O que são geleiras?

Geleiras são grandes e duradouras massas de gelo formadas em regiões continentais, onde a precipitação de neve é maior do que o acúmulo (exclui-se aqui o congelamento direto das águas de lagos ou mares, bem como as grandes massas de gelo marinho que se acumulam nas regiões polares).

Origem das geleiras

A importância geológica do gelo pode ser constatada em lugares onde o gelo se acumula-se por muito tempo.

A neve cai anualmente sobre vastas áreas mas somente nas montanhas altas e em regiões polares o degelo é menor do que a precipitação ocorrendo assim o acúmulo de neve.

Nos dias atuais tal facto pode ser verificado em regiões muito elevadas e também na altas latitudes, existindo uma linha mais ou menos definida denominada de “linha das neves eternas’. Trata-se de uma linha imaginária que pode ser traçada ao redor da Terra ligando os lugares onde ocorre o acúmulo de gelo. A altitude dessa linha depende da intensidade da precipitação d neve com também da distribuição do período quente. Assim, nas regiões polares a altitude da linha é de 0 metro, enquanto que no equador é de 4500 m. O ponto culminante dessa linha se dá entre os 20 e 30ode latitude a mais ou menos 6000 m de altitude.

Outros fatores inerentes a cada localidade podem influenciar na altitude dessa linha. A linha de neves eterna na realidade marca o limite onde pode e não pode ter o acúmulo de gelo.

Neve – forma-se pela cristalização do vapor de água no interior das nuvens ou logo abaixo delas. Em regiões mais quentes fundem-se antes de chegar ao solo. Em lugares mais frios ela cai sob a forma de minúsculos esqueletos cristalinos de formas belas cristalizados segundo o sistema hexagonal.

O tamanho do cristal depende da temperatura da nuvem. Quanto mais fria for a nuvem (mais seco é o ar) menores serão os cristais de neve. Quanto mais quente for a nuvem, maior a quantidade de vapor de água permitindo assim o crescimento dos flocos de neve.

A neve, depois que precipita, vai se transformar lentamente até mudar por completo sua aparência. Quando a neve cai, sus densidade é de 0,01 (isto porque existe muito espaço vazio preenchido por ar). O próprio peso das camadas superiores de neve causa uma compactação e reorganiza os cristais eliminando os poros. Dessa forma, sua densidade aumenta.

Além desse fenômeno de compactação, o degelo parcial durante o dia e a recristalização à noite, transformam os esqueletos em grânulos maiores e compactos. A densidade passa para 0,6 e é dada a denominação de névéou firn. O aspecto é rígido e áspero.

Após 10 anos a densidade sobe para 0,8 (quase a do gelo = 0,917). Além dessa aumento na densidade, ocorre também o aumento dos cristais agora de gelo, que passam de alguns milímetros para cerca de 2 cm (máximo de 10 cm).

Os cristais de gelo encontram-se intimamente imbricados apresentando um alongamento uma orientação preferencial na direção paralela à direção de movimentação da geleira. A textura do gelo é semelhante a textura sacaroidal apresentada por alguns mármores. A cor branca é dada pelo ar disperso entre os cristais.

Não se levando em conta as condições de baixa pressão e temperatura, o comportamento físico e físico-químico da formação das geleiras pode ser muito bem comparado ao de uma rocha metamórfica.

Quando ocorre o acúmulo de uma grande massa de neve e gelo em regiões de topografia acentuada, a massa perde sustentação caindo morro abaixo (avalanches) muitas vezes com resultados catastróficos.

Acredita-se que a alternância de fusão pela pressão e do regelo, confira uma certa mobilidade interna ao conjunto de cristais de gelo. Outra propriedade importante do cristal de gelo é a translação paralela ao pinacóide basal, fazendo com que o cristal se deforme de forma semelhante à um maço de baralho. Esta propriedade confere ao gelo um comportamento plástico.

Se o gelo não fosse plástico e se ele não fundisse quando submetido à pressão, dar-se-ia o acúmulo de neve nas regiões polares e montanhas sem ocorrer o degelo.

Tipos de geleiras

São 3 os tipos principais:

  1. Tipo alpino ou geleira de vale (geleira de altitude)
  2. Tipo continental (geleira de latitude)
  3. Tipo piemonte

Tipo alpino – recebe este nome pois foi primeiramente estudada nos Alpes. O acúmulo maior de gelo ocorre nos vales das montanhas. São conhecidas geleiras com até 100 km de comprimento e 900 m de espessura. A cabeceira da geleira – parte superior ou extremidade superior – é caracterizada pela existência de feições semelhantes a grandes anfiteatros com paredes abruptas e com a base razoavelmente plana. Tal feição é chamada de circo glacial.

Em muitas geleiras de vale podem ser distintas 2 zonas com aspecto muito diferente. A primeira, superior, possui constantemente sobre sua superfície, a neve que se acumula – zona de acúmulo de neve. Nesta zona, a precipitação é maior do que o degelo. Em uma segunda região da geleira ocorre exatamente o inverso. A fusão e a evaporação predominam. Trata-se da zona de ablasão (ablasão = desgelo superficial da geleira). A linha que separa as duas zonas é chamada de firn line (fronte de nevada).

Geleira continental- associada a grandes latitudes, podendo se espalhar por grandes áreas continentais. A espessura dessas geleiras não são conhecidas na sua totalidade. Atualmente são utilizados métodos geodésicos de reflexão para o mapeamento do substrato da geleira. O resultado revela um relevo bastante acidentado.

Geleira tipo piemonte – trata-se de um tipo intermediário entre as geleiras citadas anteriormente. São geleiras que se formam em regiões montanhosas e que se espalham por grande área ao redor da fonte.

Temperatura do gelo- O gelo é um mau condutor de calor, por isso as variações da temperatura não afetam a temperatura do gelo. Dessa forma, a temperatura medida no fundo de uma geleira é de apenas -0,50C.

Rochas formadas pela ação glacial

Principais características dos depósitos glaciais:

  • Total ausência de alteração química;
  • Seixos facetados e estriados;
  • Falta de seleção quanto ao tipo de rocha e tamanho do fragmento lítico transportado.

As principais rochas formadas por ação glacial são:

a) Tilito

b) Sedimentos flúvio-glaciais

c) Varvito

a) Tilito– rocha formada pelo acúmulo de detritos transportados por uma geleira. Quando o depósito é recente (ou seja, a rocha ainda não sofreu diagênese) denomina-se de till.

O tilito é caracterizado pela coexistência lado a lado de fragmentos de dimensões métricas/decimétricas e sedimentos muito finos (não existem argilas, que são os resultados d alteração de diferentes minerais). A relação matriz vs. seixos é muito alta, ou seja, existe muita matriz pra pouco seixo. Normalmente não se observa estratificação. Quando ela ocorre é resultado do retrabalhamento da água de degelo nas fendas.

Os seixos maiores podem apresentar orientação preferencial segundo duas direções principais. A primeira direção encontra-se paralelamente a direção do movimento da geleira. Outros no entanto, apresentam seu eixo maior a 90 do movimento da geleira. Tal fato pode ser explicado imaginando-se que tais fragmentos apresentam movimento de rolamento. O arredondamento dos seixos de um tilito pode ser muito variável.

b) Sedimentoflúvioglaciais – quando a geleira vai recuando, ou seja, o degelo é prolongado, a água resultante da fusão irá retrabalhar o till já depositado. Existirá então uma seleção de material quanto ao tamanho e peso dos fragmentos. As partículas mais finas (areia, silte) serão transportadas por distâncias consideráveis, indo se depositar em lagos ou em baixios alimentados pelas águas de degelo. Os sedimentos mais grosseiros sofrerão pouco ou nenhum retrabalhamento.

c) Varvito– rocha sedimentar resultante da deposição rítmica em lagos obedecendo as variações climáticas (anuais ou não). Assim, na época mais quente (verão) o degelo é maior, verificando a deposição das frações silte e areia fina, originado uma camada de coloração clara. Já na época mais fria (inverno), quando a geleira cobria o referido lago, dá-se a sedimentação das frações mais fina (silte e argila) juntamente com restos de organismos mortos. devido ao frio. O resultado será uma camada de coloração escura.

A alternância de níveis claros e escuros fornece uma idéia sobre o tempo de duração de cada inverno e verão. Assim calcula-se a idade de tais sedimentos bem como o tempo que demorou a glaciação