O termo discurso admite muitos significados. O mais conhecido deles é do discurso como uma exposição metódica sobre certo assunto. Um conjunto de ideias organizadas por meio da linguagem de forma a influir no raciocínio, ou quando menos, nos sentimentos do ouvinte ou leitor.

Discurso

Outro significado corrente, muito usado entre os linguistas, cientistas sociais e estudiosos da Comunicação – como Michel Foucault e Émile Benveniste -, porém menos difundido, é do o discurso como algo que sustenta e ao mesmo tempo é sustentado pela ideologia de um grupo ou instituição social. Ou seja, ele é baseado em um conjunto de pensamentos e visões de mundo derivados da posição social desse grupo ou instituição que permitem que esse grupo ou instituição se sustente como tal em relação à sociedade, defendendo e legitimando sua ideologia, que é sempre coerente com seus interesses.

Tipos de discurso

Nos textos narrativos, é através da voz do narrador que conhecemos o desenrolar da história e as acções das personagens, mas é através da voz das personagens que conhecemos as suas ideias, opiniões e sentimentos. A forma como a voz das personagens é introduzida na voz do narrador é chamada de discurso.

Através de uma correta utilização dos tipos de discurso, a narrativa poderá assumir um carácter mais ou menos dinâmico, mais ou menos natural, mais ou menos interessante, mais ou menos objectivo, contribuindo decisivamente para o sucesso do texto narrativo.

Existem três tipos de discurso, ou seja, três formas de introdução das falas das personagens na narrativa: o discurso directo, o discurso indirecto e o discurso indirecto livre.

Discurso direto

O discurso directo é o mais natural e comum dos tipos de discurso. Através de sua utilização, o narrador permite que as personagens se exprimam livremente, ganhando vida própria na narração. Caracteriza-se por ser uma transcrição exacta das falas das personagens, sem a participação do narrador.

Exemplos de discurso direto

  • Mariana perguntou:
  • – O que posso fazer para ajudar?
  • Descartes afirmaram: “Penso, logo existo.”

Como podemos verificar nos exemplos supracitados, o discurso direto é, normalmente, introduzido por verbos de elocução que anunciam o discurso, como os verbos: dizer, perguntar, responder, comentar, falar, observar, retrucar, replicar, exclamar, aconselhar, gritar, murmurar, entre outros. A seguir a estes verbos aparecem os dois pontos, havendo mudança de linha para o início da voz da personagem.

A voz da personagem é iniciada, geralmente, por um travessão, que indica não só o começo da fala de uma personagem, mas também a mudança de interlocutores e a mudança da voz da personagem para a voz do narrador.

Além do travessão, o discurso directo pode ser também colocado entre aspas, indicando assim uma citação ou transcrição.

Discurso indireto

No Discurso Indirecto, as falas das personagens são apresentadas pelo narrador, sendo ele o responsável por falar na vez da personagem, utilizando suas próprias palavras para reproduzir a essência das falas das personagens, bem como suas Reacções e personalidade. Assim, o discurso indirecto é sempre feito na 3.ª pessoa, nunca na 1.ª pessoa.

Exemplos de discurso Indireto:

  • Mariana perguntou o que podia fazer para ajudar.
  • Descartes afirmou que pensava, logo existia.

Como podemos verificar nos exemplos supracitados, o discurso indirecto é também introduzido por verbos de elocução que anunciam o discurso. A seguir a esses verbos aparecem conjunções que marcam a separação da fala do narrador da fala da personagem, como as conjunções que e se.

Passagem do discurso direto para discurso indireto

Na passagem do discurso directo para o discurso indirecto, ocorre mudança nas pessoas do discurso, mudança nos tempos verbais, mudança na pontuação das frases e mudança nos advérbios e adjuntos adverbiais.

Mudança das pessoas do discurso: Toda a narrativa que se encontre na1.ª pessoa no discurso directo passa para a 3.ª pessoa no discurso indirecto, incluindo nessa mudança não só o verbo, mas também todos os pronomes que aparecem na frase, como os pronomes eu, nós e meu, que passam para ele/ela, eles/elas e seu no discurso indirecto.

Mudança de tempos verbais nos tempos do indicativo: O presente no discurso directo passa para pretérito imperfeito no discurso indirecto, o pretérito perfeito no discurso directo passa para pretérito mais-que-perfeitono discurso indirecto e o futuro do presente no discurso directo passa para futuro do pretérito no discurso indirecto.

Mudança de tempos verbais nos tempos do subjectivo: O presente e o futuro no discurso directos passam para pretérito imperfeito no discurso indirecto.

Mudança de tempos verbais no imperativo: O imperativo no discurso directo passa para pretérito imperfeito do subjectivo no discurso indirecto.

Mudança na pontuação das frases:  Frases interrogativas, exclamativas e imperativas no discurso directo passam para frases declarativas no discurso indirecto.

Mudança nas noções temporais: As noções temporais como ontem, hoje e amanhã no discurso directo passam para no dia anterior, naquele dia e no dia seguinte no discurso indirecto.

Mudança nas noções espaciais: As noções espaciais como aqui, aí, este e isto no discurso directo passam para ali, lá, aquele e aquilo no discurso indirecto.

Exemplo:

  • Discurso directo: – Iremos de férias amanhã.
  • Discurso indirecto: Eles disseram que iriam de férias no dia seguinte.

Discurso indireto livre

O discurso indirecto livre é o mais difícil e o mais dinâmico dos tipos de discurso, visto as falas das personagens se encontrarem inseridas dentro do discurso do narrador.

Exemplo de discurso indirecto livre:

Então Paula corria, corria o mais que podia para tentar resolver a situação. Logo a mim, logo a mim isso tinha que acontecer! Ela não sabia se conseguiria chegar a tempo e resolver aquela confusão. Tomara que eu consiga!

Como podemos verificar no exemplo supracitado, o discurso indirecto livre não é introduzido por verbos de elocução, nem sinais de pontuação ou conjunções, sendo assim difícil delimitar o início e o fim do discurso da personagem, uma vez que se confunde, por vezes, com o discurso do narrador, que é o insciente de todas as falas e sentimentos das personagens.

Podemos também verificar que as falas das personagens são narradas na 1.ª pessoa enquanto o discurso do narrador se encontra na 3.ª pessoa narrativa.

Conclusão

No entanto, Discurso é ainda reivindicado por linguistas, psicólogos, antropólogos e sociólogos de diversas orientações teóricas. Assim, ora aparece associado a perspectivas cognitivistas, ora a concepções integracionistas, pragmáticas etc. Há ainda aproximações do termo discurso com conceitos como o de texto e o de género textual, sendo que nas abordagens mais textuais a ideia de unidade semântica do texto se apresenta como factor relevante.

Bibliografia

CARVALHO, Olavo de. Aristóteles em nova perspectiva: Introdução à teoria dos quatro discursos. Rio de Janeiro: Topbooks. 1996.

FOUCAULT, Michel A ordem do discurso. São Paulo, Loyola, 1996.

MACHADO. Sérgio B. A ideologia de Marx e o discurso de Foucault: convergências e distanciamentos.  Sociologias, Porto Alegre, ano 12, n. 23, jan-abr. 2010, p. 46-73. [1]

MAINGUENEAU, D. Discurso e análise do discurso. In: SIGNORINI, I. [Re]Discutir texto, gênero e discurso. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.