Em seu Emilio ou da educação, entre outras considerações, Rousseau terminou exlicando que, segundo sua visão, “para conhecer os homens é preciso vê-los agindo”.

Só a história é capaz de expor os fatos “sem véus”, contrariando a concepção em uso no século XVIII.

A história, para Rousseau, seria mais uma ciência do homem do que simplesmente arte da memória.

O estudo mais “conveniente ao homem” seria “o de suas relações” com os outros homens e “com as coisas”, pois a única maneira de instruir o homem seria “instrui-lo por princípio e fazê-lo conhecer, com a natureza do coração humano, a aplicação das causas externas que transformam nossas inclinações em vícios”.

Portanto, a história não seria mero meio de entender o presente, mas um instrumento no sentido de comunicar ao homem a origem de seus erros.

Embora o estudo da história seja útil ao homem, “infelizmente este estudo” teria seus “perigos” e “inconvenientes”, já que privilegiaria a exaltação das “más qualidades” em detrimento das “boas”.

Isto, a medida a história se interessa apenas pelas “revoluções e catástrofes”, deixando de lado a exaltação dos povos que crescem e prosperam “na calma de um governo sereno”.

Para Rousseau, a narrativa histórica começaria “a falar destes quando” entrassem em “declínio”, iniciando por onde deveria terminar, celebrando os maus e esquecendo ou ridicularizando os bons momentos da humanidade.

Ele enxergava na exaltação dos maus costumes do passado um exemplo a ser imitado, criticando as narrativas históricas em uso no seu tempo.

As quais, na sua concepção, esqueciam-se de louvar as boas ações do passado, deixando de incitar a imitação no presente.

Como todo iluminista, visualizava na história exemplos a serem ou não imitados e não um meio de tentar entender a situação presente.

Simultaneamente, questionava e exatidão dos fatos narrados pelo historiador, antecipando uma discussão que ganharia corpo somente no século XIX.

Para Rousseau, “a pintura exata dos (…) fatos” seria impossível, visto que o historiador estaria sempre sobre influência de “seus preconceitos”, a mercê da “ignorância” e “parcialidade”, responsável por fantasiar.

Ao que se somaria o habito de ornar a realidade com pormenores imaginários para tornar a leitura do texto histórico agradável.

Neste sentido, ele vê muito pouca diferença entre um romance e um livro de história, no que, dentro do contexto do século XVIII, tinha razão.

Não obstante, adota posição critica diante da conceituação da história, muito semelhante à que seria defendida pelo cientificismo dois séculos depois, condenando os historiadores que interpretam os fatos.

Segundo suas próprias palavras, os historiadores “julgam” os fatos, quando sua função seria “unicamente” descreve-los, deixando ao leitor o julgamento.

No que termina, sem notar, entrando em contradição direta consigo mesmo, uma vez que os historiadores modernos não conseguem exaltar os fatos dissociados dos seus próprios preconceitos, toda qualquer exaltação, por mais imparcial que seja, carrega em si mesma uma interpretação do que é descrito.

Uma questão que seria mais tarde amplamente discutida pela escola de Annales no século XX.

Corroborando com a tese de que para Rousseau a história só seria útil pelo seu exemplo útil e não como meio de conhecer melhor o presente, para ele, o estudo da “história moderna” (do contexto contemporâneo), deveria ser deixado de lado para privilegiar a antiguidade.

Pela ótica iluminista, os antigos forneciam exemplos a servirem de referência para a construção do agora, um principio que norteou a Revolução Francesa e a era Napoleônica.

Para Rousseau, os antigos, ao contrário dos modernos, narrariam “os fatos sem os julgar’, possuindo o defeito de narrar mais “as ações do que os homens”.

Insere-se nesta concepção o inicio de uma tradição memorialista na França do século XVIII, onde era preferível a leitura “das vidas particulares” do que dos livros de história.

No que Rousseau termina mais uma vez entrando em contradição consigo mesmo, pois, ao mesmo tempo em que critica a história por se ater a exemplos particulares, recomenda o estudo de fatos isolados.

Isto porque, segundo sua concepção, “o encadeamento de conhecimentos limitados mas certos” é vantajoso, mostrado “através de suas ligações” e “de suas relações”, evitando “preconceitos”.

Em concordância com o conceito de história em sua época, para Rousseau, o estudo da vida dos homens ilustres seria mais útil por servir de exemplo para a conduta dos homens do presente.

Assim, embora as considerações de Rousseau sejam inovadoras para o século XVIII, realizando uma filosofia da história, acaba por integrar-se ao paradigma iluminista.

O qual considerava a história como uma ciência auxiliar na formação do homem pelo bom exemplo do passado a ser imitado no presente.