Urbanização

Urbanização é um processo do afastamento das características rurais de uma localidade ou região para características urbanas, estando este fenómeno associado ao desenvolvimento da civilização e da tecnologia. Demograficamente, o termo urbanização significa a redistribuição das populações das zonas rurais para assentamentos urbanos. Este conceito inclui três componentes, demográfica, económica e social.

Este termo também pode designar a acção de reestruturar uma área rural com infra-estruturas e equipamentos urbanos, exemplo: água, esgotos, gás, electricidade ou serviços urbanos (transporte, educação e saúde).

Os conceitos rural e urbano podem variar de país para país e sofreram uma evolução ao longo da história da sociedade humana ajustando-se as diferentes etapas do desenvolvimento socioeconómico, nomeadamente antiguidade, idade média, moderna e contemporânea.

Só ocorre a urbanização quando o crescimento da população urbana é superior ao crescimento da população rural, pois a urbanização está associada á concentração de muitas pessoas num espaço restrito e na substituição das actividades primárias por actividades secundárias e terciárias.

Na antiguidade

Durante a antiguidade os primeiros agrupamentos urbanos surgiram no neolítico, quando as condições técnicas da época, em todos os domínios assim o permitiram. As primeiras cidades surgiram nos grandes centros urbanos, onde as condições de produção são óptimas, exemplo: Vale do Nilo, Vale do Indo, Vale do Gangens, do Meconge, Vale do Amarelo, etc.

A localização das cidades nos rios era indispensável, pois os berços aluviais das civilizações estavam dependentes da importação das matérias-primas para o desenvolvimento da própia cidade.

Na idade média

O desenvolvimento das cidades nesta etapa foi influenciado por dois fenómenos importantes, nomeadamente o triunfo do crescimento e as invasões bárbaras, fenómenos estes que provocaram um retrocesso no surgimento e crescimento das cidades, levando-às, à sua dimensão natural e à restrição de algumas das suas funções tais como: produção, comercialização, administrativa e cultural, caracterizadas pelo predomínio de funções religiosas, consequentemente a redução das dimenções em termos de área das cidades tornando-se assim administrativas eclesiásticas.

Apesar dos retrocessos verificados, por volta dos séculos IX e XI começaram a surgir algumas cidades comerciais sobretudo no próximo oriente.

Após esta fase, o renascimento trouxe uma dinámica significativa no crescimento das cidades, tanto em termos de dimensão como em termos de número da população e tipo de funções e a Revolução Industrial fez com que essas cidades passassem de simples centros administrativos e comerciais para centros de Produção indústrial cultural e um local de troca de opniões.

Situação urbano actual

É a posição que a cidade ocupa em relação aos factores naturais da sua região. Os factores naturais podem ser um rio, uma jazida mineral, o mar, um crusamento de rotas terrestres. Esta posição é de fundamental importância e pode influir no seu maior ou menor desenvolvimento dependendo da sua posição ser mais ou menos favorável.

Cidade

A cidade como um centro de relações e de decisões onde se encontram os homens, trocam-se mercadorias, difundem-se ideias e reúnem-se as diferentes formas de actividades que constituem as funções urbanas tais como: o comércio, a indústria, os serviços urbanos (transporte, saúde, educação), administração, etc.

Origem das cidades

As primeiras cidades surgiram há cerca de 7.500 anos no Sudoeste Asiático e a sua localização dependia da maior ou menos facilidade de comunicação, quer com a área á volta delas, quer com as áreas longínquas. Como os transportes eram primitivos, o meio mais fácil de comunicação era o barco, por isso que as grandes cidades situavam-se junto dos rios que fossem navegáveis e constituíssem boas vias de comunicação.

As cidades podem ter suas origens ligadas a várias causas, tais como as fortificações, os aldeamentos indígenas, os núcleos de colonização, as actividades estrativas, militares e culturais. Independentemente das causas, quanto a origem, as cidades podem ser de dois tipos as espontâneas e as planificadas.

Cidades espontâneas

A maior parte das cidades do mundo surgiu e cresceu espontaneamente a partir de pequenos núcleos iniciais, que ao crescerem muitas delas tornaram-se problemáticas, como é o caso de São Paulo, Nova Iorque e outras.

Cidades planificadas

Estas cidades são construídas com a finalidade de desenvolverem ou desempenharem determinadas funções como religiosa, comerciai, administrativa, cultural, industrial, histórica, universitária, política e outras sendo estas normalmente mais organizadas e funcionais como por exemplo Brasília, Washington, Belo horizonte, Londres, Hong Kong, Jerusalém, Manchester, Meca, Gibraltar, etc.

Rede urbana e sua hierarquia

As cidades não podem normalmente se encontrar isoladas umas das outras, pois elas mantêm um relacionamento permanente entre si e ao mesmo tempo com as zonas rurais. As cidades de um país ou de uma região apresentam estágios desiguais de crescimento, sendo umas maiores, outras menores, umas completas em bens indústriais e serviços, outras menos, fazendo com que umas dependam das outras em graus diferentes, estabelecendo sempre relações entre elas.

Rede urbana

É um sistema de cidades destribuidas numa região mantendo relações entre si e dependentes de um centro principal que comanda a vida regional, existindo algumas redes urbanas mais ou menos organizadas daí que as relações podem ser de maior ou menor intensidade dependendo do estágio de evolução em que se encontram as cidades.

Hierarquia urbana

É a dependência que existe de uns centros urbanos em relação a outros. Na hierarquia urbana de um país tem-se inicialmente um grande centro urbano que é o mais completo de todos em bens e serviços, e cuja área de influência é muito grande, abrangendo todo território nacional é a metrópole nacional.

Existem, também, cidades geralmente grandes e bem equipadas cuja área de influência costuma abranger uma grande região ou porção do país são as metrópoles regionais.

Caso se tenha uma rede urbana bem organizada, seguem-se cidades sucessivamente menores (capitais regionais, centros regionais e subregionais) até se chegar aos chamados centros elementares. Exemplo: Metrópoles nacionais (São Paulo e Rio de Janeiro no Brasil).

O crescimento das cidades

A urbanização é geral, pois atinge todas as partes do mundo, entretanto, ela não teve o mesmo ritmo do crescimento em diversos países e regiões do mundo. Os mais elevados índices de urbanização são encontradas nos países e regiões mais desenvolvidas do mundo, por exemplo, na Europa Ocidental, América do Norte e Japão. E os menores índices de urbanização são encontrados nos países e regiões do mundo onde a industrialização é mais crescente e restrita, são países de economia agrícola com eleveda percentagem da população activa no sector primário, como é caso dos países da África, Ásia e América latina.

Terminologia Urbana

Morfologicamente, a mais pequena unidade de agrupamento no interior de uma cidade é o quarteirão, constituído pelos edificios delimitados pelas ruas que lhes asseguram acesso. Nas cidades mais antigas e nos países menos desenvolvidos o quarteirão é como base estatística de contagem.

A unidade de base da vida urbana é o bairro. No continente africano como aconteçeu em Moçambique, as designações dadas aos bairros têm a ver com sua localização e é com base no bairro que se desenvolve a vida pública que se organiza a representação popular. O bairro tem um nome, o que lhe confere personalidade própia no interior da Cidade.

A administração das grandes cidades introduziu entre o bairro e a cidade no seu todo, uma divisão que apenas tem um significado administrativo – Distrito urbano.

Este é demasiado extenso para funcionar como uma unidade concreta da vida colectiva o que não lhe permite impor-se socialmente. O cidadão que reside nela, apenas se apercebe que está inserido num determinado distrito urbano quando necessita recorrer aos serviços administrativos.

Nas cidades da Europa e da América latina os bairros organizam-se administrativamente em freguesias, que desempenham funções semelhantes às do distrito urbano, mas de hierarquia inferior.

As cidades que organizam os seus bairros em freguesia tendem a fazer desaparecer ou pelo menos diluir distritos urbanos.

A cidade satélite pode perder as suas características típicas e tornar-se numa cidade dormitória ou num simples bairro da cidade visinha, por observação administrativa se os espaços construidos se juntam e se a passagem de uma para outra se torna muito fácil e pequena.

Por exemplo: O que aconteceu com a cidade Wupperial na Alemanha, que é o resultado da fusão de duas cidades.

Critérios para definição dos limites do urbano

Para a definição dos limites do urbano, são obedecidos alguns critérios tais como:

  1. Continuidade do espaço construido;
  2. Importância quantitativa da população a residir nas vilas suburbanas (número para destinguir as vilas urbanas das rurais);
  3. Repartição da população activa entre os sectores de actividade profissional, especialmente os do tipo urbano (indústria, comércio, serviços, actividades de gestão);
  4. Exercício da profissão do agregado familiar;
  5. Um tipo de edifícios (os edificios tendem para a uniformidade).

Estrutura das Cidades

A cidade organiza-se no espaço segundo uma estrutura mais ou menos definida resultante da interação de factores diversos que variam ao longo do tempo.

O estudo da estrutura urbana nos grandes centros levou a construções nos diversos modelos e formulação de teorias que têm sido aplicadas ao desenvolvimento das cidades de todo mundo.

Algumas análises mais modernas da estrutura das cidades têm se concentrado na procura dos factores básicos que diferenciam as áreas, partindo das características dos seus residentes e observando o modo como esses factores viriam dentro da cidade.

ARAUJO (1997) destaca três factores básicos para a definição da estrutura de uma cidade:

  • Categoria sócio económico;
  • Ciclo de vida familiar;
  • Carácter étnico

Categoria sócio económica

Resulta do rendimento e do nível de ocupação do chefe do agregado familiar.

O ciclo de vida familiar

É ilustrado pelas fases da vida de um casal, tais como, sem filhos, com filhos ainda crianças, com filhos adolescentes, com um ou mais de dois filhos a viver já fora da casa paternal e reformados.

O carácter étnico

Refere-se a aspecto de nacionalidade, religião, raça, tribo, etc.

Processos de Urbanização no Mundo

Segundo as estimativas aponta-se que nos primeiros anos do século XXI mais de metade da população mundial passará a residir em áreas urbanas, e até ao ano 2025 os valores irão alcançar os 80. Contudo, esta tendência geral omite grandes diferenças entre as grandes regiões do globo terrestre em particular entre as mais e menos desenvolvidas.

Nos países desenvolvidos os níveis de urbanização começaram a crescer rapidamente acerca de 20 anos atrás, e a sua população urbana ultrapassou os 50٪ durante a última década do século XIX e os primeiros anos do século XX. Em contra partida muitos dos actuais países subdesenvolvidos apenas atingiram niveis de urbanização semelhante durante as primeiras décadas do século XIX.

As estimativas realizadas pelas Nações Unidas e Banco Mundial indicam que entre 1990 e 2005 a população urbana dos países em desenvolvimento observariam um crescimento absoluto na ordem de 1 bilhão de pessoas, tal crescimento criaria grandes problemas de expansão e manutenção das infra-estruturas urbanas, das condições ambientais e da dinâmica da economia.

A transição urbana nos países actualmente desenvolvidos teve lugar entre 1815 e 1915, como resultado da Revolução Industrial do século XIX tendo envolvido cerca 100 milhões de pessoas na Europa e América do norte. Nos países em desenvolvimento considera-se que a transição urbana começa no início da década 50 tendo envolvido uma população 10 vezes superior (cerca de 1 bilhão de pessoas).

Nos países subdesenvolvidos este processo ocorre num contexto muito diferente daquele que prevaleceu no século XIX quando teve lugar actualmente nos países industrializados.

Na Europa a expansão da industrialização e da urbanização decorreram num período em que a competição global era muito limitada e de fácil acesso ao crédito, o capital e os mercados, permitindo assim um rápido alargamento e crescimento económico. A transição urbana em países subdesenvolvidos tem lugar numa situação de globalização acentuada onde a competição e muito forte e o acesso ao crédito e aos mercados internacionais se torna mais complexo.

Observa-se a existência de largos seguimentos da população urbana envolvida em actividades informais, caracterizada por fraca produtividade e baixo rendimentos; os sectores de actividade informal suportam grande parte da população activa das cidades de África. A transição urbana nos países desenvolvidos levou a expansão da população assalariada que teve como consequência o crescimento do mercado urbano doméstico para os produtos da indústria, e nos países subdesenvolvidos apresenta apenas características demográficas, provocando uma expansão enorme de novos residentes urbanos sem emprego que vão engrossar o sector informal.

O processo de urbanização no mundo em desenvolvimento respeitando as múltiplas especificidades entre diferentes países, está intimamente ligado à sua incorporação na economia global cuja consequência deste processo de inclusão foi a criação das grandes cidades que passaram a centralizar actividade económica fundamental, o poder administrativo, político e os fluxos de exportação e das matérias-primas e das importações de produtos acabados.

Normalmente em cada um dos países foram se criando dualidades pequenas que passaram a denominar a hierarquia urbana do respectivo país: por um lado uma população pobre, do outro lado, uma população urbana tornando uma elite de funcionários, comerciantes e pequenos empresários.

O crescimento da população dos lugares urbanos pode ser resultado de quatro processos, que podem actuar simultaneamente:

  • Crescimento natural positiva;
  • Migração rural – urbana dentro do país;
  • Migrações internacionais em direcção as áreas urbanas de determinado país;
  • Expansão territorial dos lugares urbanos através da redifinição dos seus limites ou da urbanização das áreas rurais circundantes.

Os problemas das grandes concentrações urbanas no mundo

Existem vários problemas das concentrações urbanas, dentre os quais destacam-se os seguintes: a poluição do meio – ambiente, da água, do ar, a falta de transportes, a falta de habitação, água potável, insuficiência de rede de esgotos, o desemprego, a criminalidade, a desvalorização dos valores sociais e culturais, a prostituição, a mal nutrição, o stress e outros problemas causados pelas grandes concentrações populacionais e característicos dos grandes centros urbanos.   

Em África e na América latina o actual aumento da população nas cidades deve-se ao crescimento natural, fluxos migratórios vindos do campo. Na Ásia mais de metade do crescimento urbano deve-se a migrações rural -urbano e a reclassificação das cidades. O crescimento da população em geral e da urbana em particular nos paises em desenvolvimento tem sido acompanhado pelo mesmo desenvolvimento económico verificado nos países desenvolvidos durante o século XIX.

O saldo fisiológico é o elemento principal do crescimento da população urbana em certas regiões do globo. Esta população nos países em desenvolvimento apresenta uma estrutura jovem, particularmente nas principais cidades reprodutivas facto que nos confere altos índices de fecundidade. Esta mesma situação foi observada na Europa durante a sua transição urbana.

 Porém, aqui a mortalidade urbana era tão alta que o crescimento natural e foi ultrapassado pelo saldo migratório. Actualmente, nas cidades do mundo em desenvolvimento, a mortalidade apesar de ainda ser elevada observou quedas notáveis devido e expansão das cidades primárias e saúde porque os niveis de fecundidade se mantém altos, o saldo fisiológico da população dos países em desenvolvimento e elevado pelo que facilmente ultrapassam o peso das migrações no crescimento urbano.

No que diz respeito ao impacto das migrações e no crescimento da população urbana este varia de país para país, e mesmo ao longo do tempo no interior do mesmo espaço. Em Seoul, por exemplo entre 1955 a 1960 a migração representou 55٪ do crescimento populacional na cidade, apesar do saldo fisiológico se conservar alto com declíneo notável da fecundidade iniciado em 1960, em 1980 a migração expressava 81٪ do saldo demográfico urbano.

Uma outra questão ligada à dinâmica urbana relaciona-se com os limites territóriais dos espaços urbanos. Em certos casos a ausência de dados que tenham em conta as mudanças dos limites de uma urbe, leva a que a população urbana surja substimada e a rural apareça consequentemente sobrestimada.

Na Europa e América do Norte por exemplo, expandiram-se além dos seus limites originais condicionando o alargamento contínuo das áreas residenciais e postos de trabalho causando o surgimento de centros ligados por corredores de transporte.

A rápida urbanização nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos esteve sempre ligada à população urbana num pequeno número de centros de cada país, tal concentração condicionou ao surgimento de mega cidades (cidades com pelo menos 8 milhões de habitantes).

 

Bibliografia

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