O trabalho migratório de Moçambique para a agricultura e para as minas da África do Sul, teve a sua fonte em trabalhadores oriundos de zonas extremamente longínquas. Os trabalhadores não se fixavam perto dos locais de trabalho e após os contratos regressavam às suas aldeias. Havia dois tipos de trabalhadores: os primeiros eram recrutados no seu país de origem, por um período de 2 a 5 anos; no final do contrato estes eram livres de regressarem às suas terras ou de contraírem um novo compromisso laboral. O outro tipo de trabalhadores deslocava-se individualmente ou em grupos, a pé, à procura de trabalho. Estes por vezes ganhavam mais que os primeiros, pois podiam escolher o patrão, e os seus contratos eram menos extensos variando entre quatro meses e um ano.

Causas gerais do trabalho migratório

  1. a) Desenvolvimento da economia colonial capitalista na África Austral em geral e no Natal em particular;
  2. b) Crise ecológica (seca entre 1860-61), com repercussões a nível da agricultura e da produção alimentar. Como recurso iniciaram migrações com o objectivo de obter vários produtos alimentares;
  3. c) Declínio do comércio do marfim no sul de Moçambique que provocou um excedente de mão-de-obra desempregada;
  4. d) Abertura das minas de diamante de KIMBERLEY em 1870 e de ouro no TRANSVAAL/ RAND em 1886, que proporcionavam maiores incentivos salariais em relação aos pagos em Moçambique e na zona do capital de plantações na própria África do Sul;
  5. e) Escassez de mão-de-obra no Natal devido a hostilidade do reino Zulu em empregar sua mão-de-obra fora das fronteiras do reino. Como solução recorreu-se à contratação da força de trabalho no sul de Moçambique.

Consequências Gerais do Trabalho Migratório

– Incremento dos contactos entre Lourenço Marques e o Transval a partir da exploração mineira;

– Aumento da importância de Lçº Marques como centro de trânsito para o recrutamento de homens e de escoamento de equipamento para Transval;

– Aumento de empreendimentos comerciais, de hotéis e de prestação de serviços transformando-se numa das principais fontes receita das taxas de trânsito;

– Escassez de mão-de-obra masculina no interior de Moçambique o que provocou a intervenção do governo colonial a pedido dos comerciantes;

– Expansão da rede comercial, no interior do sul de Moçambique, controlada por asiáticos e que absorvia os salários dos mineiros.

 

Bibliografia

MARQUES, A. H. de Oliveira (coord.) – O Império Africano. 1890-1930. Vol. XI da Nova História da Expansão Portuguesa (dir. A. H. de Oliveira Marques e Joel Serrão). Lisboa: Estampa, 2001;DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA UEM, História de Moçambique: Moçambique no auge do colonialismo 1930-1961, Maputo, Imprensa Universitária da UEM,  vol.3, 1993;
NEWITT, Malyn, História de Moçambique, Lisboa, Publicações Europa-America, 1997;SERRA, Carlos, História de Moçambique: Agressão imperialista, 1886-1930, Maputo, Livraria Universitária, 2000.