Tanto a Geografia Tradicional como a Geografia Marxista militante negligenciaram a dimensão sensível de perceber o mundo.

A Geografia Humanística tem como base a fenomenologia existencial de Edmund Husserl, possui suas raízes em Kant e Hegel. A fenomenologia existencial preocupa-se com a experiência vivida e adquirida pelo indivíduo, contrapondo-se às observações de base empírica, pois não se interessa pelo sujeito, nem pelo objeto e sim pela experiência.

A Geografia Humanística reflete sobre os fenômenos geográficos com o propósito de alcançar melhor entendimento do homem e de sua condição.

Considerando que a abordagem geográfica humanista rechaça a ideia de um mundo preciso, sem contornos e destituído de significados, esta abarca em seu âmbito os laços de afetividade que unem as pessoas ao meio ambiente e pode analisar a relação empática do ser. Ela se entrosa com as Humanidades e Ciências Sociais, no sentido de que todas compartilham a esperança de prover uma visão precisa do mundo humano. A Geografia Humanística procura um entendimento do mundo humano através do estudo; das relações das pessoas com a natureza, do seu comportamento geográfico, bem como dos seus sentimentos e ideias a respeito do espaço e do lugar.

O arraigamento de sentimentos, a assimilação e consequente incorporação da cultura local contribuem para a formação da identidade dos lugares; e este sentido de identidade envolve percepção, se apresenta carregado de satisfação, reminiscência e felicidade, como um somatório das dimensões simbólicas ao encarnar as experiências banais e aspirações humanas.

Ao propor-se esboçar uma abordagem humanístico-cultural a partir da fenomenologia pode-se analisar as ações, as percepções e decodificar as simbologias que transformam os espaços em lugares, onde as experiências e vivências do lugar e a afetividade pela terra desempenham um papel fundamental na construção e identidade de uma nova paisagem. “É o contexto pelo qual a pessoa valoriza e organiza o seu espaço e o seu mundo e nele se relaciona”.

Considerações de cunho epistemológico referenciam neste contexto a figura de Ratzel e suas concepções e proposições de cultura, artefactos, deslocamentos e adaptação ao meio que tanto influenciaram os trabalhos neste campo da geografia, uma vez que para ele o estudo geográfico da cultura confundia-se com a dos artefatos utilizados para dominar o espaço. Ratzel reconhecia nos povos a mobilidade como um atributo a sua essência, uma vez que estes dominam as técnicas que asseguram e se fazem necessárias a sua adaptação; assim, atribui um lugar importante aos fatos de cultura, porque a vincula aos meios de aproveitamento do meio ambiente e àqueles estabelecidos para facilitar deslocamentos.

A Geografia Humanística procura valorizar a experiência do indivíduo ou do grupo, visando compreender o comportamento e as maneiras de sentir das pessoas em relação aos seus lugares. Para cada indivíduo, para cada grupo humano, existe uma visão do mundo, que se expressa através das suas atitudes e valores para com o quadro ambiente. Nessa perspectiva, os geógrafos humanistas argumentam que sua abordagem merece o rótulo de “humanística”, pois estudam os aspectos do homem que são mais distintamente humanos: significações, valores, metas e propósitos.

Segundo Christofoletti, as noções de espaço e lugar surgem como muito importantes para esta tendência geográfica. O lugar é aquele em que o indivíduo se encontra ambientado no qual está integrado. Ele faz parte do seu mundo, dos seus sentimentos e afeiçoes; é o “centro de significância ou um foco de ação emocional do homem”. O lugar não é toda e qualquer localidade, mas aquela que tem significância afetiva para uma pessoa ou grupo de pessoas.

A noção de espaço envolve um complexo de idéias. A percepção visual, o tato, o movimento e o pensamento se combinam para dar-nos o nosso sentido característico de espaço, possibilitando a capacidade para reconhecer e estruturar a disposição dos objetos. A distância é de âmbito espaço-temporal, pois envolve não só as noções de “perto” e “longe”, mas também as de passado, presente e futuro. “A experiência de espaço e tempo é principalmente subconsciente. Temos um sentido de espaço porque podemos nos mover, e de tempo porque, como seres biológicos, passamos fases recorrentes de tensão e calma”.

Todavia, para a Geografia Humanística, a integração espacial faz-se mais pela dimensão afectiva que pela métrica. Estar junto, estar próximo, não significa a proximidade física, mas o relacionamento afetivo com outra pessoa ou com outro lugar. Lugares e pessoas fisicamente distantes podem estar afetivamente muito próximos. Portanto, o estudo do espaço é a análise dos sentimentos e ideias espaciais das pessoas e grupos de pessoas. Da valorização da percepção e das atitudes decorre a preocupação de verificar os gostos, as preferências, as características e as particularidades dos lugares. Valoriza-se também o contexto ambiental e os aspectos que redundam no encanto e na magia dos lugares, na sua personalidade e distinção. Há o entrelaçamento entre o grupo e o lugar.

Entretanto, com a expansão cada vez maior da tecnologia, da massificação, das facilidades de transporte e da organização do consumo, encontramos elementos idênticos em quase todas as localidades.

Segundo Christofoletti, na perspectiva fenomenológica de Relph, o mesmo enfoca que a expansão cada vez maior da tecnologia e a organização do consumo tem descaracterizado os lugares, das mais diversas regiões, visto que em grandes e pequenas cidades, podemos encontrar elementos idênticos tais como propagandas, gêneros alimentícios, meios de transporte e construções, entre outros representando o processo de universalização e descaracterização do lugar.

Referências bibliográficas

TUAN, Yi. Fu. Espaço e LugarSão Paulo: Difel, 1983.
CHRISTOFOLETTI, Antonio (org). Perspectivas da Geografia 2.ed. São Paulo: Difel, 1985.