviaram uma expedição missionaria à corte do imperador chefiada pelo padre Jesuíta Gonçalo Silveira, com o objectivo de converter a classe dominante à religião católica. Neste contexto, o mwenemutapa reinante ( Lucere) é baptizado com o nome de Sebastião, onde os portugueses preteriam:

Influenciar as decisões politicas do imperador em seu beneficio;

Promover membros no sentido de se alargar o período em que os camponeses dedicavam-se à produção do ouro em detrimento da produção de bens de uso ( agricultura).

Marginalizar os mercadores asiáticos;

N.B.: a expedição não teve êxitos pôs o padre foi acusado de feitiçaria e morto em 1561.

Em 1572 em resposta do sucedido em 1561, os portugueses enviaram uma expedição militar chefiada por Francisco Barreto ao império, para conquistar as zonas produtoras do ouro, punir e submeter o imperador. Mas graças à coesão no seio da classe dominante, à combatividade dos guerreiros e doenças tropicais, os portugueses foram derrotados.

A primeira década do século XVII marcou inicio de uma nova era no Estado dos Mwenemutapas, pois a classe reinante (LUCERE/SEBATIAO) envolveu-se em profundas contradições com Mathuzianye. Lucere sentindo-se inferior de debelar a revolta Mathuzianye pediu ajuda militar aos portugueses em 1607.

Assim em 1607, a rebelião  Mathusianye foi vencida e Lucere, o mwenemutapa, cedeu as minas do seu Estado aos portugueses. Entre tanto, não divulgou todas as minas para tal acesso, o chefe das feiras portuguesas tinha que pagar um tributo ao Mwenemutapa de nomeCurva. Por este motivo Lucere foi considerado traidor das resistências moçambicanas, pôs permitiu a entrada e fixação dos comerciantes e militares portugueses no seu império e os manbos de Manica revoltaram-se contra ele.

Entre 1607 e 1627, a presença portuguesa no seu império foi se consolidando, principalmente com o estabelecimento de prazeiros e missionários. Com a morte do Lucere, sobe ao poder seu filho Caprizine após este ter derrotado seu tio Mavura (1627). Caprizine era contra a presença portuguesa e por isso acabou expulsando-os do império recuperando dessa maneira todas as terras e minas que estavam sob  poder dos portugueses.

Em 1629 Caprizine foi deposto do poder pelo seu tio Mavura que pediu apoio português. Os portugueses baptizaram Mavura por D.FILIPE-II e este declarou-se vassalo de Portugal. No mesmo ano Mavura faz amplas concessões militares, políticos, e comercias aos portugueses e pelo tratado a aristocracia dos Mwenemutapas foi obrigado a:

Não exigir aos funcionários e mercadores portugueses a observância das regras protocolares (descalçar, tirar o chapéu) quando recebidos por altos signatários da corte;

Aceitar uma força militar de 50 soldados portugueses na corte;

Facilitar o estabelecimento da igreja;

Expulsar os mercadores asiáticos do império;

Permitir a criação dos prazos;

Livres circulação dos portugueses e bens;

Abertura de minas sem mandar tapa-lás;

O Mwenemutapa passa a consultar o Capitão antes de tomar qualquer decisão;

Tinha que visitar o governador da Ilha de Moçambique, de 3 em3 anos pagando-lhe um tributo em ouro.

Este conjunto de concessões atentavam contra o direito consuetudinário shona que defendia que a terra não podia ser alienada, era uma falta de respeito com os espíritos dos antepassados. Assim, em 1693 o muenemutapa Afonso Nhacunimbite insatisfeito com o procedimento dos portugueses, convida o chefe Butua, Changamire Dombo para dirigir um levante armado contra a presença portuguesa.

Esta revolta significou o inicio do desmoronamento dos Mwenemutapas porque as regiões que não eram directamente controladas pelo imperador, aproveitaram se do clima para conquistar a sua autonomia e consequentemente, o fim da fase do ouro e inicio da fase do marfim.

Consequências do ciclo do ouro

Abandono das principias actividades produtivas;

Erosão da economia das mishas;

Lutas entre clãs e entre dinastias pelo controlo do comércio com os portugueses;

Surgimento de novas unidades politicas, onde a classe dominante era formada por mercadores portugueses e indianos estabelecidos como proprietários das terras que haviam sido doadas, compradas ou em muitos casos conquistados.

Bibliografia  

CABAÇO, José Luís de Oliveira. Moçambique identidades, colonialismo e libertação.Universidade, São Paulo, 2007;

 Departamento da Historia Universidade Eduardo Mondlane. História de Moçambique. Livraria Universitária,  Maputo, 1982;HEDGES, David. Moçambique no auge do colonialismo 1930-1961. Livraria Universitária Eduardo Mondlane, volume 2, Maputo, 1999;

MONDLANE, Eduardo. Lutar por Moçambique. Maputo, colecção “Nosso Chão” 1969;

NEWITT, Malyn. História de Moçambique. Mem-Martins, Publicações Europa-América, 1997