A falta da constituição de um Estado nacional, a extrema diversidade entre os vários membros da confederação, a ausência de relações duráveis entre eles, a inexistência de um centro organizador do espaço, ou de um ponto de convergência das relações econômicas, – todos estes aspectos conferem a discussão geográfica uma relevância especial, para as classes dominantes da Alemanha, no inicio do século XIX. Temas como domínio e organização do espaço, apropriação do território, variação regional, entre outros, estarão na ordem do dia na pratica da sociedade alemã de então.
As primeiras colocações, no sentido de uma Geografia sistematizada, vão ser obra de dois autores prussianos ligados a aristocracia: Alexandre Von Humboldt, conselheiro do rei da Prússia, e Karl Ritter, tutor de uma família de banqueiros. Humboldt possuía uma formação de naturalista e realizou inúmeras viagens. Sua proposta de Geografia aparece na justificativa e explicitação de seus próprios procedimentos de analise. Humboldt entendia a Geografia como a parte terrestre da ciência do cosmos, isto é, como uma espécie de síntese de todos os conhecimentos relativos a terra. Em termos de método, Humboldt propõe o empirismo raciocinado, isto é, a intuição a partir da observação.
A obra de Ritter já e explicitamente metodológica. A formação de Ritter também e radicalmente distinta da de Humboldt, enquanto aquele era geólogo e botânico, este possui formação em Filosofia e História. Ritter define o conceito de “sistema natural”, isto é, uma área delimitada dotada de uma individualidade. A Geografia deveria estudar estes arranjos individuais, e compará-los. Assim, a Geografia de Ritter é, principalmente, um estudo dos lugares, uma busca da individualidade destes.
O que podemos ver nesse postulado é uma diferença bem clara de abordagens de pensamentos mesmo se tratando de autores clássicos do pensamento Geográfico Tradicional, Ritter produziu uma Geografia mais Regional e antropocêntrica, enquanto Humbold desenvolve o trabalho em busca de abarcar o Globo, sem privilegiar o homem, mesmo meio que sendo produções diferentes é esse conhecimento que vai formar uma base solida para uma Geografia Futura.
Fica bem claro que as maiores contribuições para a sistematização do pensamento geográfico saíram da Alemanha, isso não quer dizer não ter havido produção de conhecimentos em outros lugares, mas porque é justamente na antiga Prússia que vai haver o maior número de cientistas que abordaram essa linha de conhecimento, e ainda os precursores da Geografia Ritter e Humboldt.
Ratzel e a Antropogeografia
Um revigoramento do processo de sistematização da Geografia vai ocorrer com as formulações de Friedrich Ratzel. A Geografia de Ratzel foi um instrumento poderoso de legitimação dos desígnios expansionistas do Estado alemão recém constituído. A unificação tardia da Alemanha, que não impediu um relativo desenvolvimento interno, deixou-a de fora da partilha dos territórios coloniais. Isto aumentaria com próprio desenvolvimento interno.
Daí, o agressivo projeto imperial o propósito constante de anexar novos territórios. Assim, a Geografia de Ratzel expressa diretamente um elogio do imperialismo, como ao dizer, por exemplo: “Semelhante à luta pela vida, cuja finalidade básica é obter espaço, as lutas dos povos são quase sempre pelo mesmo objetivo.
O principal livro de Ratzel, publicado em 1882, denomina-se Antropogeografia – fundamentos da aplicação da Geografia à Historia. Nela , Ratzell definiu o objeto geográfico como o estudo da influencia que as condições naturais exercem sobre a humanidade. Estas influencias atuariam, primeiro na fisiologia e na psicologia dos indivíduos, e, através deste, na sociedade. Em segundo lugar, a natureza influenciaria a própria constituição social, pela riqueza que propicia, através dos recursos do meio em que esta localizada a sociedade.
A natureza também atuaria na possibilidade de expansão de um povo, obstaculizando-a ou acelerando-a. Para ele a sociedade é um organismo que mantém relações duráveis com o solo, manifestas, por exemplo, nas necessidades de moradia e alimentação. O homem precisaria utilizar os recursos da natureza, para conquistar sua liberdade, que, em suas palavras “é um dom conquistado as duras penas”. Justificando essas colocações Ratzel elabora o conceito de “espaço vital”.
Vi aqui que a Geografia desenvolvida por Ratzel privilegiou o componente humano e abriu várias frentes de estudo, valorizou questões relacionadas à História e ao espaço, como: a formação dos territórios, a difusão dos homens no Globo (migrações, colonizações, etc.), a distribuição dos povos e das raças na superfície terrestre, o isolamento e suas conseqüências e etc. Objetivo central seria o estudo das influências, que as condições naturais exercem sobre a evolução das sociedades, o chamado determinismo geográfico, que ira ser criticado por Vidal de La Blache em um contexto de Estado Nacional diferente ao de Ratzel.
Ratzel manteve o caráter empírico da Geografia tradicional, e desenvolveu outra linha de pensamento a Geopolítica, esta como uma forma de calcificar a evolução do Estado Alemão. A partir da unificação do Estado Alemão criou a teoria do “espaço vital”, como forma de justificar a expansão do Estado Alemão.