Autor: Franklim de Manguião
A PIEDADE COMO FUNDAMENTO DE TODA A MORALIDADE
Quando se trata de juízos de valor, logo nos aparece o ser humano porque estão ajuntados a eles, pois é impossível tratar destes assuntos sem incluir o homem por ser alguém racional e social. Sempre tentamos classificar e analisar o porquê daquela acção que por aventura alguém pode praticar, se é por egoísmo, liberdade, maldade, piedade e mais. Como objecto deste artigo trataremos da piedade.
Schopenhauer defende que “a compaixão ou piedade é a própria essência do amor e da solidariedade entre os homens, porque amor e solidariedade explicam-se somente a partir do carácter essencialmente doloroso da vida” (SCHOPENHAEUR apud ABBAGNANO, 2007:166). Entretanto, é preciso que se esclareça esses dois termos, a Compaixão é um sentimento (simpatia) que se tem com alguém por padecer de miséria ou sofrimento e que nós temos a capacidade de ajudar enquanto a Piedade significa sentir sentimento de pena ou tristeza que se tem depois de ver a alguém na miséria ou sofrimento sem a capacidade de ajudá-lo.
Ilustra nosso autor que “o ente que não conhece a piedade está fora da humanidade” (SCHOPENHAEUR, 20--?:43), em outras palavras, entende-se que aquele que não possui a piedade é visto como alguém diferente do homem, alguém cruel, insensato. Ademais, a piedade é intrínseco ao homem, ou seja, é uma atitude que caracteriza homens pelo seu sentimentalismo e toda. Ela não depende de instruções (região, dogmas, educação, cultura) para se ter, pois ela é algo espontânea e natural e existem em todos os homens.
Quando travamos conhecimento com um homem […] o que nos levaria a reconhecer-lhe a maldade das intenções, a escassez da razão, a falsidade dos raciocínios, e só nos despertaria desprezo e aversão: consideremos antes os seus sofrimentos, misérias, angustias, dores e assim sentiremos quanto ele nos toca de perto; é então que despertará a nossa simpatia e que no lugar de ódio e de desprezo, experimentaremos por ele essa piedade. (ibidem 44)
Entretanto, é possível medir a nossa capacidade de piedade, desde que analisemos como nos comportamos ou sentimos quando estamos perante alguém angustiado, miserável ou sofrendo. Para nosso autor a piedade é o fundamento de toda moralidade, pois ela serve como uma justificativa para as nossas acções e, sendo assim ela deve ser expandida por todos os seres, incluído os animais porque os eles também merecem a bondade, pois quem assim ignora é visto como um não piedoso, não ser humano e um ser cruel. “Uma piedade sem limites para com todos os seres vivos, é o penhor mais firme e seguro do procedimento moral” (idem) e isso constitui a base e o fundamento da nossa moralidade.
Referência bibliográfica
SCHOPENHAEUR, Arthur. (20--?). Dores do mundo. Brasil, Ouro.
ABBAGNANO, Nicola. (2007). Dicionário de Filosofia. São Paulo, Martins Fontes.