Pensamento Geográfico na Antiguidade Oriental

Dedicando-se a actividades de guerra e caça, moviam-se continuamente no espaço, querendo saber a direcção e a distância percorrida, práticas de vital importância para a sobrevivência. O conhecimento geográfico desse período pode ser interpretado como uma preocupação sobre o “onde”.

Esses antepassados desenvolveram percepções, conforme suas prioridades e necessidades, com o objectivo de conhecerem a superfície da terra. Surgiram assim, os primeiros registros, ou seja, os mapas.

Pode se dizer, então, que os mapas originaram-se da necessidade de comunicação entre os homens e também da exigência de se conhecer as diferentes porções da superfície terrestre.

A representação dos caminhos já era feita antes mesmo de os povos utilizarem a escrita. Suas informações eram registradas por mapas, que auxiliavam exploradores e viajantes no processo de expansão do horizonte geográfico.

Na antiguidade oriental com o desenvolvimento dos estudos de geometria, hidrografia e com o aumento do comércio veio à extensão das terras conhecidas e um crescimento nas navegações, havendo assim, um aumento na observação e descrição das paisagens.

O legado deixado pelos orientais foi muito utilizado pelos gregos, que possuem uma das colaborações mais importantes na construção da ciência moderna.

Além de desenvolveram a matemática, a astronomia e geometria, foram os gregos os primeiros a afirmar que a terra era esférica, uma mudança radical no pensamento da época, também foi o filósofo grego Estrabão o primeiro a utilizar o termo Geografia.

Para além disso surgiram noções de latitude e longitude, erosão, formação dos deltas, estudos sobre rios e oceanos, e o início da relação do meio físico com o homem.

Pensamento Geográfico na Antiguidade Clássica

Época Grega

Um dos factores que contribuíram largamente para que os gregos da antiguidade clássica se impusessem foi sua localização geográfica privilegiada no mundo, o que permitiu a sua expansão política, militar e comercial para outros territórios.

Estes conhecimentos foram registados nos périplos, antigos documentos de natureza geográfica contendo relatos, itinerários e esquemas onde se descreve de forma pormenorizada o trajecto das viagens efectuadas a um cabo, a um porto ou a outro local qualquer da costa, no mundo anteriormente conhecido, foi então que surgiram e se desenvolveram duas vias no que se refere a maneira de pensar e de estudar a geografia, nomeadamente:

A via descritivaregional: que assenta nas características das paisagens, nas particularidades dos habitantes e nas respectivas civilizações;

A via matemática: que se baseia na localização precisa dos lugares e que conduziu à produção de cartas geográficas e à busca de explicações para a influência que a forma da terra exerça nos diferentes climas.

Os gregos foram os primeiros a sistematizar os conhecimentos geográficos embora os egípcios e caldeus já nos tivessem fornecido informações de regiões vizinhas, os gregos esforçaram-se para levar as suas investigações tão longe quanto possível.

Para o efeito destacaram-se alguns nomes entre os gregos, a citar:

Heródoto (484-424 a.C.) – não foi apenas o pai da Historia. Foi provavelmente o primeiro a arriscar a existência de relações deterministas entre o meio e o Homem, ao escrever num discurso: “as Terras risonhas produzem Homens efeminados, não podendo por isso produzir frutos saborosos e guerreiros valorosos”.

Hipócrates (460-377 a.C.) – foi um famoso médico da antiguidade; na sua obra mais famosa “dos ares, das águas, dos lugares”, trata da influência do meio sobre o Homem, exagerando a sua visão determinista pois estabeleceu a distinção entre os habitantes das montanhas e os das planícies: “aqueles por influência das terras altas, húmidas, batidas pelos ventos seriam de estrutura alta e bravos. Estes por influência das formas leves, descobertas, desprovidas de água com bruscas variações de temperatura seriam secos, nervosos e arrogantes”.

Alexandre (334-323 a.C.) – mandou fazer por províncias, um cadastro do seu império, feito por uma legião de topógrafos. Legião esta que o acompanhou e revelou não só aos gregos mais também a todo o mundo Ocidental, ate ao século XIV a Geografia do Oriente.

Eratóstenes (276-194 a.C.) – foi o primeiro filósofo grego a autodeterminar-se geógrafo, aperfeiçoou o mapa de arco introduzindo vários meridianos e paralelos formando assim uma rede rectangular. Recolheu valiosos ensinamentos que o possibilitou escrever valiosas obras, cujos títulos foi enunciado por Estrabão “Memoria Geográfica” e “Medição da Terra” e foi director da biblioteca de Alexandria no Egipto. Estudou também toda a documentação recolhida durante a expedição de Alexandre Magno.

Hiparco (190-124 a.C.) – além de descobrir a pressão dos equinócios, apresentou os primeiros elementos da Geometria da esfera e a resolução dos triângulos esféricos pela trigonometria e projecção estereográfica. Dividiu pela primeira vez o círculo terrestre em 360º e concebeu a rede de paralelos e meridianos para determinar as coordenadas terrestres.

Poseidonios (sec. II a.C.) – foi o primeiro a preocupar-se em estabelecer uma teoria sobre os vulcões e os sismos; relacionou os mares com a Lua; achou o perímetro da circunferência terrestre por processos diferentes de Eratóstenes, embora com menor precisão.

Políbio (205-123 a.C.) – grande historiador, escreveu uma história universal em 40 volumes.

Época Romana

Nesta época os trabalhos não tiveram um valor verdadeiramente geográfico e cartográfico, mas somente valor estratégico militar, administrativo e económico.

Portanto, os romanos representavam a Terra com a forma de um disco, desprezando os conhecimentos anteriores ligados a geografia matemática.

Embora tenha-se destacado na época romana Ptolomeu e Estrabão, estes não deixam de ser gregos de nascimento, apenas viveram sobre o domínio romano:

Estrabão (64 a.C. – 21 d.C.) – cuja Geografia era, essencialmente, uma descrição enciclopédica do mundo conhecido e habitado − do ecumene;

Ptolomeu (85 a.C. – 160 d.C.) – este foi o último geógrafo da antiguidade, não se destacou só como geógrafo mais também como matemático e astrónomo. Retomou os trabalhos de Hiparco, sistematizando-os e interpretando os trabalhos existentes. A sua grande obra “Geographik Syntaxis” que através da sua concepção ptolomocaica considerava a terra o centro do Universo e o Sol, a Lua e as estrelas girando a sua volta.

 

Bibliografia

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia, ciência da sociedade: uma introdução à análise do pensamento geográfico. São Paulo: Atlas, 1987.

BROEK, Jan O. Iniciação ao estudo da geografia. Rio de Janeiro: Zahar, 1967.

FERREIRA, Conceição C.; SIMÕES, Natércia. A evolução do pensamento geográfico. Lisboa: Gradiva, 1986.

SODRE, Nelson Werneck. Introdução à geografia: geografia e ideologia. Petrópolis: Vozes, 1977.